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Estado de Minas CI�NCIA

Coronav�rus: o que os cientistas j� descobriram sobre a COVID-19 nos seus 6 primeiros meses

Meio ano depois do surgimento do primeiro caso, cientistas ainda n�o encontraram uma cura ou uma vacina, mas j� tiveram avan�os importantes


postado em 08/06/2020 16:43 / atualizado em 08/06/2020 19:45


Cientistas ainda não acharam uma cura para a covid-19(foto: BBC)
Cientistas ainda n�o acharam uma cura para a covid-19 (foto: BBC)

Apesar de um esfor�o internacional sem precedentes, o novo coronav�rus, denominado Sars-CoV-2, continua avan�ando e infectando milhares de pessoas por dia.

Seis meses depois de detectados os primeiros casos de COVID-19, o que os cientistas j� descobriram sobre como conter a doen�a?

Ativando o alarme

O novo coronav�rus pegou a todos de surpresa.

Enquanto o mundo se preparava para festejar a virada para o ano 2020, o doutor Li Wenliang trabalhava no departamento de Emerg�ncias do Hospital Central de Wuhan, na China, onde sete pacientes com pneumonia haviam sido colocados de quarentena.

No dia 30 de dezembro, Li enviou mensagens a um grupo privado de colegas na plataforma WeChat alertando para um poss�vel surto de v�rus.

Tr�s dias depois de enviar as mensagens de texto a seus companheiros, Li foi detido pela pol�cia junto com outros oito m�dicos por "espalhar boatos", segundo os meios de comunica��o chineses.


Doutor Li Wenliang alertou seus colegas sobre a possibilidade de um surto viral(foto: Getty Images)
Doutor Li Wenliang alertou seus colegas sobre a possibilidade de um surto viral (foto: Getty Images)

Pouco depois de voltar ao trabalho, Li contraiu COVID-19 e morreu no dia 7 de fevereiro, aos 34 anos, deixando sua esposa gr�vida e um filho.

'Cena do crime'

Ao longo das �ltimas semanas de dezembro de 2019, na medida em que mais m�dicos e enfermeiras, al�m do doutor Li, come�aram a alertar para um poss�vel surto do v�rus, outros agentes de sa�de detectaram novos pacientes, a maioria deles trabalhadores do mercado de Huanan, em Wuhan, onde se vende diversos tipos de animais selvagens.

No dia 31 de dezembro, a Comiss�o de Sa�de de Wuhan apresentou seu primeiro informe oficial ao governo central chin�s. No dia seguinte, o mercado foi colocado em quarentena.


O mercado de Huanan, em Wuhan, foi fechado pelas autoridades(foto: Getty Images)
O mercado de Huanan, em Wuhan, foi fechado pelas autoridades (foto: Getty Images)

Hoje, os cientistas s�o un�nimes em dizer que o primeiro grande surto foi detectado no mercado, mas eles acreditam ser pouco prov�vel que o v�rus tenha surgido ali.

Segundo um estudo de m�dicos de Wuhan, publicado em janeiro pela revista m�dica The Lancet, foi descoberto posteriormente que o primeiro caso de COVID-19 em um humano aconteceu no dia 1º de dezembro. Trata-se de um idoso de Wuhan que n�o tinha nenhum v�nculo com o mercado de Huanan.

Apenas nove dias depois da primeira morte confirmada em um paciente de COVID-19, em 11 de janeiro, j� havia casos no Jap�o, Coreia do Sul e Tail�ndia. Em apenas seis meses, a COVID-19 havia se estendido por 188 pa�ses e infectado mais de 6,6 milh�es de pessoas.

Perfil do pat�geno

"Nossa primeira pergunta sempre � 'quem �'?", diz o professor de imunologia Kristian Andersen.

O laborat�rio de Andersen � especializado em gen�tica de doen�as infecciosas. Ele investiga como os v�rus saem dos animais para os humanos e provocam surtos em grande escala.


Professor Kristian Andersen está vivendo e trabalhando em quarentena(foto: BBC)
Professor Kristian Andersen est� vivendo e trabalhando em quarentena (foto: BBC)

Decodificar o genoma de um v�rus costuma demorar meses ou anos. No entanto, no dia 10 de janeiro, cientistas do Instituto de Virologia de Wuhan, dirigidos pelo professor Yong-Zhen Zhang, publicaram a primeira sequ�ncia gen�mica do Sars-CoV-2, com base na an�lise de amostras de pacientes. Essa � potencialmente a pe�a mais fundamental do quebra-cabe�as para se entender o v�rus.

"Assim que vimos essa primeira sequ�ncia, soubemos imediatamente que se tratava de um tipo de coronav�rus, e que ele era 80% id�ntico ao Sars", diz Andersen.

O v�rus da S�ndrome Respirat�ria Aguda Grave (Sars, na sigla em ingl�s) havia provocado um surto na �sia entre 2002 e 2003, infectando 8 mil pessoas e matando quase 800.

Os coronav�rus s�o uma fam�lia grande de v�rus. Centenas deles circulam entre animais como veados, camelos, morcegos e gatos.

O Sars-CoV-2, que provoca a COVID-19, � apenas o s�timo coronav�rus que - cientistas acreditam - passou de um animal para os humanos.


O primeiro caso de covid-19 teria sido em um idoso em Wuhan que não tem conexão com o mercado local(foto: Getty Images)
O primeiro caso de covid-19 teria sido em um idoso em Wuhan que n�o tem conex�o com o mercado local (foto: Getty Images)

"Nossa segunda pergunta � sobre como podemos diagnostic�-los, o que nos leva a fazer exames e tentar compreender a forma como se transmite o v�rus", diz Andersen.

"A terceira pergunta � 'como podemos criar vacinas contra ele?' Tudo isso pode ser respondido com a gen�tica", diz.

Andersen diz que h� provas concretas de que o v�rus surgiu primeiro em morcegos.

"Em �ltima inst�ncia, isso come�ou em um morcego. Sabemos que este � um v�rus completamente natural, porque h� muitos parecidos com ele em morcegos. O que n�o sabemos � como isso chegou aos humanos."

A equipe de Andersen estudou outro coronav�rus em um morcego, que era 96% id�ntico ao Sars-CoV-2.

Tamb�m h� semelhan�as com outro v�rus semelhante encontrado entre pangolins, um dos mam�feros mais contrabandeados da �sia.

Ser� que o v�rus surgiu de um morcego ou outro animal intermedi�rio, como o pangolim, recebendo algumas prote�nas adicionais, at� finalmente atacar um humano? A investiga��o continua.


Os médicos em Wuhan alertam sobre o covid-19 desde dezembro(foto: BBC)
Os m�dicos em Wuhan alertam sobre o covid-19 desde dezembro (foto: BBC)

Na China, o laborat�rio do professor Zhang foi fechado e sua licen�a para investigar a doen�a foi revogada apenas dois dias depois de ele compartilhar com o mundo a primeira sequ�ncia gen�tica do Sars-CoV-2.

Segundo m�dicos chineses, nenhum motivo oficial foi dado, mas a contribui��o da equipe de Zhang criou ra�zes pelo mundo.

"Sem este primeiro sequenciamento, n�o poder�amos ter come�ado nenhum dos nossos trabalhos", diz Andersen. "Tudo isso gra�as a cientistas que entregam informa��es cruciais em uma velocidade incr�vel."

Testar, rastrear, isolar

Na medida em que a pandemia foi avan�ando, os cientistas come�aram a rastrear o v�rus de duas maneiras.

Primeiro houve o trabalho dos "rastreadores de contato", que tentavam identificar e isolar poss�veis infectados. Depois houve o cientistas que rastrearam o c�digo gen�tico do v�rus, que tentavam entender como o v�rus se espalhou de forma t�o r�pida pelo mundo.

Rastreadores de contato

A Coreia do Sul, um pa�s de 51 milh�es de habitantes, foi um dos pa�ses que melhor conseguiram conter a COVID-19.

Grande parte deste sucesso foi atribu�do a sua capacidade de mobilizar um pequeno ex�rcito de rastreadores de contato: detetives treinados para tra�ar as conex�es entre um caso positivo de COVID-19 e seus contatos mais recentes.

Os rastreadores decidiam sobre quem deve receber instru��es para se isolar ou, em alguns casos, sobre pr�dios inteiros que deveriam ser colocados em quarentena.

Com poucos casos registrados entre janeiro e fevereiro, muitos sul-coreanos pensaram que talvez o pa�s tivesse conseguido evitar um grande surto.


Agentes de saúde foram os primeiros a perceber uma ligação entre a doença e o mercado de Huanan, em Wuhan(foto: Getty Images)
Agentes de sa�de foram os primeiros a perceber uma liga��o entre a doen�a e o mercado de Huanan, em Wuhan (foto: Getty Images)

No entanto, no final de fevereiro, uma cidade sozinha registrou uma escalada repentina de milhares de casos em poucos dias.

O surto da cidade de Daegu foi atribu�do desde ent�o a movimentos de uma �nica pessoa, uma "superpropagadora", hoje em dia conhecida como a infame paciente 31, que pertencia � igreja Shincheonji de Jesus.

Essa paciente testou positivo para COVID-19 no dia 17 de fevereiro. Gra�as ao trabalho dos rastreadores, foram identificados seus contatos mais recentes - mais de mil pessoas em apenas dez dias. Todos foram instru�dos a se isolar, evitando talvez um cont�gio maior.

A paciente 31 esteve envolvida em um acidente de tr�nsito no dia 6 de fevereiro e foi parar no hospital no dia seguinte, onde teve contato com 128 pessoas. Ela teve uma alta tempor�ria para poder ir para casa e recolher alguns pertences, em uma viagem de ida e volta de duas horas e meia.

Mais tarde naquela semana, ela ainda saiu para almo�ar com uma pessoa e para assistir a um servi�o religioso de duas horas com cerca de mil pessoas.


O professor Kim Jong-Yeon lidera os rastreadores de contatos em Daegu(foto: BBC)
O professor Kim Jong-Yeon lidera os rastreadores de contatos em Daegu (foto: BBC)

O professor Kim Jong-Yeon � respons�vel pelos rastreadores de contato em Daegu. Ele conta que quando as pessoas investigadas s�o evasivas em suas respostas, os "detetives" partem para m�todos mais rigorosos, como an�lise de transa��es de cart�es de cr�dito, liga��es telef�nicas ou rastreamento de localiza��o. Foi assim com a paciente 31.

"A princ�pio a paciente 31 n�o nos falou que era da igreja Schincheonji. Fomos n�s, os rastreadores de contato, que descobrimos isso mais tarde", diz Kim.

A igreja Schincheonji de Jesus tem aproximadamente 300 mil membros em todo o pa�s.

Devido � natureza discreta da igreja, Kim disse que a parte mais dif�cil da investiga��o foi estabelecer quem havia visitado aquela igreja naquela semana.

"Finalmente conseguimos uma lista de 9 mil integrantes daquela igreja. A princ�pio come�amos a telefonar para saber se elas tinham tido algum sintoma. Cerca de 1,2 mil pessoas disseram que sim, mas outras se recusaram a fazer testes ou a fazer quarentena", conta.


A Igreja Shincheonji de Jesus tem cerca de 300 mil membros na Coreia do Sul(foto: Shincheonji)
A Igreja Shincheonji de Jesus tem cerca de 300 mil membros na Coreia do Sul (foto: Shincheonji)

Diante do receio de centenas das pessoas em revelar que faziam parte da igreja, o professor conta que o governo se viu obrigado a emitir uma ordem executiva determinando que todos os fi�is a praticassem isolamento.

A investiga��o rigorosa de todos os novos casos, combinada com provas exaustivas, freou rapidamente a propaga��o do v�rus e em princ�pios de abril Daegu j� estava registrando zero pacientes novos de COVID-19.

Mas no resto do mundo o v�rus continuou se propagando. Para a comunidade cient�fica, segue sendo fundamental rastrear o v�rus em todos os continentes.

Rastro de pistas

O ponto violeta no mapa de Wuhan representa as primeiras amostras tomadas de pacientes com COVID-19 e analisadas por cientistas para revelar o genoma do v�rus. Trata-se de uma cadeia de 30 mil letras gen�ticas que cont�m tudo que o v�rus necessita para se replicar e se propagar.


1 de janeiro de 2020(foto: Nextstrain)
1 de janeiro de 2020 (foto: Nextstrain)

Desde o descobrimento do genoma, os cientistas de todo mundo seguem analisando dezenas de milhares de amostras, colocando tudo na plataforma GISAID, uma das poucas bases de dados com c�digo aberto.

Ao sequenciar repetidamente o genoma milhares de vezes enquanto o v�rus est� se propagando, os cientistas podem rastrear muta��es no c�digo gen�tico: pequenos erros, ou "erros tipogr�ficos" na cadeia de letras. � como se fosse um rastro de pistas deixado pelo v�rus. Ao seguir essas muta��es, os cientistas podem mostrar como o v�rus est� se propagando por fronteiras.

Por exemplo, se uma amostra tomada em Nova York revela tr�s muta��es singulares e v�rias amostras de Wuhan tamb�m t�m esses mesmos tr�s erros tipogr�ficos no seu genoma, � muito prov�vel que estes casos tenham se originado do mesmo agente transmissor.

Ao estabelecer posteriormente um cronograma, os cientistas conseguem entender quando e como o v�rus foi de Wuhan para Nova York.

Com mais de 37 mil amostras j� sequenciadas em todo o mundo, a natureza devastadoramente infecciosa do Sars-CoV-2 j� foi completamente revelada.


Mapa mostra as milhares de sequências genéticas do coronavírus(foto: Nextstrain)
Mapa mostra as milhares de sequ�ncias gen�ticas do coronav�rus (foto: Nextstrain)

A epidemiologista Emma Hodcroft trabalha com o grupo Nextstrain, que re�ne cientistas dedicados a extrair informa��es-chave das dezenas de milhares de sequ�ncias publicadas na plataforma GISAID.

Eles produzem um mapa aberto com informa��es em tempo real na medida que se descobre muta��es do genoma e sua propaga��o pelo mundo.


Emma Hodcroft trabalha em um mapa aberto do genoma da SARS-CoV-2(foto: BBC)
Emma Hodcroft trabalha em um mapa aberto do genoma da SARS-CoV-2 (foto: BBC)

"� poss�vel que as pessoas n�o saibam quando ou onde se infectaram. Mas os dados do genoma s�o bem confi�veis", diz Hodcroft.

Especialmente em lugares onde n�o h� informa��o, como � o caso do Ir�.

V�nculos misteriosos

No final de janeiro, Hodcroft e a equipe da Nexstain come�aram a perceber uma s�rie de amostras com genomas extremamente similares e com muta��es id�nticas, mas com origem em oito pa�ses diferentes - incluindo Austr�lia, Nova Zel�ndia, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, China e Holanda.

Seguindo o rastro por um tempo, n�o foi poss�vel determinar inicialmente de onde vinham essas amostras.

"Os casos estavam todos reunidos bem perto entre si no nosso mapa", diz Hodcroft. "Isso foi surpreendente, porque as pessoas n�o pareciam ter nada em comum. Mas depois acabamos descobrindo que muitas amostras australianas eram de pessoas que haviam viajado para o Ir�."

"Isso foi uma informa��o poderosa, porque na �poca n�s n�o t�nhamos nenhuma amostra do Ir�. Mas com essa descoberta foi poss�vel dizer com um alto grau de confian�a que essas amostras eram de algu�m que foi infectado no Ir� ou por algu�m que havia recentemente passado por l�."

Observando essas amostras do Ir�, como irm�os e primos em uma �rvore geneal�gica, a equipe do Nextstrain pode concluir que n�o s� todos esses casos tiveram a mesma origem de cont�gio no Ir� como tamb�m que um surto no pa�s tamb�m se formou a partir daquele epis�dio.

Desde ent�o, rastreadores de contato passaram a atribuir o principal surto do Ir� � cidade sagrada de Qom. Com milhares de turistas visitando a cidade a cada dia, o v�rus se espalhou de Qom para todas as prov�ncias do Ir� em apenas duas semanas.


Muçulmanos praticam distanciamento social enquanto rezam no Irã(foto: BBC)
Mu�ulmanos praticam distanciamento social enquanto rezam no Ir� (foto: BBC)

Atrav�s do rastreamento de contato e do acompanhamento remoto do genoma, cientistas revelaram a velocidade e resist�ncia com a qual a COVID-19 se espalhou pelo mundo. Apesar de todas as descobertas dos �ltimos seis meses, especialistas seguem um passo atr�s do v�rus - sem conseguir prever quando e onde ele vai atacar novamente.

Quando o assunto � conten��o, um problema enorme continua: a habilidade ca�tica e singular do v�rus de se deslocar pela popula��o, �s vezes desencadeando doen�as fatais, mas na maior parte do tempo produzindo apenas sintomas moderados ou at� mesmo nenhum sintoma.

Investigar a dissemina��o silenciosa da COVID-19 entre pessoas sem sintomas � algo muito dif�cil. No entanto, um pequeno vilarejo rural no Norte da It�lia produziu uma pe�a importante neste quebra-cabe�a.

Uma amea�a invis�vel

A primeira morte da It�lia por COVID-19 aconteceu n�o em uma das suas muitas cidades movimentadas, mas sim no pequeno e isolado vilarejo de Vo', na base das Colinas Eug�neas, na regi�o do Veneto. O local tem popula��o de cerca de 3 mil pessoas e seu parque nacional fica a uma hora de Veneza.

Assim que a primeira fatalidade foi confirmada no dia 21 de fevereiro, autoridades locais tomaram a decis�o de fechar todo o vilarejo e come�aram a testar todos os residentes, independente de haver sintomas ou n�o. Cientificamente isso criou uma oportunidade �nica de se ter milhares de testes cont�nuos de pessoas vivendo em quarentena.


Soldados italianos patrulham vilarejo de Vo', onde houve a primeira morte italiana(foto: Getty Images)
Soldados italianos patrulham vilarejo de Vo', onde houve a primeira morte italiana (foto: Getty Images)

O microbiologista Enrico Lavezzo liderou esse estudo. Ele explica que a descoberta mais importante do estudo foi a da dissemina��o silenciosa do v�rus: a propor��o enorme de pessoas que testavam positivo, mas que apresentavam sintomas moderados ou nenhum sintoma.

"Mais de 40% das pessoas estavam portando o v�rus e sequer tinham consci�ncia de que estavam contagiando outras pessoas. Isso � um problema enorme na hora de se conter uma doen�a infecciosa", diz Lavezzo.


Enrico Lavezzo trabalhou no estudo que detectou a
Enrico Lavezzo trabalhou no estudo que detectou a "dissemina��o silenciosa" do Sars-CoV-2. (foto: BBC)

O grupo de pesquisas de Lavezzo foi um dos primeiros a estabelecer em uma escala maior o problema dos assintom�ticos. Outros estudos desde ent�o j� produziram estimativas mostrando que at� 70% das pessoas podem ser assintom�ticas.

A outra descoberta surpreendente foi a de que, entre 3 mil pessoas, n�o houve nenhuma crian�a com menos de dez anos infectada.

"N�o estamos dizendo que crian�as n�o podem ser contaminadas. Isso j� foi demonstrado em outros estudos. Mas o fato de que pelo menos uma d�zia delas estava vivendo com pessoas contaminadas mas n�o pegaram o v�rus � estranho e precisa ser investigado mais a fundo", diz Lavezzo.

A principal raz�o pela qual a COVID-19 continua avan�ando sem parar � porque, comparado com outros coronav�rus, ele parece conseguir afetar grandes quantidades de pessoas, que acabam servindo involuntariamente de portadores, aumentando ainda mais a dissemina��o.

Mas por que a COVID-19 � t�o singular na sua capacidade de causar sintomas t�o variados, de uma leve tosse a problemas respirat�rios fatais? E por que as crian�as seriam menos afetadas?

Uma combina��o mortal

Os cientistas descobriram que o v�rus s� entra no corpo humano de um jeito, que � se agarrando a alguns receptores espec�ficos presentes nas c�lulas humanas, conhecidos como ACE-2.

O laborat�rio do professor Michael Farzan foi o primeiro a descobrir o ACE-2, em 2003, durante a epidemia de Sars.


Mike Farzan trabalhou na descoberta dos receptores ACE-2 durante a epidemia de Sars de 2003(foto: BBC)
Mike Farzan trabalhou na descoberta dos receptores ACE-2 durante a epidemia de Sars de 2003 (foto: BBC)

Mas Farzan explica que o problema do receptor ACE-2 � que ele existe em diversas partes diferentes do corpo, como nariz, pulm�o, intestinos, cora��o, f�gado e c�rebro.

Essa dissemina��o ampla do ACE-2 explica por que a COVID-19 provoca tantos sintomas distintos. De uma infec��o no nariz, que prejudica o olfato, � inflama��o dos pulm�es, com tosses fortes.

Geralmente os v�rus s�o bons ou em cont�gio ou na capacidade de provocar doen�as graves. A COVID-19 � mais perigoso porque � bom nas duas coisas.

Ao infectar as vias respirat�rias superiores, o nariz e a parte superior do pulm�o, a inflama��o provoca tosse e espirros, que rapidamente disseminam a doen�a. E ao mesmo tempo a infec��o nas vias inferiores e na parte inferior do pulm�o pode causar problemas respirat�rios potencialmente fatais.


Raio-X de um homem de 68 anos mostra sintomas graves da covid-19. As áreas brancas mostram a inflamação dos alvéolos, que provoca dificuldade de respiração(foto: The Royal College of Radiologists)
Raio-X de um homem de 68 anos mostra sintomas graves da covid-19. As �reas brancas mostram a inflama��o dos alv�olos, que provoca dificuldade de respira��o (foto: The Royal College of Radiologists)

As evid�ncias de que crian�as s�o mais ou menos propensas a passar o v�rus adiante do que os adultos s�o inconclusivas.

O grupo de assessoramento cient�fico para emerg�ncias (Sage, na sigla em ingl�s) do governo brit�nico disse que o "balan�o das evid�ncias" sugere que crian�as podem ter menores probabilidades de tanto contrair a doen�a quando espalh�-la. Mas eles mesmos tamb�m admitem que as evid�ncias s�o inconclusivas.

O professor Farzan afirma que os cientistas agora t�m evid�ncias de que crian�as, que representam menos de 2% dos casos, possuem menos receptores ACE-2 na parte inferior de seus pulm�es, em compara��o com os adultos.

"Isso significa que as crian�as t�m uma inclina��o menor a contrair essa doen�a, pelo menos na forma da pneumonia grave que muitos adultos est�o tendo", diz ele.

Mas ainda assim as crian�as possuem muitos receptores na parte superior do pulm�o.

"Elas ainda ser�o capazes de transmitir o v�rus a outras pessoas porque a via respirat�ria superior � um canal importante de dissemina��o do v�rus."

� por causa da eficiente capacidade de devasta��o do v�rus e de seu r�pido cont�gio que - ap�s seis meses de pesquisas - cientistas acreditam que a �nica forma de realmente p�r fim a essa pandemia - e evitar futuras ondas - � encontrando uma vacina.

A corrida por uma vacina

H� 124 grupos diferentes disputando a possibilidade de ser o primeiro a testar uma vacina contra a COVID-19.

O professor brasileiro Jorge Kalil, diretor m�dico da Universidade de S�o Paulo (USP), lidera um desses testes que est�o acontecendo no Brasil, um dos pa�ses mais afetados no mundo pela doen�a.

Apesar do problema, o presidente Jair Bolsonaro segue participando de manifesta��es contra quarentenas, que foram decretadas na maioria das grandes cidades do pa�s.


Brasileiro Jorge Kalil, da USP, lidera um dos projetos de busca por vacina da covid-19(foto: BBC)
Brasileiro Jorge Kalil, da USP, lidera um dos projetos de busca por vacina da covid-19 (foto: BBC)

Algumas pessoas dizem que uma vacina pode estar pronta j� em setembro, com o processo de fabrica��o e distribui��o levando ainda outros 12 a 18 meses. Mas Kalil � c�tico. Ele diz que � importante ser rigoroso, e n�o ser o primeiro.

"N�s temos que ir o mais r�pido poss�vel. Mas n�o acho que o primeiro a conseguir ser� o vencedor. N�o � uma corrida de carro. O vencedor ser� a melhor vacina, aquela que funciona na maioria das pessoas - idealmente 90% - e que interrompa tanto os sintomas como a transmiss�o."

Kalil acredita que para realmente se p�r um fim � pandemia o mundo precisa de uma vacina que funcione com idosos e aqueles que possuem comorbidades. S�o essas as pessoas que ter�o mais dificuldades de criar anticorpos, diz Kalil. Sem uma vacina assim, ele acredita que a COVID-19 continuar� se espalhando.


O Brasil está no segundo lugar dos países com mais casos de covid-19.(foto: BBC)
O Brasil est� no segundo lugar dos pa�ses com mais casos de covid-19. (foto: BBC)


Alguns cemitérios, como este em Manaus, estão lotados de vítimas do coronavírus(foto: BBC)
Alguns cemit�rios, como este em Manaus, est�o lotados de v�timas do coronav�rus (foto: BBC)

Cr�ditos

Informa��es adicionais - Bugyeong Jung

Ilustra��es - Charlie Newland

Gr�ficos - Zoe Bartholomew, Daniel Dunford, Prina Shah, Dominic Bailey, Alison Trowsdale

Imagens - Getty, BBC

Editores - Ben Allen e Jack Martens

Agradecimentos a Victoria Lindrea, Courtney Tims, Angelo Attanasio, Juliana Gragnani e Woongbee Lee

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