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Estado de Minas

Estudo encontra carga mais alta de coronav�rus em crian�as pequenas do que em adultos

Pesquisa publicada no JAMA Pediatrics com amostras de 145 pacientes infectados encontrou maior indicativo de carga viral em crian�as com menos de cinco anos.


30/07/2020 12:00 - atualizado 31/07/2020 12:32

Criança fotograda em Medan, Indonésia; autores de pesquisa no JAMA Pediatrics destacam que saber sobre potencial de transmissão das crianças é ainda mais importante com planos de volta às aulas e de uma eventual vacina(foto: EPA/DEDI SINUHAJI )
Crian�a fotograda em Medan, Indon�sia; autores de pesquisa no JAMA Pediatrics destacam que saber sobre potencial de transmiss�o das crian�as � ainda mais importante com planos de volta �s aulas e de uma eventual vacina (foto: EPA/DEDI SINUHAJI )

Um novo estudo, publicado nesta quinta-feira (30) no peri�dico JAMA Pediatrics, d� mais uma pista sobre aquela que tem sido uma das principais inc�gnitas da pandemia de coronav�rus: qual � o papel das crian�as na transmiss�o da doen�a?

Segundo os autores do trabalho, do Hospital Infantil Ann & Robert H. Lurie de Chicago, nos Estados Unidos, quando doentes, elas t�m uma carga viral consider�vel que, a ser confirmado por novos estudos, pode significar uma capacidade relevante de transmitir a covid-19.

Isto porque testes moleculares (PCR) encontraram em crian�as doentes com menos de cinco anos mais fragmentos do material gen�tico do v�rus mas n�o o v�rus "inteiro", � importante destacar do que em crian�as com 5 a 17 anos ou mesmo adultos.

Os pesquisadores do hospital americano reuniram amostras, retiradas do nariz, de 145 pacientes com covid-19 confirmada por PCR, com sintomas leves a moderados e no est�gio inicial da doen�a com no m�ximo sete dias de diagn�stico.

Estes pacientes pertenciam a tr�s grupos: crian�as com at� cinco anos de idade (46 pacientes); crian�as com cinco a 17 anos de idade (51 pacientes); e adultos com 18 a 65 anos (48 pacientes).

As amostras do primeiro grupo, das crian�as mais novas, tiveram menor valores CT para PCR uma medida t�cnica que indica os ciclos necess�rios para detec��o de fragmentos do v�rus. Ou seja, quanto menos ciclos para encontrar o material, isto � um indicativo de uma carga viral maior.

O valor CT mediano foi semelhante para crian�as mais velhas (11.1) e adultos (11.0), mas significativamente mais baixo para crian�as mais novas (6.5).

"Para tentar remover vari�veis que pudessem causar confus�o ou parcialidade, foram exclu�dos os pacientes que estavam mais doentes (precisando de suporte de oxig�nio); que estavam assintom�ticos; ou que tinham dura��o dos sintomas desconhecida ou maior que uma semana", escreveu � BBC News Brasil Taylor Heald-Sargent, m�dica e autora principal do estudo, do tipo research letter ("carta de pesquisa", em tradu��o livre, uma esp�cie de relato mais conciso de um estudo).

"Nosso estudo n�o examinou diretamente a replica��o viral ou a transmiss�o do SARS-CoV-2, mas foi demonstrado para outros v�rus que quantidades mais altas do pat�geno podem aumentar a capacidade de transmiss�o. Isto aliado ao fato de que crian�as pequenas s�o menos propensas a usar m�scaras de forma consistente, manter boa higiene das m�os e evitar tocar a boca ou nariz, parece l�gico (supor) que as crian�as sejam capazes de transmitir o v�rus a outras pessoas", afirmou Heald-Sargent.

A publica��o destaca que "conforme sistemas de sa�de planejam a reabertura de creches e escolas, entender o potencial de transmiss�o das crian�as ser� um guia importante para medidas p�blicas de sa�de", assim como para o planejamento de quais ser�o os p�blicos et�rios priorit�rios de uma eventual vacina, acrescentam os autores.

Presen�a do v�rus, infec��o e transmiss�o

No estudo, o chamado valor CT foi semelhante para crianças mais velhas (11.1) e adultos (11.0), mas significativamente mais baixo para crianças mais novas (6.5)(foto: REUTERS/Cooper Neill)
No estudo, o chamado valor CT foi semelhante para crian�as mais velhas (11.1) e adultos (11.0), mas significativamente mais baixo para crian�as mais novas (6.5) (foto: REUTERS/Cooper Neill)

Como apontou a pesquisadora, � importante lembrar que ter o material gen�tico do v�rus detectado no organismo � uma coisa; desenvolver sintomas, outra; e transmitir a doen�a para outras pessoas, tamb�m.

"Para ser sincera, nossos resultados nos surpreenderam e nos intrigaram. N�o sei dizer por que as crian�as pequenas t�m n�veis mais altos de RNA viral, mas s�o menos sintom�ticas que as crian�as mais velhas e os adultos", afirmou � reportagem a autora do estudo.

"J� foi apontado que esses altos n�veis do v�rus podem ser capazes de desencadear uma resposta imunol�gica mais eficiente, impedindo a propaga��o do trato respirat�rio superior para o mais baixo o que significa que as crian�as podem ter apenas sintomas de resfriado e n�o desenvolver pneumonia. Tamb�m � poss�vel que parte da patologia observada na covid-19 seja devida � pr�pria resposta imune. Talvez as crian�as mais novas tenham realmente um tipo diferente de resposta imune ao v�rus, que n�o causa danos a �rg�os como os pulm�es."

Comentando o estudo para a BBC News Brasil, Marcelo Otsuka, coordenador do comit� de Infectologia Pedi�trica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), destaca, primeiro, que o PCR captura fragmentos do v�rus, e n�o o v�rus em si como seria poss�vel com a an�lise de c�lulas em laborat�rio, o que n�o � t�o comum ou acess�vel.

Assim, o material gen�tico do pat�geno pode at� ser encontrado no corpo com o PCR, como foi feito no estudo, mas isso n�o significa que a doen�a se desenvolveu ou que ela pode ser transmitida.

Otsuka reconhece, por�m, que os resultados do estudo no JAMA Pediatrics podem sim indicar maior carga viral e uma capacidade de transmiss�o relevante por crian�as ainda mais porque, no trabalho, foram considerados pacientes que estavam doentes e com quadros semelhantes, fossem eles adultos ou crian�as.

"Em geral, crian�as t�m maior chance de n�o ter sintomas, ou de ter sintomas mais tranquilos. E, a princ�pio, quanto menor sintomatologia, menor carga viral, menor transmiss�o. Mas, nesse estudo, foram comparadas crian�as com sintomas leves a moderados com adultos com sintomas leves a moderados. Foi o mesmo tipo de manifesta��o (da doen�a, entre crian�as e adultos). Ent�o, a crian�a pode transmitir igualmente. N�o sabemos de algum fator que a impe�a de infectar como adultos", apontou o infectologista e pediatra, ressaltando tamb�m que o n�mero de pacientes do estudo, 145, � relativamente pequeno.

"A crian�a transmite, mas precisamos de mais estudos para dizer o quanto."

O infectologista, como os pr�prios autores do artigo, aponta tamb�m que h� um fator que vai al�m das c�lulas e laborat�rios e que pode ter minimizado, no mundo real da pandemia, o papel dos pequenos como transmissores.

"Se tem algu�m que est� fazendo isolamento s�o as crian�as, principalmente as pequenas. Por estarem mais em casa, isso pode ter reduzido muito a infec��o nesta faixa et�ria", diz Otsuka, lembrando por exemplo que s�o os adultos que saem de casa para ir ao mercado ou desempenhar outras atividades essenciais durante a pandemia.

O artigo no JAMA Pediatrics diz tamb�m que "relatos iniciais n�o encontraram evid�ncias fortes de que as crian�as sejam contribuidoras significativas para o alastramento do SARS-CoV-2, mas o fechamento das escolas no in�cio da pandemia acabou afastando (a produ��o de) pesquisas de larga escala sobre estes lugares como fonte de transmiss�o comunit�ria".

Crianças brincam na Indonésia; isolamento delas, com fechamento de escolas e menor necessidade de ir à rua como adultos, pode explicar papel menor na transmissão(foto: REUTERS/Willy Kurniawan)
Crian�as brincam na Indon�sia; isolamento delas, com fechamento de escolas e menor necessidade de ir � rua como adultos, pode explicar papel menor na transmiss�o (foto: REUTERS/Willy Kurniawan)

Otsuka aponta que h� sinais de que crian�as menores do que um ano podem apresentar maiores vulnerabilidades � covid-19 por conta de um sistema de defesa ainda em forma��o, conforme ele e colegas t�m observado no Hospital Infantil Darcy Vargas, em S�o Paulo aspectos cl�nicos registrados ali foram inclusive disponibilizados recentemente na plataforma de pr�-publica��o (sem revis�o dos pares), medRxiv.

Presidente do departamento de infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Marco Aur�lio S�fadi tamb�m destaca que "muitas vezes o RNA reflete um v�rus que n�o � vi�vel para infec��o", sugerindo cautela com os resultados obtidos via PCR. Ele tamb�m aponta que n�o se pode ignorar os v�rios estudos que v�m minimizando a fun��o das crian�as como vetores da covid-19.

"Quando voc� vai para o mundo real, os estudos que tentam investigar o papel das crian�as na transmiss�o s�o praticamente un�nimes em destacar que crian�as (abaixo de 10 anos) t�m desempenhado um papel menos relevante na transmiss�o. Eles mostram que obviamente as crian�as podem transmitir, mas s�o os adultos jovens os principais vetores de transmiss�o", diz S�fadi, professor de infectologia e pediatria da Faculdade de Ci�ncias M�dicas da Santa Casa de S�o Paulo.

Publicado no in�cio do m�s na revista cient�fica Pediatrics, um destes estudos mostrou, a partir do de um rastreamento feito pelo Hospital Universit�rio de Genebra com 111 adultos que tinham tido contato com crian�as infectadas, que apenas em 8% dos casos, a crian�a desenvolveu sintomas primeiro ou seja, possivelmente tendo sido a origem da cadeia de transmiss�o. Grande parte dos casos foram de ciclos iniciados com adultos manifestando sintomas.

O m�dico destaca ainda o conhecimento que se tem sobre crian�as e a transmiss�o de outras doen�as e que pode tamb�m ajudar com pistas sobre o que acontece na covid-19.

"Para a influenza, as crian�as s�o claramente vetores de transmiss�o importantes na comunidade. O pr�prio v�rus que causa a bronquiolite, tamb�m", diz, se referindo neste caso ao v�rus sincicial respirat�rio (VSR), tamb�m citado pelos autores do JAMA Pediatrics como um hist�rico importante a se considerar.

"Por outro lado, outros coronav�rus, como os da Sars (s�ndrome respirat�ria aguda grave) e Mers (s�ndrome respirat�ria por coronav�rus do Oriente M�dio, na sigla em ingl�s), n�o tiveram nas crian�as uma fonte importante de transmiss�o. Ent�o, este tamb�m pode ser um comportamento de classe dos coronav�rus."

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