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Estado de Minas

Wuhan: de epicentro da pandemia a um dos principais polos tur�sticos da China

Somente de 1 a 7 de outubro, Wuhan recebeu quase 19 milh�es de turistas, tornando-se a cidade mais visitada da China.


29/10/2020 08:24 - atualizado 29/10/2020 08:31

A Torre do Grou Amarelo é um dos pontos turísticos mais visitados de Wuhan(foto: Getty Images)
A Torre do Grou Amarelo � um dos pontos tur�sticos mais visitados de Wuhan (foto: Getty Images)

Naquela que foi uma das cidades mais afetadas por um v�rus sobre o qual naquela �poca pouco se falava e do qual nada se sabia, a vida voltou ao normal.

E n�o s� isso. Para a surpresa de muitos, Wuhan onde o coronav�rus Sars-CoV-2 foi detectado pela primeira vez, h� quase um ano agora se tornou um dos principais pontos tur�sticos da China.

Somente durante a Semana Dourada, per�odo festivo do gigante asi�tico que vai de 1 a 7 de outubro, a Prov�ncia de Hubei atraiu mais de 52 milh�es de turistas que geraram receitas de aproximadamente US$ 5,2 bilh�es, o equivalente a R$ 29 bilh�es.

E Wuhan, a capital regional, recebeu quase 19 milh�es de visitantes, segundo dados do Departamento de Cultura e Turismo da Prov�ncia.

Ao mesmo tempo, grande parte do mundo � atingido por uma segunda onda de covid-19, que em alguns pa�ses at� afetou mais pessoas do que a primeira.

Na Fran�a, o governo imp�s toque de recolher em oito cidades, incluindo a capital, Paris. No Reino Unido, h� uma situa��o semelhante: Londres e outras regi�es da Inglaterra entraram em uma esp�cie de retorno ao confinamento, que as impede de encontrar pessoas de outras que moram em outras casas em locais fechados.

No continente americano, a situa��o n�o � melhor.

Pela primeira vez desde o final de julho, os Estados Unidos (que j� acumulam pelo menos 225 mil mortes por coronav�rus) ultrapassaram 83 mil casos em um �nico dia na sexta-feira (23/10), enquanto a Am�rica Latina e Caribe superaram 10 milh�es de casos positivos, com Brasil, Argentina, Col�mbia, Peru e M�xico encabe�ando a lista por n�mero de casos.

No entanto, do outro lado do mundo, "a cidade her�ica", como a apelidou o presidente chin�s Xi Jinping, o v�rus parece uma lembran�a desagrad�vel e especialmente distante, se acreditarmos nos n�meros oficiais.

Wuhan recebeu quase 19 milhões de turistas de 1 a 7 de outubro, mais do que qualquer outra cidade chinesa(foto: Getty Images)
Wuhan recebeu quase 19 milh�es de turistas de 1 a 7 de outubro, mais do que qualquer outra cidade chinesa (foto: Getty Images)

O governo chin�s garante que em Wuhan n�o h� um �nico caso de coronav�rus. No entanto, v�rias organiza��es e especialistas acreditam que essa afirma��o deve ser vista com cautela.

O 'renascimento' de Wuhan

No marco das comemora��es do Dia Nacional da Rep�blica Popular da China, o governo de Xi Jinping organizou um ato em uma esta��o de trem em Wuhan e, em um v�deo do evento publicado nas redes sociais, milhares de pessoas s�o vistas reunidas cantando e agitando a bandeira chinesa.

"Wuhan renasce depois da covid-19 com mais for�a e vitalidade", disse Hua Chunying, diretora adjunta do Departamento de Informa��o do Minist�rio das Rela��es Exteriores, ao postar um v�deo promocional no Twitter.

Para Vivian Wu, editora do servi�o chin�s da BBC, o governo de Xi Jinping, com a ajuda da m�dia estatal, est� tentando passar a imagem de que est� tudo bem em Wuhan, que as pessoas est�o se divertindo e que prosperidade e normalidade est�o de volta.

"E at� certo ponto, � verdade: as pessoas est�o viajando por toda a China e principalmente para Wuhan. Sim, a cidade parece ter voltado ao normal, mas para muitas pessoas e muitos empres�rios as coisas n�o s�o como antes e ainda h� muita preocupa��o ", diz a jornalista, em Hong Kong.

"Mas a mensagem que recebemos da propaganda chinesa � que o governo conseguiu controlar a pandemia com sucesso", acrescenta.

O governo de Hubei anunciou em agosto que cerca de 400 pontos turísticos da província seriam abertos a visitantes de todo o país gratuitamente, sendo a Torre do Grou Amarelo um deles(foto: Getty Images)
O governo de Hubei anunciou em agosto que cerca de 400 pontos tur�sticos da prov�ncia seriam abertos a visitantes de todo o pa�s gratuitamente, sendo a Torre do Grou Amarelo um deles (foto: Getty Images)

At� 27 de outubro, a China contabilizava 91.185 casos de covid-19 e menos de 5 mil mortes, enquanto os Estados Unidos, com uma popula��o 4 vezes menor, registrou mais de 8,7 milh�es de casos e pelo menos 225 mil mortes.

"H� novos casos na China, mas aparentemente n�o em Wuhan. Se h� novos casos, o governo deixa claro que est� fazendo todo o poss�vel para conter o novo surto de maneira eficiente e r�pida", explica Wu.

As pol�ticas que impulsionaram o setor

A ressurrei��o de Wuhan como destino tur�stico preferido dos chineses n�o se deve ao acaso. Na verdade, deve-se em parte a pol�ticas do governo.

Em agosto, o governo de Hubei anunciou que cerca de 400 pontos tur�sticos da Prov�ncia estariam abertos a visitantes de todo o pa�s gratuitamente a partir do dia 8 daquele m�s at� o final do ano.

E embora o n�mero de visitantes a esses lugares esteja limitado a 50% de sua capacidade m�xima e os visitantes devam ser submetidos a controles de temperatura, a resposta foi inesperada.

Muitos dos turistas que escolheram Wuhan durante a Semana Dourada visitaram a hist�rica Torre do Grou Amarelo, localizada no centro da cidade. A estrutura atual, constru�da em 1981, foi um dos locais de entrada gratuita patrocinados pelo governo chin�s.

De acordo com a ag�ncia de not�cias Xinhua, pelo menos mil ag�ncias de viagens e mais de 350 hot�is aderiram � campanha do governo, oferecendo descontos aos visitantes.

Para alguns analistas, o ressurgimento de Wuhan como destino tur�stico demonstra a confian�a dos chineses no manejo da pandemia pelas autoridades locais e representa uma oportunidade de ouro para impulsionar a degradada ind�stria.

Uma 'vit�ria' do governo

E tamb�m simboliza uma vit�ria do governo chin�s.

Vincent Ni, um especialista em China do servi�o mundial da BBC, aponta que de fato o governo chin�s pode estar usando Wuhan para fins de propaganda, mas a campanha � "baseada em fatos", que "mostram que a situa��o tem melhorado".

Em outubro, 38 casais foram a um casamento coletivo; alguns deles tinham adiado seus casamentos devido ao coronavírus(foto: Getty Images)
Em outubro, 38 casais foram a um casamento coletivo; alguns deles tinham adiado seus casamentos devido ao coronav�rus (foto: Getty Images)

"As pessoas sabem que Wuhan est� melhor, ningu�m visitaria a cidade se houvesse coronav�rus. Os chineses est�o dispostos a viajar para Wuhan, que costumava ser o epicentro de covid-19 e isso, do ponto de vista do governo, � uma vit�ria."

Enquanto o setor est� se recuperando depois de uma paralisa��o completa no in�cio do surto de covid-19, a receita do turismo no gigante asi�tico ainda deve cair 52% em 2020 em compara��o com 2019, e o n�mero de viagens diminuir� 43%, segundo a institui��o de pesquisa China Tourism Academy (CTA).

Para Ni, as coisas est�o "gradualmente" voltando ao normal, mas ainda restam d�vidas se a situa��o vai durar.

"Com a aproxima��o do inverno, h� d�vidas se teremos ou n�o uma segunda onda. Acho que esse desconhecido est� presente na mente de todos os chineses, mas por enquanto as pessoas est�o gostando do relaxamento das restri��es e da volta 'normalidade' ", diz ele.

Espada de dois gumes

O especialista chin�s destaca que a sensa��o de normalidade se repete em todo o pa�s e que cada vez menos pessoas com m�scaras s�o vistas nas ruas do pa�s asi�tico.

Para os mais de 20 milh�es de habitantes de Pequim, capital do pa�s, n�o � mais obrigat�rio o uso de m�scaras, por exemplo.

Na capital chinesa, as máscaras não são mais obrigatórias(foto: Getty Images)
Na capital chinesa, as m�scaras n�o s�o mais obrigat�rias (foto: Getty Images)

"Isso, por um lado, mostra que a situa��o melhorou significativamente, mas, por outro lado, pode ser uma espada de dois gumes, porque o v�rus n�o desapareceu, n�o temos uma vacina eficaz no momento e, se as pessoas baixarem a guarda, uma a segunda onda pode ser catastr�fica."

Segundo proje��es do Fundo Monet�rio Internacional, a China ser� a �nica grande economia mundial a registrar crescimento neste ano, com expans�o de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB).

Embora a ind�stria do turismo pare�a estar vendo luz no fim do t�nel, outros setores da economia e, principalmente, a renda das popula��es mais vulner�veis sofreram um forte golpe nos �ltimos meses.

"O governo central est� tentando colocar a economia de volta nos trilhos, mas os jovens nas grandes cidades n�o conseguem empregos e nem t�m mais dinheiro para pagar o aluguel, ent�o h� uma nova tend�ncia de que muitos est�o abandonando as cidades ", explica Vivian Wu.

"Muitas pessoas podem estar viajando por toda a China, mas � ineg�vel que a sombra do coronav�rus ainda existe. As pessoas sabem disso, mas tentam fazer o dia a dia voltar ao normal. � uma boa inten��o, mas leva tempo e � verdade que � dif�cil obter um relato objetivo do que realmente est� acontecendo."


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