A jovem foi levada, assim como os outros 900 membros do kibutz Beeri, no sul de Israel, para um hotel no Mar Morto, e diz que, desde ent�o, vive "como uma morta-viva". Tanto sua m�e quanto seu pai, que moravam em outra rua do kibutz, foram sequestrados.
"Desde 7 de outubro � como se fosse um dia que nunca acaba. Nunca senti tanta impot�ncia", confessa a menina, com o olhar perdido.
Entrincheirada com o namorado durante 18 horas no abrigo antim�sseis de sua casa, ela acompanhou ao vivo, impotente, por meio de mensagens enviadas pelo pai, o sequestro de ambos.
"Quase todas as fam�lias perderam algu�m. Ningu�m consegue entender que h� muitas pessoas que n�o veremos mais", afirma.
Segundo a gest�o do kibutz Beeri, 85 pessoas morreram ali, cujos corpos foram identificados, e 32 pessoas est�o desaparecidas, incluindo supostos ref�ns.
Quase tr�s semanas ap�s os ataques, durante os quais v�rios comandos do Hamas se infiltraram nas comunidades judaicas que fazem fronteira com a Faixa de Gaza, matando homens, mulheres, crian�as e beb�s, os sobreviventes lutam para recuperar o equil�brio psicol�gico.
Estes massacres, a maior perda de civis judeus em um dia desde a Shoah, foram acompanhados, segundo as autoridades israelenses, por tortura, mutila��es e estupros, e deixaram mais de 1.400 mortos.
Em resposta, os bombardeios de Israel na Faixa de Gaza j� deixam 7.326 mortos, segundo o Hamas.
- "Trauma coletivo" -
Apesar de sua experi�ncia com situa��es de emerg�ncia, os especialistas israelenses em sa�de mental est�o sobrecarregados com a quantidade e a extens�o dos traumas. Por isso, o Minist�rio israelense da Sa�de lan�ou uma campanha de recrutamento para abordar o que chamou de "evento de sa�de mental sem precedentes".
"N�o est�vamos preparados para uma trag�dia desta magnitude. Tivemos que agir muito r�pido para responder a m�ltiplas necessidades", explica Merav Roth, psicanalista e professora da Universidade de Haifa, que supervisionou as interven��es de psic�logos volunt�rios com os sobreviventes do kibutz Beeri.
"Todas as diferentes faixas et�rias foram afetadas, de beb�s a idosos, e os traumas s�o extremamente diversos, desde a pessoa trancada em um abrigo por 20 horas com disparos incessantes, at� a pessoa, cujos entes queridos foram sequestrados, ou cuja esposa e filhos foram massacrados", acrescenta.
No caso dos kibutz, "al�m do trauma individual, existe o trauma coletivo de uma comunidade que confiava no Estado e no Ex�rcito e que se sentiu abandonada", afirma.
Os moradores do kibutz Beeri vagam sem nada para fazer no hotel, totalmente convertido em um centro de atendimento com dezenas de volunt�rios.
- "Quero acordar desse pesadelo" -
"� dif�cil restaurar uma sensa��o de seguran�a, enquanto ainda estamos todos no meio de uma guerra", confessa Celina Rozenblum, psicoterapeuta da ONG israelense IsraAid, especializada em ajuda de emerg�ncia.
Muitos se refugiam em seus quartos a maior parte do tempo, como May, de 14 anos, que junto com sua m�e, Shahar Ron, de 46 anos, sobreviveu ao ataque. Embora Shahar tenha levado um tiro na regi�o do quadril, ela diz que n�o quer receber ajuda psicol�gica, porque se sente "incompreendida" por aqueles que n�o viveram os massacres.
"Os psic�logos nos dizem que (...) vamos nos reconstruir, mas n�o estamos realmente vivos", afirma.
"Me sinto como um envelope vazio por dentro. � imposs�vel compreender a extens�o das atrocidades que as pessoas t�m vivido. Quero acordar desse pesadelo", acrescenta.
Encolhida em um banco do sagu�o do hotel, ela diz que est� especialmente preocupada com a filha: "Eles machucaram a m�e dela, queimaram a casa dela. Ela quase morreu sufocada pelas chamas. Durante 20 horas, ela s� ouviu gritos em �rabe de pessoas que vieram nos matar. Tr�s de seus amigos foram massacrados. Como uma menina de 14 anos pode sair ilesa dessa situa��o?", ela pergunta, com l�grimas nos olhos.
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