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Estado de Minas

Pandemia tira emprego dos mais pobres e aumenta poupan�a dos mais ricos

As medidas de isolamento destru�ram as finan�as de muitos trabalhadores de baixa renda, mas aqueles que t�m empregos que lhes permitem trabalhar em casa foram transformados em poupadores involunt�rios.


30/06/2020 15:32

Certas ocupações, como das empregadas domésticas, foram particularmente afetadas pelas medidas de isolamento devido ao coronavírus.
Certas ocupa��es, como das empregadas dom�sticas, foram particularmente afetadas pelas medidas de isolamento devido ao coronav�rus. (foto: NDWA)

Se voc� est� trabalhando de casa durante essa pandemia, � prov�vel que esteja gastando menos com transporte e alimenta��o fora de casa.

Ao mesmo tempo, milh�es de trabalhadores tiveram seus sal�rios reduzidos, ou pior, perderam completamente seus empregos e sal�rios.

A pandemia trouxe uma situa��o estranha que, segundo economistas, n�o tem paralelo em recess�es anteriores. Ela criou "uma divis�o nas finan�as dom�sticas", diz Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics.

"Uma parte da popula��o sofreu perda de renda ou vive sob amea�a de uma perda iminente de renda, enquanto outra est� cheia de dinheiro gra�as a um aumento grande e involunt�rio de poupan�a."

Economia surpresa

Escritórios e bancos permanecem fechados no centro financeiro de Londres, mas muitos funcionários podem trabalhar em casa
Escrit�rios e bancos permanecem fechados no centro financeiro de Londres, mas muitos funcion�rios podem trabalhar em casa (foto: PA Media)

Rebecca O'Connor, especialista em finan�as pessoais na Royal London e fundadora do site Good With Money, disse � BBC que a realidade financeira das pessoas "est� muito diferente agora" e, para alguns, "at� economizar uma pequena quantia parecer� quase imposs�vel".

No entanto, profissionais como ela se beneficiaram de uma queda "consider�vel" nos gastos.

Sem ter de pagar gasolina para levar crian�as para a escola ou viajar duas horas em transporte p�blico, ela economiza US$ 450 (R$ 2,4 mil) por m�s.

Ela acredita que n�o comprar caf�s na rua, n�o sair para beber ap�s o trabalho ou almo�ar fora de casa representa uma economia de mais cerca de US$ 100 por m�s, o equivalente a R$ 540.

A lista continua e inclui economias em guloseimas e passeios aos fins de semana.

Realidades contrastantes

Profissionais que conseguem trabalhar em casa têm gastado menos
Profissionais que conseguem trabalhar em casa t�m gastado menos (foto: Reuters)

Mas casos como o dela n�o s�o raros. Algumas pessoas que foram surpreendidas pelas medidas de isolamento no Reino Unido disseram que gastar�o o dinheiro com coisas com as quais sonham, como um casamento extravagante ou uma longa viagem pela �sia.

Em uma an�lise em todo o Reino Unido, a Resolution Foundation constatou que uma em cada tr�s fam�lias de alta renda viu suas economias aumentarem, enquanto uma em cada cinco as viu ca�rem.

Entre as fam�lias de baixa renda, por outro lado, apenas 10% dizem que suas economias aumentaram, em compara��o com 29% que dizem que est�o em baixa.

As fam�lias com maior probabilidade de poder trabalhar em casa est�o provavelmente entre as mais bem pagas e, portanto, podem economizar dinheiro.

Enquanto isso, 20% das fam�lias de baixa e m�dia renda dizem que aumentaram suas d�vidas durante a pandemia, contando com solu��es caras, como cart�es de cr�dito e cheque especial.

Trabalhadores da área de hospitalidade foram gravemente afetados; este café foi reaberto com medidas de distanciamento social que limitam o número de clientes
Trabalhadores da �rea de hospitalidade foram gravemente afetados; este caf� foi reaberto com medidas de distanciamento social que limitam o n�mero de clientes (foto: EPA)

No entanto, O'Connor alerta que ter dinheiro de sobra n�o deve levar os consumidores a gastar, j� que as incertezas ainda pairam sobre a economia global.

"A melhor coisa a fazer com dinheiro extra diante da incerteza � deix�-lo em algum lugar facilmente acess�vel e criar uma reserva", aconselha ela.

Impacto da crise

As medidas de isolamento tiveram um impacto direto nos empregos, atingindo mais fortemente os trabalhadores de baixa renda
As medidas de isolamento tiveram um impacto direto nos empregos, atingindo mais fortemente os trabalhadores de baixa renda (foto: AFP)

"A natureza desta crise � muito diferente das crises financeiras anteriores que vimos, porque o impacto no mercado de trabalho � muito direto", disse � BBC Steven Kapsos, pesquisador da Organiza��o Internacional do Trabalho (OIT).

Enquanto setores inteiros da economia foram paralisados, outras categorias de trabalhadores foram menos afetadas. Segundo a OIT, os empregos no varejo, manufatura, im�veis, hospitalidade e alimenta��o foram os mais impactados pelas restri��es.

"Os trabalhadores desses setores e do setor informal n�o s�o capazes de realizar as atividades que estavam realizando antes das restri��es", afirmou Kapsos.

A perda de horas de trabalho soma mais de 300 milh�es de empregos em per�odo integral, segundo a OIT. O maior decl�nio nas horas de trabalho est� sendo sentido nas Am�ricas e na �sia Central (cerca de 13% em cada regi�o) e nos pa�ses de baixa e m�dia renda.

Mas os trabalhadores mais vulner�veis s�o 1,6 bilh�o de pessoas em empregos informais o que � quase metade da for�a de trabalho do mundo.

'Pegas de surpresa'

Lucimara teve que ficar em casa e não pode mais trabalhar há mais de dois meses
Lucimara teve que ficar em casa e n�o pode mais trabalhar h� mais de dois meses (foto: Lucimara Rodrigues)

Lucimara Rodrigues faz parte desse grupo. A brasileira de 35 anos trabalha como faxineira na regi�o de Boston, nos Estados Unidos, para onde se mudou h� 16 anos.

Rodrigues disse � BBC que recebia entre US$ 3.500 e US$ 4.000 por m�s trabalhando para fam�lias de alta renda, o que representa cerca de R$ 20 mi. Com o confinamento, no entanto, ela teve que parar de trabalhar por completo.

"N�s [faxineiras] fomos pegas de surpresa", disse ela. "Nunca tive uma situa��o em que tivesse que ficar em casa sem trabalhar por mais de dois meses".

O marido de Rodrigues � um construtor cujo trabalho tamb�m parou durante a pandemia. O casal tem dois filhos, de 6 e 14 anos.

Ela diz que alguns de seus empregadores mostraram "boa vontade" e continuaram a pag�-la, mesmo que ela n�o pudesse aparecer para trabalhar.

A fam�lia reduziu as compras de alimentos e est� economizando combust�vel, mas ela diz que suas reservas est�o acabando.

'Deixados � pr�pria sorte'

Há 1,6 bilhão de trabalhadores em risco no setor informal, segundo a OIT, o que é quase metade da força de trabalho do mundo
H� 1,6 bilh�o de trabalhadores em risco no setor informal, segundo a OIT, o que � quase metade da for�a de trabalho do mundo (foto: EPA)

Trabalhadores dom�sticos nos EUA, principalmente imigrantes negros e latinos, s�o um exemplo de trabalhadores que foram "deixados � pr�pria sorte" durante a pandemia, diz Haeyoung Yoon, diretora de pol�ticas da National Domestic Workers Alliance (NDWA), organiza��o que promove os direitos dos trabalhadores dom�sticos.

A organiza��o financiou uma linha que concede US$ 400 em assist�ncia humanit�ria a 10 mil pessoas afetadas pela pandemia.

Os trabalhadores dom�sticos geralmente n�o t�m garantias ou benef�cios como licen�a remunerada, licen�a m�dica ou seguro de sa�de.

Em uma pesquisa recente, 70% dos trabalhadores dom�sticos negros entrevistados disseram que perderam o emprego ou tiveram seus sal�rios reduzidos devido ao confinamento. Dois ter�os dizem que temem ser despejados ou ter servi�os cortados devido � falta de pagamento.

No entanto, muitos n�o conseguiram acesso ao pacote de ajuda de US$ 2 bilh�es do governo de Donald Trump, que foi aprovado em mar�o, devido a todas as exclus�es feitas a imigrantes e trabalhadores sem documentos.

"Eles dizem que o v�rus n�o discrimina, mas os tomadores de decis�o do pa�s optaram por discriminar com base em imigra��o, ra�a e g�nero", disse Yoon � BBC.

Aumento da desigualdade

FMI alerta para a necessidade de políticas inclusivas durante a recuperação econômica para evitar um aumento nos já altos níveis de desigualdade
FMI alerta para a necessidade de pol�ticas inclusivas durante a recupera��o econ�mica para evitar um aumento nos j� altos n�veis de desigualdade (foto: Getty Images)

O impacto econ�mico da covid-19 pode levar 100 milh�es de pessoas � pobreza extrema em todo o mundo, segundo o Banco Mundial.

E o Fundo Monet�rio Internacional (FMI) est� alertando para a necessidade de pol�ticas inclusivas durante a recupera��o econ�mica para evitar um aumento nos j� altos n�veis de desigualdade.

Os governos j� gastaram US$ 10 bilh�es em medidas para apoiar a economia, mas o FMI diz que precisamos de "esfor�os extras" para proteger os pobres, incluindo o aumento da ajuda alimentar e da distribui��o de renda.

Por enquanto, Rodrigues diz que "n�o est� se desesperando". Ela est� usando dinheiro de uma reserva para ajudar sua m�e a pagar por tratamento m�dico no Brasil. Mas essas economias "est�o indo r�pido" e Rodrigues diz que n�o tem ideia de quando poder� retomar seu trabalho e sal�rio.

"Tenho amigos que economizaram e me disseram que o dinheiro tamb�m est� acabando", diz ela. "Como tudo isso vai acabar? Eu digo: eu n�o sei."


(foto: BBC)
(foto: BBC)

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