A Miss�o Israelita do Novo Pacto Universal, formada por camponeses de origem andina que chegam aos milhares desde a d�cada de 1990, est� convencida de que esta � a nova "Terra Prometida".
Ao longo dos anos, tamb�m se tornaram atores-chave no com�rcio local desta regi�o considerada perigosa e afetada por diferentes atividades ilegais.
Ao contr�rio do que sugere seu nome, eles n�o t�m nada a ver com o juda�smo. S�o um improv�vel sincretismo entre o protestantismo adventista e as tradi��es incas.
Trata-se de "um movimento religioso evang�lico e milenarista fundado em 1968 por Ezequiel Ataucusi Gamonal, um autoproclamado profeta que morreu em 2000 e foi sucedido por seu filho, Jonas", explica � AFP Lionel Rossini, cineasta e especialista na regi�o.
Os "israelitas", como s�o conhecidos os fi�is, queimam em uma fogueira carne bovina, de carneiro e pombos todos os s�bados como sacrif�cio para Deus. Nos mercados, a bordo de canoas, ou em pequenas comunidades espalhadas pelos rios Javari e Amazonas, eles se destacam por suas longas barbas e cabelos presos em coques no caso dos homens, assim como pelos v�us que cobrem a cabe�a das mulheres. E tamb�m porque repetem como mantra "Paz de Deus, irm�o".
Sua principal comunidade � Isl�ndia, uma cidade sobre palafitas chamada pomposamente de Veneza amaz�nica.
Mart�n e Gustavo s�o dois israelitas que se chamam de "irm�os". "Deus nos ordena a deixar a barba e o cabelo crescerem", explica Gustavo, que vende vegetais e doces em uma caixa de papel�o.
"Todos aqueles que se unem a Deus devem se ajustar a seus princ�pios", como n�o beber �lcool, diz o sexagen�rio sorridente com sua B�blia na m�o.
"Deus apareceu para n�s por meio de um sinal, que � o nosso profeta. � um pouco como a Torre Eiffel", diz misturando um coquetel de cita��es como a Ep�stola aos Cor�ntios, a "Verdadeira Lei" promulgada por Ezequiel e refer�ncias � antiga capital inca de Cusco (sudeste do Peru).
- "Deus na Amaz�nia" -
Referindo-se � sua pr�pria B�blia e aos mandamentos ditados por seu falecido profeta, eles consideram a Amaz�nia peruana como o "umbigo do mundo", a �nica parte do planeta que escapar� do pr�ximo fim dos tempos, pois l� n�o haver� escassez de �gua.
Sua capital � a comunidade Alto Monte de Israel, localizada cerca de 200 km rio abaixo no Amazonas, entre a cidade peruana de Iquitos e a colombiana Leticia.
Os "textos do Antigo e do Novo Testamento s�o invocados e adaptados ao contexto peruano", explica Rossini, autor de um dos poucos document�rios sobre o assunto, intitulado, em tradu��o livre, "Feliz como Deus na Amaz�nia".
O movimento, que alguns classificam como seita, contava no in�cio do s�culo com cerca de 200 mil membros, alguns dos quais desertaram ao perceberem que a ressurrei��o anunciada por Ezequiel tr�s dias ap�s a sua morte n�o se concretizou.
A igreja recrutava principalmente camponeses sem terra, mas tamb�m ex-militantes do Sendero Luminoso e muitas pessoas pobres das periferias urbanas.
Os israelitas costumam vestir t�nicas coloridas, em alus�o � "t�nica sagrada" que "Jesus Cristo e seus ap�stolos usavam".
Nos centros urbanos, vendem vegetais e "t�m a reputa��o de serem muito trabalhadores, porque para eles isso faz parte da obra de Deus", segundo Rossini. S�o em sua maioria agricultores e desmatam partes da floresta para produzir arroz e hortali�as. Dez por cento de sua renda � destinada � congrega��o como "caridade".
- "Ovelhas negras" -
A comunidade foi utilizada pelas autoridades peruanas nos anos 1990 para colonizar regi�es amaz�nicas, como parte do projeto "Fronteiras Vivas", impulsionado pelo ent�o presidente Alberto Fujimori (1990-2000).
Para o governo da �poca, "tratava-se de povoar vastas �reas desabitadas e, assim, aumentar a soberania nas fronteiras", de acordo com o documentarista.
"Os israelitas passaram a fazer parte da paisagem local (...). Essa coloniza��o foi um sucesso econ�mico e pol�tico ineg�vel", continua.
Agora eles t�m seu pr�prio partido pol�tico legalmente reconhecido, o Frente Popular Agr�cola do Peru (Frepap), que obteve mais de 8% dos votos nas elei��es parlamentares de 2020.
Identificados pelo s�mbolo crist�o de um peixe azul em fundo branco, a comunidade defende a ado��o da "lei divina", os valores do Imp�rio Inca e a agricultura como meio para combater a pobreza.
"Gra�as ao voto un�nime dos fi�is, eles conseguiram cadeiras nas c�maras de vereadores e at� nas prefeituras (...), apesar de algumas resist�ncias", conta Rossini.
"Apesar de serem fechados em si mesmos, os israelitas conseguiram se impor como atores-chave da Amaz�nia peruana (...), uma vanguarda que avan�a inexoravelmente" com os devotos que continuam chegando a esta regi�o, acrescenta.
Para conectar suas numerosas comunidades, constroem trilhas na selva, que �s vezes se transformam em estradas utilizadas por narcotraficantes, onipresentes nesse cruzamento das tr�s fronteiras.
Quando questionada sobre isso, a comunidade denuncia "ovelhas negras dentro do rebanho".
ISLANDIA