'Luta livre vodu' na Rep�blica Democr�tica do Congo tenta quebrar tabus

Em Selembao, um bairro pobre de Kinshasa, n�o h� energia el�trica. � luz da lua, uma atleta da luta livre enumera as t�cnicas que utiliza, invocando os esp�ritos de seus ancestrais para ajud�-la a "enfeiti�ar" seus advers�rios e vencer os "combates".

Com uma peruca vermelha e um bast�o com "poderes m�sticos", Ornella Lukeba, conhecida nos ringues como "Maitresse Libondans", dedica a vida � "luta livre vodu", uma mistura de esporte e entretenimento, origin�ria da Rep�blica Democr�tica do Congo (RDC).

Como na luta livre tradicional, os participantes competem imitando lutas violentas. Mas na RDC, os lutadores tamb�m recorrem a rituais e � magia.

Segundo os participantes, a 'luta livre vodu' � julgada por t�cnica, valor e "magia". H� poucas regras, exceto entreter o p�blico e quebrar tabus.

"Maitresse Libondans", de 28 anos, garante que s� sobe ao ringue se os seus antepassados lhe garantirem a vit�ria. Ela tamb�m costuma mostrar os seios para hipnotizar os advers�rios.

Segundo contou � AFP, ela venceu sua �ltima luta ao for�ar sua advers�ria a "chupar seus seios".

As origens precisas do esporte, praticado nos bairros mais pobres de Kinshasa, n�o s�o claras. Os lutadores entrevistados dizem que simplesmente seguiram o exemplo dos mais velhos.

Mas alguns especialistas dizem que esses confrontos m�sticos remontam � d�cada de 1970 e � lend�ria luta de boxe "Rumble in the Jungle" entre Muhammad Ali e George Foreman, de 1974, em um est�dio da capital do pa�s, que na �poca ainda era o Zaire.

Antes de sua luta, a lutadora sussurra feiti�os sobre uma s�rie de cervejas que bebe com outros participantes e organizadores, sentada em uma rua movimentada e escura. De repente, seus olhos se arregalam. Os esp�ritos chegaram e, em poucos minutos, ela enfrentar� um advers�rio chamado Masamba.

Ao redor de um ringue dilapidado montado no p�tio da escola local, cerca de 200 pessoas se re�nem para assistir o espet�culo.

- Espet�culo total -

A entrada custa 3.000 francos congoleses (US$ 1,24 ou R$ 6) para adultos e 1.500 para crian�as. Cigarros passam de m�o em m�o, homens bebem licores locais e uma banda de m�sica d� ritmo ao show sob aplausos e gritos do p�blico.

No primeiro combate, um lutador vestido de mulher vence seu advers�rio com um feiti�o e lan�a chamas no ringue.

Depois � a vez de "Maitresse Libondans". Ela arranca a peruca e come�a a desfilar na frente do advers�rio ao som da banda. Seu combate contra Masamba � dif�cil. Eles lutam com bra�os e pernas. Se revezam no ch�o e imitam agress�es sexuais entre aplausos e risos da plateia.

A lutadora abaixa a camisa, mostra os seios para o advers�rio e para o �rbitro, que come�am, como possu�dos, a chupar seus mamilos freneticamente.

Ao som de trompetes e trombones, a dupla come�a a dan�ar, quase hipnotizada, e ela sai vitoriosa do ringue, muito aclamada.

Naquela noite, o combate final foi vencido por um oficial do ex�rcito congol�s, vestido com um tutu rosa e um top apertado.

- "O templo da morte" -

Muitos lutadores afirmam viver dos ganhos de seus combates. As recompensas podem chegar a v�rios milhares de d�lares para eventos maiores.

A maioria complementa sua renda trabalhando como curandeiros tradicionais.

"Pantera", outro lutador de Selembao, afirma que as pessoas v�m de longe em busca de suas curas. Ele n�o participou do combate desta noite, porque a renda foi pequena.

O homem de 48 anos, com o rosto coberto de talco, realiza rituais em seu "templo", decorado com figuras e velas, onde se l� nas paredes "templo da morte" e "dem�nio negro".

Ele lan�a encantamentos e coloca um cigarro na boca de uma estatueta, que aspira a fuma�a e depois a cospe.

Os ritos tradicionais e o cristianismo est�o profundamente enraizados na RDC. �s vezes eles se misturam, mas nem todo mundo v� esses "magos" com bons olhos.

"Algumas pessoas t�m medo de mim", diz "Maitresse Libondans". Mas "tamb�m tenho muitos f�s", acrescenta.