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Estado de Minas BUENOS AIRES

Peronismo, a inc�gnita pol�tica argentina


18/10/2023 14:44
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Os rostos de Evita sobre Buenos Aires das fachadas de um edif�cio central - um amig�vel para o sul, e outro, tenso, ao norte - resumem o mutante peronismo, o movimento que dominou a pol�tica argentina e agora luta para evitar um rev�s eleitoral hist�rico.

T�o dif�cil de entender fora da Argentina quanto de explicar para quem chega ao pa�s, o peronismo tem data de nascimento: 17 de outubro de 1945, dia em que, dos sub�rbios sul da capital, marcharam os trabalhadores que acabaram levando � presid�ncia, por uma d�cada (1946-55), o coronel Juan Domingo Per�n, um promotor de reformas sociais e trabalhistas.

Mais de meio s�culo depois, para o jovem de 27 anos, Nicol�s Yugman, rec�m-formado em Psicologia, o peronismo se apresenta como "uma contradi��o".

"Per�n, em seus diferentes governos, teve ideias distintas, contr�rias. Desde o nascimento do peronismo at� agora, ideias opostas � sua pr�pria doutrina foram expressas sob sua bandeira", disse ele � AFP.

- Como surgiu? -

"Per�n n�o inventou o peronismo, o peronismo inventou Per�n", explica o historiador Alejandro Horowicz, autor de "Los cuatro peronismos", ao descrever a origem desse movimento que organizou a classe oper�ria e melhorou sua renda, em um pa�s que come�ava sua industrializa��o.

Testemunha do fascismo italiano em 1930, Per�n promoveu uma "comunidade organizada", oposta � democracia liberal. Seu modelo econ�mico "nacional e popular" redistribuiu a riqueza, habilitou o voto feminino e foi repetidamente legitimado nas urnas.

O primeiro ide�rio do Partido Justicialista se resumia em "soberania pol�tica, independ�ncia econ�mica e justi�a social", estruturado em tr�s corpora��es: Estado, sindicatos e empres�rios. E um �nico chefe: Per�n.

As classes m�dia e alta conservadoras se opuseram ao autoritarismo, em que Per�n caiu. Em uma Argentina cheia de �dio pol�tico, a oposi��o se aliou com os militares para derrub�-lo, com viol�ncia, em 1955. O golpe foi gestado em resid�ncias na zona norte da cidade.

- De direita ou de esquerda? -

A Argentina permaneceria polarizada durante v�rias d�cadas, nas quais o pr�prio peronismo, banido das urnas, mudou e adotou ideias, inclusive, contradit�rias.

Assim, exilado na Espanha do ditador Francisco Franco, que o protegeu, Per�n fez um apelo de "resist�ncia" aos sindicatos e de "liberta��o nacional" aos jovens inspirados na Revolu��o Cubana.

O l�der voltou em 1973 decidido a reagrupar o partido, mas morreu um ano depois, em meio ao "terceiro peronismo", devorado pela viol�ncia de suas duas express�es extremas: a guerrilha Montoneros, que proclamava o "socialismo nacional", e a paramilitar Alian�a Anticomunista Argentina (Triple A).

Sempre ligados a uma lideran�a forte, na d�cada de 1990 os argentinos elegem um "quarto peronismo" com o presidente Carlos Menem, que, determinado a promover a "uni�o nacional" abra�ou o liberalismo econ�mico.

- O que � o peronismo "K"? -

A experi�ncia neoliberal, com privatiza��es e taxa de c�mbio fixa de um peso por um d�lar, terminou com uma grave crise em 2001.

Depois chegaram os peronistas "K", N�stor Kirchner (2003-2007) e sua esposa, Cristina Kirchner (2007-2015), para confirmar que o peronismo mantinha uma qualidade constante: garantir a governabilidade.

Com os Kirchner, o papel ativo do Estado voltou. Mas o casal n�o chegou a criar um "quinto peronismo", segundo Horowicz, e conseguiu apenas opor "um bom capitalismo a um mau capitalismo".

"Foi uma tentativa de governo progressista com ra�zes esquerdistas", que tirou o pa�s da crise, disse � AFP o historiador Felipe Pigna.

"Mas cometeu um erro grav�ssimo" em 2008, acrescentou ele, quando quis aumentar os impostos para o campo e enfrentou os produtores agr�rios, motor da recupera��o.

Assim como Per�n na d�cada de 1950, acabou unindo contra si quase toda a oposi��o.

- Tem futuro? -

"Sinto que, hoje em dia, o peronismo n�o existe mais. Dizem que � peronismo, mas � mais kirchnerismo. O peronismo � o do Per�n, o antigo, o de antes", comentou Luc�a Cardillo, uma estudante do ensino m�dio de 15 anos, em conversa com a AFP.

De volta ao poder desde 2019, com Alberto Fern�ndez na presid�ncia, e Cristina Kirchner como vice, a grave crise econ�mica, com pobreza de 40%, atinge a base eleitoral do peronismo.

"O peronismo se tornou incapaz de sofrer muta��o", declarou Horowicz. � "a longa agonia do quarto peronismo", escreveu.

Condenada por corrup��o e v�tima de uma tentativa de assassinato em 2022, Cristina Kirchner, a �ltima l�der forte do peronismo, foi-se retirando, cada vez mais, da cena pol�tica e, finalmente, decidiu n�o concorrer a nenhum cargo nas elei��es de domingo.

No �ltimo minuto, o peronismo recorreu a Sergio Massa, ministro da Economia, como um l�der circunstancial, que mal deve chegar a 30% dos votos no primeiro turno da elei��o presidencial, conforme as pesquisas.

Outro l�der peronista, o governador Axel Kicillof, reconheceu: "vamos ter de compor uma nova can��o. As pessoas n�o est�o ouvindo a gente".

Mas ningu�m imagina que sua forte marca possa ser apagada. "N�o creio que o peronismo v� desaparecer", afirmou Pigna.


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