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Estado de Minas EVOLU��O

Por que alguns pensadores acreditam que vivemos 'momento decisivo' da hist�ria humana

De um lado, dom�nio surpreendente da tecnologia e do conhecimento, do outro, amea�as sem precedentes para futuro do planeta e da esp�cie


27/10/2020 11:23 - atualizado 27/10/2020 15:05


Parabéns! Você possivelmente faz parte de um momento essencial para a história da humanidade e do planeta(foto: Getty Images)
Parab�ns! Voc� possivelmente faz parte de um momento essencial para a hist�ria da humanidade e do planeta (foto: Getty Images)

Se voc� est� lendo estas palavras, saiba: voc� possivelmente est� vivendo a �poca mais influente e decisiva para a humanidade de todos os tempos.

E a import�ncia desse per�odo j� havia sido anunciada, acredite, antes da pandemia de coronav�rus e de toda a crise pol�tica que se v� em v�rios cantos do mundo.

Quem diz isso s�o alguns fil�sofos e pesquisadores que t�m se unido em torno da ideia de que vivemos o per�odo da "dobradi�a da hist�ria".

O termo vem do livro On what matters (Sobre o que importa, em tradu��o livre) do fil�sofo brit�nico Derek Parfit.

"Dadas as descobertas cient�ficas e tecnol�gicas dos �ltimos dois s�culos, o mundo nunca se transformou t�o rapidamente. Pode ser que logo tenhamos maiores poderes para transformar n�o apenas nosso entorno, mas a n�s mesmos e a nossos sucessores", escreveu o pensador, em 2011.

"Vivemos o momento 'dobradi�a' da hist�ria."

A essa ideia se somou, no ano passado, uma publica��o do fil�sofo escoc�s Will MacAskill, da Universidade de Oxford, defendendo o chamado altru�smo eficaz, um movimento com o prop�sito de aplicar a raz�o e as evid�ncias em prol do bem comum.

Sua publica��o em um f�rum gerou mais de 100 coment�rios de outros especialistas, sem contar os podcasts e outros artigos repercutindo-a.

Como escreveu Kelsey Piper, editora no site Vox, o debate sobre este momento decisivo na hist�ria � mais do que uma discuss�o filos�fica abstrata: trata-se de identificar o que nossa sociedade deve priorizar para garantir o futuro da nossa esp�cie a longo prazo.

Para entender por que, vamos come�ar examinando os argumentos que sustentam a ideia de que o nosso momento � assim crucial.


Acredite: o momento 'dobradiça' já havia sido anunciado antes da pandemia do coronavírus(foto: Getty Images)
Acredite: o momento 'dobradi�a' j� havia sido anunciado antes da pandemia do coronav�rus (foto: Getty Images)

Somos os mais influentes da hist�ria?

Nos �ltimos anos, cresceu a sustenta��o � ideia de que vivemos em um per�odo de alto e incomum risco de autoaniquila��o.

Como afirmou o astr�nomo brit�nico Martin Rees: "Nossa Terra existe h� 45 milh�es de s�culos, mas este s�culo � especial. � a primeira vez que uma esp�cie, a nossa, tem o futuro do planeta em suas m�os."

Pela primeira vez, temos nas m�os a��es que podem destruir de forma irrevers�vel a biosfera, ou tamb�m tecnologias cujo uso equivocado podem causar um rev�s catastr�fico � civiliza��o, acrescenta Rees, cofundador do Centro para o Estudo de Riscos Existenciais da Universidade de Cambridge.

Esses poderes destrutivos est�o al�m de nossa sabedoria, de acordo com o fil�sofo autraliano Toby Ord, tamb�m de Oxford.

Ord escreveu um livro chamado The Precipice (O Precip�cio) como uma alegoria de onde estamos: a um passo de um desastre.

Para ele, as chances de o mundo terminar este s�culo s�o muito altas. Em sua opini�o, o que torna nosso tempo particularmente decisivo � que criamos amea�as que nossos ancestrais nunca tiveram que enfrentar, como guerras nucleares e biol�gicas. E, al�m disso, n�o estamos fazendo o suficiente para conter essas amea�as.

A Conven��o das Na��es Unidas de Armas Biol�gicas, um compromisso global para conter o desenvolvimento de armas biol�gicas como um super coronav�rus, tem um or�amento menor do que uma lanchonete corriqueira da rede McDonald's.

Superintelig�ncia

A ideia de que estamos em um ponto de inflex�o perigoso tamb�m d� muni��o ao segundo argumento daqueles que apoiam a hip�tese da dobradi�a.

De acordo com diversos pesquisadores renomados, existe a possibilidade de que no s�culo 21 a intelig�ncia artificial logo se transforme em superintelig�ncia. E mais: a forma como lidamos com essa transi��o pode determinar todo o futuro da civiliza��o.

Por si s�, uma intelig�ncia todo-poderosa pode marcar o destino da humanidade com base nos objetivos e necessidades que possui.

Assim, o futuro da civiliza��o poderia ser moldado pelo primeiro a controlar a intelig�ncia artificial. E isso pode fazer com que uma �nica for�a busque o bem de todos, ou que o poder seja usado de forma repressora.

N�o h� unanimidade sobre os efeitos a longo prazo da intelig�ncia artificial (IA).

Mas mesmo entre aqueles que consideram pequenas as chances de um cen�rio catastr�fico com IA, muitos reconhecem o enorme potencial de sua influ�ncia pode tornar as pr�ximas d�cadas mais importantes do que qualquer outra da hist�ria da humanidade.

Por isso, muitos pesquisadores e organiza��es t�m se dedicado a estudar a �tica e a seguran�a envolvidas na intelig�ncia artificial.

Clima


O astrônomo Martin Rees alerta que neste século 21 temos o futuro do planeta em nossas mãos(foto: Getty Images)
O astr�nomo Martin Rees alerta que neste s�culo 21 temos o futuro do planeta em nossas m�os (foto: Getty Images)

Luke Kemp, professor da Universidade de Cambridge, aponta que as mudan�as clim�ticas causadas pela a��o humana e pela degrada��o ambiental neste s�culo podem ter implica��es significativas no futuro.

"A transforma��o mais fundamental at� agora na hist�ria humana foi a chegada do Holoceno, que permitiu a revolu��o agr�cola."

Kemp aponta que as sociedades humanas parecem ter se adaptado para viver em um subconjunto surpreendentemente restrito de climas dispon�veis na Terra — com temperaturas m�dias anuais em torno de 13 graus.

"Este � o s�culo em que faremos um experimento geol�gico perigoso e sem precedentes e talvez nos empurremos para fora do nicho clim�tico ou, pelo contr�rio, nos afastemos do abismo."

Tamb�m poderia ser argumentado que a relativa pouca idade da civiliza��o nos torna particularmente influentes.

Temos apenas cerca de 10 mil anos de hist�ria humana, e pode-se dizer que as primeiras gera��es t�m a capacidade de mobilizar mudan�as e valores que persistir�o nas gera��es futuras.

Podemos pensar na civiliza��o de hoje como uma crian�a que carregar� cicatrizes e tra�os formativos pelo resto da vida.

Mas nossa relativa juventude tamb�m poderia ser usada para argumentar o oposto, o que leva a uma pergunta �bvia: os primeiros humanos n�o viveram na �poca mais influente?

Afinal, bastavam alguns erros no Paleoceno ou o fim da revolu��o agr�cola e nossa civiliza��o nunca teria existido.

No entanto, MacAskill diz que, embora muitos momentos da hist�ria tenham sido cruciais, isso n�o significa necessariamente que tenham sido influentes.

Os ca�adores-coletores, por exemplo, n�o estavam em posi��o de participar de um momento decisivo porque n�o tinham o conhecimento para saber que podiam mudar o futuro ou os recursos para seguir um curso diferente.

Ser influente, na defini��o de MacAskill, envolve a consci�ncia e a possibilidade de seguir um caminho ou outro.

Por que isso importa

A defini��o de influ�ncia nos leva aos motivos pelos quais MacAskill e outros est�o t�o interessados neste estudo dos nossos tempos.

Encontrar respostas indicar� a quantidade de recursos e tempo que a civiliza��o deve dedicar aos problemas de curto prazo versus problemas de longo prazo.

Fazendo uma compara��o a n�vel pessoal, se voc� acreditar que amanh� ser� o dia mais influente de sua vida — por exemplo, a data de um exame muito importante ou do seu casamento —, ent�o voc� colocar� muito tempo e esfor�o nisso imediatamente.

Mas se voc� acha que o dia mais influente de sua vida est� a d�cadas de dist�ncia, ou voc� n�o sabe que dia ser�, voc� se concentrar� em outras prioridades primeiro.

Onde investir

MacAskill � um dos fundadores do altru�smo eficaz e passou sua carreira buscando maneiras de alcan�ar o bem maior a longo prazo.

Se esta filosofia pressup�e que estamos agora em um ponto de inflex�o, � preciso gastar bastante tempo e recursos para reduzir urgentemente os riscos existenciais de longo prazo.

Se, ao contr�rio, as pessoas acreditam que o momento dobradi�a aconteceu h� s�culos, ent�o elas se empenhar�o em outros problemas imediatos, como investir dinheiro em seus descendentes.

Alguns podem questionar os benef�cios a longo prazo de se investir dinheiro, uma vez que v�rios colapsos sociais na hist�ria destru�ram poupan�as e fundos. Outros provavelmente sugerir�o que o dinheiro deve ser investido na erradica��o dos grandes problemas atuais, como a pobreza.

O principal objetivo dos altru�stas eficazes � determinar o verdadeiro ponto de inflex�o na hist�ria a fim de maximizar o bem-estar da esp�cie e garantir o florescimento futuro.

Outras vis�es


Um passo em falso na revolução agrícola e o futuro de nossa civilização teria sido muito diferente(foto: Getty Images)
Um passo em falso na revolu��o agr�cola e o futuro de nossa civiliza��o teria sido muito diferente (foto: Getty Images)

O argumento mais simples contra a hip�tese do momento dobradi�a � uma quest�o de probabilidade.

Se conseguirmos sobreviver a este s�culo e atingir a m�dia de vida de um mam�fero, estaremos falando de uma humanidade que durar� cerca de um milh�o de anos. Um per�odo em que poder�amos potencialmente nos expandir para outras estrelas e nos estabelecer em outros planetas.

Al�m disso, ainda h�, em teoria, um grande n�mero de pessoas que nascer�o no futuro. Mesmo se olharmos apenas 50 mil anos � frente, a escala das gera��es futuras pode ser enorme.

Dado o n�mero astron�mico de pessoas que ainda dever�o existir, diz MacAskill, seria surpreendente se nossa pequena fra��o de popula��o atual fosse justamente a mais influente.

� prov�vel que essas pessoas do futuro, com sorte, venham a ser tamb�m mais moral e cientificamente iluminadas do que n�s. Assim, elas poderiam fazer ainda mais para influenciar o futuro de maneiras que ainda n�o conseguimos conceber.

Aqueles que acreditam que estamos vivendo um momento dobradi�a tamb�m poderiam estar desenvolvendo racioc�nios incompletos e falhos.

Talvez aspectos cognitivos estejam fazendo com que os eventos vis�veis e contempor�neos pare�am mais importantes do que realmente s�o.

Vivendo na d�cada de 1980, por exemplo, poderia-se pensar que o maior risco para a humanidade seria a nanotecnologia.

Al�m disso, existe a possibilidade do vi�s de confirma��o. Em outras palavras, se voc� realmente acha que os riscos existenciais merecem mais aten��o, � prov�vel que desenvolva inconscientemente os argumentos que sustentam essa conclus�o.

Por essas e outras raz�es, MacAskill acha que provavelmente n�o estamos vivendo na �poca mais influente.

Pode haver argumentos convincentes para pensar que estamos vivendo em uma �poca especialmente complicada em compara��o com outros per�odos, mas dado o futuro potencialmente longo que aguarda nossa civiliza��o, esse tempo provavelmente ainda est� por vir.

Vantagens se o momento dobradi�a n�o existir

Embora possa parecer decepcionante concluir que n�o somos as pessoas mais importantes de todos os tempos, na verdade, isso pode ser positivo.

Se voc� acredita que existe uma "�poca de perigos", ent�o o pr�ximo s�culo ser� especialmente arriscado para se viver, possivelmente exigindo sacrif�cios significativos para garantir a sobreviv�ncia da nossa esp�cie. E como Kemp aponta, a hist�ria ensina que quando h� muitos medo de que uma utopia futura esteja em jogo, coisas desagrad�veis s�o feitas em nome dela.

"Os Estados t�m uma longa hist�ria de medidas draconianas para responder �s amea�as percebidas, e quanto maiores as amea�as, mais severo � o uso desse poder emergencial", diz Kemp.

Por exemplo, alguns pesquisadores que buscam formas de prevenir cen�rios desastrosos decorrentes da intelig�ncia artificial acreditam que possamos precisar de um sistema de vigil�ncia global onipresente que monitore cada pessoa viva o tempo todo.

Mas se a vida em um momento decisivo exige sacrif�cios, isso n�o significa que uma �poca que n�o tenha essa caracter�stica possa ser vivida com total desleixo.

Neste s�culo, podemos infligir danos significativos a n�s mesmos, e n�o necessariamente catastr�ficos ou aniquiladores de esp�cies.

No s�culo passado, descobrimos in�meras maneiras de deixar heran�as malignas para nossos descendentes, desde o carbono na atmosfera at� o pl�stico no oceano e o lixo nuclear no subsolo.

Portanto, embora n�o saibamos se o nosso tempo ser� o mais influente ou n�o, podemos dizer com mais certeza que temos um poder crescente para moldar a vida e o bem-estar de bilh�es de pessoas que viver�o amanh�, para melhor ou para pior.

Caber� aos historiadores do futuro julgar se usamos bem essa influ�ncia.


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