(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PESQUISA

Camundongos transg�nicos usados em pesquisas de COVID-19 viram alvo de disputa mundial

Cientistas da Fiocruz Minas est�o na %u2018fila%u2019 para adquirir animais de laborat�rio geneticamente modificados, que podem ser infectados pelo novo coronav�rus


postado em 14/07/2020 16:19 / atualizado em 14/07/2020 18:59


Camundongo usado na pesquisa do novo coronavírus foi batizado de k18-hACE2(foto: The Jackson Laboratory (JAX))
Camundongo usado na pesquisa do novo coronav�rus foi batizado de k18-hACE2 (foto: The Jackson Laboratory (JAX))

O grupo da Fiocruz Minas que pesquisa a vacina contra COVID-19 est� h� semanas esperando uma encomenda chegar dos Estados Unidos para dar in�cio aos testes de efic�cia.

O pedido foi feito em abril: tr�s casais de camundongos transg�nicos, um dos poucos no mundo capazes de serem infectados pelo v�rus que causa a COVID-19.

Mas, al�m da demanda dos brasileiros, o Jackson Laboratory tem uma fila de pedidos de cientistas do mundo inteiro.

Camundongos de laborat�rio comuns n�o s�o suscet�veis ao v�rus que causa a COVID-19. Ou seja, mesmo em contato direto com o agente patog�nico, a probabilidade de ficarem doentes � pequena.

O k18-hACE2, como foi batizado o modelo vendido pela institui��o, foi geneticamente modificado justamente para ser infectado pelo Sars-Cov-2 — e, por isso, � um ingrediente fundamental nas pesquisas envolvendo o novo coronav�rus.

A demanda � concentrada, diz o coordenador do Instituto Nacional de Ci�ncia e Tecnologia de Vacinas (INCTV) e coordenador da equipe da Fiocruz Minas, Ricardo Gazzinelli, porque o laborat�rio � possivelmente o �nico a produzir em escala "comercial" esses camundongos geneticamente modificados.


Neurocientista Cat Lutz, diretora do Jackson Laboratory, diz que espera zerar a fila de espera pelos camundongos transgênicos no fim de julho(foto: The Jackson Laboratory (JAX))
Neurocientista Cat Lutz, diretora do Jackson Laboratory, diz que espera zerar a fila de espera pelos camundongos transg�nicos no fim de julho (foto: The Jackson Laboratory (JAX))

Um e-mail de Wuhan e uma amostra de Iowa

A hist�ria come�a com um e-mail de um funcion�rio do Jackson Laboratory de Xangai, que escreveu � diretora do reposit�rio de camundongos e do Centro de Doen�as Raras do laborat�rio nos EUA, Cathleen Lutz, no in�cio de fevereiro.

Assustado com a propor��o que a epidemia tomava na China — e em lockdown em Wuhan, onde vive parte de sua fam�lia —, ele perguntava se a equipe n�o poderia ajudar de alguma forma.

Da� veio a ideia de desenvolver um camundongo que pudesse ser usado nas pesquisas para entender melhor a doen�a.

Lutz ent�o entrou em contato com o cientista Stanley Perlman, da Universidade de Iowa, que em 2007, junto com o colega Paul McCray, j� havia desenvolvido um animal geneticamente modificado para estudar a Sars, tamb�m causada por um coronav�rus, o Sars-Cov.

"Perlman chegou a escrever que os coronav�rus continuavam sendo uma amea�a potencial, e ele estava certo", disse a neurocientista � BBC News Brasil.


Animais são enviados por via aérea em caixas adaptadas(foto: The Jackson Laboratory (JAX))
Animais s�o enviados por via a�rea em caixas adaptadas (foto: The Jackson Laboratory (JAX))

Em 48 horas, o pesquisador enviou as amostras de s�men do camundongo transg�nico, ent�o usadas pelo laborat�rio para inseminar f�meas dos camundongos de laborat�rio "comuns".

A primeira ninhada nasceu em mar�o e, a partir da�, a institui��o vem construindo uma col�nia de camundongos suscet�veis ao coronav�rus.

O volume de animais vendidos � mantido em confidencialidade, mas Lutz estima que a demanda chegue nos pr�ximos meses a "dezenas de milhares".


Ratos de laboratório 'comuns' não são infectados pelo novo coronavírus - por isso as pesquisas usam animais geneticamente modificados(foto: The Jackson Laboratory (JAX))
Ratos de laborat�rio 'comuns' n�o s�o infectados pelo novo coronav�rus - por isso as pesquisas usam animais geneticamente modificados (foto: The Jackson Laboratory (JAX))

O que eles t�m de diferente

Os camundongos modificados receberam o gene humano para o receptor ECA2 (enzima conversora da angiotensina 2), a principal porta de entrada para o novo coronav�rus nas c�lulas humanas.

O Sars-Cov-2 se liga � prote�na ECA2, que fica na superf�cie da c�lula, como uma chave em uma fechadura, o que facilita sua entrada.

Uma vez l� dentro, o v�rus usa a estrutura celular para se reproduzir, depois a destr�i e passa a infectar outras c�lulas, usando-as como uma esp�cie de f�brica de novos v�rus.

A previs�o inicial para a entrega dos animais aos cientistas brasileiros era junho, mas, segundo Lutz, o laborat�rio reduziu a velocidade inicialmente prevista de expans�o da col�nia porque queria ter certeza de que os animais, originalmente criados para pesquisas com outro tipo de coronav�rus, responderiam como esperado.

O modelo do camundongo � exatamente o mesmo desenvolvido por Perlman e McCray.

Conforme o retorno que t�m recebido dos laborat�rios que j� receberam os animais, a infectividade � alta e r�pida, o que � considerado positivo.

"� tudo muito r�pido. Voc� sabe em 5 dias se os anticorpos funcionam ou n�o", acrescenta, referindo-se ao estudo de vacinas.

A neurocientista diz saber que "parece uma eternidade quando voc� est� esperando seu camundongo", e emendou que espera "zerar" a fila de pedidos at� o fim de julho.


Em funcionamento desde 1929, laboratório armazena 11 mil linhages de camundongos geneticamente modificados(foto: The Jackson Laboratory (JAX))
Em funcionamento desde 1929, laborat�rio armazena 11 mil linhages de camundongos geneticamente modificados (foto: The Jackson Laboratory (JAX))

O papel dos camundongos transg�nicos na pesquisa

Enquanto isso, a equipe coordenada por Gazzinelli tem feito testes com camundongos tradicionais para estudar a resposta imunol�gica dos animais � vacina — para isso, n�o � preciso que eles fiquem "doentes".

Os camundongos geneticamente modificados ser�o usados nos chamados estudos de desafio, para se verificar a efic�cia: depois de aplicada a vacina, tenta-se infect�-los com o v�rus. Caso isso n�o aconte�a, tem-se um indicativo de que a subst�ncia funciona.

Mas a previs�o, no cronograma atual, � que essa etapa tenha in�cio em setembro. At� l�, quando a encomenda finalmente chegar, o laborat�rio da Fiocruz Minas deve trabalhar para criar sua pr�pria col�nia de camundongos transg�nicos.

"Assim podemos distribuir para outros laborat�rios no pa�s", diz Gazzinelli. A pesquisa da Fiocruz � uma das que est� em est�gio mais avan�ado entre as iniciativas brasileiras.

O cientista explica que h� outros animais usados nas pesquisas de vacinas, como hamsters, por exemplo, mas os camundongos s�o mais baratos e mais "vers�teis".

N�o por acaso, o Jackson Laboratory tem 11 mil linhagens de camundongos geneticamente modificados em seus tanques de criopreserva��o. Cada um deles foi criado com um prop�sito diferente — uns para o estudo de alguns tipos de c�ncer, outros para a pesquisa da diabetes ou de doen�as raras, por exemplo.

A institui��o sem fins lucrativos foi criada em 1929 e � uma refer�ncia em gen�tica. Um de seus pesquisadores, George Snell, foi um dos ganhadores do Pr�mio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1980 pela pesquisa sobre o complexo principal de histocompatibilidade (MHC, na sigla em ingl�s), que foi de grande import�ncia para a �rea de transplantes de �rg�os.


Amostras de sêmen dos animais são mantidos em câmaras de criopreservação(foto: The Jackson Laboratory (JAX))
Amostras de s�men dos animais s�o mantidos em c�maras de criopreserva��o (foto: The Jackson Laboratory (JAX))

Vacinas brasileiras

A pesquisa brasileira da Fiocruz Minas pela vacina � uma das 160 catalogadas at� o in�cio de julho pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS).

Al�m dela, est�o tamb�m em curso no pa�s as conduzidas pelo Laborat�rio de Imunologia do Instituto do Cora��o (Incor), pelo Instituto de Ci�ncias Biom�dicas (ICB) da Universidade de S�o Paulo (USP) e pelo Instituto Butant�, em S�o Paulo.

A iniciativa da Fiocruz Minas � voltada para o desenvolvimento de uma vacina com o v�rus da influenza atenuado — que funcionaria, assim, tanto para a imuniza��o contra a influenza quanto contra a COVID. A ideia � que ela seja administrada por via nasal, local em que h� grande concentra��o dos receptores usados pelo novo coronav�rus.

A subst�ncia ent�o entraria nas c�lulas e induziria a produ��o de anticorpos contra o Sars-Cov-2.

Gazzinelli est� � frente do INCT-Vacinas desde 2005. Trabalhou no desenvolvimento da vacina contra leishmaniose e nas pesquisas de vacinas contra mal�ria e doen�a de chagas.

Segundo ele, a expectativa "otimista" � que a vacina contra a COVID-19 esteja pronta no fim de 2021.

Apesar de haver iniciativas em outros pa�ses, inclusive em est�gio cl�nico, com testes em seres humanos, ele ressalta que as pesquisas brasileiras continuam sendo importantes porque n�o se sabe ainda o que de fato funcionar� e, em caso positivo, qual grau de acesso o Brasil teria a uma subst�ncia produzida fora.


J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)