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Estado de Minas LUGAR 'INSTAGRAM�VEL'?

Selfie em Auschwitz nem sempre � algo problem�tico, afirma porta-voz do museu

Entidade defende necessidade de equil�brio "para falarmos de fotografia como um caminho para conduzir as emo��es" sobre um lugar onde milhares foram mortos


11/09/2023 11:22 - atualizado 11/09/2023 12:22
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Mulher deita em linha de trem para foto em Museu Estadual de Auschwitz-Birkenau
Mulher deita em linha de trem para foto em Museu Estadual de Auschwitz-Birkenau (foto: Maria Murphy/Twitter )
Ao entrar no Museu de Auschwitz, no espa�o onde ficavam dois campos de concentra��o da Alemanha nazista na Pol�nia ocupada durante a Segunda Guerra, o visitante atravessa uma s�bria passarela feita de concreto armado enquanto nomes de v�timas do Holocausto saem dos alto-falantes.

O guia pede sil�ncio durante o trajeto, mas nem todos respeitam a solicita��o. Escutam-se conversas sobre generalidades, um e outro apontando algum detalhe da �poca do exterm�nio em massa. Ao todo, seis milh�es de judeus foram assassinados sob as ordens de Adolf Hitler, um milh�o s� em Auschwitz.

Em abril, uma foto feita nos trilhos do antigo campo de concentra��o de Birkenau, ao lado de Auschwitz, gerou repulsa devido � pose descontra�da da garota retratada: sentada num dos trilhos, ela tinha a cabe�a reclinada para tr�s e uma das m�os segurando os cabelos como se estivesse em um comercial de xampu.

Antes, em 2014, uma estudante americana do Alabama j� havia provocado rea��o parecida ao fazer uma selfie, sorrindo e com um emoji de sorriso na legenda, dentro de onde ficava o campo de concentra��o.

Para Pawel Sawicki, assessor de imprensa do Museu de Auschwitz, por�m, trata-se de exce��es. Em entrevista a ve�culos de m�dia do Brasil, entre os quais a Folha de S.Paulo, o funcion�rio da institui��o ressaltou a import�ncia de lembrar que aquele foi o local onde muitos foram mortos, mas defendeu a necessidade de encontrar um equil�brio "para falarmos de fotografia como um caminho para conduzir as emo��es".

"Sempre pedimos aos visitantes para ter em mente que o comportamento deles ao tirar fotos pode ser problem�tico para outros, mas n�o � como se existisse uma linha em que voc� pode dizer: 'OK, agora todas as selfies s�o erradas ou todas s�o boas'. � mais complexo."

PERGUNTA - Recentemente, uma garota fez uma foto no local do campo de concentra��o de Birkenau, o que gerou uma declara��o do Museu de Auschwitz. O que vem sendo feito para evitar situa��es desse tipo?

PAWEL SAWICKI - Uma selfie n�o � algo terr�vel. Terr�vel � o que aconteceu nos campos de concentra��o e de exterm�nio. A selfie � uma maneira pela qual as pessoas se comunicam hoje, e n�o h� nada de errado com uma selfie em si. Mas precisamos nos lembrar de que esse � um lugar onde mais de um milh�o de pessoas foram assassinadas. Quando falamos de fotografia, temos de olhar para as diferentes abordagens, porque h� quem pense que os visitantes n�o deveriam poder nem mesmo tirar fotos. N�s discordamos.

Pessoas do mundo todo v�m aqui, e para muitos ser� a �nica vez que vir�o. Ent�o eles fazem fotos, mostram para seus parentes, postam nas redes sociais e falam sobre o que sentiram e por que esse local � t�o importante. N�o tem nada de errado com fotos desse tipo. Em geral, tentamos nos atentar n�o s� � foto, mas � motiva��o dela, porque voc� pode tirar uma foto linda, com uma c�mera superprofissional, e ent�o us�-la para manipular ou distorcer a hist�ria ao escrever uma legenda problem�tica. Ou seja, � preciso encontrar um equil�brio para falarmos de fotografia como um caminho para conduzir as emo��es.

Sempre pedimos aos visitantes para ter em mente que o comportamento deles ao tirar fotos pode ser problem�tico para outros, mas n�o � como se existisse uma linha em que voc� pode dizer: "OK, agora todas as selfies s�o erradas ou todas s�o boas". � mais complexo. No nosso perfil no Instagram, voc� pode ver que procuramos fotos que as pessoas fazem aqui e adicionamos conte�do educacional. Assim, em vez de focar s� o exemplo negativo, tentamos olhar para as coisas positivas que as pessoas fazem. Mas, claro, �s vezes temos de reagir quando situa��es problem�ticas acontecem.

 

P. - Estamos chegando ao momento da �ltima gera��o de sobreviventes do Holocausto. Qual � a perspectiva do museu para continuar preenchendo essa mem�ria?

P. S. - A presen�a dos sobreviventes � vital para n�s porque esse lugar foi criado por eles, como um testamento. Uma coisa que temos feito, assim como outras institui��es, � coletar depoimentos —em texto, em v�deo, em 3D, para serem exibidos como hologramas—, e o n�mero de vozes que podemos usar � incr�vel. Mas planejamos tamb�m uma exposi��o com obras criadas por prisioneiros e sobreviventes, porque notamos que os jovens, quando se encontram com sobreviventes, n�o perguntam sobre fatos ou datas, mas sobre o que eles sentiam ao estar aqui. E a arte � um g�nero interessante, porque voc� n�o precisa de um idioma. O que quero dizer �: ainda precisamos dos depoimentos e temos de coloc�-los num pedestal, porque s�o testemunhas da hist�ria, mas devemos pensar em formas diferentes de manter suas vozes.

 

P. - O senhor trabalha aqui h� 16 anos. Que mudan�as testemunhou no museu desde ent�o?

P. S. - Houve mudan�as no n�mero de visitantes. Em 2000, voc� tinha menos de 500 mil visitantes [por ano]. Antes da Covid, em 2019, eram 2,3 milh�es de visitantes [em 2022, ainda na retomada p�s-pandemia, o museu recebeu quase 1,2 milh�o de visitantes]. Houve tamb�m uma mudan�a de gera��o, e um desafio � justamente a falta de sobreviventes. Quando pensamos nos jovens de hoje, os av�s deles nasceram depois da Segunda Guerra, e, quando pensamos na forma como a hist�ria � passada, de gera��o em gera��o, ela vem por meio dos av�s. Assim, para muitos jovens que v�m aqui, n�o � mais uma hist�ria contada ao redor da mesa de jantar, agora ela vem dos livros, e essa � uma rela��o muito diferente quando pensamos em como nos comunicar com eles. Em termos de conserva��o, houve mudan�as muito significativas, e agora temos uma funda��o que ajuda a financiar o museu. Temos, tamb�m, novos projetos, como o novo centro de visitantes, inaugurado h� dois meses, com um novo cinema.

 

P. - Ap�s todos esses anos trabalhando aqui, ainda � poss�vel se sentir otimista em rela��o � humanidade?

P. S. - Trabalhar em Auschwitz em busca de otimismo � algo desafiador. Provavelmente sinto otimismo em rela��o a seres humanos de forma individual e acho que uma das maiores perguntas que devemos fazer em um lugar assim � o que podemos fazer hoje como indiv�duos para melhorar o mundo. Alguns visitantes hoje questionam: "As pessoas sabiam o que estava acontecendo? Por que eles n�o fizeram mais para evitar?". Daqui a 30 anos haver� novos memoriais, e essas quest�es v�o reaparecer. Assim, em rela��o � humanidade, tenho uma vis�o mais complexa, mas sei que indiv�duos, quando encontram uma motiva��o, quando pensam que est�o fazendo algo bom, podem fazer absolutamente muito.

 

O jornalista viajou � convite do Memorial do Holocausto de S�o Paulo com apoio do governo da Pol�nia


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