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Coronav�rus: o que significa o alerta da OMS sobre transmiss�o a�rea da COVID-19?

Ap�s press�o de cientistas, organiza��o reconhece que h� evid�ncias de que Sars-CoV-2 pode ser transmitido por micropart�culas suspensas no ar


postado em 09/07/2020 12:31 / atualizado em 09/07/2020 14:21


Cientistas pedem que autoridades em saúde reconheçam que o coronavírus pode ser transmitido por micropartículas suspensas no ar(foto: Getty Images)
Cientistas pedem que autoridades em sa�de reconhe�am que o coronav�rus pode ser transmitido por micropart�culas suspensas no ar (foto: Getty Images)

A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) reconheceu na �ltima ter�a-feira (7/7) que existe a possibilidade de o coronav�rus ser transmitido n�o apenas por got�culas expelidas por tosse e espirros, mas por part�culas microsc�picas liberadas por meio da respira��o e da fala que ficam em suspens�o no ar.

Benedetta Allegranzi, da Unidade Global de Preven��o de Infec��es da OMS, afirmou em uma coletiva de imprensa realizada em Genebra, na Su��a, que h� estudos que apresentam evid�ncias disso, mas que elas ainda "n�o s�o definitivas".

Segundo Allegranzi, a possibilidade de transmiss�o a�rea do Sars-CoV-2 "� vista especialmente em condi��es muito espec�ficas, como lugares com muitas pessoas e pouca ventila��o".

Em uma carta aberta publicada no dia anterior, um grupo de 239 cientistas de 32 pa�ses havia pedido que a chamada "transmiss�o por aerossol" fosse reconhecida por autoridades em sa�de.

"A maioria das organiza��es de sa�de p�blica, incluindo Organiza��o Mundial da Sa�de, n�o reconhecem a transmiss�o pelo ar, exceto para procedimentos geradores de aeross�is realizados em estabelecimentos de sa�de", disseram os pesquisadores.

Segundo eles, estudos v�m demonstrando "al�m de qualquer d�vida razo�vel" que o coronav�rus est� presente n�o apenas nas got�culas, mas tamb�m nestas micropart�culas e que isso representa um risco potencial de uma pessoa ser infectada ao aspir�-las.

Isso pode ocorrer, dizem os cientistas, mesmo quando s�o seguidas as regras de higiene, como lavar frequentemente as m�os, ou de distanciamento social, ao se manter o afastamento m�nimo de 1 ou 2 metros de outra pessoa.

Os cientistas reconhecem que as evid�ncias deste tipo de transmiss�o s�o "incompletas", mas ressaltam que tamb�m s�o incompletas as evid�ncias sobre outras formas de transmiss�o, como por meio de got�culas ou ao entrar em contato com objetos e superf�cies contaminados.

O infectologista Estev�o Portela, vice-diretor de servi�os cl�nicos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, diz � BBC News Brasil que essas evid�ncias ainda n�o permitem afirmar com 100% de certeza que a transmiss�o por aerossol ocorre, mas ele diz que isso indica, neste momento, que o melhor � tomar as medidas necess�rias para prevenir esse tipo de cont�gio.

"Ainda h� uma margem de d�vida, mas, neste momento, essa d�vida deve ser usada em favor da preven��o", afirma Portela.

Onde � mais perigoso?

Portela aponta que h� relatos de pequenos surtos em que "dificilmente h� outra possibilidade de cont�gio que n�o seja o aerossol".

Ele cita, por exemplo, o caso de um jantar em 24 de janeiro em um restaurante na cidade portu�ria de Guangzhou, na China, quando dez pessoas se infectaram a partir de um �nico indiv�duo que j� tinha o v�rus.

Essas pessoas estavam distribu�das em tr�s mesas, e estudos realizados por autoridades chinesas conclu�ram que os diferentes grupos n�o tiveram contato entre si ou com superf�cies contaminadas.


Máscaras de pano e cirúrgicas provavelmente não barram as micropartículas, dizem especialistas(foto: Getty Images)
M�scaras de pano e cir�rgicas provavelmente n�o barram as micropart�culas, dizem especialistas (foto: Getty Images)

O paciente j� contaminado teria liberado o v�rus em micropart�culas no ar por meio da respira��o e da fala. Essas micropart�culas teriam se espalhado pelo ambiente por causa do sistema de ar-condicionado do local, de acordo com as pesquisas.

O m�dico Abraar Karan, pesquisador em sa�de p�blica da Escola de Medicina da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, explicou � BBC que situa��es como essa podem ser consideradas "eventos superpropagadores" do coronav�rus, assim como outras reuni�es em locais fechados e com ventila��o inadequada.

Em casos assim, o n�mero de cont�gios � desproporcionalmente maior em compara��o com os padr�es de transmiss�o geral na popula��o.

Estima-se que, em condi��es normais, uma pessoa com o coronav�rus possa infectar outras tr�s, em m�dia. Mas, em ambientes fechados, lotados e nos quais as pessoas n�o estejam usando equipamentos de prote��o individual, como m�scaras, "uma pessoa pode infectar 10, 15 ou 20 pessoas", disse Karan.

De acordo com o m�dico, os primeiros resultados de pesquisas sobre o tema indicam que a dissemina��o do coronav�rus � causada principalmente por esses eventos superpropagadores. "Diferentes modelos analisaram o assunto e at� agora sugerem que 20% das pessoas representam 80% da propaga��o."

Qual � o risco?

Um estudo publicado em maio estima que uma pessoa infectada com o Sars-CoV-2 pode liberar em um minuto de fala mil micropart�culas no ar. Seus autores concluem que "existe uma probabilidade substancial de que a fala normal cause transmiss�o de v�rus em ambientes fechados".

Outra pesquisa, que ainda n�o foi revisada por outros cientistas (um est�gio que atesta a confiabilidade dos seus resultados), aponta que pessoas infectadas exalam de 1 mil a 100 mil c�pias por minuto do genoma do coronav�rus. Como os volunt�rios do estudo estavam simplesmente respirando, � prov�vel que o v�rus seja transportado por aeross�is e n�o por got�culas.

A t�tulo de compara��o, um estudo aponta que uma tossida pode gerar cerca de 3 mil got�culas com um v�rus, assim como uma fala de 5 minutos, e um espirro pode liberar at� 40 mil got�culas.

Mas as got�culas s�o pesadas e caem no ch�o geralmente depois de percorrem cerca de dois metros. J� as micropart�culas s�o menores e mais leves. Por isso, podem ficar suspensas no ambiente e percorrer dist�ncias maiores ao serem levadas pelas correntes de ar.

Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, explica que, em ambientes sem uma boa ventila��o, as micropart�culas com o coronav�rus podem ficar suspensas no ar por at� 2h30 antes de se degradarem ou se depositarem em alguma superf�cie.

Mas o virologista ressalta que n�o basta o v�rus estar presente no ar para que haja o risco de algu�m ser contaminado. Isso tamb�m depende da quantidade de v�rus que existe ali. E, quanto mais amplo for o ambiente, menor seria a chance, porque essas part�culas podem se dispersar pelo local.

"� preciso ter uma quantidade suficiente de part�culas concentradas para haver uma infec��o. Ao mesmo tempo, � necess�rio que v�rias part�culas virais atuem sobre uma mesma c�lula para conseguir infect�-la. E tem que haver a infec��o de v�rias c�lulas diferentes para que o cont�gio do organismo de fato ocorra, porque, se apenas algumas c�lulas forem infectadas, a resposta imunol�gica do corpo pode ser suficiente para combater isso", diz Spilki.

Benjamin Cowling, da Escola de Sa�de P�blica da Universidade de Hong Kong, foi um dos cientistas que assinou a carta publicada na �ltima segunda-feira. O epidemiologista afirma que, se esse tipo de transmiss�o de fato acontece, � preciso haver uma exposi��o prolongada �s micropart�culas.

"Ent�o, entrar em uma loja pode n�o ser muito arriscado. Talvez seja necess�rio pensar em como proteger os funcion�rios dessa loja. N�o vimos muitas transmiss�es em lojas, mas vimos em bares, restaurantes, onde as pessoas ficam por mais tempo e onde h� mais pessoas reunidas. Se a ventila��o n�o for boa, o risco � maior, e � nisso que precisamos prestar aten��o", disse Cowling � BBC.

Ele diz que o risco de cont�gio n�o � significativo em espa�os abertos e faz uma compara��o para explicar por qu�: "Ao ar livre, voc� n�o sabe se algu�m est� fumando ao seu redor. � s� quando voc� est� em um lugar mal ventilado que isso incomoda. A mesma l�gica pode ser aplicada aqui".

O que fazer para se proteger?


Evitar ficar por muito tempo em locais fechados e mal ventilados é importante para evitar o contágio(foto: Getty Images)
Evitar ficar por muito tempo em locais fechados e mal ventilados � importante para evitar o cont�gio (foto: Getty Images)

A OMS afirmou que publicar� nas pr�ximas semanas um relat�rio com todas as informa��es � disposi��o sobre este assunto e que, por enquanto, n�o emitir� novas recomenda��es para evitar o cont�gio.

De acordo com a organiza��o, as medidas anunciadas anteriormente est�o mantidas. Isso significa evitar reuni�es em locais fechados, a participa��o em eventos com muitas pessoas e manter os ambientes bem ventilados.

"Nos lugares onde houve pequenos surtos, n�o se infectaram as pessoas que ficaram por pouco tempo em um restaurante ou que s� tiveram contato com quem tinha o v�rus ao pegar o mesmo elevador. Ent�o, o ideal � n�o passar muito tempo, meia hora ou mais, em um local fechado", diz Estev�o Portela.

O infectologista avalia que uma das repercuss�es no cotidiano diz respeito ao uso do transporte p�blico, onde muitas vezes as pessoas permanecem em ambientes com pouca circula��o de ar por longos per�odos.

"Uma coisa que ter� que ser avaliada, diante dessa possibilidade, � que as empresas tenham hor�rios flex�veis, para que os funcion�rios n�o usem o transporte p�blico no hor�rio de pico, deem prioridade ao retorno ao escrit�rio para quem mora perto ou n�o usa esse meio de transporte ou mantenham o home office."

A OMS tamb�m refor�ou a import�ncia de manter o distanciamento social, que impede que as got�culas caiam sobre outra pessoa, assim como o uso de m�scaras serve como uma barreira f�sica para elas que sequer sejam lan�adas no ar.

Fernando Spilki explica, no entanto, que as m�scaras de pano e cir�rgicas provavelmente n�o impedem que as micropart�culas sejam aspiradas, porque o v�rus � muito menor do que os poros dos tecidos usados nelas.

Al�m disso, esse tipo de m�scara n�o veda completamente a boca e o nariz. Ent�o, as micropart�culas ainda poderiam passar pelas frestas entre o tecido e a pele.

"Teoricamente, essas m�scaras n�o conseguem reter o aerossol, mas a gente considera que muitos v�rus podem ficar presos nelas. Al�m disso, elas conseguem reter as got�culas", diz o virologista.

Portela ressalta ainda que as m�scaras t�m um papel importante para evitar que uma pessoa que est� infectada e ainda n�o sabe (porque ainda n�o tem sintomas) passe o v�rus para outras pessoas.

"Mesmo antes de ter sintomas, a pessoa j� pode estar espalhando o v�rus. Mais do que uma prote��o individual, a m�scara � importante para proteger os outros."

Existe um tipo de m�scara que � capaz de prevenir a transmiss�o a�rea do v�rus. Conhecida como N95, ela � feita com um material com uma porosidade menor, que ret�m a maioria das part�culas, al�m de vedar o nariz e a boca.

Mas Portela e Spilki explicam que elas n�o devem ser usadas pela popula��o em geral e, sim, por profissionais de sa�de que circulam em ambientes onde as micropart�culas est�o presentes em grande quantidade.

"As pessoas n�o devem sair correndo para comprar uma N95 porque o que existe dispon�vel no mercado deve ser reservado a essas pessoas que trabalham em locais onde o risco de cont�gio � maior, como hospitais e lares de idosos", diz Spilki.

Portela explica que, com esse modelo de m�scara, a respira��o fica mais desconfort�vel do que com os tipos comuns. "A pessoa pode acabar mexendo na m�scara e colocando a m�o no rosto o tempo todo e, com isso, as got�culas que estavam na m�scara podem passar para a m�o. A pessoa depois co�a o olho e se contamina."

Por que a OMS reconheceu que existe este risco?


OMS também mudou sua posição quanto ao uso de máscaras(foto: Reuters)
OMS tamb�m mudou sua posi��o quanto ao uso de m�scaras (foto: Reuters)

Esta n�o � a primeira vez que a OMS muda de posi��o ou sinaliza que pode fazer isso em respeito ao que se sabe sobre o coronav�rus.

No in�cio da pandemia, a organiza��o n�o recomendava o uso amplo de m�scaras e as indicava s� para quem estivesse doente ou para quem cuida destas pessoas.

No entanto, a OMS passou depois a indicar seu uso por todos e se justificou dizendo que novas informa��es apontavam que elas poderiam ser uma barreira importante para as got�culas expelidas pela tosse e por espirros.

A organiza��o tamb�m se viu em meio uma pol�mica quando uma de suas especialistas disse que a transmiss�o da doen�a por pessoas assintom�ticas � "muito rara".

Isso gerou espanto entre especialistas, por contrariar a no��o prevalente at� ent�o de que os assintom�ticos tinham um papel relevante na propaga��o do coronav�rus.

Com a controv�rsia instaurada, a OMS veio a p�blico para esclarecer que, ao afirmar que esse de transmiss�o � rara, quis dizer que ainda n�o se sabe qual a propor��o exata dos cont�gios que se d� desta forma. H� evid�ncias que sugerem que pessoas sintom�ticas s�o mais infecciosas, mas a doen�a pode ser transmitida antes de os sintomas come�arem a desenvolver.

Estev�o Portela diz que, desta vez, a OMS tem demonstrado certa resist�ncia em reconhecer a transmiss�o �rea do coronav�rus e que a organiza��o reagiu em resposta ao debate crescente em torno dessa possibilidade, o que gerou uma press�o sobre ela.

"A OMS sempre foi um pouco conservadora e, como neste caso n�o h� uma prova inequ�voca, preferiu se resguardar. Acredito que ela tamb�m tem sido refrat�ria por causa da preocupa��o que isso pode causar e o custo envolvido para prevenir esse tipo de transmiss�o, sem que isso tenha necessariamente um impacto significativo na propaga��o do v�rus", afirma o infectologista.

Fernando Spilki diz que o principal papel da OMS � gerenciar uma crise como uma pandemia e que a organiza��o precisa levar em conta a capacidade financeira e log�stica dos seus pa�ses-membros em implementar determinadas medidas.

"O mesmo ocorreu com as m�scaras. No in�cio da pandemia, vendo a dificuldade dos pa�ses em conseguir m�scaras para todo mundo, a recomenda��o da OMS buscava reservar esses equipamentos para proteger quem pode estar mais exposto", diz o virologista.

Benjamin Cowling destaca que, se a transmiss�o por aerossol for uma realidade, isso significa que os profissionais de sa�de devem usar os melhores equipamentos de prote��o dispon�vel, inclusive m�scaras N95.

"Um dos motivos pelos quais a OMS disse que n�o estava disposta a falar sobre a transmiss�o a�rea � que n�o h� m�scaras N95 suficientes em muitas partes do mundo e n�o seria poss�vel recomendar seu uso mais amplo. Em termos comunit�rios, ter�amos que pensar tamb�m em como evitar os eventos superpropagadores", diz o epidemiologista.

"Mas, cientificamente, se existe esse risco, temos que falar sobre isso e pensar formas de evitar que isso aconte�a."


(foto: BBC)
(foto: BBC)

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