
O m�dico Daniel Gatica chegou ao seu limite e decidiu que deixaria a linha de frente contra a pandemia de covid-19 na Argentina ap�s ser apedrejado por parentes de um paciente que morreu por causa da doen�a.
Ele explicou decis�o de pedir demiss�o em uma carta publicada no Facebook em 13 de setembro: "Hoje digo basta, hoje sinto que fracassei".
Gatica contou que havia enfrentado "12 dias de puro estresse, apenas dando m�s not�cias"."Estou cansado de ter tr�s mortes em uma tarde ou cinco em uma noite e saber que nunca h� um leito na UTI", escreveu.
- Pandemia isola Prov�ncias argentinas do resto do pa�s e impede pai de dizer adeus a filha doente
- 'Coronav�rus n�o � um inimigo, � um trope�o da natureza', diz autor espanhol
"Quantas vezes eu dormi de p� ainda usando o EPI (equipamento de prote��o individual) depois de atender 32, 40 ou 64 pacientes."
Gatica disse que, no hospital de Or�n, cidade no interior da Argentina onde ele mora e trabalha, o oxig�nio era um "luxo" h� mais de um m�s e que estava "cansado de ter que escolher para quem dar um leito ou um tubo de oxig�nio semivazio".
"Tudo para qu�? Receber isso... um ataque f�sico", afirmou, referindo-se �s pessoas que lan�aram pedras contra ele ao saber da morte de um ente querido.
"N�o aguento mais."
Cidades do interior est�o sobrecarregadas
A publica��o do m�dico chamou a aten��o do pa�s para a dram�tica situa��o no hospital San Vicente de Paul, que n�o s� atende os 85 mil habitantes de Or�n, mas dezenas de milhares de pessoas que moram nas cidades vizinhas.
A falta de leitos, medicamentos, oxig�nio e profissionais de sa�de fez com que o �ndice de mortalidade ali chegasse a 10% dos pacientes infectados, enquanto nacionalmente a taxa � de 2,1%.
Or�n � a segunda cidade mais populosa da prov�ncia de Salta, ao norte do pa�s, na fronteira com a Bol�via.
Assim como outras cidades do interior, ela ficou sobrecarregada quando o novo coronav�rus come�ou a se espalhar fora de Buenos Aires. A capital argentina chegou a concentrar mais de 90% dos casos e, agora, est� perto de 50%.
Apesar de a Argentina ter sido um dos pa�ses que melhor conteve a expans�o do coronav�rus, gra�as a uma quarentena r�gida que foi imposta assim que a pandemia chegou em mar�o, a situa��o mudou drasticamente em poucas semanas.
No �ltimo m�s, tanto as infec��es quanto as mortes por covid-19 dobraram e, com mais de 665 mil casos, hoje o pa�s � o d�cimo no mundo com mais infectados e o 14º com mais mortes (cerca de 14 mil).
A Argentina chegou a bater o recorde de infec��es e mortes di�rias no planeta nos �ltimos dias, um aumento que � reflexo do esgotamento e relaxamento de muitos argentinos com a quarentena mais longa do mundo (que continua em vigor depois de seis meses).

'Sociedade hip�crita'
Gatica, que � residente em medicina da fam�lia e trabalha no hospital h� tr�s anos, disse em entrevista ao jornal Perfil que a agress�o que ele sofreu "foi um dos momentos mais tristes da minha carreira".
Ele contou que estava do lado de fora do hospital dando not�cias de um paciente a seus familiares quando parentes de outro paciente foram informados que ele havia morrido.
"Dois indiv�duos desajustados come�aram a jogar pedras onde eu estava. Uma passou a alguns cent�metros do meu rosto e quebrou um vidro. Outra caiu no meu p�. S� n�o aconteceu algo pior gra�as aos familiares dos outros pacientes que me protegeram e contiveram os dois imprest�veis.%u200B
Em sua carta, Gatica questionou o comportamento da sociedade argentina na pandemia e a chamou de "hip�crita e injusta".
"Quando era necess�rio se cuidar, tudo era divers�o, e, hoje eles choram os mortos e exigem aten��o. Essa pandemia despertou o pior de todos."
Mas ele tamb�m cobra as autoridades de sa�de. "Eles sabem que somos 21 m�dicos dos quais 4 s�o residentes e que hoje s�o 7 trabalhando porque o resto adoeceu?", escreveu.
"Hoje me senti abandonado pelo sistema e, principalmente, pelo hospital", diz.
"Onde est�o o investimento na sa�de, os aplausos e os her�is? Porque meus colegas, amigos e companheiros n�o recebem desde junho?"
Rea��o
A carta de Gatica teve ampla repercuss�o na m�dia argentina e levou as autoridades nacionais a enviarem mais socorros ao hospital.
Em conversa com a BBC News Mundo, servi�o em espanhol da BBC, o m�dico disse que esta ajuda j� permitiu reduzir a taxa de ocupa��o do hospital de mais de 100% para 65%.
"Eles abriram cerca de 40 leitos com oxig�nio, o que amenizou muito a situa��o. � em uma escola em frente ao hospital, que fazia parte do plano de conting�ncia, mas faltavam recursos", disse.
Ap�s a carta, "da noite para o dia, chegou o oxig�nio, os leitos foram criados, e tudo o que tinha que aparecer apareceu".
Gatica revelou ainda que, depois de receber um telefonema do governador de Salta e do ministro da Sa�de da prov�ncia, desistiu de se demitir e continua a trabalhar no hospital.

'Isso est� apenas come�ando'
O jovem residente acredita que o impacto de sua carta se deveu ao fato de refletir o que muitos outros m�dicos de seu pa�s vivenciam.
Longe dos aplausos que esse profissionais recebem em outras partes do mundo, na Argentina, muitos especialistas em sa�de argentinos sofreram ferimentos e at� agress�es. E n�o apenas dentro do hospital.
A m�dia local cobriu hist�rias de m�dicos e enfermeiras que foram discriminados em seus pr�prios pr�dios e bairros, e houve at� alguns casos de profissionais de sa�de agredidos ou que tiveram suas casas incendiadas por medo de cont�gio.
"Deixamos de ser os her�is", diz Gatica. "Somos n�s que erramos, que deixamos as pessoas morrerem. Sempre percebemos aquele olhar de indiferen�a e questionamento."
Sua descri��o do que estava acontecendo no hospital de Or�n tamb�m ecoou as experi�ncias de outras cidades do interior que hoje tamb�m est�o sobrecarregadas pelo coronav�rus.
Questionado se longa quarentena imposta pelo governo foi uma estrat�gia eficaz para impedir a propaga��o do v�rus, ele diz que "foi o melhor que pod�amos fazer na �poca". "Para melhor ou para pior, j� foi feito", reflete.
"Mas temia que acontecesse o que est� acontecendo: que a gente ficasse cansado no meio do jogo e levasse uma goleada. Porque, pelo menos no interior do pa�s, a pandemia est� apenas come�ando."
J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?
V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus.
V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.
Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia
Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia
Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:
Gr�ficos e mapas atualizados: entenda a situa��o agora
- O que � o pico da pandemia e por que ele deve ser adiado
- Veja onde est�o concentrados os casos em BH
Coronav�rus: o que fazer com roupas, acess�rios e sapatos ao voltar para casa
Animais de estima��o no ambiente dom�stico precisam de aten��o especial
Coronav�rus x gripe espanhola em BH: erros (e solu��es) s�o os mesmos de 100 anos atr�s
Gr�ficos e mapas atualizados: entenda a situa��o agora
Coronav�rus: o que fazer com roupas, acess�rios e sapatos ao voltar para casa
Animais de estima��o no ambiente dom�stico precisam de aten��o especial
Coronav�rus x gripe espanhola em BH: erros (e solu��es) s�o os mesmos de 100 anos atr�s