
O Brasil vai atingir 2 milh�es de casos confirmados de coronav�rus j� na semana que vem, com as mortes por COVID-19 chegando a 80 mil, indica uma proje��o feita a pedido da BBC News Brasil pelo Laborat�rio de Intelig�ncia em Sa�de (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeir�o Preto, ligado � Universidade de S�o Paulo (USP).
A marca simb�lica deve ser alcan�ada entre a pr�xima ter�a (14) e quarta-feira (15), uma semana depois de o presidente Jair Bolsonaro ter anunciado que contraiu o v�rus e menos de um m�s depois de o pa�s ter registrado 1 milh�o de casos.
Caso as previs�es se confirmem, o Brasil chegaria ao patamar de 2 milh�es de casos apenas 25 dias depois de atingir 1 milh�o de casos, ou seja, quase cinco vezes mais r�pido do que os 114 dias que demorou para atingir a primeira marca, no �ltimo dia 19 de junho.
O primeiro registro do coronav�rus no pa�s aconteceu em 26 de fevereiro.
At� a quarta-feira (8), segundo dados do Minist�rio da Sa�de, o Brasil tinha cerca de 1,7 milh�o de casos confirmados de COVID-19 e 68 mil mortes.
Mas Domingos Alves, respons�vel pelo LIS, alerta que os n�meros podem mudar "drasticamente", com a reabertura do com�rcio em v�rios Estados brasileiros.
"Pode ser que essa marca acabe sendo atingida mais r�pido do que inicialmente previmos", diz ele � BBC News Brasil.

Segundo Alves, uma combina��o de fatores acelerou a expans�o dos casos de coronav�rus no �ltimo m�s.
A decis�o pela reabertura da economia a partir de in�cio de junho, apesar de o Brasil n�o ter atingido o pico, � o principal deles, em sua vis�o, por "raz�es eleitoreiras".
"O Brasil � um dos poucos pa�ses do mundo que decidiu pelo relaxamento das medidas de isolamento social enquanto o n�mero de casos e �bitos ainda cresce fora do padr�o", diz ele.
"O que balizou essa decis�o em v�rios pa�ses europeus foi uma queda substancial do n�mero de casos, �bitos e interna��es, seguindo o padr�o da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS). Esses tr�s indicadores t�m que cair por tr�s semanas consecutivas para s� ent�o um pa�s flexibilizar as regras. E n�o foi isso que fizemos. Governadores e prefeitos fizeram essa op��o por raz�es eleitoreiras", acrescenta.
Em outro desdobramento, o presidente Jair Bolsonaro ampliou, na segunda-feira (6), os vetos � obrigatoriedade do uso de m�scaras. O item de prote��o deixa de ser obrigat�rio em pres�dios.
Na sexta-feira passada (3), Bolsonaro j� havia vetado pontos do projeto de lei aprovado pelo Congresso no in�cio de junho, entre eles a obrigatoriedade do uso de m�scara em igrejas, com�rcios e escolas.
Estabelecimentos tamb�m n�o v�o mais precisar instruir frequentadores sobre o uso correto do equipamento de prote��o.
Estudos mostram que as m�scaras podem reduzir substancialmente a transmiss�o do novo coronav�rus.
Como resultado, a taxa de isolamento social no Brasil caiu para baixo de 40%, patamar semelhante ao registrado antes do fim de mar�o, quando v�rios Estados brasileiros decretaram algum tipo de confinamento.
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Sem isolamento social
Ou seja, sem a ades�o a essas medidas, n�o h� como interromper o cont�gio, assinala Alves.
"Se olharmos a curva de acelera��o do coronav�rus no Brasil, ela permanece positiva, diferentemente da maioria dos pa�ses do mundo. Isso n�o quer dizer que nosso confinamento deu totalmente errado. Pelo contr�rio, salvamos muitas vidas. Mas ele deveria ter sido mais intenso e por mais tempo", assinala.
"Fizemos uma quarentena '� brasileira'. Nossa estrat�gia foi de mitigar a doen�a e n�o elimin�-la. Ou seja, achatar a curva e n�o esmag�-la. N�o rompemos a cadeia de transmiss�o com o intuito de deter a pandemia", completa.
Fato � que a taxa de transmiss�o, ou R0 (n�mero b�sico de reprodu��o), sempre permaneceu alta no Brasil. O R0 indica para quantas pessoas, em m�dia, cada infectado transmite o coronav�rus. Quando est� acima de 1, a doen�a est� fora de controle e a infec��o est� se acelerando.
Dados da universidade Imperial College de Londres, no Reino Unido, atualizados nesta semana mostram que a taxa de transmiss�o efetiva da COVID-19 no Brasil � de 1,11, a 23ª mais alta dos 56 pa�ses analisados com transmiss�o ativa do v�rus.
Segundo o portal COVID-19 Analytics, da PUC-Rio, em nenhum momento desde o in�cio da pandemia, essa taxa de transmiss�o esteve abaixo de 1 no Brasil, ou seja, a doen�a nunca foi realmente controlada.
'Na contram�o do mundo'
Alves lembra que, diferentemente de outros pa�ses do mundo que conseguiram controlar a pandemia de COVID-19, o Brasil n�o adotou estrat�gias importantes, como testagem em massa, isolamento dos doentes e rastreamento de seus contatos.
Um exemplo � o Vietn�. Com quase 100 milh�es de habitantes e renda per capita inferior � um ter�o da brasileira, o pa�s tomou tais medidas e, at� agora, tem apenas 369 casos confirmados de COVID-19 e nenhuma morte.
Especialistas tamb�m apontam que declara��es negacionistas do presidente Jair Bolsonaro contribu�ram para dar a falsa impress�o aos brasileiros de que n�o havia motivos para se preocupar com a pandemia.
Um estudo recente de quatro pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), da Funda��o Get�lio Vargas e da Universidade de S�o Paulo mostrou que, em praticamente todas as ocasi�es em que Bolsonaro minimizou a pandemia, a taxa de isolamento social no Brasil caiu.
Eles tamb�m observaram que mais pessoas morreram, proporcionalmente, nos munic�pios que mais votaram em Bolsonaro em 2018.
N�meros 'irreais'

Alves destaca ainda que os n�meros oficiais est�o longe da realidade. "H� muita subnotifica��o", destaca.
De acordo com suas estimativas, quando o Brasil atingir 2 milh�es de casos confirmados, ter�, na verdade, 12 milh�es de casos, uma margem de erro de 500% em rela��o �s estat�sticas oficiais.
J� sobre as mortes, ele calcula que o n�mero oficial representa apenas 60% do total.
Nesse caso, quando o pa�s registrar oficialmente 80 mil �bitos na semana que vem, mais de 130 mil pessoas j� ter�o morrido de COVID-19.
Essas estimativas se baseiam na premissa de que n�o h� testes suficientes feitos no Brasil para se determinar o n�mero de infectados.
Assim, Alves e sua equipe usaram dados da Coreia do Sul — pa�s com um dos melhores sistemas de exames de COVID-19 do mundo — para calcular a taxa de mortalidade da doen�a, ou seja, a propor��o das pessoas que morrem em rela��o ao total de doentes.
Assumindo que essa taxa de letalidade da doen�a seja fixa para todo o mundo — ou seja, que a COVID-19 mata a mesma propor��o de pessoas em todos os pa�ses —, eles calcularam o total de pessoas contaminadas com COVID-19 no Brasil.
Alguns ajustes pontuais foram feitos, considerando diferen�as nas pir�mides et�rias dos dois pa�ses e tempo m�dio entre interna��o e �bito.
Foi usando essa "engenharia reversa" que eles conclu�ram que o Brasil pode estar com at� seis vezes mais casos do que mostram as estat�sticas oficiais.
Alves diz que seu maior temor agora � com a expans�o da pandemia no interior do pa�s.
"Meu maior temor agora � o aumento substancial no n�mero de casos de COVID-19 no interior do Brasil. Cidades como Manaus (AM) e Fortaleza (CE) parecem ter passado pelo pior da pandemia, mas a situa��o � cr�tica no interior desses Estados", diz.
"Os planos de relaxamento nunca tiveram a ver com sa�de p�blica. Ao voltarmos � normalidade, estamos praticando um genoc�dio", conclui.
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