S�O PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O l�der do Grupo Wagner, empresa militar privada russa que atua na Guerra da Ucr�nia e em na��es da �frica, alegou nesta sexta-feira (23/6) que as justificativas dadas pelo Kremlin para invadir a Ucr�nia h� mais de um ano teriam sido falsas.
A alega��o � mais um epis�dio p�blico de conflito entre Ievgu�ni Prigojin, um aliado de longa data do presidente Vladimir Putin, e o alto escal�o do Ex�rcito russo, mas ganhou dimens�o ampliada ap�s o russo prometer se vingar de recentes a��es encabe�adas por Moscou.
Em comunicado, a Defesa disse que todas as afirma��es n�o condiziam com a realidade e eram meras "provoca��es informativas".
Mais cedo, em um v�deo de meia hora, Prigojin acusou a chefia do Ex�rcito russo -simbolizada na figura do ministro Serguei Choigu- de ter fabricado as alega��es usadas. "O Minist�rio da Defesa tenta enganar a sociedade e o presidente e nos contar uma hist�ria sobre como a Ucr�nia estava planejando nos atacar com toda a Otan", disse.
E seguiu: "A guerra era necess�ria para que Serguei Choigu pudesse se tornar um marechal, obter mais uma medalha de her�i nacional, e n�o para desmilitarizar ou desnazificar a Ucr�nia".
Em um trecho, o oligarca chama de farsa a guerra empreendida por Moscou contra Kiev - que, do seu lado, ainda a chama de "opera��o militar especial". "Nossa 'guerra santa' contra aqueles que ofendem o povo russo, que tentam humilh�-lo, transformou-se em uma farsa."
Sentado em uma cadeira com uma bandeira do Grupo Wagner atr�s, Prigojin ainda afirmou que a guerra foi necess�ria para enriquecer a elite russa que, segundo ele, buscava ampliar o potencial comercial na regi�o ucraniana do Donbass, parte russ�fona ao leste do territ�rio.
"A tarefa era dividir os bens materiais, houve um roubo maci�o no Donbass, mas eles [a elite] queriam mais", disse o russo. Desde o in�cio da guerra, Moscou j� anexou de maneira ilegal algumas por��es do territ�rio ucraniano -duas delas, as autoproclamadas rep�blicas de Lugansk e Donetsk, est�o justamente no referido Donbass.
Depois, numa sequ�ncia de �udios, Prigojin disse que o Wagner responderia � tentativa russa de atac�-los, mas que seus avisos n�o caracterizariam um golpe -e sim uma "marcha por justi�a".
O tom � diferente daquele que usou inicialmente, quando disse que "aqueles que destru�ram nossos homens, que destru�ram dezenas de milhares de vida de soldados russos, ser�o punidos".
Ele publicou ainda um v�deo que n�o p�de ser verificado de forma independente e mostra cenas de um suposto ataque russo com foguetes a uma base do Grupo Wagner em Rostov, no sul do territ�rio russo. Disse que tem sob seu controle 25 mil homens e que, juntos, v�o desvendar "o caos" que vive o pa�s.
"Vamos considerar um perigo e destruir todos aqueles que tentarem resistir e entrarem no nosso caminho; depois que terminarmos o que come�amos, voltaremos � linha de frente para proteger nossa p�tria."
A resposta do Kremlin n�o tardou. Primeiro, o porta-voz Dmitri Peskov informou, segundo a ag�ncia russa Tass, que Putin fora informado sobre todas as falas e que "as medidas necess�rias" estavam sendo tomadas. Pouco depois, o FSB, o Servi�o Federal de Seguran�a russo, anunciou a abertura de uma investiga��o contra Prigojin por supostamente provocar uma rebeli�o armada no pa�s.
De acordo com a ag�ncia Ria, o crime � pun�vel com pena de pris�o de 12 a 20 anos. "As declara��es que est�o sendo divulgadas em nome de Ievgu�ni Prigojin s�o absolutamente infundadas. Exigimos que as a��es ilegais sejam interrompidas imediatamente" disse o Comit� Nacional Antiterrorismo russo em nota, segundo a Tass.
Em nota posterior o FSB afirmou que Pridojin estava apelando para o in�cio de um conflito civil armado". As declara��es s�o "uma punhalada nas costas de militares russos que lutam com as for�as ucranianas pr�-nazistas" diz o texto.
De acordo com o Guardian, diversos canais ligados aos servi�os de seguran�a russos informaram que um protocolo de emerg�ncia foi implementado em Rostov: todas as for�as de seguran�a teriam sido mobilizadas, assim como ve�culos blindados e helic�pteros teriam sido enviados para o local, que fica pr�ximo � fronteira com a Ucr�nia.
Na capital Moscou, informou a Tass, todas as principais instala��es tiveram a seguran�a refor�ada, incluindo pr�dios do governo e infraestruturas de transporte.
Horas ap�s as declara��es, Serguei Surovikin, comandante-adjunto da campanha militar russa na Ucr�nia e recentemente designado por Moscou para atuar ao lado do Wagner, pediu que os membros da mil�cia privada n�o se somem �s poss�veis a��es de Prigojin.
"Pe�o que parem", disse ele em um v�deo. "O inimigo apenas espera que a situa��o pol�tica interna piore em nosso pa�s."
Os mercen�rios do Wagner t�m atuado na Ucr�nia desde antes de ter in�cio a guerra hoje em curso. Mas os ataques p�blicos entre Prigojin e os militares russos escalaram nos �ltimos meses.
Em um dos mais recentes epis�dios, a pasta da Defesa emitiu ordem para enquadrar todos os grupos mercen�rios a servi�o do pa�s sob seu controle. O Wagner, claro, recha�ou a medida.
A colabora��o do Wagner parecer ter sido fundamental para o lento avan�o russo. Foram os mercen�rios do grupo que em maio anunciaram a tomada de Bakhmut, palco de combates intensos por semanas. Depois, passaram algumas por��es para controle de Moscou.
As alega��es de Prigojin nesta sexta-feira chamam a aten��o por contradizerem argumentos colocados na mesa pelo pr�prio presidente Vladimir Putin para tentar justificar a invas�o do pa�s vizinho.
O l�der russo mais de uma vez alegou (sem provas) querer desnazificar o governo da Ucr�nia e afastar a sombra da Otan, alian�a militar ocidental que hoje apoia Kiev.