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Estado de Minas ELEI��ES

Quem � Daniel Noboa, o herdeiro de um imp�rio empresarial que ser� presidente do Equador

Empres�rio vence advogada Luisa Gonz�lez, aliada do ex-presidente Rafael Correa, que reconheceu a derrota na noite de domingo. Campanha foi marcada por viol�ncia


16/10/2023 06:21 - atualizado 16/10/2023 09:15
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Daniel Noboa
Daniel Noboa, de 35 anos, que venceu a elei��o com 52,3% dos votos, ao lado da esposa, Lavinia Valbonesi (foto: Getty images)

O empres�rio Daniel Noboa, 35 anos, venceu neste domingo (15/10) as elei��es no Equador e ser� o presidente mais jovem da hist�ria do pa�s ap�s uma campanha marcada pela viol�ncia, em que um dos candidatos foi assassinado dias antes do primeiro turno, em agosto.

Com mais de 90% dos boletins de urnas v�lidas examinados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do pa�s, Noboa, da coaliz�o A��o Democr�tica Nacional, venceu a disputa do segundo turno com 52,3% dos votos, � frente dos 47,7% da advogada Luisa Gonz�lez, apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa.

Gonz�lez, do Revolu��o Cidad�, reconheceu a derrota quando a tend�ncia de vit�ria do empres�rio j� era irrevers�vel.

Daniel Noboa Az�n, de uma fam�lia dona de um imp�rio empresarial que inclui uma empresa exportadora de banana, assumir� um mandato at�pico, que ter� in�cio em dezembro, em uma data ainda a confirmar, e durar� apenas at� maio de 2025.

� que Noboa vai completar o mandato do presidente Guillermo Lasso, que dissolveu a Assembleia Nacional e convocou elei��es antecipadas em meio a um processo de impeachment sob acusa��o de corrup��o.

A seguir, a trajet�ria empresarial e pol�tica de Noboa e suas principais propostas.


Daniel Noboa, o eleito
Daniel Noboa ser� o presidente mais jovem da hist�ria do Equador (foto: Getty images)

Imp�rio familiar

Daniel Noboa, casado com a modelo e influencer de 25 anos Lavinia Valbonesi, pai de seu segundo filho, pertence � terceira gera��o de uma fam�lia de empres�rios multimilion�rios de Guayaquil.

Seu av�, Luis Noboa Naranjo (1916-1994), fundou a Exportadora Bananera Noboa e chegou a ser considerado o homem mais rico do Equador.

O pai de Daniel, �lvaro Noboa Pont�n (Guayaquil, 1950), expandiu o neg�cio da fam�lia para al�m das bananas, passando a controlar uma rede multinacional de empresas sob a bandeira do Grupo Noboa.

O sucesso econ�mico do cl� foi v�rias vezes afetado por alega��es de evas�o fiscal e explora��o laboral.

A BBC Mundo contatou representantes da fam�lia para fazer coment�rios, mas n�o obteve resposta at� a publica��o deste texto.

�lvaro Noboa foi o primeiro a dar um salto para a pol�tica, algo comum entre as fam�lias com poder econ�mico no Equador e especialmente em Guayaquil, a capital comercial do pa�s.

A aspira��o de �lvaro chegar � presid�ncia foi, no entanto, em v�o. O pai do futuro presidente � o candidato que mais vezes tentou, cinco no total, e sem sucesso, chegar ao cargo m�ximo no pa�s. Nas elei��es de 2006, esteve perto: perdeu no segundo turno para Rafael Correa, que liderou o pa�s at� 2017.

"�lvaro Noboa gerou rejei��o porque era uma clara representa��o da plutocracia e da burocracia mais excludente", disse � BBC Mundo o jornalista equatoriano Diego Cazar Baquero, diretor da revista independente La Barra Espaciadora.

Daniel Noboa estudou em universidades de prest�gio nos Estados Unidos. Ele se formou em administra��o de empresas na Universidade de Nova York, administra��o p�blica na Harvard Kennedy School, al�m de ter feito um mestrado em Governan�a e Comunica��o Pol�tica na Universidade George Washington.

Mas Noboa, que aos 18 anos tinha fundado uma empresa de organiza��o de eventos chamada DNA Entertainment Group, s� recentemente come�ou na pol�tica: estreou como deputado em 2021 e se tornou presidente da Comiss�o de Desenvolvimento Econ�mico do Parlamento.


Luisa González
Luisa Gonz�lez teve 47,7% dos votos e ficou em segundo lugar (foto: Getty Images)

Ap�s a dissolu��o do Parlamento, com a ativa��o da chamada morte cruzada (dissolu��o da Assembleia e convoca��o de novas elei��es) pelo presidente Lasso, em maio, Noboa se apresentou como pr�-candidato com um perfil diferente do de seu pai.

"Daniel marca uma certa dist�ncia de �lvaro no plano simb�lico, no plano discursivo e no plano pr�tico", explica Cazar Baquero.

Por exemplo, enquanto seu pai foi classificado na direita pol�tica, Daniel afirma ser de centro-esquerda, com ideias sociais progressistas, como o apoio � comunidade LGBTQia+ e uma forte �nfase na educa��o.

Para o cientista pol�tico Roberto Calder�n, isso foi uma "estrat�gia de marketing pol�tico" que se revelou bem sucedida.

"Ele se descreve como sendo de centro-esquerda devido � baixa popularidade do governo de Guillermo Lasso, pois sabe que o r�tulo de direita poderia associ�-lo � continua��o desse executivo", diz.

Seus cr�ticos afirmam que a vice-presidente eleita, Ver�nica Abad, tem uma orienta��o marcadamente de direita.

Outra diferen�a apontada pelos analistas � o fato de Daniel ter desenvolvido uma orat�ria superior � do seu pai e ter conseguido fazer chegar suas ideias ao eleitorado.

De fato, o salto mais importante em sua curta corrida � presid�ncia foi no debate que antecedeu o primeiro turno.

Azar�o

Poucos dias antes do primeiro turno, em 20 de agosto, ningu�m acreditava que Noboa tinha chances reais de passar para a disputa final.

At� que chegou o debate decisivo, onde ele confrontou ideias com Luisa Gonz�lez e outros candidatos que eram considerados favoritos.

"Ele teve a oportunidade, em poucos minutos, de mostrar seu conhecimento sobre certos dados cruciais sobre a situa��o atual do pa�s, e isso o fez parecer muito bem informado e preparado para assumir a presid�ncia", diz o jornalista Cazar Baquero.

J� o cientista pol�tico Roberto Calder�n indica que sua participa��o no debate foi crucial para ele se posicionar "como uma alternativa ao corre�smo", representado por Gonz�lez, a quem derrotou no �ltimo domingo.

No entanto, ambos os analistas destacam que n�o seria correto rotular Noboa como um ant�corre�sta, mas sim como um pol�tico habilidoso que demonstrou posi��es moderadas e pragm�ticas, evitando ataques diretos a seus rivais em debates e discursos.

"A praticidade de seu discurso e sua decis�o de se afastar da polariza��o entre corre�smo e ant�corre�smo funcionaram muito bem para ele. Isso revela que o eleitorado quer escapar da polariza��o, da inseguran�a, da viol�ncia cotidiana e buscar solu��es extremamente pr�ticas e imediatas", afirma Cazar Baquero.

No segundo turno, Noboa se posicionou como favorito em todas as pesquisas.

Isso tamb�m � atribu�do em grande parte �s limita��es pr�prias do Revolu��o Cidad�, cujos l�deres jamais recuperaram a popularidade dos tempos da presid�ncia de Rafael Correa, um dos s�mbolos dos governos de esquerda da regi�o nos anos 2000.

Propostas

Quanto �s propostas, Noboa parece ter conseguido se conectar com o eleitorado jovem, que v� com bons olhos uma alternativa pol�tica nova com propostas originais para resolver os in�meros problemas do Equador.

"Ele mirou um eleitorado muito jovem que precisa de emprego; prop�s que o setor privado � quem gera empregos e que � necess�rio fortalec�-lo por meio de isen��es fiscais; e adaptou essa proposta � sua posi��o de centro-esquerda, afirmando que as empresas com responsabilidade social se beneficiar�o", explica Cazar Baquero.

"Temos um plano ambicioso para reduzir o desemprego juvenil e promover a cria��o de empregos. Por exemplo, o IVA diferenciado para materiais de constru��o, o est�mulo ao investimento em constru��o e a retomada de obras p�blicas abandonadas no pa�s nos �ltimos dois anos. Tudo isso, em conjunto, pode gerar empregos de maneira muito r�pida", disse Noboa em uma recente entrevista ao meio de comunica��o equatoriano Primicias.

A cria��o de empregos � um dos dois pilares principais do programa de Noboa. O outro � a luta contra o crime, tema no qual promete "m�o firme" e "restaurar a paz nas fam�lias".

O Equador est� passando por uma das maiores crises de seguran�a de sua hist�ria e se tornou um dos pa�ses mais violentos da Am�rica Latina, com 3.500 homic�dios registrados apenas nos primeiros sete meses deste ano, de acordo com dados da pol�cia.

Gangues criminosas como Los Choneros, Los Lobos, Los Tiguerones ou a m�fia balc�nica controlam bairros inteiros e pris�es, de onde conduzem suas atividades il�citas diante da impot�ncia, e muitas vezes com a cumplicidade, das autoridades.

"Devemosr promover reformas profundas no sistema carcer�rio e ter um programa de segrega��o apropriado, no qual os 17%, que s�o os mais violentos, sejam completamente isolados", declarou Noboa em sua entrevista a Primicias.

O jovem pol�tico, que usou colete � prova de balas durante a campanha ap�s o assassinato do candidato Fernando Villavicencio em 9 de agosto, prop�s como sua ideia mais inovadora a instala��o de pris�es flutuantes em barca�as para confinar criminosos perigosos longe da costa e impedir que continuem operando a partir da pris�o, como acontece atualmente.

"As pris�es em barca�as seriam uma medida transit�ria para alocar os criminosos mais perigosos, enquanto reestruturamos todo o sistema penitenci�rio, mas n�o podemos trat�-los como em um hotel cinco estrelas. Eles t�m tomadas, ar-condicionado, telas, h� su�tes nas pris�es", afirmou.

No entanto, essa iniciativa gerou d�vidas. "� muito dif�cil de ser implementada, porque a fabrica��o das barca�as levaria mais de um ano e meio de seu mandato, a log�stica � complicada e o sistema jur�dico equatoriano n�o prev� o isolamento como pena para os detentos", disse o analista Calder�n.

Outras propostas de Noboa para combater o crime incluem penalizar o consumo de drogas em pequena escala, criar um sistema de j�ri para crimes graves e investir em avan�os tecnol�gicos, como drones e radares, para neutralizar o crime organizado nas estradas e fronteiras.

No quesito seguran�a, a campanha termina tamb�m com uma sombra. O assassinato do candidato que se apresentava como anticorrup��o, Fernando Villavicenio, segue sem desfecho. Seis suspeitos, todos colombianos, foram presos acusados de liga��o com o crime, mas acabaram eles mesmos assassinados na pris�o no come�o do m�s.

No aspecto econ�mico, ele se posicionou a favor de manter a dolariza��o e prometeu atrair empresas americanas para o pa�s.

Uma das propostas mais controversas de Daniel Noboa � a elimina��o do imposto sobre a sa�da de capitais, algo que seus cr�ticos questionam, considerando que beneficiaria apenas grandes corpora��es, em particular, o conglomerado empresarial de sua fam�lia.

Em sua campanha, Daniel Noboa tamb�m enfatizou a ideia de fortalecer a educa��o, aumentando os investimentos no setor educacional, implementando pol�ticas de incentivo para escolas e universidades, e programas que buscam ligar a esfera educacional � produtiva.

Rela��o com a Assembleia

Se h� algo que todos os analistas concordam � que Daniel Noboa n�o ter� vida f�cil para avan�ar com suas propostas.

Para alcan�ar seus objetivos, ele precisar� de apoio que lhe permita obter maiorias pontuais na Assembleia Nacional, um �rg�o composto por 137 membros altamente fragmentado, onde seus rivais da Revolu��o Cidad� det�m o maior n�mero de assentos, embora estejam longe da maioria necess�ria para vetar iniciativas.

"Ele ter� que buscar alian�as, e a� entra em cena a distribui��o de minist�rios ou institui��es p�blicas para aliados pol�ticos, a fim de garantir votos na Assembleia. Haver� aqueles que receber�o algum tipo de benef�cio, que se unir�o aos aliados naturais do presidente devido � afinidade pol�tica", opina o cientista pol�tico Calder�n.

Por outro lado, Cazar Baquero acredita que "� interessante observar como Noboa planeja a rela��o que ter� com uma Assembleia que vem de uma grande desaprova��o, que se caracterizou por obstruir o trabalho do governo, e da qual ele pr�prio fez parte."

O progn�stico do jornalista � que Noboa "legislar� negociando apenas os aspectos essenciais da lei e apresentar� projetos de lei de urg�ncia todo m�s para pressionar a Assembleia."

Isso confirmaria, segundo ele, que o novo presidente est� plenamente consciente de que tem apenas um ano e meio para enfrentar o desafiador objetivo de resolver os numerosos e cada vez mais graves problemas pol�ticos, econ�micos e, acima de tudo, de seguran�a que o Equador enfrenta.

De qualquer forma, ele espera estender seu mandato. "Se vencermos, buscarei a reelei��o em 2025", confirmou alguns dias antes das elei��es.


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