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Estado de Minas TRAG�DIA HUMANA

Guerra da Ucr�nia: as m�es que v�o at� a R�ssia resgatar seus filhos

A R�ssia est� sequestrando crian�as ucranianas - e as m�es delas t�m que viajar ao territ�rio inimigo para resgat�-las


04/06/2023 06:50 - atualizado 04/06/2023 10:03
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Tetyana Kraynyuk e seu filho Sasha
Filho de Tetyana Kraynyuk, Sasha, foi uma das 13 crian�as levadas pelas tropas russas de sua escola em setembro passado (foto: BBC)

Quando Sasha Kraynyuk, de 15 anos, encarou a fotografia entregue a ele por investigadores ucranianos, reconheceu imediatamente o menino vestido com uniforme militar russo.

 

O adolescente sentado em uma carteira escolar tem a letra Z estampada na manga direita, um s�mbolo usado pelos russos pr�-Putin para se manifestarem a favor da a��o militar.


Mas o menino n�o � russo. O nome dele � Artem, e ele � ucraniano.

Sasha e Artem estavam entre as 13 crian�as sequestradas de sua pr�pria escola em Kupyansk, no nordeste da Ucr�nia, em setembro passado, por soldados russos armados que usavam balaclavas.


Conduzidos a um �nibus aos gritos de "r�pido!", eles desapareceram por semanas sem deixar vest�gios.


Quando as crian�as, todas com necessidades especiais, finalmente foram autorizadas a ligar para casa, estavam em um distante territ�rio ocupado pela R�ssia.


Para recuper�-las, seus pais foram for�ados a fazer viagens extenuantes de milhares de quil�metros at� o pa�s que declarou guerra contra eles.


Apenas oito das crian�as retornaram a Perevalsk at� agora, e Artem foi um dos �ltimos, resgatado por sua m�e no �ltimo m�s.


Quando falei com a diretora da escola por telefone, ela disse n�o ter visto nenhum problema em vestir as crian�as ucranianas com o uniforme de um ex�rcito invasor.

"E da�?", Tatyana Semyonova retrucou. "O que posso fazer? O que isso tem a ver comigo?"


Eu respondi que o Z representava a guerra contra o pr�prio pa�s das crian�as. "E da�?", a diretora perguntou novamente.


"Que tipo de pergunta � essa? Ningu�m for�ou eles."


Ao entrar no site da Escola Especial Perevalsk, encontrei a fotografia de Artem em uma apresenta��o. Foi tirada em fevereiro de 2023, um ano ap�s a invas�o da Ucr�nia pela R�ssia, em uma aula para marcar o Dia dos Defensores da P�tria.


A aula foi dedicada a aprender "gratid�o e respeito" pelos soldados russos.

Tentei questionar a diretora um pouco mais, mas a liga��o telef�nica caiu abruptamente.

O criminoso de guerra procurado

Para a Ucr�nia, a hist�ria da Escola Especial de Kupyansk � mais uma prova para classificar Vladimir Putin como suspeito de crimes de guerra.


O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de pris�o contra o presidente da R�ssia em mar�o, acusando ele e a Comiss�ria Presidencial para os Direitos das Crian�as, Maria Lvova-Belova, de deporta��o ilegal de crian�as ucranianas.


A R�ssia insiste que seus motivos s�o puramente humanit�rios, evacuando crian�as para proteg�-las do perigo. Altos funcion�rios desprezam a acusa��o do TPI, amea�ando at� mesmo pris�es retaliat�rias contra os representantes do tribunal.


O TPI n�o tornou p�blicos os detalhes do caso e nem a Ucr�nia, mas autoridades em Kiev afirmam que mais de 19 mil crian�as foram retiradas de �reas ocupadas desde a invas�o em grande escala. Entende-se que muitos vieram de orfanatos e col�gios internos.


Investigamos v�rios casos, incluindo de outra escola especial em Oleshki, no sul da Ucr�nia, e descobrimos que todas as vezes as autoridades russas fizeram o m�nimo ou nenhum esfor�o para localizar os pais dos alunos.


As crian�as ucranianas eram frequentemente informadas de que n�o havia nada em seu pa�s para onde voltar e eram submetidas, em v�rios graus, a uma educa��o russa "patri�tica".


Os detalhes e as nuances variam, pois h� tanto caos na guerra quanto m�s inten��es.

Mas h� tamb�m uma ideologia clara e predominante: a R�ssia, liderada por Vladimir Putin, declara abertamente que tudo nas �reas ocupadas da Ucr�nia � seu, incluindo as crian�as.

A hist�ria de Sasha

Kupyansk, nordeste da Ucr�nia


Sasha em entrevista à repórter da BBC
Sasha (� direita) disse � BBC que era muito angustiante falar sobre a separa��o de sua m�e (foto: BBC)

Sasha � um garoto alto e t�mido com uma longa franja que ele gosta de alisar, como muitos outros adolescentes de sua idade.


A separa��o for�ada da fam�lia seria perturbadora para qualquer crian�a. Para algu�m vulner�vel, como Sasha, foi uma experi�ncia ainda mais traum�tica.


Sua m�e, Tetyana Kraynyuk, me disse que ele ainda est� retra�do, meses depois de ter voltado para casa. O garoto de 15 anos tamb�m desenvolveu cabelos grisalhos de tanto estresse.


Eles agora vivem na cidade de Dinklage, no oeste da Alemanha, como refugiados. Depois da escola, Sasha passa a maior parte do dia deitado na cama, jogando no telefone.


Mas ele se lembra muito claramente do momento em que os soldados russos o levaram embora.


"Para ser honesto, foi assustador", Sasha admite em voz baixa, esfregando as m�os para frente e para tr�s nas coxas. "Eu n�o sabia para onde eles iriam nos levar."

Quando pergunto sobre a saudade da m�e, ele faz uma longa pausa, diz que � muito angustiante relembrar o tema e pergunta se pode mudar de assunto.


Antes da guerra, Sasha frequentava a Escola Especial Kupyansk, no nordeste da Ucr�nia. Ele passava a semana no local, voltando para casa nos fins de semana.


Mas quando a R�ssia invadiu o pa�s em fevereiro de 2022, grande parte da regi�o de Kharkiv foi ocupada e Tetyana decidiu manter o filho em casa por seguran�a.


Por volta de setembro, quando come�a o ano escolar na Europa, Moscou passou a insistir que todas as crian�as voltassem � escola, agora com um curr�culo russo.


Uma campanha similar foi organizada em todas as �reas ocupadas, muitas vezes usando professores da R�ssia para substituir os locais, que se recusaram a colaborar.


Tetyana estava relutante em mandar Sasha de volta, mas o adolescente parecia entediado depois de sete meses em sua aldeia. Ent�o, em 3 de setembro, ela o deixou em Kupyansk.


Dias depois, as for�as ucranianas lan�aram uma opera��o rel�mpago para retomar a regi�o.


"Ouvimos o barulho a quil�metros de dist�ncia. Os estrondos. Depois os helic�pteros e os disparos. Foi um barulho terr�vel. Ent�o vi os tanques e a bandeira ucraniana", lembra Tetyana sobre a contra-ofensiva.


Incapaz de entrar em contato com o filho, ela estava desesperada. "Quando chegamos � escola, s� restava o zelador. Ele disse que as crian�as haviam sido levadas e ningu�m sabia para onde", diz Tetyana.


Tetyana
Tetyana passou semanas sem saber o que havia acontecido com seu filho (foto: BBC)

Um professor viu o que aconteceu naquele dia, quando at� 10 soldados russos fortemente armados "invadiram" a escola.


"Eles n�o se importaram em pegar nenhum documento ou entrar em contato com os pais", relatou Mykola Sezonov, quando nos encontramos em Kiev. "Eles apenas enfiaram as crian�as em um �nibus com alguns refugiados e foram embora."


Apresentei a ele a defesa da R�ssia nesses casos: que o pa�s estava afastando as crian�as do perigo.


"Vivi sob a ocupa��o russa e sei a diferen�a entre o que eles dizem e o que eu vejo pela janela", foi a resposta do professor.

Por seis semanas, n�o houve not�cias das crian�as.

"Eu chorava todos os dias, ligava para a linha direta e dizia que havia perdido meu filho e escrevia para a pol�cia. Tentamos encontr�-lo por meio de volunt�rios", diz Tetyana.


Passou-se um m�s inteiro antes que um amigo visse um v�deo nas redes sociais, datado do in�cio de setembro de 2022. Ele informava que 13 crian�as da Escola Especial Kupyansk haviam sido transferidas para o leste, para uma instala��o semelhante em Svatove, ainda sob controle russo.


Quinze dias depois disso, o telefone de Tetyana tocou com uma mensagem: Sasha estava em uma escola especial em Perevalsk e sua m�e poderia ligar para falar com ele.


"Ele ficou feliz em me ouvir, � claro. Mas chorou muito", lembra Tetyana sobre o momento em que conversaram. "Eles disseram a ele que nossa casa havia sido destru�da e ele estava com medo de que n�s tamb�m tiv�ssemos ido embora."


A comunica��o com �reas de combate intenso n�o � f�cil, mas as crian�as de Kupyansk passaram por tr�s institui��es antes que algu�m tentasse entrar em contato com algum parente.


"Ningu�m fez nada. Apenas em Perevalsk, e mesmo assim n�o imediatamente. Acho que eles fizeram isso de prop�sito", diz Tetyana.


Mas a luta n�o acabou a�.


Ela ainda precisava ir buscar Sasha pessoalmente, mas a rota direta at� o local cruzava a linha de frente da guerra.


Em vez disso, Tetyana viajou pela Pol�nia e pelo B�ltico antes de cruzar a p� para a R�ssia, onde o Servi�o de Seguran�a da FSB (�rg�o de seguran�a do Estado) a interrogou sobre os movimentos das tropas ucranianas.


Ela n�o tinha nada para contar.


"Estava escuro, havia postos de controle, homens com balaclavas e armas. Fiquei t�o assustada que tomei comprimidos para me acalmar", lembra Tetyana sobre o resto da viagem ao leste da Ucr�nia ocupada.


Ela tinha outro motivo para estar com medo. A essa altura, a R�ssia estava abertamente tirando crian�as de lares de idosos em �reas ocupadas e colocando-as para viver com fam�lias russas.


O canal no Telegram da Comiss�ria Presidencial para os Direitos das Crian�as est� repleto de v�deos em que ela aparece escoltando grupos de crian�as ucranianas atrav�s da fronteira, onde jovens perplexos s�o recebidos por pais adotivos russos com presentes e abra�os enquanto s�o filmados.


Enviamos dois pedidos de entrevista para Maria Lvova-Belova e n�o obtivemos resposta. Mas a mensagem de todas as suas postagens � clara: a R�ssia � o mocinho na situa��o que ainda se recusa a chamar o que est� ocorrendo na Ucr�nia de guerra.

A R�ssia afirma estar salvando crian�as ucranianas.

Na �poca em que Sasha desapareceu de Kupyansk, Vladimir Putin j� havia alterado a lei para tornar mais f�cil para as crian�as ucranianas obterem a cidadania russa e serem adotadas.


No final de setembro, ele anunciou a anexa��o de quatro regi�es da Ucr�nia, incluindo Luhansk, onde Sasha estava localizado.


Em p�blico e online, Maria Lvova-Belova referiu-se repetidas vezes �s crian�as daquelas regi�es como "nossas". Ela adotou um adolescente de Mariupol, postando fotos com o novo passaporte russo dele.


"Eu temia que, se eles levassem Sasha para a R�ssia, eu nunca o encontraria. Eu tinha medo de que ele fosse colocado em uma fam�lia adotiva, simplesmente", Tetyana me conta.


"O que nossos filhos t�m a ver com isso? Por que eles fizeram isso conosco? Talvez seja apenas para nos causar dor, como com todo o resto."

Quando ela finalmente chegou a Perevalsk, depois de exaustivos cinco dias na estrada, Tetyana abra�ou seu filho com for�a. Sasha n�o disse uma palavra. Ele apenas chorava de felicidade.

A hist�ria de Danylo

Kherson, sul da Ucr�nia


Alla Yatsenyuk
A BBC acompanhou Alla Yatsenyuk e um grupo de outras m�es enquanto elas se dirigiam � R�ssia para salvar seus filhos (foto: BBC)

Durante seis meses, Alla Yatsenyuk viveu com a sensa��o de que uma parte de si mesma estava faltando.

Quando ela enviou seu filho de 13 anos para um acampamento na Crimeia, ela pensou que Danylo iria passar duas semanas perto do mar. Era para ser uma pausa do estresse da guerra: outras crian�as de Kherson tinham visitado o acampamento e voltaram, ent�o Alla n�o estava preocupada.

Al�m disso, a cidade deles estava ocupada desde o in�cio da invas�o e, em outubro de 2022, ela come�ou a pensar que a R�ssia controlaria Kherson para sempre, embora ela n�o desejasse isso.

Mas dias depois de Alla deixar Danylo no acampamento, os funcion�rios respons�veis por ele anunciaram que as crian�as n�o voltariam. Os russos come�aram a se retirar de Kherson. Se os pais das crian�as os quisessem de volta, eles deveriam vir busc�-los.

Alla implorou � administra��o regional, mas foi informada de que s� devolveriam as crian�as "quando Kherson voltasse a ser russa".

Ela ligou para o Minist�rio P�blico na Crimeia, mas eles insistiram que ela mesma deveria ir buscar Danylo.

E assim, durante semanas, Alla continuou prometendo ao filho que iria busc�-lo, mesmo sem saber exatamente como.

A dist�ncia de Kherson a Yevpatoria � curta, mas a rota direta foi fechada pelos militares russos e o caminho mais longo por Zaporizhzhia era muito perigoso. "Havia menos de 5% de chance de chegar l� e voltar com seguran�a", disse Alla.

Ela tamb�m precisaria juntar cerca de US$ 1,5 mil (R$ 7,5 mil) para pagar um motorista, bem como tirar seu primeiro passaporte e toda a papelada que os russos exigem para provar seu v�nculo com o filho.

Alla j� estava come�ando a se desesperar quando Danylo disse que os funcion�rios de seu acampamento estavam amea�ando colocar as crian�as sob cust�dia de outras fam�lias se os pais n�o se apressassem.

"As crian�as est�o nos ligando em p�nico, dizendo que n�o querem acabar em outras casas", conta Alla. "E a R�ssia � enorme! Como ir�amos encontr�-los?"

N�s nos conhecemos quando ela finalmente partiu em um vag�o de trem cheio de outras m�es e av�s na jornada mais angustiante de suas vidas.

As mulheres estavam sendo ajudadas por um grupo chamado Salve a Ucr�nia, que interveio quando se descobriu que centenas de crian�as ucranianas poderiam estar presas.

Algumas delas pertenciam a fam�lias disfuncionais ou menos abastadas, que tiveram dificuldade para acertar a log�stica e financiar a viagem. Outros pais estavam hesitantes em levar os filhos de volta para as suas cidades, atacadas constantemente pelos russos.

Mas Alla n�o podia esperar mais.

"Ainda tenho essa preocupa��o persistente de que algo vai dar errado. N�o vai passar at� que eu tenha meu filho ao meu lado. S� ent�o poderei respirar novamente."

Mais de uma semana depois, Alla foi uma das �ltimas m�es a cruzar a fronteira de Belarus, de volta para a Ucr�nia arrastando uma mala e com Danylo ao seu lado, sorrindo.


Danylo
Danylo (centro) ao cruzar a fronteira da Bielorr�ssia para a Ucr�nia depois de meses longe de casa (foto: BBC)

Houve momentos em que ela pensou que n�o conseguiria.

A organiza��o Salve a Ucr�nia instruiu que as mulheres desligassem seus telefones quando entrassem na R�ssia, ent�o os detalhes de sua jornada traum�tica s� foram conhecidos pelos demais familiares e amigos quando ela retornou.

"Eles nos mantiveram como gado, separados de qualquer outra pessoa. Catorze horas sem �gua, sem comida, nada", descreveu Alla sobre per�odo em que ficou detida pelo servi�o de seguran�a FSB da R�ssia em um aeroporto de Moscou.

"Eles continuaram nos perguntando que equipamento militar t�nhamos visto, verificaram nossos telefones um milh�o de vezes e perguntaram sobre todos os nossos parentes."

As mulheres continuaram a viagem de 24 horas para o sul at� a Crimeia. Ao se aproximarem, pararam para descansar e Olha Kutova, de 64 anos, deu alguns passos, desmaiou e morreu na beira da estrada. Ap�s dias apertada em um micro-�nibus, em estado de estresse, seu cora��o havia parado.

Agora a Salve a Ucr�nia est� tentando devolver as cinzas de Olha para a Ucr�nia, assim como sua neta.

Eventualmente, Alla chegou ao acampamento.

"No momento em que vi meu filho correndo em minha dire��o em l�grimas, compensou tudo o que passamos", Alla descreveu sobre seu reencontro com Danylo.

O filho dela me disse que foi "simplesmente brilhante!"

A Salve a Ucr�nia conseguiu resgatar 31 crian�as naquele dia e v�rias confirmaram que a equipe do acampamento havia amea�ado coloc�-las para ado��o, o que as assustou.

Eles falaram sobre serem levados em excurs�es no in�cio e serem razoavelmente alimentados e vestidos. Mas em territ�rio controlado pela R�ssia, eles foram tratados e ensinados como russos. Quando os inspetores vinham de Moscou, os ucranianos tinham que se alinhar ao lado da bandeira russa e cantar o hino russo.

Em outubro, a administra��o que controla Kherson postou um v�deo no Telegram de um desses momentos. O hino da R�ssia ressoa nos alto-falantes e a bandeira tricolor � hasteada.

Mas, olhando um pouco mais de perto, fica claro que nenhum dos l�bios das crian�as est� se movendo.

O operador da c�mera de repente percebe que uma garota est� com as m�os sobre os ouvidos para bloquear o som e desvia rapidamente a imagem.

A volta para casa

Algumas semanas ap�s seu retorno, entrei em contato com Alla em Kherson por telefone.

"Finalmente tudo acabou, assim que chegamos aqui", ela me diz alegremente.


Danylo e a mãe Alla em um ônibus
Danylo finalmente se reencontrou com sua m�e Alla (foto: BBC)

Alla admite que, no in�cio, sentiu entre a popula��o local um ressentimento em rela��o �s m�es que enviaram seus filhos a acampamentos de ver�o, vistas como "colaboradoras" por mandar as crian�as para instala��es administradas pelos russos. Mas Alla sente que esse sentimento desapareceu.

Na pr�pria fam�lia, Danylo voltou a brigar com o irm�o ca�ula e a estudar online, em ucraniano. Mas sem internet em casa, ela tem que correr para o centro da cidade em busca de Wi-Fi para baixar os trabalhos escolares. E isso � arriscado.

Desde que os russos foram for�ados a recuar, abandonando Kherson, eles v�m se vingando da cidade do outro lado do rio.

"Eles est�o bombardeando de manh� � noite", confirma Alla, embora diga que sua casa est� relativamente longe das posi��es russas. Eles n�o t�m planos de partir.

Danylo ainda participa de um grupo de mensagens com as outras crian�as do acampamento e a maioria que ficou j� foi resgatada. Mas ele diz que cinco foram transferidos para um orfanato em algum lugar da R�ssia.

Alla me enviou uma fotografia do quarto das crian�as, com fileiras de camas de solteiro, um tapete barato e uma planta. N�o est� claro para onde as crian�as deixadas para tr�s ser�o enviadas em seguida.

As crian�as desaparecidas

Na zona rural da Alemanha, Sasha teve tempo de se adaptar � vida e a outra nova escola, mas Tetyana est� achando a adapta��o um pouco mais dif�cil.

Em seu apartamento, ela explica que seu filho mais velho ainda est� na Ucr�nia esperando ser convocado para lutar a qualquer momento. Tetyana n�o quer nada al�m de ir para casa e para o marido, mas Kupyansk est� sob fogo pesado novamente.

No final de abril, m�sseis russos destru�ram o museu de hist�ria local, matando duas mulheres. Antes disso, a velha escola de Sasha na cidade foi seriamente danificada quando m�sseis ca�ram nas proximidades.

Oito meses ap�s ele e as outras crian�as serem levados de l�, cinco ainda permanecem em territ�rio controlado pela R�ssia. Tatyana Semyonova, a diretora da escola onde foram parar, confirmou a informa��o.


Sarah Rainsford usando telefone
Rep�rter da BBC Sarah Rainsford conseguiu falar com diretora da escola por telefone (foto: BBC)

Fiquei surpresa por ela ter concordado em falar, mas o n�mero russo que usei deve t�-la confundido. Assim como minhas perguntas.

A diretora alegou que ningu�m havia entrado em contato sobre as cinco crian�as, o que sabemos n�o ser verdade, e insistiu que ela os liberaria "imediatamente" assim que seus respons�veis legais viessem busc�-los.

Mas isso � improv�vel: v�rias fontes me dizem que as crian�as s�o tratadas como "�rf�os sociais", cujos pais ainda est�o vivos, mas n�o podem cuidar deles.

Quando perguntei por que a R�ssia poderia levar crian�as sem permiss�o da Ucr�nia, mas exigir uma papelada para devolv�-las, Tatyana Semyonova foi curta na resposta.

"O que isso tem a ver comigo? Eu n�o os trouxe aqui."

No site da escola que ela comanda em Perevalsk, Sasha identificou mais duas das crian�as desaparecidas de Kupyansk entre as fotos dispon�veis: Sofiya e Mikita, de 12 anos, est�o fantasiadas e enfileirados em homenagem ao Ex�rcito russo.

Pergunto � m�e de Sasha o que ela acha do mandado de pris�o emitido para o presidente da R�ssia.

"N�o apenas Putin, mas todo o seu pessoal — todos os comandantes — deveriam ser julgados pelo que fizeram com as crian�as", responde Tetyana Kraynyuk, sem hesitar.

"Que direito eles tinham [de levar as crian�as]? Como esperavam que f�ssemos recuper�-las? Eles simplesmente n�o se importam."

Produ��o de Mariana Matveichuk

Fotos de Matthew Goddard e Sarah Rainsford

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/clwdlwg917vo


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