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Estado de Minas ITTOQQORTOORMIIT

Ca�adores inu�tes culpam navios de cruzeiro por desaparecimento de narvais


04/10/2023 12:41
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Para ca�ar as baleias narvais, cujas longas presas em espiral inspiraram o mito medieval dos unic�rnios, � necess�rio sil�ncio absoluto.

Tanto que os ca�adores abor�gines de Scoresby Sound, no leste da Groenl�ndia, pro�bem seus filhos de atirarem pedras na �gua, temendo que assustem estas baleias, tamb�m conhecidas como unic�rnios-do-mar.

Ensinado a ca�ar por seu av�, Peter Arqe-Hammeken, de 37 anos, rastreia os narvais durante o breve ver�o �rtico.

Mas eles est�o ficando cada vez mais raros.

Neste fiorde repleto de icebergs, a quietude da ca�a tem sido interrompida por novos visitantes - passageiros de navios de cruzeiro que correm para ver a cultura inu�te antes que seja tarde demais.

Neste ver�o, cerca de 60 embarca��es, de pesqueiros a grandes navios de cruzeiro, chegaram � cidade de Ittoqqortoormiit, na embocadura do fiorde Scoresby Sound - o maior do mundo - no �nico m�s em que est� livre de gelo.

Enquanto alguns veem o turismo no �rtico como uma forma de revigorar sua comunidade remota, a cerca de 500 km do assentamento mais pr�ximo, outros se preocupam de que a atividade possa destruir as �ltimas sociedades inu�tes de ca�a.

"Uma semana atr�s, havia ca�adores l� fora, tentando capturar narvais. Mas um par de navios seguiu na dire��o deles", conta � AP Arqe-Hammeken, para quem os navios de cruzeiro est�o espantando a fauna selvagem.

"Quando eles v�m � cidade, tudo bem. Mas quando v�o ao territ�rio de ca�a, n�o � bom", acrescenta.

Em um �rtico que aquece depressa, com temperaturas que sobem at� quatro vezes mais r�pido do que a m�dia global, os inu�tes est�o amea�ados por todo lado.

- Territ�rios de ca�a amea�ados -

"Os ca�adores vivem da ca�a aqui. Eles t�m filhos", diz Arqe-Hammeken, nascido e criado em Ittoqqortoormiit, que teme pela forma de vida tradicional da comunidade, para a qual a carne de narval � crucial.

"Os narvais s�o muito importantes para a economia e para a [cultura alimentar da] Groenl�ndia", diz o professor Jorgen Juulut Danielsen, ex-prefeito da cidade, citando o "mattak" - pele crua e gordura de narval - como uma iguaria tradicional.

Os inu�tes ca�am estas baleias dentadas com arp�es e rifles, respeitando cotas estritas, desde que a lucrativa exporta��o das presas foi proibida em 2004.

Mas as mudan�as clim�ticas est�o reduzindo o h�bitat dos narvais e cientistas alertam que eles ir�o desaparecer por completo do leste da Groenl�ndia se a ca�a n�o for banida.

Os n�meros ca�ram tanto que os ca�adores conseguiram encontrar apenas o suficiente para alcan�ar a cota em 2021.

O gelo mais fr�gil por causa do aquecimento global tamb�m dificulta rastrear as focas - outro item b�sico da dieta local -, nos buracos que elas abrem no gelo para respirar.

"N�o h� gelo agora, enquanto antes havia gelo o ano todo", afirma Arqe-Hammeken, olhando para o mar de Ittoqqortoormiit.

Seu av� costumava entret�-lo com hist�rias de captura de focas nos arredores da cidade. Agora, os ca�adores precisam se aventurar no interior do fiorde para encontr�-las.

"H� trinta anos, havia muitos ca�adores. Hoje, h� apenas 10 ou 12", conta Arqe-Hammeken.

- Polui��o vinda de longe -

Nada cresce na tundra est�ril e com os navios de carga s� conseguindo passar pelo fiorde gelado uma vez por ano, "� importante conseguirmos [nossos nutrientes] dos animais que ca�amos localmente", diz Mette Pike Barselajsen, que gerencia a ag�ncia de turismo local, Nanu Travel.

"O que ca�amos � muito importante para a nossa cultura", acrescenta. Roupas tradicionais, como cal�as de pele de urso polar e botas de pele de foca ainda s�o usadas pelos ca�adores e em cerim�nias religiosas.

Mas, um estudo publicado em julho na revista cient�fica The Lancet Planetary Health revelou que os habitantes tinham umas das maiores concentra��es das cancer�genas PFAS (subst�ncias per e polifluoroalquil) no sangue por ingerir carne de foca, narval e urso polar, mesmo vivendo longe das fontes de polui��o.

Os "compostos qu�micos eternos" das roupas imperme�veis, tapetes, espuma antichamas e pesticidas s�o levados para o norte pelas correntes oce�nicas antes de entrarem na cadeia alimentar, chegando aos inu�tes.

Com tanta coisa contra eles, alguns ca�adores est�o mudando de atividade, passando a ca�ar linguados para complementar sua renda, afirma Danielsen. Outros est�o se voltando para o turismo.

- Turismo X preserva��o -

Ittoqqortoormiit, com suas casas coloridas, n�o poderia ser mais pitoresca, empoleirada em uma pen�nsula rochosa de frente para a embocadura do fiorde Scoresby Sound, cercado por geleiras.

Antes tranquila, agora est� cheia de grupos de turistas de cruzeiros tirando fotos de peles de ursos polares penduradas nas casas.

"A gente se pergunta como as pessoas vivem aqui", diz Christiane Fricke, uma turista alem�, atra�da como muitos outros a vivenciar a cultura tradicional antes que desapare�a.

Muitos ca�adores j� trabalham como guias de turismo ou transportando os visitantes em tren�s puxados por c�es.

"� de grande ajuda para os ca�adores ter uma renda tamb�m com o turismo", afirma Barselajsen.

Mas outros temem que os navios de cruzeiro tornem a ca�a impratic�vel.

Danielsen, o ex-prefeito, admite que aqui existe um conflito entre aqueles desejosos de abra�ar o turismo e os que temem que possa afetar a cultura nativa, especialmente a ca�a de narvais.

Com quase toda a receita do turismo indo para empresas estrangeiras, o governo da Groenl�ndia est� lan�ando um imposto a ser cobrado de passageiros dos navios de cruzeiro, de forma que as comunidades locais possam receber sua parte.


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