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Estado de Minas IMIGRANTE BOLIVIANA

'Trabalhei 16 horas por dia para sobreviver costurando m�scaras'

Pesquisa mostra que 87% dos imigrantes que trabalham com costura em SP perderam renda na pandemia


03/12/2020 15:53 - atualizado 03/12/2020 17:14

Boliviana que mora em São Paulo há 15 anos relata trabalho exaustivo em meio à pandemia de covid-19(foto: Getty Images)
Boliviana que mora em S�o Paulo h� 15 anos relata trabalho exaustivo em meio � pandemia de covid-19 (foto: Getty Images)

"Para n�s que trabalhamos com costura, a pandemia chegou forte. Todas as oficinas ficaram sem servi�o, tivemos que procurar outras coisas para poder ter uma renda, porque, para o boliviano, o aluguel � sempre mais pesado, � mais caro."

"A entrada de pedidos de roupas diminuiu muito, praticamente foi a zero, porque n�o tinha lojas abertas. Tivemos que focar em m�scaras e aventais, mas � um trabalho que requer mais esfor�o."

 

 

 

"Eles estavam pagando 30, 20, at� 10 centavos por m�scara. Ficou bem complicado mesmo. Para ter um bom rendimento para sua casa, � preciso fazer muito. Trabalhamos umas 14 a 16 horas por dia para tirar algum dinheiro."

O relato � de Aracely Merida, de 38 anos, boliviana e moradora de S�o Paulo h� 15 anos. M�e de tr�s filhos, ela e o marido trabalham juntos com costura, numa oficina que � tamb�m a casa da fam�lia.

A realidade de Merida � a de muitos imigrantes que trabalham com costura na cidade de S�o Paulo durante a pandemia, aponta estudo da organiza��o n�o-governamental brit�nica Centro de Informa��o sobre Empresas e Direitos Humanos (Business and Human Rights Resource Centre), lan�ado nesta quinta-feira (3/12).

9 em cada 10 tiveram perda de renda

Segundo a pesquisa, 87% desses trabalhadores sentiu uma mudan�a dr�stica em seus rendimentos em meio � crise. Entre os entrevistados, 42% relataram que ficaram sem renda, enquanto 45% disseram que sua renda diminuiu consideravelmente.

O estudo ouviu 146 imigrantes, em sua maioria mulheres bolivianas, com idades entre 17 e 65 anos, moradoras de S�o Paulo ou regi�o metropolitana, entre os dias 21 de julho e 16 de setembro de 2020. A pesquisa foi realizada por meio de formul�rio online, com a ajuda do Cami (Centro de Apoio e Pastoral do Migrante).

Conforme o levantamento, 87% das respondentes n�o contam com contratos formais de trabalho, incluindo trabalhadoras com v�nculos informais (47%) e aquelas que trabalham como aut�nomas (40%). Apenas 12% trabalhavam com carteira assinada.

Cerca de 34% dessas profissionais relatavam ter renda mensal at� R$ 522,50 - a metade de um sal�rio m�nimo - e 40% at� R$ 1.045.

No momento da entrevista, 56% estavam recebendo o aux�lio emergencial, enquanto 8% chegaram a receber, mas tiveram o benef�cio cortado, e 20% solicitaram e n�o receberam.

Fome e m�scaras

Muitas imigrantes passaram a costurar máscaras e vendê-las a preços baixos para garantir a renda da família(foto: Getty Images)
Muitas imigrantes passaram a costurar m�scaras e vend�-las a pre�os baixos para garantir a renda da fam�lia (foto: Getty Images)

Com a perda de renda na pandemia, 61% disseram ter passado por dificuldades para se alimentar e 93% das que mandavam dinheiro para familiares em seu pa�s de origem n�o conseguiram mais fazer essas transfer�ncias.

"Muitas passaram fome, tiveram dificuldade em ter dinheiro suficiente para comprar comida", conta Marina Novaes, pesquisadora e representante no Brasil do Centro de Informa��o sobre Empresas e Direitos Humanos. "Com isso, tiveram que se submeter a costurar m�scaras, a pre�os super baixos e sob jornadas exaustivas."

Segundo Novaes, o poder dessas trabalhadoras para negociar os pre�os das pe�as que costuram � muito baixo.

"� quest�o de necessidade, era necess�rio sobreviver e ter algum tipo de trabalho. Se o dono da oficina n�o concorda com o valor pago pela pe�a, a pessoa que ia fazer o pedido simplesmente passa para outro dono de oficina."

"Compramos as m�scaras por R$ 5 ou R$ 10 e isso nos parece um pre�o razo�vel. Mas, por tr�s disso, temos relatos de pessoas que costuraram m�scaras a 5 centavos."

Segundo a pesquisa, 84% das trabalhadoras costuraram m�scaras durante a pandemia. E mais de tr�s em cada quatro entrevistadas (78%) afirmaram que os pre�os pagos pelos pedidos diminu�ram ao longo da crise.

Viver para trabalhar

Das entrevistadas, 89% moram no mesmo local onde costuram, como Merida. 56% t�m filhos em idade escolar e, destes, 30% n�o tinham acesso � internet para acompanhar as atividades de educa��o � dist�ncia.

"S�o pessoas que j� t�m jornadas exaustivas e, morando no mesmo local onde se trabalha, isso n�o tem limite", diz Novaes. "Com a pandemia, a situa��o domiciliar se agravou, j� que antes as crian�as passavam um per�odo na escola e agora passaram a estar tamb�m todo o tempo em casa, muitas delas, sem a estrutura adequada para acompanhar as aulas online."

Nesse cen�rio de dificuldades, a pesquisa tamb�m perguntou �s trabalhadoras sobre sua sa�de mental e bem-estar. 82% disseram ter sentido medo, 41% tristeza, 36% desespero e 34% sofreram com estresse e ansiedade.

Com rela��o � COVID-19, cerca de 5% disseram ter pegado a doen�a e 19% conheciam algu�m que se infectou, enquanto 17% conheciam algu�m que morreu devido � enfermidade.

Retorno lento � normalidade

Segundo a pesquisa, 87% de imigrantes sentiu uma mudança drástica em seus rendimentos nos últimos meses(foto: Getty Images)
Segundo a pesquisa, 87% de imigrantes sentiu uma mudan�a dr�stica em seus rendimentos nos �ltimos meses (foto: Getty Images)

Enquanto 91% das trabalhadoras relataram que os pedidos pararam totalmente no in�cio da pandemia, 47% afirmam que, agora, os pedidos est�o voltando aos poucos.

"Como todos os bolivianos, ficamos no perrengue, atrasando contas, atrasando pagamentos, at� o aluguel ficou atrasado. Mas, gra�as a Deus, estamos indo, pagando aos poucos", conta Merida.

"Agora j� voltou a costura de roupas, mas ainda � pouca. � bem devagar, porque h� toda uma incerteza do que vai acontecer daqui para frente. As pessoas que fazem os pedidos est�o com receio de dar mais servi�o e ficar com estoque."

Como recomenda��es, para que a realidade das costureiras imigrantes seja melhor � frente, os pesquisadores sugerem ao poder p�blico mapear as popula��es migrantes e inclu�-las na rede p�blica de prote��o social. Tamb�m pedem a defini��o de pol�ticas de combate � explora��o do trabalho e intensifica��o da fiscaliza��o.

Para as empresas, a recomenda��o � mapear cadeias de suprimentos, realizar a devida dilig�ncia para identificar, prevenir e mitigar riscos negativos em suas cadeias produtivas, e garantir aos trabalhadores a liberdade de se organizar.


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