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Estado de Minas

'S�o mais e mais fam�lias pedindo': as filas por comida na cidade mais rica do pa�s

'Precisamos de mais pessoas sagradas para nos ajudar': BBC News Brasil acompanhou desafios cada vez maiores de grupos volunt�rios que recebem e distribuem doa��es de comida em SP.


16/10/2020 05:34

Pessoas se aglomeram em fila para receber refeição distribuída por padres franciscanos no largo São Francisco, no centro de São Paulo(foto: Divulgação)
Pessoas se aglomeram em fila para receber refei��o distribu�da por padres franciscanos no largo S�o Francisco, no centro de S�o Paulo (foto: Divulga��o)

Dezenas de pessoas se aglomeram em uma fila que dobra o quarteir�o no centro de S�o Paulo. Em meio � pandemia do novo coronav�rus, o distanciamento social � desrespeitado e muitos n�o usam m�scara.

S�o moradores de rua, entregadores e pessoas que trabalham na regi�o que aguardam at� por mais de uma hora pelo combust�vel que lhes garantir� energia para o resto do dia: um prato de comida.

A BBC News Brasil ouviu pessoas que recebem e distribuem essas doa��es para saber qual o impacto da pandemia do novo coronav�rus no acesso da popula��o mais pobre � comida na cidade mais rica do hemisf�rio sul.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), mais de 10 milh�es de brasileiros vivem em situa��o de inseguran�a alimentar grave. A pesquisa, que se refere aos anos de 2017 e 2018, aponta ainda que o total de brasileiros que passam fome cresceu, segundo o �rg�o, em 3 milh�es de pessoas em cinco anos.

'N�o � s� o pessoal de rua'

Todas as segundas, o padre Jos� Mario Ribeiro sai da Par�quia Nossa Senhora da Concei��o (Tatuap�), na zona leste da capital, ao lado de outros 12 volunt�rios, para entregar 1400 marmitex na pra�a da S�, no centro. Segundo ele, hoje o n�mero de refei��es � sete vezes maior que no in�cio do ano.

Ele conta que percebeu n�o s� um aumento no n�mero de pessoas em busca das quentinhas, mas tamb�m a chegada de um p�blico diferente.

"N�o � mais s� o pessoal de rua. A gente est� percebendo que muitas pessoas passam para buscar por estarem desempregadas e estarem com fome. Ontem mesmo um senhor me disse que trabalhou o dia inteiro sem comer e que estava nos esperando para pegar uma marmita que seria a �nica refei��o dele", disse o padre em entrevista � BBC News Brasil.

Pessoas que distribuem alimentos na capital paulista relatam mudança, após pandemia, no perfil daqueles que recebem as doações(foto: Divulgação)
Pessoas que distribuem alimentos na capital paulista relatam mudan�a, ap�s pandemia, no perfil daqueles que recebem as doa��es (foto: Divulga��o)

O padre conta que se houvesse mais doa��es e volunt�rios para produzir as refei��es, acabariam todas. Ele contou que h� pessoas que pedem uma marmita extra para levar para a fam�lia em casa.

"Antes da pandemia, a gente doava cerca de 400 a 500 marmitas. Se a gente fizer 2 mil hoje, acaba tudo", afirmou.

Mas para essas entregas chegarem �s m�os de quem passa fome, � necess�ria uma corrente. Ela vai desde as doa��es de alimentos, como arroz e feij�o, at� a produ��o numa cozinha industrial e o transporte feito no caminh�o de um feirante volunt�rio, que tamb�m doa frutas e legumes.

Para que ela cres�a, o padre faz um apelo.

"A gente precisa muito de arroz, feij�o e embalagens. Duas casas de carne fazem doa��es para a gente. Arroz e feij�o a gente pede na par�quia. Quem puder ajudar, pode levar na par�quia ou ligar (11) 2093-1920 para fazer doa��es. Vale muito a pena ajudar e acho que na nossa sociedade recebemos mais do que doamos", disse.

A par�quia ainda entrega 300 refei��es �s quartas-feiras em outros tr�s pontos da cidade.

Mais de 3 mil refei��es por dia

Fransciscanos distribuem 2400 refeições por dia no largo São Francisco, no centro de São Paulo(foto: Divulgação)
Fransciscanos distribuem 2400 refei��es por dia no largo S�o Francisco, no centro de S�o Paulo (foto: Divulga��o)

A 300 metros da pra�a da S�, onde o grupo liderado pelo padre Jos� Mario faz doa��es �s segundas, padres franciscanos e volunt�rios distribuem todos os dias na hora do almo�o 1200 refei��es e outras 1200 no jantar no largo S�o Francisco. Al�m de outras 300 marmitex no Glic�rio e 400 refei��es no chamado Ch� do Padre.

O frei Jo�o Paulo Gabriel, da Tenda Franciscana, disse que o in�cio da pandemia, em mar�o, marcou � come�o de uma explos�o de pessoas em busca de comida no centro de S�o Paulo.

"Quando decretaram a pandemia, as pessoas pararam de fazer doa��es na regi�o e o povo que j� conhecia o nosso servi�o foi nos procurar na rua Riachuelo, onde funciona o Ch� do Padre. Mas a gente n�o estava preparado. N�o tinha cozinha, volunt�rios, mas conseguimos a libera��o para montar uma tenda a c�u aberto", contou o frei.

O grupo distribu�a cerca de 300 refei��es por dia no local. Com a alta da procura e uma grande visibilidade depois da fila ser exibida em reportagens na TV, o grupo atraiu volunt�rios e doadores dispostos a ajudar na compra de alimentos.

Depois do in�cio da pandemia, os volunt�rios perceberam a aproxima��o de pessoas com um perfil diferente.

"A gente tinha um p�blico 100% de popula��o de rua, mas ele foi mudando. Hoje h� muitas pessoas que vivem em ocupa��es, gente que tem casa e n�o tem condi��o de comprar uma refei��o. S�o pessoas que faziam bico e n�o tem mais, que n�o tem mais carteira assinada. Tem pessoas desesperadas imaginando como v�o sobreviver quando terminar o aux�lio emergencial", afirmou o Frei Jo�o.

Ele conta que hoje a fila diminuiu um pouco porque muitas pessoas voltaram a fazer doa��es na regi�o por avaliarem que o risco de contamina��o pelo novo coronav�rus diminuiu. "Aumentaram as bocas de rango, como a gente diz, e descentralizou a distribui��o", disse.

Por�m, os franciscanos dizem que houve uma queda consider�vel no n�mero de volunt�rios, pois a maior parte voltou a trabalhar, e faltam alimentos n�o perec�veis para montar cestas b�sicas.

Doa��es podem ser feitas no site www.doesefras.org.br ou diretamente no local onde funciona o Ch� do Padre, na rua Riachuelo, 268.

O sustento da fam�lia

Desempregado, Enéias de Camargo Nogueira depende das marmitas entregues em Paraisópolis para se alimentar(foto: Associação dos Moradores de Paraisópolis)
Desempregado, En�ias de Camargo Nogueira depende das marmitas entregues em Parais�polis para se alimentar (foto: Associa��o dos Moradores de Parais�polis)

O grupo M�os de Maria chega nesta sexta-feira (16/10), Dia Mundial da Alimenta��o, � marca de um milh�o de refei��es distribu�das na favela de Parais�polis, a maior de S�o Paulo. O grupo come�ou a distribuir marmitas a partir do dia 23 de mar�o, logo no in�cio da pandemia. A inten��o, diz a fundadora do M�os de Maria Brasil, Elizandra Cerqueira, era ajudar principalmente as pessoas que perderam o emprego na pandemia, principalmente as mulheres.

"Temos a miss�o de gerar renda na favela atrav�s da culin�ria e combater a viol�ncia contra a mulher. Nosso objetivo inicial seria produzir 2 mil marmitas por dia, mas a pandemia virou algo maior do que prev�amos e chegamos a entregar 10 mil marmitas por dia, numa mobiliza��o com o G10 das favelas e empresas do setor privado", afirmou.

Desempregado h� um ano, o porteiro En�ias de Camargo Nogueira, de 53 anos, � uma das pessoas que recebem diariamente as marmitas produzidas pelo M�os de Maria.

"J� pego h� tr�s meses e � isso que me ajuda a me manter nesses tempos", afirmou.

Na mesma fila, Edmilson da Silva faz bicos em constru��o civil, mas tamb�m est� desempregado. Ele pega tr�s marmitas para dividir com a m�e, o pai e a irm�.

"S� o meu pai est� trabalhando. E essa � uma grande ajuda, j� que a gente est� sem renda no momento", afirmou.

A fundadora do M�os de Maria aponta que as refei��es s�o essenciais para melhorar a imunidade da popula��o.

"Quando a pessoa fica sem alimento, ela fica muito mais vulner�vel a doen�as e tamb�m ao v�rus, com a imunidade baixa. Acolhemos nessa crise todos que passam fome", afirmou.

Ela afirmou que a partir desta sexta o mesmo trabalho tamb�m ser� feitos nos Estados do Par�, Pernambuco e no Distrito Federal.

Todos os dias, os chamados "presidentes de rua" retiram marmitas na cozinha central e levam para as fam�lias que acompanham. Cada um deles atende 50 resid�ncias.

O trabalho n�o impede a forma��o de filas na frente do local onde as marmitas s�o produzidas. Segundo Elizandra Cerqueira, as primeiras pessoas aparecem �s 10h, mas as primeiras refei��es s�o entregues apenas ao meio-dia.

"As pessoas entram em desespero por medo n�o conseguir comida. Mesmo a gente explicando, elas querem ficar ali e esperar mais de duas horas para garantir que v�o ter o que comer", disse a fundadora do programa.

Quem quiser, pode fazer doa��es atrav�s do site do G10 das favelas: www.g10favelas.org

Idosos recebem comida em casa

Mas nem todos t�m condi��es de sair de casa para buscar comida. � o caso da Frida Braunstein Taranto, de 95 anos, uma das 700 pessoas atendidas diariamente pelo grupo beneficente israelita Ten Yad.

O filho ca�ula de Taranto morava com ela, mas foi v�tima da covid-19 e morreu em julho, aos 29 anos. Vi�va h� 15 anos, ela vive sozinha e n�o sabe como seria caso tivesse de cozinhar.

"A comida que mandam � muito saborosa e saud�vel. Recebo em casa desde o come�o da pandemia. Vem uma quantidade adequada para o almo�o e um pote de sopa para o jantar, fora a sobremesa. N�o tem como reclamar", afirmou.

�s sextas, conta Taranto, o Ten Yad entrega n�o s� a refei��o do dia, mas tamb�m a de s�bado e domingo dias em que n�o h� distribui��o congeladas.

O rabino Berel Weitman, vice diretor-executivo da Ten Yad, disse � BBC News Brasil que todos os dias dezenas de Kombis e carros de passeio fazem filas para pegar marmitas e entreg�-las voluntariamente em todas as regi�es da cidade.

"Nosso trabalho foi fundado em 1992 com um refeit�rio humilde, onde idosos e pessoas carentes almo�avam. Em 1994, passamos a levar a domic�lio para pessoas acamadas e com dificuldades locomo��o. Um trabalho que chamamos de "Meals on Wheels", ou Refei��es Sobre Rodas", conta o rabino.

Em 2004, iniciou uma parceria com a prefeitura para atender idosos e pessoas com vulner�veis cadastradas no servi�o social municipal. Desde o in�cio da pandemia, o servi�o foi adaptado e tamb�m passou a distribuir cestas b�sicas e kits de higiene pessoal.

Al�m do servi�o, hoje j� s�o distribu�das 100 refei��es para os mais jovens no refeit�rio localizado no Bom Retiro. O grupo tamb�m administra as 1500 refei��es oferecidas no Bom Prato do Glic�rio por R$ 1.

"Hoje estamos preocupados, com uma demanda crescente por comida. S�o mais e mais fam�lias pedindo, principalmente os idosos que n�o conseguem cozinhar. E precisamos de mais pessoas sagradas para nos ajudar", afirmou o rabino Berel Weitman.

Quem tiver interesse em fazer doa��es, pode entrar em contato com o grupo pelo site (www.tenyad.org.br), fazer doa��es de alimentos, roupas para o bazar, se tornar s�cio mensal ou at� mesmo fazer doa��es pela nota fiscal paulista.

"Quero deixar uma frase da sabedoria judaica. A gente pensa que est� ajudando um necessitado em situa��es como essa. Mas o necessitado faz muito mais pelo doador. Esse � um dos aprendizado que tivemos durante a pandemia e que n�o podemos perder: a solidariedade".


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