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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Os pa�ses onde dar gorjeta � costume malvisto

Express�es como 'dar gorjeta por culpa', 'cansa�o das gorjetas', 'arrepio das gorjetas', e 'infla��o das gorjetas' est�o ficando frequentes entre os americanos


16/07/2023 10:08 - atualizado 16/07/2023 10:49
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Xícara com colher dentro em cima de moedas e nota de dólar
Express�es como 'dar gorjeta por culpa' e 'cansa�o das gorjetas' j� est�o ficando frequentes entre americanos (foto: Getty Images)

A eterna discuss�o sobre a cultura das gorjetas nos Estados Unidos voltou ao notici�rio ap�s funcion�rios da primeira loja sindicalizada da Apple no pa�s defenderem receber gratifica��o de clientes.

O an�ncio levantou intensos debates sobre a pr�tica, onde segue muito arraigada.

Muitas pessoas acreditam que a cultura das gorjetas est� saindo do controle.




Express�es como "dar gorjeta por culpa", "cansa�o das gorjetas", "arrepio das gorjetas" e "infla��o das gorjetas" j� se tornaram frequentes entre os americanos.

Essa pr�tica pol�mica se espalhou por todo o mundo, mas nem todos os pa�ses a adotam com o mesmo vigor que os Estados Unidos.

O costume de dar gorjetas gerou recentemente discuss�es na Espanha, enquanto, na Fran�a, service compris ("servi�o incluso") significa que a gorjeta j� est� embutida na conta. Em outros lugares, particularmente no leste asi�tico, a inexist�ncia da tradi��o de gorjetas � motivo de orgulho.

Para exemplificar o velho dilema de dar ou n�o gorjeta, aqui est�o alguns lugares com suas pr�prias caracter�sticas. Eles foram selecionados com base na cultura de aprova��o ou n�o desta pr�tica e mostram como o comportamento em rela��o � gorjeta reflete aspectos mais abrangentes da sociedade de cada pa�s.

Jap�o

A sabedoria popular costuma dizer que o Jap�o � uma esp�cie de para�so da limpeza, onde n�o existe lixo. L�, a imperfei��o (wabi-sabi) � respeitada e a consci�ncia social valorizada como uma forma de arte (n�o coma enquanto estiver andando; fique em sil�ncio no transporte p�blico; n�o aponte com as m�os, nem com os hashis; n�o assoe o nariz em p�blico — a lista � quase intermin�vel).

No Jap�o, as gorjetas tamb�m n�o s�o apenas incomuns. Elas s�o consideradas desagrad�veis e constrangedoras. E essa cultura japonesa de presta��o de servi�os sem gorjetas precisa realmente ser comunicada para o visitante estrangeiro com uma advert�ncia: se voc� der gorjeta, ir� ofender algu�m.


Mulher servindo refeição no Japão
Nunca deixe uma gorjeta no Jap�o, exceto para a pessoa que te atender em um ryokan %u2014 e tamb�m existem regras sobre isso (foto: Getty Images)

"Mesmo quando os visitantes s�o informados que no Jap�o n�o se d� gorjetas, algumas pessoas ainda ficam dispostas a demonstrar seu reconhecimento com dinheiro, mas n�o � assim que funciona", afirma James Mundy, da operadora de turismo brit�nica InsideJapan Tours.

"� comum ver as pessoas deixarem dinheiro para os gar�ons no restaurante e depois serem seguidas na rua e receberem seu dinheiro de volta".

"Muitos n�o conseguem entender que as pessoas fazem seu trabalho com orgulho e que [dizer] oishikatta ('estava delicioso') ou gochiso sama ('obrigado por preparar a refei��o') ser� muito bem aceito. O dinheiro nem sempre traz di�logo."

A repulsa japonesa �s gorjetas � percept�vel. O shokunin kishitsu — algo como "esp�rito de artes�o" — est� infiltrado em muitos aspectos da vida japonesa. � uma filosofia aprimorada por muitas pessoas nos setores de atendimento aos turistas, como recepcionistas de hot�is at� vendedores e chefs de sushi.

A presta��o de servi�os significa, nessa cultura, fazer as necessidades b�sicas de um trabalho com orgulho. � mais comum que o reconhecimento seja demonstrado por meio de cumprimentos (de prefer�ncia, em japon�s) ou com rever�ncias.

Mas existe uma exce��o: os ryokans, as hospedarias tradicionais, revestidas com tatami. Nelas, os visitantes podem deixar dinheiro para o nakai san — o atendente vestido com quimono que prepara seu alimento e seu futon (estofado).

Mas � preciso usar a forma apropriada: n�o entregue a gorjeta pessoalmente; deixe notas novas e fechadas em um envelope especialmente decorado.

Egito

Um costume profundamente arraigado no norte da �frica, no Oriente M�dio e no sul da �sia � o conceito de baksheesh, que � uma gorjeta ou esmola por caridade.

Ela pode ser solicitada abertamente por um motorista de t�xi ou guia tur�stico, ou sugestivamente sussurrada em um bazar no canto da rua.

Mas as duas formas t�m o mesmo significado: o que est� sendo pedido � um presente ou uma pequena gorjeta, independentemente do servi�o oferecido.

Se interpretado erroneamente, o baksheesh pode ser traduzido como um pedido de esmola.

Mas dar esmolas para os pobres � um dos pilares do islamismo. Compreender este ponto ir� aprofundar o conhecimento daquela parte do mundo pelo visitante. E o benfeitor supostamente se tornar� uma pessoa mais sagrada com esta a��o.

No Egito, essas gratifica��es s�o comuns para os funcion�rios de hot�is e restaurantes, motoristas de t�xi e guias tur�sticos, bem como para os porteiros, funcion�rios que cuidam dos banheiros, seguran�as e vendedores de lojas.

Uma an�lise mais profunda do baksheesh tamb�m revela que o costume � parte de um sistema informal de pagamento adiantado.

Os guias tur�sticos e concierges de hot�is do Cairo at� Assu� podem fornecer tratamento preferencial, garantir servi�o de primeira qualidade e fazer favores se receberem gorjetas antecipadamente.

D�lares americanos ou libras eg�pcias s�o bem-vindos: US$ 1-2 (cerca de R$ 5-10) s�o suficientes para ser bem recebido com um sorriso.

Em circunst�ncias como estas, n�o � incomum no Egito conseguir milagrosamente a chave de um templo trancado no Vale dos Reis ou fazer com que um banheiro inacess�vel em um museu seja subitamente reaberto para os visitantes.

E os turistas n�o ir�o encontrar essa recomenda��o nos folhetos tur�sticos.

China


Mulher sendo atendida em restaurante na China
Na China, gorjeta era proibida, mas isso est� mudando (foto: Getty Images)

Mesmo nas mais modernas metr�poles da China, como Pequim e Xangai, tradi��o e supersti��o ainda t�m forte influ�ncia na sociedade.

Na China, as pessoas n�o esperam receber gratifica��es.

E, embora possa parecer dif�cil de acreditar nisso em um pa�s obcecado pelos avan�os tecnol�gicos e pelo mundo do futuro, as gorjetas j� foram proibidas por no passado.

Um dos mandamentos da China � que todas as pessoas s�o iguais e nenhuma � servidora de outra. Insinuar superioridade sobre outra pessoa � um tabu h� muito tempo.

E, embora o gigante asi�tico seja cada vez mais um pa�s de grandes hot�is e enormes restaurantes, as gorjetas continuam a ser mal-vistas, algumas vezes at� interpretadas como subornos, principalmente em cidades menores e que recebem menos visitantes.

Mas o crescimento do turismo chin�s e a assimila��o de muitos costumes ocidentais est�o mudando pouco a pouco essa cultura, segundo Maggie Tian, gerente-geral na China da operadora de turismo australiana Intrepid Travel.

"Dar gorjetas na China, historicamente, era considerado ofensivo, mas os tempos est�o mudando", explica ela.

"Os chineses ainda n�o t�m o h�bito de dar gorjetas, mas as gratifica��es agora s�o aceit�veis, especialmente nas cidades maiores, onde existem muitos moradores e visitantes estrangeiros."

"Se voc� for visitante, dar pequenas gorjetas aos porteiros, guias de turismo e gar�ons por um servi�o excepcional ou por um ajuda espec�fica � algo que � bem recebido. Apesar do hist�rico, os moradores locais ir�o apreciar", segundo Tian.

Estados Unidos

Poucos pa�ses levam a cultura das gorjetas t�o a s�rio quanto os Estados Unidos. As gorjetas s�o t�o arraigadas na psique nacional quanto o Super Bowl (a final da NFL, a liga de futebol americano).

E, �s vezes, pode ser dif�cil para o turista estrangeiro mensurar ou explicar este esp�rito.

Atualmente, deve-se acrescentar 20-25% ao valor final da conta. A infla��o das gorjetas traz dificuldades para moradores locais e visitantes.

De fato, o valor oferecido ou esperado aumentou exponencialmente nos �ltimos tempos e o desenvolvimento das op��es de gorjetas digitais tornou esta pr�tica ainda mais complexa.

Existem casos em que os profissionais de servi�os s�o mal pagos e dependem do ciclo di�rio de gratifica��es.

Com isso, cada vez mais varejistas — desde postos de gasolina at� a rede de cafeterias Starbucks — acrescentam taxas de servi�o opcionais �s vendas de balc�o, que antes eram feitas pelo valor l�quido.

A quest�o � que quase tudo, incluindo ou n�o a presta��o de servi�o, pode acabar tendo custos maiores.

Existem muitas formas de agir errado (n�o dar gorjeta por uma bebida ao sentar-se em um bar pode fazer com que um cliente deixe de ser servido, por exemplo), mas apenas uma forma de fazer o certo.

"Os Estados Unidos t�m uma cultura de gorjetas que n�o existe em outros lugares", afirma Peter Anderson, diretor-gerente do servi�o de concierges de viagem Knightsbridge Circle.

"Recentemente, em Nova York, comprei uma garrafa d’�gua em uma loja e, na hora de pagar, pediram-me uma gorjeta", conta.

"Mas eu peguei a �gua sozinho, levei para o balc�o e paguei. Ainda assim, eles esperavam que eu deixasse 20%."

"Em muitos lugares, � apenas uma forma de pagar sal�rios mais baixos aos funcion�rios e repassar mais custos para o cliente", explica Anderson.

Os Estados Unidos t�m presenciado um movimento contra as gorjetas e uma mudan�a para m�todos de remunera��o mais equitativos para os funcion�rios, mas o progresso tem sido lento.

No momento, � preciso entender que, embora dar gorjetas seja legalmente um ato volunt�rio nos Estados Unidos, os sal�rios dos atendentes e outros profissionais do setor de turismo, muitas vezes, est�o abaixo do m�nimo.

E sempre vale a pena ser agrad�vel, especialmente quando se viaja como representante do seu pr�prio pa�s.

Dinamarca


Pessoas caminhando em ponto turístico na Dinamarca
Na Dinamarca, cultura da gorjeta � rara (foto: Getty Images)

Em um pa�s frequentemente mencionado como um dos mais felizes do mundo pela sua sociedade igualit�ria, benevol�ncia para com os demais e generosidade comunit�ria, pode ser uma surpresa verificar que os dinamarqueses s�o majoritariamente um pa�s de pessoas que n�o d�o gorjetas.

Basicamente, s�o dois os motivos: os cidad�os do pa�s se beneficiam do PIB (Produto Interno Bruto, ou soma de bens e servi�os produzidos por um pa�s) per capita mais alto e de um sistema de assist�ncia social melhor do que a maioria dos outros pa�ses.

Isso faz com que os profissionais de servi�os, motoristas de t�xi e profissionais da linha de frente n�o dependam de gorjetas da mesma forma que em outros lugares.

Al�m disso, a taxa de servi�o normalmente � inclu�da na conta dos hot�is e restaurantes dinamarqueses.

Mas, ainda que dar gorjetas n�o seja uma tradi��o, a norma na Dinamarca — e nos outros pa�ses escandinavos — � arredondar a conta no restaurante como um gesto simb�lico.

E, como em quase todos os lugares da Europa atualmente, servi�os acima do padr�o costumam ser recompensados com uma gorjeta em dinheiro ou com a fidelidade ao estabelecimento e visitas frequentes, o que tamb�m � muito valioso.

Sobre as gorjetas

Cada pa�s tem suas regras espec�ficas sobre as gorjetas. �s vezes, essa pr�tica pode parecer um campo minado.

Mas o importante � sempre respeitar as outras culturas na hora de viajar.

Por isso, certifique-se de pesquisar os costumes locais sobre gorjetas antes de viajar para qualquer destino, para evitar ofender as pessoas.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Travel.


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