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Estado de Minas

Grupos antim�scaras provocam agress�es na Europa e unem extremas esquerda e direita

Em comum, pessoas que se recusam a usar item de prote��o reivindicam direito � liberdade dizendo que quem obedece recomenda��o s�o 'carneirinhos' usando 'focinheiras'.


15/08/2020 14:24

Manifestante em Berlim usa máscara que diz: 'Mentira da pandemia'(foto: EPA/FELIPE TRUEBA)
Manifestante em Berlim usa m�scara que diz: 'Mentira da pandemia' (foto: EPA/FELIPE TRUEBA)

Enfermeiro em um hospital no norte da Fran�a, Fabien sofreu traumatismo craniano ap�s ser violentamente agredido por pedir a um cliente de um caf� que usasse m�scara.

Brigas por esse motivo v�m ocorrendo em com�rcios e transportes do pa�s e t�m causado preocupa��es quanto a movimentos radicais contra o uso do equipamento de prote��o. Esses grupos v�m ganhando for�a nas redes sociais e tamb�m disseminam not�cias falsas sobre a pandemia do novo coronavirus.

O enfermeiro que sofreu traumatismo craniano trabalhou por meses com pacientes de covid-19 e afirma ter visto pessoas morrerem da doen�a. Em entrevistas a TVs francesas, Fabien, que preferiu n�o revelar o sobrenome, disse que seu agressor entrou em um caf� com a m�o sobre a boca dizendo que estava usando m�scara.

O uso do equipamento de prote��o � obrigat�rio para circular em restaurantes e bares na Fran�a e s� pode ser retirado quando a pessoa estiver sentada � mesa, o que n�o era o caso desse cliente.

"Eu lhe disse que n�o era para rir da covid-19, que � uma doen�a perigosa e que pessoas morrem disso", contou o enfermeiro. A discuss�o sobre o uso da m�scara terminou com Fabien tomando um forte soco no rosto que o fez cair e bater a cabe�a no ch�o, provocando hemorragia cerebral.

"Durante todo o confinamento, a popula��o francesa aplaudiu os profissionais da �rea de sa�de �s 20 horas. N�s gostar�amos de ser respeitados. Para isso, � preciso agir para controlar a pandemia e uma forma de fazer isso � usar m�scara", ressalta o enfermeiro.

Uma pessoa j� morreu na Fran�a por exigir que algu�m utilizasse m�scara: um motorista de �nibus em Bayonne, no sudoeste, faleceu em julho ap�s ser agredido por um grupo de passageiros que se recusou a usar a prote��o, obrigat�ria nos transportes e em todos os locais p�blicos fechados.

As tens�es t�m se multiplicado em diferentes localidades do pa�s. Recentemente, um pai foi espancado com barras de ferro, na frente dos filhos, por v�rios homens em uma lavanderia autom�tica na periferia de Paris ap�s pedir a um deles para colocar uma m�scara. Em Le Havre, na Normandia, uma jovem deu tapas e arrancou cabelos de uma funcion�ria dos correios que tamb�m cobrou o uso do equipamento.

As agress�es e movimentos antim�scaras na Fran�a se ampliam ao mesmo tempo em que as autoridades v�m refor�ando a obrigatoriedade do equipamento em diferentes locais. Ap�s o fim do confinamento, em meados de maio, houve um relaxamento de parte da popula��o, sobretudo a mais jovem, em rela��o �s medidas de prote��o contra a pandemia.

Desde o in�cio de agosto, mais de 300 cidades, como Paris, tornaram obrigat�rio o uso de m�scaras tamb�m em algumas �reas p�blicas ao ar livre, como parques e ruas de com�rcio movimentadas.

Movimentos antim�scaras come�aram a aparecer em manifesta��es contra o confinamento nos Estados Unidos e depois se espalharam por pa�ses como Alemanha, Canad�, Reino Unido e Fran�a, onde come�am a se expandir nas redes sociais e j� re�nem algumas milhares de pessoas.

Franceses que integram grupos antim�scaras no Facebook publicam selfies sem o equipamento em lojas, contam, como se fosse uma competi��o, que conseguiram ficar tantos minutos sem o item de prote��o em um com�rcio antes que algu�m interviesse ou divulgam fotos com outros acess�rios que cobrem o rosto, mas s�o totalmente ineficazes para combater a pandemia de covid-19.

A multa pela n�o utiliza��o de m�scaras � de 135 euros (cerca de R$ 900).

Mais de 300 cidades, como Paris, tornaram obrigatório o uso de máscaras em algumas áreas públicas ao ar livre(foto: EPA)
Mais de 300 cidades, como Paris, tornaram obrigat�rio o uso de m�scaras em algumas �reas p�blicas ao ar livre (foto: EPA)

Argumentos

Os militantes contra o uso de m�scaras t�m um ponto em comum: eles reivindicam seu direito � liberdade e se recusam a usar o que chamam de "focinheiras." Para eles, as pessoas que respeitam as regras s�o "carneirinhos" que precisariam ser despertados para a realidade. As autoridades, ao tornar o uso obrigat�rio, visariam controlar a popula��o com um pensamento �nico que deve ser acatado por todos, alegam.

"Quando a m�scara � imposta, somos privados do nosso corpo, do nosso livre arb�trio", diz Ang�lique, que integra um desses grupos nas redes sociais. "N�o � escraviza��o e � ditadura sanit�ria", diz outro internauta.

Para o soci�logo David Le Breton, a recusa de alguns de usar m�scara � um novo sinal do individualismo crescente. "O paradoxo � que a liberdade defendida pelos antim�scaras �, na realidade, a liberdade de contaminar os outros. � o produto de um desengajamento c�vico, uma das marcas do individualismo contempor�neo", afirma.

V�rios opositores tamb�m contestam a efic�cia das m�scaras para conter a propaga��o do novo coronav�rus, considerando que elas s�o "in�teis" ou supostamente perigosas. In�meras informa��es falsas sobre esses equipamentos de prote��o individual circulam nesses grupos.

"A m�scara nos priva da maior parte do nosso oxig�nio. Por isso, ela pode nos matar", afirma Maxime Nicolle, uma figura conhecida do movimento dos coletes amarelos, protestos que surgiram no final de 2018 na Fran�a, muitos deles violentos, com reivindica��es sociais.

A informa��o de que as m�scaras podem provocar a morte � falsa, desmentida com veem�ncia por m�dicos e pesquisadores. Nicolle, que utiliza o pseud�nimo FlyRider, � bastante ativo nas redes sociais contra a utiliza��o do equipamento de prote��o e outras medidas adotadas para lutar contra a pandemia, que ele estima ser uma "farsa".

Parte dos militantes antim�scaras, os mais radicais, � adepta de teorias conspirat�rias, mais difundidas nos meios de extrema direita e entre os que se dizem antissistema e contra as vacinas.

"Quando voc� coloca uma m�scara, voc� se torna intelectualmente vulner�vel, perde a identidade e se torna uma presa ideal para as pot�ncias ocultas e transumanistas (movimento para transformar a condi��o humana a partir do uso da ci�ncia e da tecnologia) que querem te destruir em nome da nova ordem mundial", alega um internauta desses grupos.

"Primeiro s�o as m�scaras e em seguida as vacinas que ter�o um nano chip controlado pela 5G" diz outra militante francesa.

"O movimento antim�scara � heterog�neo, formado por pessoas que n�o t�m a mesma preocupa��o em rela��o ao item de prote��o e nem o mesmo discurso contra o seu uso", diz Tristan Mend�s France, especialista em culturas digitais.

"H� adeptos de teorias do compl�, independentemente de sua tonalidade ideol�gica, e pessoas que t�m uma agenda ideol�gica, mais ligada � extrema-direita, que s�o contra o governo e o presidente Emmanuel Macron", completa Mend�s France.

"Os antim�scaras est�o mais presentes entre os eleitores de partidos de extrema direita ou de extrema esquerda. H�, nessa atitude, uma maneira de desobedecer a um governo que eles n�o aprovam ou de expressar uma rela��o de desconfian�a mais ampla em rela��o ao Estado e � autoridade em geral", afirma Jocelyn Raude, professor de psicologia social na Escola de Altos Estudos em Sa�de P�blica da Fran�a.

Entre os grupos de defensores do professor Didier Raoult - infectologista franc�s que fez pol�micos estudos sobre a hidroxicloroquina, medicamento que segundo Raoult seria eficaz no tratamento da covid-19 - h� in�meras pessoas contra o uso obrigat�rio de m�scaras e tamb�m contra as vacinas. O virologista atraiu muitos adeptos de teorias do compl�. Uma pesquisa do Instituto Jean-Jaur�s sobre o perfil dos "f�s" de Raoult revelou que 20% deles votaram, na �ltima elei��o presidencial, em 2017, em Fran�ois Fillon, candidato mais radical da direita tradicional (partido que governou o pa�s diversas vezes), 18% votou em Jean-Luc M�l�nchon, da Fran�a Insubmissa, o mais votado da extrema esquerda, e 17% optou por Marine Le Pen, da extrema direita.

'Não é sobre a máscara, é sobre controle', diz cartaz de manifestante na Alemanha no último dia 1, em que pessoas se reuniram para protestar contra medidas regulatórias da pandemia(foto: EPA/FELIPE TRUEBA)
'N�o � sobre a m�scara, � sobre controle', diz cartaz de manifestante na Alemanha no �ltimo dia 1, em que pessoas se reuniram para protestar contra medidas regulat�rias da pandemia (foto: EPA/FELIPE TRUEBA)

"� um sintoma do descr�dito da palavra cient�fica e da palavra das autoridades. Hoje, s�o as m�scaras. Amanh�, ser�o as vacinas", prossegue.

Na Alemanha, uma manifesta��o de antim�scaras com partidos de extrema direita, como o AfD (Alternativa para a Alemanha), e movimentos de extrema esquerda reuniu 15 mil pessoas, segundo a pol�cia.

Sinais confusos do governo sobre as m�scaras

Para alguns, o discurso contradit�rio do governo franc�s em rela��o ao uso das m�scaras contribuiu para alimentar confus�es e rejei��o em rela��o ao equipamento.

No in�cio do confinamento no pa�s, em mar�o, o governo dizia que elas n�o eram necess�rias para a popula��o e deveriam ser reservadas apenas ao pessoal de sa�de. Muitos interpretaram isso como uma maneira de driblar a falta do produto, que come�ou a ser atenuada apenas em meados de maio.

O primeiro-ministro da �poca, Edouard Philippe, chegou a dizer que as m�scaras "n�o serviam para nada" no caso de pessoas n�o contaminadas. Depois, o governo mudou radicalmente seu discurso. Com o aumento recente do n�mero de casos na Fran�a, que levou o governo a dizer, na ter�a-feira (11/8), que "a epidemia evolui na m� dire��o", o objetivo agora � ampliar ao m�ximo seu uso em �reas p�blicas ao ar livre, afirmou o novo premi�, Jean Castex.

Apesar de boa parte dos franceses achar que o governo "mentiu" em rela��o �s m�scaras, segundo pesquisas, a grande maioria (85%) apoia sua utiliza��o em locais fechados e tamb�m abertos (64%).

O movimento antim�scaras no pa�s ainda � algo marginal, mas vem se expandido e tenta se estruturar com diferentes a��es, como peti��es contra a obrigatoriedade do uso do item, iniciativas de boicote de lojas e apelos para a desobedi�ncia civil. Manifesta��es tamb�m estariam previstas, mas n�o h� data definida e n�o se sabe se elas atra�ram um n�mero expressivo de participantes.


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