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Estado de Minas GUERRA NO ORIENTE M�DIO

A rotina de uma exausta cidade de Gaza, agora com um milh�o de bocas para alimentar

Uma mar� desesperada e indigente de pessoas invadiu Khan Younis, dobrando popula��o de cidade no sul do territ�rio palestino, ap�s ultimato de Israel para evacuar norte


16/10/2023 07:29 - atualizado 16/10/2023 13:02
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Palestinos recolhem água em uma das poucas estações de abastecimento em Khan Younis
Palestinos recolhem �gua em uma das poucas esta��es de abastecimento em Khan Younis (foto: Getty Images)

Um mar de gente chegou a Khan Younis.

Centenas de milhares fugiram do norte para esta cidade da Faixa de Gaza em qualquer coisa que pudesse transport�-los — carros se houvesse combust�vel, cavalos e carro�as, se pudessem ser encontrados, seus pr�prios p�s se n�o houvesse outra op��o.

E o que encontraram foi uma cidade de joelhos, mal preparada para que a sua popula��o literalmente duplicasse da noite para o dia.

Cada quarto, cada beco, cada rua est� repleta de homens, mulheres e jovens. E n�o h� outro lugar para ir.

O Hamas diz que 400 mil dos 1,1 milh�o de pessoas que vivem no norte de Gaza seguiram para o sul pela estrada Salah al-Din nas �ltimas 48 horas, seguindo a ordem de Israel para evacuar o norte do territ�rio.

Eu estava entre eles, junto com minha esposa e tr�s filhos, e o equivalente a dois dias de comida.

Para muitos, a amea�a das bombas de Israel e a invas�o iminente – que ocorre depois de homens armados de Gaza terem matado 1,4 mil pessoas em Israel – contrariam a ordem do Hamas para que a popula��o local permane�a onde esteja.

Mas nesta estreita faixa de terra, bloqueada por todos os lados e isolada do resto do mundo, as op��es de sa�da s�o limitadas. A seguran�a nunca � garantida.

E assim, uma enorme massa de habitantes de Gaza, muitos j� bombardeados nas suas casas, todos perdidos, todos com medo, todos sem saber nada do que vem a seguir, convergiu aqui.

Esta cidade, que normalmente abriga 400 mil pessoas, cresceu para mais de um milh�o durante a noite. Assim como o norte, vieram do leste, que sofreu terrivelmente na guerra de 2014.


Centenas de milhares de pessoas fugiram do norte de Gaza
Centenas de milhares de pessoas fugiram do norte de Gaza (foto: Getty Images)

Caos

Os recursos, j� escassos, est�o se esgotando rapidamente. Esta � uma cidade que j� estava exausta, � beira de uma cat�strofe e agora tudo come�a a desmoronar.

O principal hospital aqui, j� com seus estoques em baixa, n�o s� acolheu doentes e feridos do norte — tornou-se agora um ref�gio.

Refugiados fazem fila nos corredores enquanto os m�dicos cuidam dos rec�m-chegados feridos pelas bombas israelenses. O barulho de vozes que competem entre si enche o ar.

N�o se pode culpar as pessoas por virem at� aqui.

Os hospitais est�o entre os locais mais seguros nestes tempos de guerra, protegidos pelo direito internacional.

De certa forma, essas pessoas talvez sejam as mais afortunadas, pelo menos por enquanto.

M�dicos dizem que n�o t�m quase nada para oferecer �s novas v�timas – a �gua � racionada para 300ml por dia para os pacientes.

Os refugiados n�o recebem nada.

Em outros lugares, moradores acolhem os rec�m-chegados. Para come�ar, muitos em Khan Younis viviam em condi��es prec�rias. Agora eles est�o lado a lado.


Palestinos vasculham um prédio atingido por um ataque israelense em Khan Younis
Palestinos vasculham um pr�dio atingido por um ataque israelense em Khan Younis (foto: Getty Images)

J� vi apartamentos pequenos, que abrigavam mais do que podiam acomodar confortavelmente, se tornarem “casas” para 50 ou 60 pessoas — ningu�m consegue viver assim por muito tempo.

Minha fam�lia agora divide uma casa com outras quatro pessoas em um apartamento com dois quartos pequenos.

N�o existe nenhuma privacidade, mas nos consideramos entre os mais "sortudos".

As escolas por toda a cidade, tamb�m "a salvo" da guerra, est�o repletas de uma multid�o de fam�lias — dezenas de milhares, talvez, imposs�vel de calcular neste momento.

Numa delas, gerida pela ag�ncia humanit�ria da ONU, a UNRWA (Ag�ncia das Na��es Unidas de Assist�ncia aos Refugiados da Palestina no Oriente M�dio), todas as salas de aula est�o lotadas e todos os espa�os das varandas s�o atravessados por varais.

M�es e av�s cozinham nos bancos do parque no p�tio enquanto seus filhos famintos esperam impacientemente.

Mas quando n�o h� mais espa�o — e n�o h� mais espa�o — essa multid�o de pessoas inevitavelmente se espalha pelas ruas, enche os becos e as passagens subterr�neas, e vive e dorme na sujeira, na poeira, nos escombros, esperando por algo melhor que possa nunca chegar.

H� pouca comida, pouco combust�vel. N�o h� �gua nas lojas. As esta��es de �gua s�o a melhor esperan�a. � uma situa��o catastr�fica.


Mulher cozinha para refugiados em escola da ONU em Khan Younis
Alguns dos que fugiram do norte de Gaza refugiaram-se numa escola da ONU em Khan Younis (foto: Getty Images)

E n�o � que a cidade esteja a salvo de novos perigos.

Ela � regularmente bombardeada — ela fica numa zona de guerra. Pr�dios desabados e pilhas de escombros cobrem as ruas.

Ouvi lan�amentos de foguetes perto do hospital, enquanto o Hamas continua a atacar Israel.

� um convite aberto � retalia��o.

O zumbido dos drones israelenses em busca do pr�ximo alvo est� sempre presente.

E bombas caem, edif�cios caem e os necrot�rios e hospitais ficam cheios de mais gente.

Uma bomba caiu perto do apartamento da minha fam�lia esta manh�. Como todos os servi�os telef�nicos est�o indispon�veis ou gravemente danificados, levei 20 minutos para entrar em contato com meu filho.

N�o se pode viver assim. E a invas�o ainda nem come�ou.

Cobri quatro guerras aqui em Gaza, minha casa. Nunca antes vi algo parecido.

Por pior que tenham sido as guerras anteriores, nunca tinha visto ningu�m passar fome ou morrer de sede neste lugar. Esta � agora uma possibilidade real.

A �nica op��o para sair de Gaza, a passagem de Rafah para o Egito, permanece fechada. E o Cairo sabe que abri-lo daria in�cio a um novo desastre humanit�rio.

H� atualmente 1 milh�o de refugiados de Gaza a 20 quil�metros de Rafah. Uma vez aberta a passagem, haveria caos.

Vi a mesma coisa em 2014, quando milhares de pessoas tentaram escapar da guerra. Desta vez seria muito, muito pior. Isto � o que o Egito teme.

A multid�o de pessoas ir� simplesmente atravessar a fronteira e ser� novamente uma cat�strofe e um caos.


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