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Estado de Minas GUERRA NO ORIENTE M�DIO

5 principais riscos de um ataque terrestre de Israel a Gaza

Apesar de contar com um dos ex�rcitos mais ricos e poderosos do mundo, Israel sabe dos riscos envolvidos na ofensiva terrestre


21/10/2023 09:10 - atualizado 21/10/2023 11:23
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Veículos militares e soldados israelenses perto da fronteira com Gaza
Ve�culos militares e soldados israelenses perto da fronteira com Gaza (foto: HANNIBAL HANSCHKE/EPA-EFE/REX/Shutterstock)

O per�odo mais duro da guerra entre Israel e o Hamas em Gaza ainda pode estar por vir.

Diante de centenas de milhares de militares israelenses, que h� dias vestem uniformes de guerra e carregam armamento pesado na fronteira de Israel com Gaza, o ministro da Defesa Yoav Gallant fez nesta quinta-feira (19/10) a sugest�o mais clara at� agora sobre um poss�vel ataque israelense por terra.

"Voc�s veem Gaza agora � dist�ncia. Em breve a ver�o de dentro. O comando vir�", disse ele aos soldados. Pouco depois, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu postou um v�deo dele pr�prio cercado por militares na fronteira e prometendo vit�ria.

Apesar de contar com um dos ex�rcitos mais ricos e poderosos do mundo, tanto Netanyahu, quanto o ministro Gallant, quando as centenas de milhares de tropas estacionadas na fronteira sabem dos riscos envolvidos na empreitada.

Como matar "todos os membros do Hamas", como prometeu Nethanyahu, em um territ�rio que inclui um emaranhado de 500 km de t�neis, segundo o grupo palestino, e cerca de 200 ref�ns nas m�os do inimigo?

E, mesmo que isso fosse poss�vel, como garantir que novos integrantes n�o assumir�o imediatamente o legado do grupo?

Al�m disso - qual pode ser a resposta de pa�ses vizinhos �rabes ao crescente n�mero de v�timas, mais de 4.000, em meio � retalia��o israelense ao b�rbaro ataque de 7 de outubro do Hamas, que resultou em 1.400 israelenses mortos, comunidades destru�das e mais de uma centena pessoas sequestradas, incluindo dezenas de menores de idade e idosos, segundo Israel?

Ainda: como reagir�o aliados, como EUA e Europa, enquanto Gaza se transforma em um "buraco do inferno perto do colapso", nas palavras da ag�ncia da ONU para refugiados palestinos?

Por fim, o que dir�o os pr�prios israelenses, diante da crescente impopularidade de Netanyahu e a perspectiva de mais mortos em combates?

A promessa israelense de "eliminar o Hamas e destruir suas capacidades militares e pol�ticas" � considerada gigantesca e dif�cil de cumprir - e isso ajuda a entender o impasse sobre entrar por terra em Gaza, apesar das tropas e posi��o de ataque.

Entenda, a seguir, os principais riscos.

1. As armadilhas escondidas em um labirinto subterr�neo

A faixa de Gaza tem s� 41 km de comprimento e 10 km de largura. Mas esse terreno cresce quando se leva em conta lado obscuro do territ�rio.

� muito dif�cil avaliar o tamanho do “Metr� de Gaza”, como Israel chama a rede de t�neis em constante constru��o na regi�o e sob dom�nio do Hamas.

Ap�s combates em 2021, for�as militares israelenses disseram ter destru�do mais de 100 km de t�neis em ataques a�reos. O Hamas, no entanto, disse que os seus t�neis se estendiam por 500 km e que apenas 5% haviam sido atingidos.

O maior metr� do Brasil, em S�o Paulo, tem pouco mais de 100km, para efeito de compara��o.


Mapa de Gaza com marcações de onde seriam túneis
(foto: BBC)

Foto de satélite mostra pontos dos túneis que teriam sido identificados por Israel
(foto: BBC)

"O risco da rede de t�neis � que ela vai permitir que os defensores do Hamas se movam pelo campo de batalha enquanto est�o escondidos e protegidos de ataques", explicou � BBC News Brasil David Betz, professor de Guerra no Mundo Moderno na universidade Kings College de Londres.

"Assim, eles podem ser capazes de atacar as for�as israelenses de surpresa pelo flanco ou pela retaguarda e potencialmente desaparecer novamente."

O especialista explica que � dif�cil localizar as entradas e sa�das dos t�neis.

"Eles tamb�m s�o bastante dif�ceis de destruir. Os explosivos t�m de ser colocados numa parte consider�vel do seu comprimento para causar um grande colapso. Um pequeno colapso pode ser contornado pelo Hamas e o t�nel voltar a ser utilizado", diz.

Al�m disso, como lembra a correspondente internacional-chefe da BBC, Lyse Doucet, "n�o est� claro at� que ponto os israelenses t�m conhecimento sobre que os aguarda na Faixa de Gaza".

"A destreza militar do Hamas – incluindo seu conhecimento surpreendentemente preciso da seguran�a israelense, que permitiu ao grupo ludibriar as formid�veis defesas do pa�s – impressionou Israel. O Hamas provavelmente vai demonstrar o mesmo n�vel de sofistica��o quando enfrentar a rea��o israelense, que certamente ser� feroz", ela diz.

� BBC, Daphn� Richemond-Barak, especialista em guerra subterr�nea da Universidade Reichman, em Israel, explica que os t�neis dentro de Gaza t�m centros de comando e controle, eletricidade, e permitem a perman�ncia de longo prazo de integrantes do grupo.

"O Hamas poderia facilmente usar escudos humanos no contexto dos t�neis e simplesmente colocar ref�ns israelenses, e outros dentro deles", diz.

2. Um 'futuro sombrio' para os ref�ns


Pessoas abraçadas, uma delas, um homem, segura foto de um refém em frente a grande mesa vazia
Em manifesta��o em Tel Aviv, fam�lias de israelenses mantidos como ref�ns aparecem ao lado de mesa de jantar posta com cadeiras vazias que representam simbolicamente os sequestrados (foto: REUTERS/Janis Laizans)

A seguran�a de mais de uma centena de ref�ns raptados pelo Hamas no ataque de 7 de outubro contra Israel est� no cora��o das estrat�gias desenhadas pelas for�as de seguran�a israelenses.

Nesta sexta-feira, o ex�rcito israelense divulgou novos detalhes sobre ref�ns em Gaza.

Duas ref�ns americanas que haviam sido sequestradas pelo Hamas foram liberadas, ap�s um acordo mediado pelo governo do Catar.

Dos atualmente detidos na Faixa de Gaza, segundo Israel, mais de 20 deles t�m menos de 18 anos - a mais jovem � um beb� de 9 meses.

Entre 10 a 20 pessoas t�m mais de 60 anos, continua o comunicado, que aponta que "a maioria dos ref�ns est� viva".

Os israelenses tamb�m afirmam que cad�veres foram “levados como ref�ns” para a Faixa de Gaza ap�s os ataques do Hamas.

Mas o paradeiro da maior parte deles � um mist�rio.

"Enquanto faltarem informa��es de intelig�ncia, os riscos para os ref�ns e para os soldados israelenses existir�o", diz � BBC News Brasil o analista pol�tico-militar Bilal Y. Saab, do Programa de Oriente M�dio e Norte de �frica do think-tank brit�nico Chatham House.

"As For�as de Defesa de Israel, que t�m como alvo o Hamas, podem acabar matando ref�ns com as suas pr�prias armas", alerta o professor Betz � reportagem.

Ele cita combates em Mariupol, na Ucr�nia, h� um ano, quando for�as ucranianas lutavam a partir de andares altos de edif�cios de apartamentos, enquanto civis de origem russa ficavam encurralados nos andares inferiores.

"Isso tornou os esfor�os russos para atingir os ucranianos muito dif�ceis e dolorosos", diz Betz.

"Da mesma forma, se pressionado, o Hamas pode matar ou amea�ar matar ref�ns para tentar influenciar as decis�es dos comandantes israelenses. (...) N�o vejo como o destino dos ref�ns israelenses possa ser outra coisa que n�o muito sombrio."

3. O pre�o das mortes de civis palestinos - e de soldados israelenses


Várias pessoas observam destroços de carro e prédios
Destro�os de igreja ortodoxa grega ap�s um ataque a�reo noturno em Gaza nesta sexta-feira (20); pelo menos 18 pessoas foram mortas, de acordo com as autoridades palestinas (foto: MOHAMMED SABER/EPA-EFE/REX/Shutterstock)

A ONU informou nesta sexta-feira que 16 de seus funcion�rios foram mortos em Gaza desde que a guerra come�ou.

Citando o Minist�rio da Sa�de de Gaza, as Na��es Unidas falam em pelo menos 853 crian�as mortas pelos bombardeios de Israel e pedem paralisa��o imediata dos bombardeios - vindo de ambos os lados.

O total de feridos em Gaza segundo o documento � de 12.493, "incluindo 3.983 crian�as e 3.300 mulheres". Mais de um milh�o de pessoas foram for�adas a se deslocar de suas casas com guerra.

Protestos contr�rios � resposta de Israel tem sido registrados nas principais capitais da Europa e do mundo �rabe. Protestos pr�-Israel tamb�m tem sido registrados em v�rias localidades.

Em visitas recentes a Israel, l�deres ocidentais ressaltaram apoio irrestrito ao direito de Israel de se defender contra seus inimigos "desde que a legisla��o internacional seja respeitada".

Com o crescimento de cr�ticas ao impacto sobre civis da resposta israelense a agress�o do Hamas, Israel tem "um problema mais pol�tico do que militar", na avalia��o do analista Saab.

"Israel pode utilizar seu material b�lico mais pesado, mas corre o risco de alienar os aliados ocidentais que pedem a Israel que respeite as regras da guerra", diz.

O correspondente de seguran�a da BBC, Frank Gardner, concorda.

"� medida que o n�mero de mortos entre os civis palestinos aumenta como resultado dos implac�veis ataques a�reos israelenses, grande parte da como��o global por Israel ap�s as a��es sanguin�rias do Hamas em 7 de outubro foi substitu�da por um clamor crescente para que os bombardeios cessem e que os cidad�os comuns de Gaza sejam protegidos", ele afirma.

E, caso as for�as terrestres israelenses entrem por terra em Gaza, o n�mero de mortos vai definitivamente aumentar.

"� prov�vel que, mais uma vez, seja a popula��o civil a sofrer o peso do conflito", diz o especialista da BBC.

Na avalia��o do jornalista brit�nico Jonathan Freedland, Israel pode "estar caminhando para uma ‘emboscada’ do Hamas”.

"(Em uma invas�o por terra), Israel sofrer� pesadas baixas e ir� infligi-las – e ambos os resultados agradar�o perfeitamente ao Hamas", disse ele em coluna no jornal The Guardian, apontando que um aumento do n�mero de mortos palestinos "seria uma vantagem na guerra de propaganda", enquanto as mortes de soldados israelenses fortaleceriam o Hamas entre os palestinos.

"Uma guerra longa e sangrenta � o que o Hamas e os seus apoiadores iranianos – desesperados para inviabilizar os recentes movimentos no sentido da ‘normaliza��o’ das rela��es entre Israel e v�rios dos seus vizinhos, sobretudo a Ar�bia Saudita – anseiam", avalia Freedland no artigo.

Netanyahu, cujo governo vinha sendo alvo de grandes protestos nas ruas de Israel, v� sua oposi��o interna intensificada ap�s as falhas de intelig�ncia que n�o previram e conseguiram evitar os ataques do Hamas.

Ainda assim, Netanyahu conseguiu um apoio da oposi��o para formar um novo governo unificado a instala��o de um gabinete de guerra, ante um consenso no qual a popula��o parece n�o ver alternativas para al�m da "aniquila��o do Hamas".

"A quest�o-chave para Israel ser� o clima interno, que, na minha opini�o, neste momento se baseia numa percep��o bastante fria de que n�o h� muita escolha", diz o professor de guerra moderna do Kings College.

"Eles n�o podem se dar ao luxo de ser fracos, e a maioria das pessoas parece entender isso", diz.

4. Um segundo front contra inimigos bem mais poderosos

"Dif�cil acreditar que o Hezbollah v� ficar ali sentado vendo o seu parceiro palestino pr�ximo ser potencialmente desarmado pelas for�as de seguran�a de Israel", diz � BBC News Brasil o analista pol�tico-militar Bilal Y. Saab.

Diante da possibilidade de uma invas�o contra Gaza por terra, o especialista, que trabalhou como conselheiro s�nior do Departamento de Defesa dos EUA, diz que "a probabilidade de outra frente de guerra ser aberta � muito real".

Seu foco mais prov�vel � a fronteira norte de Israel com o L�bano, onde bombardeios m�tuos entre militantes do Hezbollah e militares israelenses j� resultaram na evacua��o de cidades inteiras nos �ltimos dias.


Mapa do Oriente Médio
(foto: BBC)

O Hezbollah � um partido pol�tico isl�mico xiita e um grupo paramilitar que exerce grande poder na pol�tica libanesa. Assim como o Hamas, � apoiado pelo Ir�.

A formaliza��o desta nova frente de guerra significaria uma "escalada dram�tica" nos problemas enfrentados por Israel.

"O Hezbollah tem um arsenal de m�sseis muito mais significativo que o do Hamas – muitas vezes maior em n�mero, mas tamb�m em alcance, precis�o e poder explosivo", explica David Betz.

"Aer�dromos, bases, infraestruturas de transporte e comunica��es, instala��es portu�rias e assim por diante de Israel poderiam ser alvo de ataques", continua o professor, lembrando que uma segunda frente no L�bano pode sobrecarregar as for�as de defesa de Israel.

"Qualquer opera��o no terreno em Gaza exigir� muitas tropas, e um n�mero ainda maior ser� necess�rio no norte", diz Betz � BBC News Brasil.

O Ir� est� no centro deste debate. O pa�s vem emitindo duros avisos de que o ataque de Israel a Gaza n�o pode ficar sem resposta.

O pa�s financia, treina, arma e controla v�rias mil�cias no Oriente M�dio.

Nas palavras do correspondende de seguran�a da BBC, Frank Gardner, "de longe, a mais potente delas � o Hezbollah no L�bano".

Israel e L�bano travaram uma dura guerra em 2006. Enquanto o resultado foi inconclusivo, centenas de soldados foram mortos e modernos tanques de guerra de Israel foram destru�dos por minas escondidas e emboscadas bem planejadas.

"A abertura de um novo front faria com que o conflito de 2006 pare�a um passeio no parque", avalia Saab � BBC News Brasil.

O motivo � que, desde 2006, o Hezbollah se rearmou com ajuda iraniana.

Acredita-se que o grupo tenha hoje perto de 150 mil foguetes e m�sseis, muitos dos quais s�o de longo alcance e guiados com precis�o, o que torna seu poderio militar muito maior do que em 2006.

5. A entrada de novos pa�ses em uma guerra bem maior

Para Bilal Y. Saab, uma guerra contra o Hezbollah torna o "risco de uma escalada bastante elevado".

Em outras palavras, cresce a possibilidade de mais pa�ses se envolverem na guerra - algo que europeus e norte-americanos tentam, a todo custo, evitar.

Ap�s uma rodada por diversos pa�ses �rabes de seu secret�rio de Estado, Antony Blinken, o presidente americano Joe Biden fez nesta semana uma viagem-rel�mpago � regi�o que previa encontros com chefes de governo do L�bano, Jord�nia, Egito e Autoridade Palestina - justamente para baixar os �nimos.

Biden s� conseguiu, no entanto, visitar Israel.

Os encontros com l�deres �rabes, que aconteceriam na Jord�nia, foram subitamente cancelados depois da explos�o em um hospital de Gaza, cujas causas viraram foco de novas trocas de acusa��es entre israelenses e palestinos.

Dias depois, o primeiro-ministro brit�nico, Rishi Sunak, tamb�m viajou para a regi�o, onde esteve com l�deres da Autoridade Palestina, da Ar�bia Saudita e do Egito, al�m de Israel.

Duas mensagens principais foram repetidas por Blinken, Biden, Sunak e outros l�deres ocidentais: "Apoiamos Israel e n�o podemos deixar que a guerra saia das fronteiras de Gaza".

Mas o que gera tanta preocupa��o?

"Se o Ir� tamb�m se envolver diretamente, em vez de simplesmente atrav�s do Hezbollah, seria ent�o muito prov�vel que outras pot�ncias sejam atra�das", explica o professor David Betz.

Isso incluiria os pr�prios EUA - que enviaram na semana passada dois porta-avi�es, cerca de 2.000 fuzileiros navais e navios de apoio para o Oriente M�dio.

Sinais desta escalada j� come�am a aparecer, para al�m do Hamas e do Hezbollah.

Na quinta-feira (19/10), um navio de guerra da Marinha dos EUA interceptou m�sseis e drones lan�ados do I�men pelo movimento Houthi, alinhado ao Ir�, segundo o Pent�gono.

O governo americano disse que os m�sseis foram lan�ados “potencialmente contra alvos em Israel”.

O Pent�gono tamb�m disse que as tropas dos EUA no Iraque e na S�ria foram atacadas v�rias vezes nos �ltimos dias.

Washington est� em alerta para atividades de grupos apoiados pelo Ir�, enquanto Israel continua a atacar alvos do Hamas em Gaza.

"A situa��o � extremamente confusa e repleta de potencial significativo de escalada", diz Betz � BBC News Brasil.


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