O esmagador segundo confinamento devido ao coronav�rus em Melbourne come�ou no frio do inverno.
No in�cio de julho, as noites eram longas e escuras, e a capital cultural da Austr�lia enfrentava a terr�vel realidade de outra onda mortal de infec��es.
Mais de 110 dias depois, especialistas dizem que ela est� emergindo como l�der mundial na supress�o de doen�as ao lado de lugares como Cingapura, Vietn�, Cor�ia do Sul, Nova Zel�ndia e Hong Kong.
Raina McIntyre, professora de biosseguran�a do Kirby Institute da University of New South Wales, disse � BBC que a resposta da Austr�lia estava "anos-luz � frente" dos EUA e do Reino Unido.
"� completamente chocante. Quando pensamos em pandemias, n�o achamos que pa�ses com muitos recursos e alta renda poderiam desmoronar, mas � exatamente o que vimos", disse ela.
Nesta semana, os cinco milh�es de habitantes de Melbourne vivem o fim das r�gidas ordens de perman�ncia em casa que colocaram uma cidade inteira sob uma esp�cie de deten��o protetora.
Os moradores de Melbourne, capital do Estado australiano de Victoria, enfrentaram um dos mais longos e dif�ceis bloqueios do mundo.
Tem sido pol�mico, calamitoso para os empregos e extremamente dif�cil para muitos, mas os especialistas em sa�de acreditam que a medida funcionou.
H� um otimismo cauteloso de que, com n�meros de casos muito baixos, o pior j� passou.
"Estou muito orgulhoso do que conquistamos aqui", disse o professor Sharon Lewin, diretor do Instituto Doherty em Melbourne. "O resultado foi extraordin�rio n�o sem dor, no entanto."
Na segunda-feira (26/10), Melbourne n�o relatou novos casos di�rios pela primeira vez desde junho. No in�cio de agosto, havia o registro de mais de 700 casos di�rios e dezenas de pessoas morriam.
Melbourne estava no centro de uma crise de sa�de p�blica.

"A Europa e os EUA est�o enfrentando n�meros extremamente altos. Em Victoria, tivemos um surto isolado praticamente apenas em Melbourne, e o resto do pa�s teve n�meros extremamente baixos e, em muitos Estados, zero", disse Lewin � BBC. "N�o t�nhamos escolha a n�o ser entrar em um significativo confinamento para podermos nos juntar novamente ao resto do pa�s, e isso nos motivou."
A m�scara tornou-se obrigat�ria em Victoria, e Melbourne imp�s um toque de recolher noturno.
A vida recuava para dentro de casa, enquanto na linha de frente de uma guerra invis�vel, um n�mero crescente de v�timas inclu�a trabalhadores da sa�de e residentes de lares de idosos.
O verdadeiro impacto na sa�de mental desse confinamento pode nunca ser conhecido.
"Entendemos por que o governo adotou essa abordagem e funcionou, mas sentimos que o governo poderia agir mais r�pido para come�ar a aliviar as restri��es. Eles est�o adotando uma abordagem excessivamente cautelosa", disse Adel Salman, vice-presidente do Conselho Isl�mico de Victoria.
"A tens�o nas fam�lias, o aumento da viol�ncia dom�stica: todos esses s�o fatores preocupantes."
Em uma pandemia global, as estrat�gias de controle de doen�as variam de pa�s para pa�s. Uma parte importante das defesas da Austr�lia tem sido sua geografia. O pa�s � grande ilha isolada. Em mar�o, fechou suas fronteiras internacionais a viajantes estrangeiros para impedir infec��es importadas.
Quase 8,5 milh�es de testes foram realizados na Austr�lia desde o in�cio da pandemia. Mais de um ter�o foi conduzido em Victoria.

"N�s nos sa�mos extraordinariamente bem nos testes", disse Lewin � BBC.
"A capacidade de fazer testes de acompanhamento e isolamento tornou-se mais dif�cil � medida que os n�meros atingiram o pico em Melbourne, mas agora temos sistemas realmente bons e isso tem sido um segredo para o resultado bem-sucedido."
Especialista em sa�de internacional do Instituto Burnet de Melbourne, Michael Toole escreveu no site The Conversation: "Apenas o Vietn� e Hong Kong obtiveram sucesso compar�vel na supress�o da segunda onda. O sacrif�cio dos habitantes de Victoria durante o confinamento deixou a Austr�lia bem posicionada para sustentar um n�mero muito baixo de casos durante o pr�ximo ver�o."
Mas erros graves foram cometidos.
Os cidad�os e residentes permanentes t�m permiss�o para retornar � Austr�lia e, na chegada, enfrentam 14 dias de quarentena obrigat�ria. Mas brechas de seguran�a em hot�is em Melbourne permitiram que o v�rus passasse de passageiros para funcion�rios e para a comunidade, dando in�cio a uma segunda onda mortal. Essas falhas est�o sendo examinadas por inqu�rito judicial.
Tamb�m houve cr�ticas de que o servi�o de sa�de de Victoria tinha poucos recursos quando a crise come�ou e que, nos est�gios iniciais, o rastreamento de contatos de infec��es conhecidas era inadequado.
O ministro da Sa�de, Greg Hunt, disse que Victoria "tem desafios reais, mas est� melhorando".
Ele identificou quatro pilares essenciais na resposta determinada da Austr�lia � covid-19: o fechamento de suas fronteiras internacionais, testes "uniformemente bons" em todos os Estados e Territ�rios, rastreamento de contato (em que Nova Gales do Sul estabeleceu "o padr�o ouro"), e uma comunidade disposta a obedecer as regras e protocolos de distanciamento.
O premier de Victoria, Daniel Andrews, disse que o Estado est� pronto para dar "passos firmes em dire��o a um ver�o e a um Natal normais para tempos de covid".
Mas n�o h� uma sensa��o prematura de triunfo. Mais de 900 mortes relacionadas � covid-19 foram relatadas na Austr�lia, o v�rus n�o foi eliminado e ser� necess�rio vigil�ncia para superar a apatia e a complac�ncia.
"N�o conseguiremos conter a doen�a a menos que mudemos a forma como vivemos at� que possamos ter vacinas suficientes e eficazes para todos", alertou o professor McIntyre. "N�o podemos simplesmente negar e desejar que nossas vidas voltem ao normal. � um desastre natural de propor��es catastr�ficas que ocorre uma vez na vida."
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