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Estado de Minas

Vacina contra covid-19: brasileira est� entre primeiros na fila na Inglaterra

Vacina��o come�a nesta ter�a-feira no Reino Unido em asilos, como o dirigido pela enfermeira brasileira �urea de Souza; "Estamos pensando positivo porque sofremos muito", ela diz


08/12/2020 09:16 - atualizado 08/12/2020 10:01

Vacinação no Reino Unido começa nesta terça-feira em grupos prioritários(foto: Getty Images)
Vacina��o no Reino Unido come�a nesta ter�a-feira em grupos priorit�rios (foto: Getty Images)

A enfermeira brasileira �urea de Souza, de 38 anos, chegou � Inglaterra em 2006 "sem falar uma palavra" em ingl�s. Quatorze anos depois, � gerente-geral de um asilo no sudeste de Londres, administra uma equipe de dezenas de profissionais e supervisiona o atendimento de 52 idosos.

Agora, a brasileira e seus colegas est�o entre as primeiras pessoas eleg�veis � rec�m-aprovada vacina contra o coronav�rus, que come�a a ser aplicada no Reino Unido na ter�a-feira (08/12).

Em entrevista � BBC News Brasil por telefone, ela oscila entre otimismo e cautela sobre a t�o esperada f�rmula que pode frear a pandemia que j� matou mais de 1,5 milh�o de pessoas.

"No come�o eu fiquei um pouco apreensiva, porque pensei: 'Como � que acharam uma solu��o t�o r�pida para um v�rus t�o novo?'. A gente fica com um pouco de medo", diz a brasileira.

"Mas eu acredito que essa � a nova forma de viver, n�o vai ter para onde correr. E, tamb�m, se � para os meus velhinhos terem oportunidade de ver a fam�lia... Porque � muito dif�cil para eles", ela continua, citando a tristeza dos idosos que, depois de meses totalmente isolados, hoje s� podem ver parentes atrav�s de barreiras de acr�lico em uma sala especial.

"At� agora, desde mar�o, nenhum dos meus velhinhos pode dar um abra�o na fam�lia", conta a brasileira. "Estamos pensando positivo. Porque sofremos muito e a gente n�o pode continuar assim."

Na semana passada, o Reino Unido se tornou o primeiro pa�s do mundo ocidental a aprovar uma vacina contra o novo coronav�rus para uso generalizado na popula��o.

Segundo o �rg�o regulat�rio brit�nico MHRA, a vacina Pfizer/BioNTech, que oferece at� 95% de prote��o contra a covid-19, � segura. Com o sinal verde, o pa�s j� encomendou 40 milh�es de doses dessa vacina - o suficiente para vacinar 20 milh�es de pessoas.

Segundo o cronograma do governo, os primeiros a receberem doses ser�o funcion�rios e residentes de casas de repouso e asilos, pessoas com mais de 80 anos e funcion�rios da linha de frente do sistema de sa�de p�blica.

�urea de Souza, seus colegas e os pacientes est�o no topo desta lista.

"Acho que esse vai ser o �nico jeito de o pa�s voltar ao normal", ela diz.

'Me mudei para o asilo'

O surgimento da pandemia exigiu mudan�as na rotina de muita gente. Mas, para quem trabalha em asilos, a transforma��o foi brutal.

"A gente teve que tomar medidas dr�sticas. Eu me mudei para o asilo. Por tr�s meses, fiquei morando aqui dentro", conta Souza, que em 18 de mar�o decidiu fechar para parentes e visitantes as portas da casa St. Augustine, onde trabalha, a cerca de uma hora de carro de Londres.

A decis�o se manteve at� meados de junho, quando uma estrutura que permitisse a seguran�a dos idosos havia sido finalmente desenhada.

"Era tudo muito novo. Faltavam equipamentos de prote��o individual, m�scaras. Foi um momento muito dif�cil. Se algu�m tivesse sintomas, n�o tinha como testar", lembra.

Brasileira, responsável pelo atendimento a 52 idosos, posa junto a freiras que trabalham no Lar St Augustine's, no sudeste de Londres(foto: St Augustine's)
Brasileira, respons�vel pelo atendimento a 52 idosos, posa junto a freiras que trabalham no Lar St Augustine's, no sudeste de Londres (foto: St Augustine's)

H� seis meses, depois de duras cr�ticas sobre a alta incid�ncia de mortes e a maneira como lidou com casas de repouso, o governo do Reino Unido aumentou o envio de verbas, m�scaras, luvas e medicamentos, e adotou uma pol�tica de testagem semanal para todos os funcion�rios.

"� obrigat�rio. � uma maneira de controlar o risco de infec��o. E os idosos s�o testados a cada 28 dias", conta a brasileira.

Ela explica que a decis�o de se mudar para o local de trabalho visava minimizar a chance de transmiss�o da doen�a para os idosos.

"A press�o que os asilos est�o vivendo no momento � muito grande, muitas vezes as fam�lias n�o entendem", diz. "Se houver um surto aqui dentro, a responsabilidade � minha."

'N�o consigo dormir'

Meses depois, o medo de contaminar os residentes ainda persegue a brasileira.

"� uma responsabilidade muito grande, �s vezes vou para casa e n�o consigo nem dormir. A gente fica sempre pensando no covid-19. Todo dia a gente vem trabalhar com medo, porque n�o sabe o que vai acontecer. Mas a gente p�e a f� e a m�o no cora��o e vem trabalhar", ela diz.

A enfermeira, natural do Esp�rito Santo, tinha viagem marcada para o Brasil para comemorar o casamento do irm�o. Tudo foi cancelado.

"Eu tenho muito receio. N�o saio. N�o viajei para o Brasil, para lugar nenhum, e n�o sei quando vou poder ir, porque a gente tem medo de trazer infec��o para o asilo. Mesmo sendo testado toda semana, isso n�o quer dizer que n�o podemos pegar o v�rus."

Durante a entrevista, ela se lembra de rotinas banais que hoje se tornaram mem�rias distantes.

"A vida que eu tinha antigamente, sair, dan�ar, me encontrar com outras pessoas, n�o existe mais. � asilo, casa e shopping para comprar o essencial."

Brasileira está no topo da lista de prioridades para vacinação na Inglaterra, que começa nesta terça-feira(foto: St Augustine's)
Brasileira est� no topo da lista de prioridades para vacina��o na Inglaterra, que come�a nesta ter�a-feira (foto: St Augustine's)

A vacina rec�m-aprovada no Reino Unido � mais r�pida de todos os tempos a ir do conceito � realidade - ela levou apenas 10 meses para seguir os mesmos passos de desenvolvimento que normalmente duram uma d�cada.

Embora a vacina��o esteja prestes a come�ar no pa�s, as pessoas ainda precisar�o permanecer vigilantes e seguir as regras para impedir a propaga��o do coronav�rus, dizem especialistas.

Isso significa manter o distanciamento social e o uso de m�scaras, testar pessoas que podem ter o v�rus e pedir que se isolem em caso de risco de contamina��o.

'Triste pelo Brasil'

Enquanto os brit�nicos come�am a experimentar a imuniza��o contra o novo coronav�rus, o Brasil ainda n�o tem uma pol�tica nacional clara de vacina��o.

A Pfizer, farmac�utica respons�vel pela vacina que ser� aplicada no asilo comandado por Souza na Inglaterra, tamb�m deve fornecer at� 600 milh�es de doses para os EUA, outras 200 milh�es para a Uni�o Europeia, 120 milh�es para o Jap�o e 60 milh�es para pa�ses latino-americanos - conta que n�o inclui o Brasil.

"Fico triste pelo Brasil porque eles n�o t�m o suporte que n�s temos", diz �urea de Souza. "Eu gostaria muito que o nosso Brasil tivesse um tipo de governo assim, que se importasse tamb�m com as pessoas. O Brasil sofre por isso, porque os pol�ticos n�o se importam tanto com os brasileiros", avalia.

"Falei com a minha m�e, por favor, olha s� essa politicagem no Brasil. Ningu�m est� usando a m�scara, tem esse ac�mulo de gente. Eu digo a ela 'fica em casa, n�o fica muito na rua, se misturando', entende? Esse v�rus � s�rio, e acho que no Brasil muitos n�o est�o levando isso a s�rio."

(foto: BBC)
(foto: BBC)

Segundo o minist�rio da Sa�de, pessoas com 75 anos ou mais, profissionais de sa�de e ind�genas ser�o os primeiros a ser vacinados contra a covid-19 a partir de mar�o. N�o h� perspectiva de vacinar toda a popula��o at� o fim de 2021, nem vacina registrada no pais.

Nos �ltimos meses, o Brasil anunciou a compra de doses atrelada � transfer�ncia de tecnologia da candidata � vacina desenvolvida pela farmac�utica AstraZeneca e pela Universidade de Oxford, na Inglaterra.

O governo do estado de S�o Paulo fez uma parceria entre o Instituto Butantan e a chinesa Sinovac para testar e fabricar CoronaVac. J� o Paran� anunciou que produzir� o imunizante Sputnik V, desenvolvido na R�ssia.

O Brasil tamb�m aderiu ao Covax, um cons�rcio da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) para custeio e distribui��o das futuras vacinas aos pa�ses mais pobres. Isso pode garantir que uma parcela da popula��o tenha acesso �s doses ao longo de 2021.

Todos esses acordos, no entanto, dependem do resultado dos estudos cl�nicos de fase 3 e da aprova��o da Anvisa.

Na tarde desta segunda-feira, pelo Twitter, o presidente Jair Bolsonaro disse que "ofertar� a vacina a todos, gratuita e n�o obrigat�ria", mas n�o informou datas, laborat�rios, nem de que forma acontecer� a distribui��o.

Trajet�ria

Desde que chegou � Inglaterra, h� 14 anos, a brasileira trabalhou em 7 lares de idosos.

"Hoje eu sou respons�vel geral pelo asilo. Sou respons�vel pelos funcion�rios, pelo bem-estar e seguran�a dos residentes. Meu trabalho � ser transparente tamb�m. Se houver um erro de medica��o, erros, meu trabalho � reportar. � corrigir. � proteger os meus velhinhos de abusos. Meu trabalho � manter a seguran�a, manter as equipes treinadas. � entregar o melhor cuidado", diz Souza � reportagem.

Em 2006, sem falar ingl�s, ela recebeu uma s�rie de "n�os" em centros de emprego.

"Foi muito dif�cil pra mim, eu chorava bastante", lembra.

A virada aconteceu depois que ela se inscreveu para um trabalho pela internet, usando uma ferramenta online de tradu��o.

"Na entrevista, a �nica coisa que eu conseguia falar era que trabalhei em farm�cia no Brasil por 6 anos e em hospital tamb�m", lembra.

A chefe do asilo resolveu apostar na brasileira e ofereceu um trabalho integral como enfermeira.

"No come�o, eu n�o sabia falar nada. Eu pensava 'Meu Deus, o que vou fazer?. A� decidi usar minha experi�ncia. Um dia uma velhinha me pediu um peda�o de 'toast', e eu n�o sabia o que era. Eu estava toda perdida, sabia que tinha gente me olhando, porque eu estava no primeiro dia."

A brasileira prossegue, sorrindo. "A� eu comecei a cantar para a velhinha aquela m�sica "You Are My Sunshine". Ela me viu cantar, viu que eu estava com um problema de comunica��o e veio me ajudar e me mostrou que "toast" era torrada, p�o. Eu pensei '� com esses velhinhos que eu preciso ficar' (para aprender)", disse.

Seis meses depois, �urea de Souza seria escolhida a melhor cuidadora do ano no asilo em que trabalhava.

Hoje, mesmo em um cargo de chefia, a brasileira continua pr�xima dos residentes.

"Quando eu me mudei para o asilo, comecei a fazer festas, porque sou muito apaixonada pelo meu trabalho. Os meus velhos estavam tristes, ent�o comecei a fazer carnaval, um monte de coisa para alegrar", diz.

O que a mant�m otimista?

"A f�. Eu poderia ter largado tudo e ido para o Brasil, mas eu amo muito esse trabalho. Cheguei aqui muito nova, comecei (na Inglaterra) cuidando de velhinhos. Para mim � uma hist�ria, eu amo muito o que fa�o, n�o � por dinheiro."

A vacina que come�ar� a ser distribu�da para profissionais como a brasileira � administrada em duas inje��es, com 21 dias de intervalo, sendo a segunda dose um refor�o.

Segundo o cronograma de vacina��o do Reino Unido, a imuniza��o em massa de pessoas com mais de 50 anos, bem como de pessoas mais jovens com comorbidades, deve acontecer � medida que mais estoques se tornam dispon�veis no primeiro semestre de 2021.


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