Ap�s meses consecutivos de sa�da de capital estrangeiro do Brasil, as not�cias mais promissoras sobre o desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19 animaram os investidores, que voltaram a olhar para mercados considerados mais arriscados.
Depois de voltar a registrar saldo positivo de investimento estrangeiro em outubro, a bolsa teve um resultado robusto em novembro, quando entraram mais de R$ 30 bilh�es em capital estrangeiro, o maior volume em mais de duas d�cadas.
O Brasil, entretanto, n�o � um caso isolado. Mercados emergentes assistiram, de maneira geral, a um ingresso recorde desse tipo de investimento.
Isso porque, al�m das perspectivas mais animadoras em rela��o � vacina, o mundo vive um momento de grande liquidez (ou seja, dinheiro dispon�vel), diante dos pacotes de est�mulos implementados em diversos pa�ses, e juros muito baixos.
Essa combina��o de fatores aumentou o apetite por risco dos investidores, que olham para os mercados emergentes em busca de maior rentabilidade.
Nas contas da consultoria Capital Economics, que divulgou um relat�rio recentemente sobre o assunto, o chamado investimento em portf�lio nesse grupo de pa�ses est� no maior n�vel desde 2014.
O investimento em portf�lio � aquele feito em a��es, fundos de investimento ou t�tulos de d�vida, por exemplo. � mais vol�til do que o chamado investimento direto no pa�s, que contabiliza o fluxo de capitais no setor produtivo, como a participa��o direta em empresas. Os dois tipos de investimentos s�o acompanhados pelo Banco Central nas estat�sticas do balan�o de pagamentos.
Fim da fila
Apesar de o mercado financeiro brasileiro ter voltado a atrair capital estrangeiro, ele ainda est� no fim da fila quando comparado com outras economias emergentes - por raz�es regionais e internas.
A pedido da BBC News Brasil, o economista do Institute of International Finance (associa��o que re�ne 450 bancos e fundos de investimentos em 70 pa�ses) Jonathan Fortun analisou os dados de investimento em portf�lio e verificou que o pa�s est� longe das prioridades dos investidores entre as 28 economias emergentes acompanhadas pela institui��o.
"O Brasil est� no �ltimo ter�o, com outros pa�ses da Am�rica Latina."
At� novembro, conforme os dados coletados pelo IIF, o fluxo de investimento em portf�lio em "equity" (palavra em ingl�s usada no jarg�o do mercado como sin�nimo de patrim�nio l�quido, e que engloba o investimento em a��es) ainda est� 7,7% abaixo do verificado em janeiro - um saldo negativo de US$ 9,2 bilh�es.
No mercado de d�vida, com dados at� outubro, a defasagem � ainda maior: o fluxo acumulado desde janeiro � negativo em 8,8%, US$ 3,9 bilh�es.
Os favoritos dos investidores: �sia e Oriente M�dio
Para muitos dos pa�ses no topo da lista, o ingresso de capital em outubro e novembro j� foi suficiente para recuperar as perdas observadas desde o in�cio da pandemia. � o caso, por exemplo, de alguns emergentes asi�ticos e do Oriente M�dio.
"Al�m da China, que � um caso � parte, vimos um fluxo grande de investimentos para mercados como Indon�sia, Mal�sia, Tail�ndia e Cingapura", ilustra Fortun.
Esses s�o pa�ses que desenvolveram bastante seus respectivos mercados financeiros nas �ltimas d�cadas e, ao contr�rio da Am�rica Latina, que � predominantemente exportadora de commodities, t�m uma participa��o relevante em cadeias globais de produ��o, com uma participa��o expressiva da ind�stria na economia.
As perspectivas de vacina��o de parte da popula��o global em 2021 geraram a expectativa de que a demanda internacional por produtos se recupere mais r�pido - o que poderia beneficiar diretamente o setor produtivo desses pa�ses.

J� no Oriente M�dio - na regi�o conhecida como MENA (acr�nimo para "Middle East and North Africa", que inclui tamb�m os pa�ses do norte da �frica -, a prefer�ncia tem sido pela compra de t�tulos da d�vida soberana, especialmente de pa�ses como Egito, Ar�bia Saudita e Emirados �rabes.
Brasil, as contas p�blicas e o meio ambiente
"O Brasil tem aproveitado as oportunidades (que o cen�rio global apresenta), mas n�o na mesma extens�o", avalia o economista.
A quest�o da d�vida p�blica, ele exemplifica, � justamente um dos fatores que t�m afastado investidores estrangeiros.
Ainda antes da pandemia de covid-19, o pa�s assistia a um aumento cont�nuo do endividamento, que se aprofundou com a ado��o do chamado "or�amento de guerra" para fazer frente � crise causada pelo novo coronav�rus.
O pa�s adotou estrat�gia semelhante � da maioria dos pa�ses, que tamb�m abriram os cofres para tentar proteger as popula��es mais vulner�veis dos efeitos econ�micos negativos - a quest�o � o que viria posteriormente, o fato de o Brasil n�o vir mostrando de forma clara como vai reequilibrar as contas depois que esse momento passar.
"Os investidores hoje est�o olhando mais para as especificidades de cada pa�s antes de decidirem onde v�o colocar o dinheiro", ressalta Fortun.

Para ele, o pa�s tamb�m perde uma oportunidade quando n�o sinaliza seu compromisso com a preserva��o do meio ambiente.
Os emergentes asi�ticos, acrescenta, abra�aram o chamado ESG, sigla para "environment", "social"e "governance" (meio ambiente, social e governan�a), o mundo dos ativos que tamb�m miram a sustentabilidade. Parte dos pap�is que os investidores est�o comprando neste momento nesses mercados est�o nessa modalidade.
"O ESG vai ser o que as microfinan�as (instrumentos de cr�dito e outros servi�os financeiros voltados �s popula��es mais pobres, muitas � margem do sistema banc�rio) foram algum tempo atr�s."
Covid-19 e Am�rica Latina
De um lado, a preocupa��o com o lado fiscal afeta a atratividade de investimentos em v�rios pa�ses da Am�rica Latina, assim como o fato de que a regi�o ainda se v� bastante afetada pela pandemia, com uma incid�ncia elevada da doen�a.
De outro, contudo, a perspectiva de recupera��o da demanda global tende a elevar os pre�os de commodities, trazendo ganhos para os pa�ses latino-americanos.
No caso espec�fico do Brasil, a ingresso relativamente mais modesto de d�lares frente a outros emergentes mant�m o real subvalorizado (em torno de 20%, nas contas do IIF) - o que torna o pa�s, por sua vez, um investimento barato.
Fortun pondera ainda que, apesar de o saldo do investimento em portf�lio no pa�s ainda ser negativo no ano, o do investimento direto segue positivo o suficiente para cobrir essas perdas.
O acumulado at� outubro, segundo os dados do Banco Central, � de US$ 31,9 bilh�es - quase metade, entretanto, do registrado no mesmo per�odo de 2019, US$ 57,6 bilh�es.
O estoque de reservas internacionais, por sua vez, tamb�m segue em n�vel elevado, com US$ 354,5 bilh�es at� outubro - o que deixa o pa�s menos vulner�veis a crises cambiais como a que viveu recentemente a vizinha Argentina.
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