Trocar bifes por 'nuggets'? Uma op��o nem t�o ambientalmente correta assim

No oeste da Fran�a, um criador de aves bate na porta antes de abri-la, revelando o espa�o onde est�o 30.000 frangos. Em menos de um m�s, o peso das aves vai triplicar e sua carne representar� uma pegada de carbono baixa.

"O objetivo � produzir a melhor carne no menor tempo poss�vel e com a menor quantidade de alimento poss�vel", resume St�phane Dahirel, de 56 anos, � frente desta fazenda no centro da Bretanha.

Anualmente, dois milh�es de aves de plumagem branca s�o criadas sobretudo para produzir 'nuggets' para a rede de lanchonetes McDonald's. Elas atingir�o seu peso de abate em menos da metade do tempo de uma granja tradicional.

Com vinte dias de nascidas, a plumagem branca das aves � rala. No entanto, j� pesam quase um quilo, vinte vezes mais do que quando sa�ram do ovo. Quando forem abatidas, em 45 dias, seu peso ser� superior a 3 quilos.

Seus peitos largos produzir�o muitos fil�s, a parte mais apreciada pelos consumidores ocidentais.

Esse rendimento acelerado permite que a carne de frango tenha uma pegada de carbono menor em compara��o com a bovina, n�o apenas na Fran�a.

Se o frango fosse consumido em todos os continentes, ele poderia ser uma solu��o do ponto de vista estrito das mudan�as clim�ticas, se substitu�sse a carne bovina. N�o � pouca coisa, considerando que a pecu�ria representa entre 10% e 20% das emiss�es humanas de gases de efeito estufa, segundo pesquisas.

Mas para criar frangos, � preciso produzir os gr�os que os alimentam, o que implica em grandes �reas de cultivo, fertilizantes sint�ticos e pesticidas. Isso tem consequ�ncias para a biodiversidade, a qualidade da �gua e gera desmatamento, sem mencionar o bem-estar animal e sua nutri��o.

O frango gera, em m�dia, "menos de um quilo" de CO2 equivalente (CO2eq) por quilo produzido (antes do abate do animal, processamento e distribui��o), de acordo com a Organiza��o das Na��es Unidas para Alimenta��o e Agricultura (FAO).

Em compara��o, o porco gera 2 quilos e a carne bovina, 30 quilos.

Outras estimativas diferem, �s vezes substancialmente, mas confirmam a vantagem do frango, uma vez que as vacas, por outro lado, emitem metano, um potente g�s de efeito estufa.

Ao contr�rio do que se pensa, o transporte tem apenas um impacto marginal na pegada de carbono dos alimentos.

As prote�nas vegetais geralmente t�m uma pegada de carbono melhor, mas, segundo estimativas, o frango apresenta n�meros ligeiramente mais favor�veis que o arroz, devido ao metano liberado pelos arrozais, principalmente se as aves forem criadas de forma intensiva.

- Cria��o intensiva -

Ventila��o, temperatura, qualidade da �gua e comida... St�phane Dahirel controla todos os par�metros para obter o melhor desempenho do meio milh�o de animais que produz anualmente em tr�s criadouros.

Os frangos (20 por m2) ocupam um espa�o onde serragem e casca de trigo sarraceno s�o misturados.

Aqueles que t�m problemas s�o eliminados para evitar sofrimento, mas tamb�m porque o abatedouro, altamente automatizado, exige exemplares que atendam aos padr�es.

"� o sistema mais eficiente, mais racional, do ponto de vista econ�mico e ecol�gico", diz esse produtor, da varanda de sua casa, com vista para um dos criadouros cobertos com pain�is solares.

O frango produz uma prote�na animal ideal para combater as mudan�as clim�ticas, mas n�o � necessariamente bom para a natureza.

"Se considerarmos apenas as emiss�es de CO2 por quilo de carne, todos poder�amos passar a comer frango, e poder�amos ter a impress�o de que encontramos a solu��o, mas estar�amos cometendo um erro monumental", afirma Pierre-Marie Aubert, do Instituto de Desenvolvimento Sustent�vel e Rela��es Internacionais (IDDRI) franc�s.

- Consumo em alta -

"Se pensarmos apenas no carbono, muitas coisas se voltar�o contra n�s a longo prazo", acrescenta Aubert, que considera "delirante" o aumento do consumo de frango.

A carne de frango, que n�o tem restri��es religiosas ou culturais, j� � uma das mais consumidas do mundo, juntamente com a su�na.

Sua produ��o n�o para de crescer e atingir� mais de 103 milh�es de toneladas anuais (excluindo as patas) em 2024, de acordo com a Secretaria de Agricultura dos Estados Unidos.

"Enfatizamos tanto as emiss�es dos ruminantes que muitas pessoas acham que substituir a carne bovina pelo frango � suficiente, mas � o consumo total de carne que deve ser reduzido", diz Lucile Rogissart, pesquisadora no Instituto de Economia do Clima, tamb�m franc�s.

Por outro lado, Anne Mottet, do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agr�cola, uma das ag�ncias alimentares da ONU, diz que "tomar decis�es com base em um �nico crit�rio nunca foi uma boa ideia".

Um exemplo: embora seja verdade que a carne vermelha seja mais gordurosa e emita mais carbono que a branca, "um pouco de carne vermelha" ainda � �til contra a defici�ncia de ferro, que afeta um ter�o das mulheres.