
Tayeb ait Ighenbaz se viu confrontado com uma dolorosa decis�o: salvar seu filho de apenas 11 anos ou seus pr�prios pais, que ficaram aprisionados nos destro�os ap�s o devastador terremoto que atingiu o Marrocos.
O pastor de cabras de uma pequena comunidade situada nas Cordilheiras do Atlas diz que est� assombrado pela decis�o que teve de tomar.
A regi�o montanhosa, epicentro do terremoto de magnitude 6,8 que matou mais de 2 mil pessoas, tem representado uma grande dificuldade para equipes de resgate.
Na noite de sexta-feira (8/9), Tayeb estava em casa com sua esposa, seus dois filhos e seus pais na sua pequena casa de pedra. Foi ent�o que o pa�s testemunhou o terremoto mais forte em seis d�cadas.
Ele me conduziu at� o que resta de sua antiga morada, agora reduzida a ru�nas.
Ainda d� para ver parcialmente o interior do pr�dio e ele aponta para os escombros, contando: “� onde eles estavam”.
"O incidente ocorreu em um piscar de olhos. Quando o terremoto come�ou, todos correram em dire��o � porta. Meu pai estava dormindo e gritei para que minha m�e sa�sse, mas ela ficou para tr�s, esperando por ele", recorda com pesar.
Do outro lado da porta, apenas sua esposa e filha estavam presentes.
Ao retornar para a constru��o colapsada, Tayeb identificou seu filho e pais presos sob os destro�os. Ele podia ver a m�ozinha de seu filho lutando para se libertar.Ele sabia que precisava agir rapidamente e foi na dire��o de seu filho Adam, escavando desesperadamente nos escombros para retir�-lo.
Quando se virou para seus pais, que estavam aprisionados sob uma grande laje de pedra, percebeu que era tarde demais.
"Fui for�ado a fazer uma escolha imposs�vel entre meus pais e meu filho", ele confessa com os olhos marejados de l�grimas.
"Eu n�o pude ajudar meus pais, pois o muro desabou sobre metade de seus corpos. � uma tristeza profunda. Testemunhei a morte de meus pais", ele diz, apontando para as manchas de sangue em suas cal�as jeans.
Todas as suas roupas est�o na casa destru�da e, desde o terremoto, ele n�o conseguiu trocar de roupa.
A fam�lia agora reside junto de parentes em tendas improvisadas, em local n�o muito distante de sua antiga resid�ncia. Tayeb lamenta que todo o seu dinheiro estivesse na casa, e que a maioria de suas cabras tenha sido perdida.
"� como renascer para uma nova vida. Sem pais, sem casa, sem comida, sem roupas", ele compartilha com um suspiro. "Agora, aos 50 anos, preciso come�ar de novo."
Ele se sente incapaz de imaginar como seguir adiante, mas mant�m em mente as li��es que seus pais lhe ensinaram. "Eles sempre diziam 'seja paciente, trabalhe duro, nunca desista'."
Enquanto conversamos, seu filho Adam, com uma camiseta do time Juventus com o nome de Cristiano Ronaldo nas costas, corre at� seu pai e o abra�a calorosamente. "Meu pai me resgatou da morte", ele afirma com um sorriso.
Fam�lia presa nos escombros
A alguns minutos dali, na dire��o da cidade de Amizmiz, encontramos outro pai e filho, unidos pelo trauma.
Abdulmajid ait Jaefer relata que estava em casa com sua esposa e tr�s filhos quando o terremoto aconteceu, e "o ch�o simplesmente cedeu".
Seu filho, Mohamed, com seus 12 anos, conseguiu escapar do pr�dio, mas o resto da fam�lia ficou preso nos escombros.
Abdulmajid teve as pernas presas sob os destro�os, mas um vizinho conseguiu libert�-lo. Ele ent�o passou duas angustiantes horas tentando resgatar sua esposa e uma de suas filhas. No entanto, ambas j� haviam perdido a vida quando ele finalmente as retirou dos escombros.
No dia seguinte, o corpo da outra filha tamb�m foi resgatado dos destro�os.
Aos 47 anos, Abdulmajid agora descansa sob uma lona do outro lado da rua de sua casa. Ele pode vislumbrar a cozinha, com a geladeira im�vel e as roupas penduradas para secar, um lembrete doloroso de como a vida mudou drasticamente.

Ele diz que n�o pode sair da �rea porque precisa “ficar de guarda” sobre seus bens e as lembran�as de sua vida ali.
"Essa � minha cozinha e minha geladeira. Est�vamos todos l�. Agora estou apenas observando", diz ele.
Antes de sexta-feira, Abdulmajid diz que “nunca poderia imaginar um terremoto. Mesmo agora, n�o consigo acreditar”.
Enquanto conversamos, os carros param ao nosso lado e as pessoas se inclinam para oferecer condol�ncias. Outros que caminham pela rua param para abra�ar o homem de luto, como pai e como marido.
“Havia cinco pessoas na minha fam�lia. Agora s�o duas”, ele me diz com tristeza. "Por enquanto, s� estou pensando em uma coisa: meu filho."