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Estado de Minas MATERNIDADE E COVID-19

M�es demitidas durante a pandemia: 'Tentei conciliar trabalho com meu beb�, mas perdi o emprego'

Colocadas em situa��es-limite nas empresas, mulheres t�m perdido espa�o no mercado profissional; 'demos um salto de 30 anos para tr�s' na participa��o feminina, diz pesquisador: "as pessoas n�o veem o papel social da m�e"


05/10/2020 07:37 - atualizado 05/10/2020 08:18

Mulher ajudando filha na escola, em foto de arquivo;
Mulher ajudando filha na escola, em foto de arquivo; "entre a popula��o que trabalha de casa, as mulheres passam significativamente mais tempo (ocupando-se) da educa��o e dos cuidados das crian�as", diz estudo de Cambridge (foto: Getty Images)

A pandemia chegou quando a advogada N�dia Silva, de Goi�s, estava em seu segundo m�s de licen�a-maternidade. M�e solo (embora receba pens�o do pai da crian�a), ela pretendia juntar um m�s de f�rias � licen�a e aproveitar o per�odo para encontrar um ber��rio para deixar o beb� quando voltasse ao trabalho. O plano n�o deu certo: os ber��rios continuam fechados, e a empresa exigiu a volta dela sem conceder as f�rias.

A analista de contratos tentou equilibrar tudo - cuidados com o beb�, trabalho em tempo integral em home office e cuidados com a casa -, mas a situa��o ficou insustent�vel.

"�s vezes eu acordava �s 4h da manh� para terminar meu trabalho antes de o beb� acordar. E tamb�m fazia todo o trabalho dom�stico", conta � BBC News Brasil. "Dois meses depois, pedi para a empresa um novo arranjo e um aumento, para eu poder pagar uma bab�. Acho que eles acharam que eu n�o valia tudo isso. A generosidade deles foi de me demitir, o que pelo menos me deu uma indeniza��o."

No momento, N�dia n�o enxerga formas de voltar ao mercado de trabalho. "N�o tenho muito apoio na fam�lia para cuidar do beb�, n�o tenho perspectivas de haver creche e ber��rio com seguran�a agora. � dif�cil, porque eu me esforcei bastante, trabalhava dia e noite, com uma sobrecarga emocional enorme. Voc� se sente desvalorizada como mulher e como m�e."

Sinuca

Em Santa Catarina, Ta�s (os sobrenomes de algumas entrevistadas ser�o omitidos para proteger sua identidade) est� h� um m�s em seu novo emprego, que aceitou por lhe permitir trabalhar remotamente enquanto cuida dos filhos menores, de 8 e 12 anos. Mas agora a empresa planeja voltar ao trabalho presencial, colocando Ta�s - que tamb�m � m�e solo - em uma sinuca de bico.

"O que eu vou fazer com as crian�as? Passei por todo o treinamento no trabalho, mas neste m�s n�o tenho como voltar (para um escrit�rio)", diz � BBC News Brasil, temendo ser for�ada a abrir m�o do novo emprego em plena pandemia - e poucos meses depois de ter sido demitida de um cargo anterior em outra empresa. O motivo da demiss�o: os chefes viram mensagens de texto que ela havia mandado a colegas, questionando a pol�tica da empresa de n�o migrar para o teletrabalho no in�cio da quarentena.

Agora, diz ela, "as minhas d�vidas est�o crescendo, e o valor da pens�o das crian�as � baixo. D� o nervosismo de precisar trabalhar, mas como vou deixar as crian�as? N�o posso botar a responsabilidade em cima do meu filho mais velho. �bvio que vou escolher ficar com eles em vez do emprego".

Marcella, moradora da Grande S�o Paulo, n�o tem filhos, mas se comoveu, ainda em mar�o, ao descobrir que uma colega de trabalho estava tendo de deixar os filhos de 5 e 7 anos sozinhos em casa porque a empresa delas, uma multinacional de presta��o de servi�os, n�o criou uma pol�tica de teletrabalho em um momento em que as escolas j� haviam fechado as portas. Mas, quando Marcella discutiu o caso com uma superior, ouviu apenas: "n�o posso fazer nada".


"N�o tenho muito apoio na fam�lia para cuidar do beb�, n�o tenho perspectivas de haver creche e ber��rio com seguran�a agora. � dif�cil, porque eu me esforcei bastante, trabalhava dia e noite, com uma sobrecarga emocional enorme. Voc� se sente desvalorizada como mulher e como m�e." (foto: Getty Images)

"Fiquei desesperada com aquilo. Eu estava em uma situa��o privilegiada porque n�o tinha filhos, mas pensei nas mulheres m�es. Comecei a ficar muito mal, sem conseguir dormir", conta.

Ao denunciar o caso ao setor de compliance da empresa e questionar seu chefe a respeito do caso, Marcella diz que foi demitida, sob a justificativa de "corte de gastos na pandemia".

"Estou procurando emprego remotamente, tentando encontrar um lugar menos pior no mundo corporativo", afirma.

A colega m�e, Marcella soube mais tarde, continuou trabalhando presencialmente e precisou contratar uma pessoa para cuidar dos filhos.

'Retrocesso de 30 anos na participa��o feminina'

Os exemplos acima encontram respaldo nos n�meros: embora a pandemia tenha provocado desemprego em massa e bagun�ado arranjos profissionais de modo generalizado, as mulheres - e as m�es de crian�as pequenas, em especial - est�o entre os grupos mais afetados, ao serem colocadas em situa��es-limite nas empresas ou por simplesmente n�o encontrarem formas de conciliar o trabalho com o cuidado com os filhos.

No segundo trimestre de 2020, o desemprego medido pela pesquisa Pnad Cont�nua, do IBGE, foi de 12% entre homens e 14,9% entre mulheres. A mesma pesquisa mostrou, em junho, que 7 milh�es de mulheres haviam deixado o mercado de trabalho na �ltima quinzena de mar�o, contra 5 milh�es de homens.

E an�lises mais detalhadas dos dados hist�ricos mostram um retrocesso de tr�s d�cadas da presen�a profissional feminina, segundo o pesquisador do Ipea Marcos Hecksher.

Em dados cedidos inicialmente para o G1, ele identificou que, durante a pandemia, a participa��o das mulheres no mercado de trabalho, que vinha aumentando gradativamente, voltou para o n�vel observado em 1990.

S� no subgrupo de mulheres com filhos de at� dez anos, a participa��o delas no mercado caiu de 58,3% no segundo trimestre de 2019, para 50,6% no segundo trimestre de 2020. Na pr�tica, s� a metade delas, portanto, est� no mercado profissional.

"Historicamente, o n�vel de desemprego � maior e a participa��o no mercado � menor entre as mulheres, mas vinha ocorrendo uma lenta converg�ncia para o n�vel dos homens", explica Hecksher � BBC News Brasil.

"S� que a pandemia os afastou de novo. Os homens foram impactados, mas elas foram ainda mais. Demos um salto de 30 anos para tr�s na participa��o feminina. N�o levaremos outros 30 anos para recuperar isso, mas tampouco ser� algo r�pido."

Os custos disso n�o ser�o sentidos apenas por elas, mas por toda a economia brasileira, prossegue o pesquisador.


A pandemia escancarou um problema que antes era individual: o desequilíbrio nos cuidados com as crianças e a invisibilidade dessas tarefas perante o mercado de trabalho(foto: Getty Images)
A pandemia escancarou um problema que antes era individual: o desequil�brio nos cuidados com as crian�as e a invisibilidade dessas tarefas perante o mercado de trabalho (foto: Getty Images)

Isso porque a entrada das mulheres no mercado foi crucial para aumentar o PIB (Produto Interno Bruto) - o somat�rio dos bens e servi�os produzidos no pa�s.

Invisibilidade do trabalho n�o remunerado

E por que elas est�o sendo mais afetadas do que os homens?

As diferen�as s�o estruturais e em grande parte ligadas ao trabalho n�o remunerado de cuidados com os filhos, diz Hecksher. "Temos estudos no Ipea que mostram que, quando a mulher fica gr�vida, ela muitas vezes para de trabalhar e tamb�m de estudar. E com o pai n�o acontece nada. Quando o filho nasce, as m�es em geral voltam aos poucos ao mercado de trabalho, mas ficam mais do que eles na informalidade. Isso � hist�rico, porque se atribui muito mais os cuidados dos filhos �s mulheres".

� o caso, por exemplo, de V�nia Suster Sampaio, de Santo Andr� (SP), m�e solo de tr�s filhos. Ela j� sabe que sua �rea de trabalho - produ��o de eventos - ser� uma das �ltimas a voltar � normalidade presencial quando a pandemia arrefecer.

Sem renda fixa desde mar�o, ela n�o conta com pens�o aliment�cia regular. O fato de uma das filhas estar finalizando o tratamento de c�ncer (e portanto, ser do grupo de risco) tamb�m dificulta que ela saia de casa para procurar outros tipos de emprego.

"Preciso voltar ao ritmo de antes, ao meu valor de sal�rio, ou n�o sei o que vai ser", conta V�nia, que tem contado com o aux�lio emergencial do governo, com trabalhos freelance e com a ajuda de conhecidos. "Al�m da tens�o de n�o ter emprego, � o dia inteiro recebendo liga��o de cobran�a (de pagamentos atrasados)."

'Situa��o insustent�vel e desumana'

O problema n�o se limita ao Brasil. Um levantamento da Universidade de Cambridge com dados do mercado de trabalho de EUA, Reino Unido e Alemanha durante a pandemia apontou que "mulheres e trabalhadores sem diploma t�m chance significativamente maior de ter perdido seu emprego" em rela��o a outros grupos. O estudo nota que "entre a popula��o que trabalha de casa, as mulheres passam significativamente mais tempo (ocupando-se) da educa��o e dos cuidados das crian�as".

A pandemia escancarou um problema que antes era individual: o desequil�brio nos cuidados com as crian�as e a invisibilidade dessas tarefas perante o mercado de trabalho, afirma Ma�ra Liguori, diretora da Think Eva, organiza��o de defesa dos direitos femininos que presta consultoria a empresas na promo��o da igualdade de g�nero.

"Existe uma situa��o insustent�vel e desumana para as mulheres com crian�as, com efeitos duradouros", diz Liguori, uma vez que a intera��o de qualidade com adultos � crucial para a forma��o do c�rebro e das habilidades emocionais das crian�as, sobretudo as pequenas.

"Muitos dizem 'ah, n�o tenho culpa que ela quis engravidar'. Mas imagine como seria um mundo em que as mulheres n�o cuidassem mais das crian�as? A gente esquece da import�ncia desse trabalho de construir o futuro (da sociedade). Se queremos adultos saud�veis, precisamos que essa conversa saia do �mbito individual e v� para o coletivo."

Para N�dia Silva, a advogada que perdeu o emprego por n�o conseguir concili�-lo com o filho pequeno, a sensa��o � de que "as pessoas n�o veem o papel social da m�e".

"Vigora um discurso de que a mulher vale menos", opina. "A empresa poderia ter negociado comigo. Seria o papel social dela. A gente acha importante n�o maltratar animal e reciclar lixo, mas n�o acha importante ajudar uma m�e a criar um filho?"


''Demos um salto de 30 anos para trás na participação feminina (no mercado de trabalho). Não levaremos outros 30 anos para recuperar isso, mas tampouco será algo rápido
''Demos um salto de 30 anos para tr�s na participa��o feminina (no mercado de trabalho). N�o levaremos outros 30 anos para recuperar isso, mas tampouco ser� algo r�pido", diz pesquisador (foto: Getty Images)

Mais empregos com menores jornadas?

Ao mesmo tempo, como trazer de volta mais mulheres para o mercado? Hecksher, do Ipea, defende que essa quest�o seja inclu�da no debate em torno de quanto imposto os empregadores devem pagar ao contratar funcion�rios em regime CLT.

Vigora, at� o fim deste ano, a desonera��o da folha em 17 setores da economia, e a prorroga��o desse benef�cio � motivo de disputa entre o governo federal e o Congresso.

Hecksher � parte de um grupo de estudiosos que prop�e que essa desonera��o seja estendida para outros setores (no caso de novas contrata��es, e n�o de contratos j� vigentes), mas aplicada apenas para jornadas de trabalho mais curtas.

"O objetivo � tornar mais barato que um empregador contrate duas pessoas por 20 horas semanais do que um funcion�rio por 40 horas semanais", diz ele.

"Com isso, conectamos mais gente ao mercado de trabalho formal. Isso tende a beneficiar mais as mulheres, que com mais frequ�ncia do que os homens (aderem) a jornadas parciais. Com isso, tamb�m dar�amos um benef�cio �s empresas por chamar algu�m que est� sem trabalho, em vez de concentrar mais trabalho em menos gente."


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O que � o coronav�rus


Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 � transmitida? 

A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?


Como se prevenir?

A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�

Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia

Em casos graves, as v�timas apresentam:

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus. 

V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'

Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 ï¿½ transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.

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