"Estud�vamos muito juntas, eu era uma das melhores da classe", garantiu Hawa � AFP.
As jovens gr�vidas de Serra Leoa puderam voltar � escola desde que, em 2020, suspendeu-se uma medida que as mantinha fora das salas de aula. No entanto, assim como acontece com outras pol�ticas progressistas adotadas pelo presidente Julius Maada Bio, falar � mais f�cil que fazer.
De um lado, as outras alunas zombavam impiedosamente de Hawa. Do outro, sua m�e parou de enviar dinheiro. Ela acabou abandonando a escola gr�vida de seis meses, vendo a prima avan�ar sozinha nos estudos.
Alguns dos pilares do governo de Bio, que concorre � reelei��o nas elei��es de s�bado, foram a educa��o das mulheres e seus direitos. Em entrevista � AFP, ele admite que, inicialmente, resistiu em permitir que adolescentes gr�vidas fossem � escola.
"Fui totalmente contra isso h� alguns anos, mas percebi que estava errado", reconheceu.
Segundo o presidente, elas "est�o em seus anos de forma��o e, se as punirmos pelo resto de suas vidas, seremos injustos com elas, seremos injustos com a sociedade".
- Ciclos de pobreza -
A gravidez na adolesc�ncia � um fen�meno generalizado em Serra Leoa, embora a falta de dados impe�a saber quantas permanecem na escola.
Em 2021, um ano ap�s o fim da proibi��o, o censo escolar nacional identificou 950 estudantes gr�vidas no pa�s.
Um estudo desenvolvido em 2019 pelo governo descobriu que 21% das mulheres e meninas de 15 a 19 anos estavam gr�vidas, ou deram � luz. Com isso, o estudo sugere que milhares de jovens podem ter desistido da escola.
Nadia Rasheed, representante local do Fundo de Popula��o das Na��es Unidas (UNFPA), comentou que manter as meninas na escola � "fundamental para quebrar os ciclos de pobreza e desigualdade em Serra Leoa".
Kadi, de 18 anos, esperava que a educa��o fosse a chave para um futuro melhor. Ela e sua irm� foram criadas pela av� e sempre estudaram muito. Mas sua av� morreu em um acidente de tr�nsito e, dois anos depois, sua irm� adoeceu e tamb�m faleceu. O namorado dela, um pescador, passou a ajudar nas despesas de seus estudos. Em seus planos, ela estudaria medicina e depois eles se casariam.
Ela engravidou aos 17 anos, no entanto, e n�o resistiu ao bullying na escola.
Kadi deseja refazer as provas que perdeu no ano letivo em que desistiu, mas teme ter ficado muito para tr�s.
"As comunidades n�o v�o mudar sozinhas, as escolas n�o v�o mudar sozinhas. Acho que ningu�m esperava que fosse um sucesso imediato", disse a pesquisadora Regina Mamidy Yillah.
"Ainda assim, reverter a proibi��o (...) � realmente um passo gigantesco em dire��o � igualdade", completou.
- Expectativa vs. Realidade -
V�rias pol�ticas progressistas do presidente Bio enfrentam desafios parecidos.
As pol�ticas adotadas s�o elogiados por organiza��es ocidentais e por entidades da ONU que operam em Serra Leoa desde a guerra civil de 1991-2002. Na pr�tica, por�m, elas entram em conflito com os valores tradicionais, ou n�o correspondem �s expectativas.
O governo de Bio fornece absorventes higi�nicos gratuitos para estudantes e investe mais de 20% do or�amento em educa��o.
Mas muitos reclamam que, apesar da pol�tica de educa��o "gratuita", os alunos devem pagar por alguns livros, transporte, uniformes, sapatos, meias e material escolar.
Fam�lias ouvidas pela AFP disseram, tamb�m, que os alunos s�o cobrados, informalmente, por muitos professores. Eles pedem sabonete, papel higi�nico, material de limpeza e exigem dinheiro - sob amea�a de espancamento.
Os planos para descriminalizar o aborto, celebrados internacionalmente quando anunciados em julho, n�o avan�aram.
Bio assinou uma nova lei de igualdade de g�nero em janeiro para aumentar o n�mero de mulheres trabalhando nos setores p�blico e privado.
Embora as pessoas esperassem uma cota de 30% para mulheres legisladoras, esta lei exige apenas que um ter�o dos candidatos parlamentares sejam mulheres.
A mesma lei diz tamb�m que o presidente poderia considerar "a possibilidade" de nomear 30% de mulheres em seu gabinete.
O Institute for Governance Reform (IGR), um grupo de pesquisa, projeta que entre 26% e 30% dos legisladores eleitos no novo parlamento ser�o mulheres.
Para a AFP, Bio afirma que est� empenhado em garantir que pelo menos 30% de seu gabinete seja feminino.
"Algo para pensar � como vamos fazer isso", acrescentou o l�der de Serra Leoa.
FREETOWN