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Estado de Minas

Dia de Finados na pandemia: por que mesmo no isolamento � importante homenagear quem se foi

Alguns governos liberaram visitas presenciais a cemit�rios, enquanto alguns locais preparam homenagens virtuais durante a pandemia do coronav�rus. Seja online ou offline, quem trabalha com o tema do luto defende: ritualizar a saudade � importante, independentemente da maneira.


02/11/2020 16:49 - atualizado 02/11/2020 18:02

Pandemia de coronavírus 'interrompeu' rituais do luto  mas eles continuam importantes, mesmo se feitos virtualmente(foto: Maria Ponomariova/Getty Images)
Pandemia de coronav�rus 'interrompeu' rituais do luto mas eles continuam importantes, mesmo se feitos virtualmente (foto: Maria Ponomariova/Getty Images)

Uma data no m�nimo sens�vel a cada ano trar� nesta segunda-feira (2/11) novos desafios ap�s um 2020 marcado pela pandemia de coronav�rus.

O Dia de Finados, de origem cat�lica, dever� ser celebrado com restri��es sanit�rias por conta da nova doen�a diferentes Estados e munic�pios definiram suas regras. O governo de S�o Paulo por exemplo, Estado mais populoso do Brasil, anunciou na semana anterior � data que os cemit�rios poder�o abrir, desde que autorizados tamb�m por cada prefeitura. As visitas devem ser feitas de m�scara, com acesso a �lcool gel e distanciamento social.

A nova doen�a tamb�m tirou a vida de mais de 155 mil pessoas no Brasil, muitas delas com despedidas interrompidas pelas restri��es impostas pela pandemia, como no acesso de familiares a Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e em vel�rios com caix�es lacrados.

"Estima-se que para cada pessoa que morreu, h� de 4 a 10 pessoas enlutadas. Considerando que o Brasil j� teve aproximadamente 160 mil mortes por covid-19, h� um n�mero muito grande de pessoas para quem ser� muito desafiador passar por esse Dia de Finados", aponta Tom Almeida, fundador do movimento inFinito, que trata de assuntos sobra a vida e a morte, organizando eventos e um festival anual.

"Estas pessoas enlutadas n�o puderam ter os rituais de despedida (por restri��es da pandemia) normalmente participando do enterro com toda a fam�lia, vendo o corpo. O processo de luto foi interrompido."

"Rituais assim s�o importantes porque trazem a concretude da morte. Por mais dificuldade que um evento assim traga, � importante para o processo do luto. E nestes espa�os, voc� est� (em condi��es normais) ao lado de pessoas amadas e onde voc� pode liberar seus sentimentos", explica.

"Por isso, a possibilidade de ida a cemit�rios neste Dia de Finados vai ser bastante importante para muitas pessoas."

Ainda assim, para aquelas pessoas que n�o puderem ou quiserem sair de casa, Almeida defende que rituais em homenagem �queles que se foram sejam feitos mesmo assim. Por exemplo, promovendo um encontro virtual entre familiares e amigos da pessoa querida; para quem for religioso, praticando rituais de acordo com sua f�; escrevendo ou falando sobre a pessoa amada; ou at� mesmo fazendo um almo�o especial com o prato preferido daquela pessoa, brindando a sua vida.

"Seja qual for, todos os rituais s�o importantes, pois ajudar�o no processo do luto."

'Maior homenagem de velas do mundo'

Presidente da Associa��o Cemit�rios e Cremat�rios do Brasil e do Sindicato dos Cemit�rios e Cremat�rios Particulares do Brasil (Acembra-Sincep), Gisela Adissi afirma que, para estes locais, n�o h� data no ano como o Dia de Finados seja no volume de pessoas reunidas de uma s� vez ou estrutura que isso exige, da seguran�a � limpeza.

Por isso, a data costuma ser organizada com cerca de tr�s meses de anteced�ncia pelos cemit�rios, mas neste ano Adissi relata que, diante das incertezas, as administra��es desses lugares se prepararam para ter "plano a, b, c".

A depender das regras locais, muitos deles v�o abrir. Ainda assim, a Acembra-Sincep organizou, durante a pandemia, uma campanha estimulando os cemit�rios a organizarem pain�is virtuais com fotos e mensagens enviadas pelas fam�lias e amigos em homenagem aos entes queridos.

O grupo Cortel, por exemplo, est� preparando "a maior homenagem de velas do mundo" para a data, com 8 mil delas. Com v�rios cemit�rios pelo Brasil, o grupo tamb�m ter� transmiss�es ao vivo e online de palestras e cultos no Dia de Finados, al�m de estar recolhendo imagens e textos sobre pessoas a serem homenageadas.

Adissi acredita que, mesmo com a organiza��o de celebra��es virtuais, as visitas presenciais na data ser�o numerosas.

"Acredito que haver� um contingente maior de pessoas, por conta de tantos �bitos por covid-19. Muitos deles n�o puderam ser homenageados, lutos n�o foram vivenciados. A libera��o (de visita, em alguns lugares), somada aos ritos que n�o aconteceram antes, vai gerar essa esp�cie de grito reprimido daqueles que n�o puderam honrar quem perderam na pandemia."

'Honre todos os sentimentos que aparecerem'

Viver coletivamente o luto também é importante(foto: Carla Golembe/Getty Images)
Viver coletivamente o luto tamb�m � importante (foto: Carla Golembe/Getty Images)

Para Adissi, que administrou cemit�rios por 18 anos anos, o Dia de Finados n�o � apenas de lamenta��es.

"Da minha experi�ncia, � tamb�m uma data festiva, de muito significado para quem vai. Sempre me chamou a aten��o o h�bito de muitas pessoas que v�o ao cemit�rio na parte da manh�, com roupas mais velhas, preparadas para fazer uma esp�cie de faxina com uma ou duas pessoas da fam�lia. Elas fazem o ritual de limpeza, colocam flores, voltam para casa e almo�am. De tarde, retornam ao cemit�rio com toda a fam�lia e mais arrumadas. Obviamente n�o � um dia feliz, mas tamb�m � mais do que lamenta��o. Tem um feriado, a fam�lia est� reunida."

Tom Almeida destaca, por sua vez, que a influ�ncia cultural do catolicismo no pa�s ressalta emo��es dif�ceis nesta data que s�o preponderantes quando o assunto � a morte, como mostrou uma pesquisa de 2018, segundo a qual os brasileiros a associam a sentimentos de tristeza (63%), dor (55%), saudade (55%), sofrimento (51%) e medo (44%). Em percentuais menores, est�o sentimentos como a aceita��o (26%) e liberta��o (19%).

"Outras culturas celebram tamb�m a vida da pessoa que foi embora, n�o pesando apenas para a morte. No luto, existe dor, mas tamb�m amor, gratid�o, cumplicidade. N�o � minimizar o sofrimento, mas considerar que a experi�ncia n�o se limita a ele. Tudo cabe (na experi�ncia do luto)", diz o fundado do movimento inFINITO.

Para a segunda-feira, Almeida aconselha que pessoas vivendo a dor e a saudade "honrem todos os sentimentos que aparecerem".

"Pode estar triste, com raiva, muita saudade, gratid�o. Todos os sentimentos est�o certos porque o luto � muito particular. E ele � um processo que exige transforma��o a dor faz que tenhamos que achar recursos e autoconhecimento para readequar a vida quando algu�m j� n�o est� mais por perto. �s vezes, a dor ocupa todos os espa�os. Depois, ela ocupa um lugar", afirma, refor�ando por�m que cada experi�ncia � �nica.

Ele lembra por exemplo de uma postagem recente de uma amiga que contou como o Dia de Finados era o �nico que conseguia reunir toda a fam�lia come�ando com rever�ncias e terminando com um grande piquenique, onde as hist�rias dos antepassados s�o contadas e celebradas.

Almeida diz tamb�m que lidar com o luto n�o tem prazos: a saudade pode apertar em rela��o a algu�m que foi embora h� pouco tempo, mas tamb�m h� muitas d�cadas.

"Na verdade, o luto nunca acaba - ele encontra o seu lugar. Vive-se bem, mas uma m�sica ou um cheiro podem 'apertar' o bot�o da dor. S� que, no in�cio, parece que aquele bot�o est� sempre ativado."

Se em 2018 a pesquisa nacional sobre o luto mostrou que, para 48% dos brasileiros, falar sobre a morte � algo depressivo, e para 28%, m�rbido, Almeida diz ter a impress�o de que, pouco a pouco, as pessoas est�o se abrindo mais para falar sobre o assunto.

E a pandemia de coronav�rus parece, em alguns casos, ter empurrado essa conversa.

"Percebi que existe uma urg�ncia de se falar sobre o viver e o morrer. E n�o existe barreira para isso acontecer mesmo com barreiras virtuais, as pessoas est�o abertas a falar, desde que tenham um espa�o de confian�a e se sintam acolhidas."


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