
A hist�ria da diarista Maria Alves, 58, ilustra a dificuldade de milh�es de brasileiros que est�o em busca do aux�lio emergencial de R$ 600 — batizado informalmente de "coronavoucher", o valor fornecido pelo governo federal ap�s proposta do Congresso Nacional � um socorro para desempregados e trabalhadores informais afetados pela crise do coronav�rus.
A dura��o do benef�cio ser� de tr�s meses; j� se discute a amplia��o do prazo, ainda n�o confirmada pelo Minist�rio da Cidadania, � frente do projeto.
Moradora do bairro Caximba (na regi�o Sul de Curitiba, que at� 2010 abrigou o aterro sanit�rio da cidade), Maria se cadastrou para o aux�lio logo ap�s perder mais de 60% de sua renda.
Dos tr�s lugares em que prestava servi�os como diarista, apenas um continuou a pagar as di�rias de R$ 130 (o que rende entre R$ 520 a R$ 650 mensais, dependendo do n�mero de semanas no m�s). "Os outros n�o me deram nenhum parecer quando come�ou a pandemia. S� falaram para eu n�o ir mais", disse ela � BBC News Brasil.
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Seu marido, Paulo, que trabalha em uma empresa de gerenciamento de res�duos, foi afastado por estar no grupo de risco. "O sal�rio dele veio normal, mas o valor no cart�o alimenta��o diminuiu", conta Maria.
O casal vive com o enteado de 30 anos, que precisa de cuidados cont�nuos por conta de esquizofrenia. Um dos filhos de Maria e a nora, que tem dois filhos, est�o desempregados — logo, uma parte do sal�rio do casal tamb�m � destinada para ajudar os familiares.
Al�m disso, a renda extra dos p�es caseiros que ela vendia a R$ 6 antes da pandemia, tamb�m rareou. "Era um dinheirinho que dava para uma mistura, uma fruta, um leite. Mas nos grupos que eu vendia, ningu�m mais quer ou pede."
O primeiro aplicativo que era necess�rio ser baixado no celular, para pedir o aux�lio, foi providenciado por uma das netas de Maria. Depois, era preciso acessar outro app (chamado Caixa Tem), para que ela conseguisse um n�mero de token para sacar o dinheiro.
"Mas a� a minha neta n�o conseguiu, e no meu celular n�o dava certo, n�o baixava". Ela ent�o pediu ajuda para uma das pessoas para quem presta servi�o, o jornalista Jo�o Pedro Schonarth.
Ele e o marido, Bruno Banzato, foram os �nicos a continuar pagando Maria Alves mensalmente desde o in�cio do isolamento social em Curitiba, que come�ou no dia 20 de mar�o. Sem os servi�os da diarista, os dois se dividem em turnos para cuidar do filho Daniel, de tr�s anos, da casa e do trabalho.
Schonarth tentou baixar o app na semana que antecedeu o feriado de 1° de maio. "A fila virtual demorou 50 minutos", relatou � BBC News Brasil. "Nesse tempo, voc� n�o pode mudar de tela, receber liga��o, nada. Comecei a confirmar os dados com ela. Precisava de e-mail, ela n�o tinha. Criei um. Depois, pediram o CEP. Liguei para ela, a rua dela n�o tem CEP. Nem sabia que era poss�vel n�o ter CEP. Quantas pessoas no Brasil est�o nessa situa��o? J� acho errado essa aliena��o social na nossa vida de classe m�dia, mas o governo n�o deveria ser t�o alienado. Exige uma prova de fogo das pessoas para se adequar a realidade do governo, e n�o o contr�rio."
Quando precisa de CEP para algum tipo de cadastro (dado obrigat�rio para programas sociais do Minist�rio da Cidadania e em a��es sociais municipais), Maria pede o n�mero de uma panificadora pr�xima de sua casa, ou de um supermercado na regi�o.
Outro problema do cadastro eram as selfies necess�rias (uma das medidas de seguran�a), o que levou Schonarth a pedir que a diarista sa�sse do isolamento e fosse para a casa deles resolver o problema. Ao abrir o app, foi preciso cadastrar todos os dados novamente; dessa vez, o link de ativa��o n�o chegava no e-mail.
"E a� ela teve de se expor e ir para a fila do banco. Me senti desesperado. Tenho escolaridade, acesso a celular bom, e n�o consegui. Entendo que a Caixa est� sobrecarregada, mas isso � desconhecer a realidade das pessoas", diz Schonarth.
No �ltimo dia 4 de maio, Maria Alves conseguiu sacar o benef�cio em uma ag�ncia. Chegou na fila �s 8 da manh� e saiu �s 13h. "Menina, s� Deus na causa. Foi uma prova. Olha, deveria ter umas 500 pessoas. Estava todo mundo de m�scara e os seguran�as iam pedindo para se afastar, mas n�o dava para sair nem para pegar �gua. Depois que analisaram meus documentos andou r�pido, mas at� l�… foi bem complicadinho."
Novas parcelas

At� a �ltima ter�a-feira (12), segundo dados da Caixa Econ�mica, 50 milh�es de pessoas foram atendidas pelo benef�cio, totalizando R$ 35,5 bilh�es.
O presidente da Caixa, Pedro Guimar�es, anunciou nesta quinta-feira (14) que a segunda parcela come�ar� a ser paga a partir da pr�xima segunda-feira (18). Um calend�rio completo, incluindo as datas para a terceira parcela, ser� detalhado nesta sexta (15).
Por meio da assessoria de imprensa, a Caixa informou tamb�m que quem recebeu a primeira parcela n�o precisar� de novo cadastramento. O Minist�rio da Cidadania n�o respondeu �s quest�es enviadas por e-mail com d�vidas da reportagem.
Sobre os problemas enfrentados por Maria com o app Caixa Tem, o banco declarou que "o Caixa Tem foi projetado para ser o aplicativo mais leve do mercado financeiro, sendo 15 vezes menos que os demais aplicativos banc�rios, de forma a funcionar em qualquer modelo de smartphone, uma premissa do projeto".
A nota frisou, ainda, que os usu�rios precisam manter o aplicativo atualizado para acessar as novas funcionalidades e disponibilizou um passo a passo para sacar o Aux�lio Emergencial usando o Caixa Tem.
Segundo nota t�cnica do Instituto Fiscal Independente (IFI), a estimativa � que o governo ir� destinar R$ 154,4 bilh�es para pagar o aux�lio at� junho.
Logo ap�s o in�cio do pagamento, o Congresso Nacional prop�s amplia��o ao PL 873/2020. Aprovada tamb�m pelo Senado, a reformula��o incluiu dezenas de outras categorias. Mas o presidente vetou a amplia��o a profissionais informais que n�o est�o inscritos no Cadastro �nico, ao sancionar, nesta sexta-feira (15), o projeto aprovado no Congress, alegando que a proposta feria o princ�pio da isonomia por privilegiar algumas profiss�es em raz�o de outras.
Bolsonaro tamb�m vetou a possibilidade de pais "solo" receberem o benef�cio em dobro (R$ 1,2 mil), mas aprovou o pagamento do aux�lio (em dobro) para m�es menores de idade.
Gastos sem crit�rios

Na an�lise da consultora econ�mica e doutora em Economia Zeina Latif, n�o h� espa�o fiscal para estender o aux�lio emergencial de R$ 600 por muito tempo e, caso necess�rio, o montante pago poderia ser revisto.
"Prorrogar � perigoso porque tem um custo fiscal enorme. A trajet�ria da d�vida p�blica est� explosiva. Tudo custa, por isso precisa ser muito focalizado. O que estou conseguindo olhar � que a demanda foi explosiva. Desses 50 milh�es autorizados, tinha uma fila de 100 (milh�es). Tem pessoas que sabem que n�o s�o eleg�veis, mas v�o para a fila. Vai ter que ter um esfor�o do TCU para passar um pente fino."
Para a economista, n�o � verdade a m�xima do "gasta e depois a gente v�". "O pa�s estruturalmente estar� pior depois. Estaremos contratando uma d�cada perdida".
Latif pontua que � urgente e necess�rio focar na crise da covid-19 de maneira ampla, tra�ando medidas coordenadas sobretudo na �rea de sa�de, com realiza��o de testes em massa na popula��o e prepara��o para pensar em relaxar o isolamento social.
"Tem trabalho a ser feito, n�o pode jogar a toalha. Ainda d� para correr atr�s de testes em massa, nos prepararmos para conseguir e produzir vacinas. Se perdermos batalha atr�s de batalha, a� sim teremos um custo econ�mico muito, mas muito maior. De invadir 2021."

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