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Estado de Minas

Aumento de casos, reinfec��o e menor efic�cia das vacinas: por que a variante do coronav�rus detectada em Manaus preocupa o mundo

Por enquanto, h� mais d�vidas do que certezas sobre nova cepa encontrada no pa�s. Mas dados recentes indicam que ela j� � dominante na capital do Amazonas e chegou a outros lugares do Brasil e do mundo.


27/01/2021 18:10

O coronav�rus j� n�o � mais o mesmo: desde que foi detectado pela primeira vez em janeiro de 2020 na cidade de Wuhan, na China, ele passou por uma s�rie de modifica��es e atualiza��es em seu c�digo gen�tico.

Uma das altera��es que mais chamaram a aten��o apareceu recentemente na cidade de Manaus. Essa nova variante detectada na capital amazonense no come�o de janeiro levanta uma s�rie de preocupa��es em grupos de pesquisa e autoridades sanit�rias do mundo inteiro.

A nova cepa, que ganhou o nome de P.1, foi flagrada pela primeira vez no dia 10 de janeiro em quatro indiv�duos que desembarcaram em T�quio, no Jap�o, ap�s uma viagem para o Amazonas.

Alguns dias depois, um estudo que envolveu mais de dez institui��es brasileiras, inglesas e escocesas detectou os primeiros casos da variante na pr�pria cidade de Manaus, que tudo indica ser o local de origem dessas muta��es.

Na noite de ter�a-feira (26/01), o Laborat�rio Estrat�gico do Instituto Adolfo Lutz confirmou os primeiros tr�s casos da linhagem manauara no Estado de S�o Paulo.

Junto com o agravamento da pandemia no pa�s, o achado de uma nova variante por aqui fez com que v�rios pa�ses restringissem ou proibissem voos que t�m como origem ou destino o Brasil.

O �ltimo governo a adotar tal medida foi Portugal, que anunciou a suspens�o do tr�fego a�reo na tarde desta quarta-feira (27/01).

Al�m de Jap�o e Brasil, outros seis pa�ses j� flagraram a P.1 em seus territ�rios: It�lia, Coreia do Sul, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido e as Ilhas Faroe, um arquip�lago europeu localizado entre a Isl�ndia e a Noruega.

No entanto, ainda n�o h� transmiss�o local nesses lugares: pelo que se sabe at� o momento, todos esses casos foram importados do Brasil. Ao que parece, o diagn�stico r�pido barrou o espalhamento da nova cepa por essas na��es.

Mas por que a variante de Manaus preocupa tanto? E o que ela pode significar para o enfrentamento da pandemia?

Avan�o r�pido em Manaus

No dia 12 de janeiro, especialistas do Imperial College London, da Universidade de Oxford, da Universidade de S�o Paulo, da Universidade Federal de Minas Gerais e de outras cinco institui��es publicaram o primeiro alerta sobre a nova variante.

Eles fizeram a an�lise gen�tica de amostras colhidas de 31 pacientes manauaras com covid-19 que foram diagnosticados entre os dias 15 e 23 de dezembro de 2020. Desses, 13 (ou 42% do total) j� apresentavam a P.1.

Na �ltima segunda-feira (25/01), o mesmo grupo publicou uma atualiza��o da pesquisa, em que foram contabilizado um n�mero maior de amostras colhidas do final de dezembro at� o in�cio de janeiro.

Entre os dias 15 e 31 de dezembro, 35 das 67 amostras estudadas eram infec��es causadas pela nova cepa. Isso representava 52% do total.

J� entre os dias 1� e 9 de janeiro, 41 das 48 amostras de casos de covid-19 avaliadas tiveram o P.1 como causador, o que significa 85% do total.

Esse crescimento de 33 pontos percentuais num per�odo de apenas duas semanas � um sinal de alarme, como admitem os respons�veis pela pesquisa:

"A nova an�lise inclui mais dados e sugere que os casos de covid-19 em Manaus est�o sendo causados pela transmiss�o local da linhagem P.1, embora outras linhagens continuem circulando", escrevem.

Em outro trecho, os cientistas pedem cautela com as informa��es dispon�veis at� o momento. "Os resultados devem ser considerados preliminares. Dados mais robustos e representativos s�o necess�rios para investigar com mais detalhes as mudan�as e a frequ�ncia desta linhagem em Manaus e em outros lugares".

Observa��es preocupantes

Durante uma pandemia, � esperado que os v�rus sofram muta��es e se adaptem a novos cen�rios e desafios.

Esse tipo de fen�meno era t�o previs�vel que diversos cientistas espalhados por todo o mundo j� estavam acompanhando as evolu��es e muta��es no v�rus desde que a pandemia come�ou a se alastrar, no primeiro semestre de 2020.

As primeiras variantes do coronav�rus que levantaram maior preocupa��o na comunidade internacional foram detectadas ao longo do m�s de dezembro no Reino Unido e na �frica do Sul.

Os estudos gen�ticos indicavam que essas novas cepas haviam sofrido muta��es nos genes que codificam a esp�cula, uma estrutura que fica na superf�cie do v�rus e permite que ele invada as c�lulas do corpo humano para iniciar a infec��o.

Isso, em tese, tornaria o coronav�rus ainda mais infeccioso - uma vez que ele tem mais facilidade em "invadir" as c�lulas do corpo humano - e permitiria que ele se espalhasse mais entre a popula��o.

Essa maior virul�ncia foi observada na pr�tica em alguns lugares do Reino Unido, por exemplo, onde a curva de novos casos cresceu vertiginosamente de uma hora para outra ao longo dos �ltimos meses de 2020.

O cen�rio preocupante exigiu lockdowns rigorosos em algumas regi�es da Europa e at� fez com que l�deres de alguns pa�ses fechassem o espa�o a�reo e restringissem a entrada de estrangeiros.

"O que nos chama a aten��o � que recentemente aumentou o n�mero de variantes detectadas e algumas delas apresentam muta��es iguais, mas t�m origens geogr�ficas diferentes", contextualiza o virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul.

Mas por que esse fen�meno se tornou mais frequente nos �ltimos meses? "N�s atribu�mos isso ao fato de que, na segunda onda, as medidas de restri��o n�o foram t�o efetivas quanto na primeira. Com isso, o v�rus ganhou muito espa�o para se disseminar e sofrer essas mudan�as", responde o especialista, que tamb�m � coordenador da Rede Corona-�mica, do Minist�rio de Ci�ncia, Tecnologia e Inova��o

Al�m da variante de Manaus, nos �ltimos dias cientistas brasileiros tamb�m flagraram novas cepas do coronav�rus no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Ainda n�o se sabe ao certo o impacto delas no atual est�gio da pandemia.

O que a variante de Manaus tem?

A exemplo do que ocorreu nos exemplos citados acima, os estudos com a linhagem manauara indicaram a presen�a de muta��es com potencial de agravar ainda mais o cen�rio da pandemia.

A primeira delas � a N501Y, que tamb�m aparece nas cepas do Reino Unido e da �frica do Sul. Essa altera��o gen�tica mexe justamente na tal da esp�cula, tornando o v�rus ainda mais infeccioso.

Outras duas muta��es presentes na P.1 s�o a E484K e a K417T. Pelo que se sabe at� o momento, elas "atualizam" o coronav�rus e permitem que ele drible o sistema imune. Isso pode acontecer em indiv�duos que j� tiveram a covid-19 antes.

"Alguns estudos indicam que essas muta��es podem ajudar o v�rus a escapar dos anticorpos neutralizantes, da imunidade natural obtida ap�s a infec��o por outras variantes ou pela vacina��o", explica o virologista Felipe Naveca, do Instituto Le�nidas & Maria Deane (ILMD/FioCruz Amaz�nia), em Manaus.

Essa possibilidade, claro, precisa ser melhor estudada pelos cientistas antes de ser confirmada oficialmente.

N�o se sabe por enquanto se a nova linhagem � mais agressiva ou est� relacionada a quadros mais graves de covid-19.

Mas o fato de ela atingir mais pessoas j� representa um risco de lota��o e at� colapso dos sistemas de sa�de, o que certamente tem impacto na mortalidade.

Reinfec��o confirmada

No dia 17 de janeiro, Naveca e uma equipe de 25 cientistas publicaram um artigo que descreve o primeiro caso de reinfec��o pela nova variante.

Trata-se de uma mulher de 29 anos que reside no Amazonas e teve covid-19 diagnosticada pela primeira vez no dia 16 de mar�o de 2020, quando apresentou febre, tosse, dor de garganta e dores espalhadas pelo corpo.

No dia 19 de dezembro, a mesma paciente voltou a apresentar sintomas sugestivos da infec��o pelo coronav�rus (febre, tosse, dor de garganta, diarreia, perda de olfato). Um teste comprovou que ela estava com a doen�a novamente.

A an�lise gen�tica feita nas amostras colhidas em mar�o e em dezembro revela que o segundo epis�dio foi provocado pela P.1.

"H� outros casos em investiga��o, mas esse foi o primeiro que preenche todos os crit�rios que permitem afirmar que se trata, sim, de uma reinfec��o", aponta Naveca.

Mais infectados?

Apesar de as muta��es detectadas indicarem uma maior virul�ncia, n�o � poss�vel creditar � nova linhagem todo o caos que tomou conta do sistema de sa�de de Manaus nas �ltimas semanas.

"N�o podemos acusar a variante de toda essa mortandade e confus�o. Isso � obra nossa e se deve a uma falha no sistema de conten��o do v�rus e na prepara��o dos hospitais", analisa o m�dico virologista Amilcar Tanuri, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em outras palavras, por mais infeccioso que o v�rus tenha se tornado, as medidas de preven��o, como o uso de m�scaras, o distanciamento f�sico e a lavagem de m�os, continuam efetivas.

Al�m disso, a segunda onda que surgiu na Europa a partir de agosto e setembro de 2020 j� era um indicativo de que as coisas iriam se complicar novamente por aqui tamb�m.

Portanto, se as medidas individuais e coletivas de conten��o da pandemia tivessem sido respeitadas e refor�adas, o estrago poderia ter sido bem menor na capital do Amazonas (e em outras cidades do Brasil inteiro, diga-se).

E as vacinas?

As mudan�as no c�digo gen�tico do coronav�rus tamb�m levantam o temor de que as novas linhagens consigam "escapar" das vacinas que j� est�o sendo aplicadas em muitos pa�ses, inclusive no Brasil.

Afinal, se as novas cepas desenvolveram estrat�gias para fugir dos anticorpos neutralizantes produzidos pelo sistema de defesa, ser� que elas tamb�m diminuem a efic�cia dos imunizantes?

Pelas an�lises feitas at� o momento, esse risco parece ser baixo. Testes feitos com as vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna revelam que as doses s�o capazes de proteger contra as variantes encontradas na �frica do Sul e no Reino Unido, o que certamente � uma boa not�cia.

Especialistas at� especulam que pode acontecer uma diminui��o de efic�cia em algumas vacinas, mas nada que comprometa seu uso em larga escala ou seus efeitos de prote��o coletiva.

Em rela��o � vers�o manauara, ainda n�o h� nenhum estudo que avalie o poderio das vacinas diante dessas muta��es.

Independentemente disso, o aparecimento das novas linhagens refor�a a necessidade de vacinar o maior n�mero de pessoas com muita rapidez.

"Quanto mais gente imunizada, menor a chance das variantes aparecerem ou se espalharem", concorda Tanuri.

Formas de se proteger

Mesmo diante de novas cepas, as orienta��es de preven��o continuam as mesmas.

� importante ficar em casa sempre que poss�vel e, ao sair, preferir ambientes abertos e bem arejados, sempre usar m�scaras e manter uma dist�ncia de 1 a 2 metros de outras pessoas. Lavar as m�os com �gua e sab�o ou �lcool em gel � outra atitude imprescind�vel.

"N�s precisamos frear a evolu��o desse v�rus e s� fazemos isso diminuindo a taxa de transmiss�o entre as pessoas" complementa Naveca.

Do ponto de vista comunit�rio, especialistas defendem que as autoridades em sa�de p�blica tomem medidas para diminuir a circula��o de pessoas e quebrar a cadeia de transmiss�o do v�rus entre cidades ou Estados.

No contexto internacional isso j� est� acontecendo: nas �ltimas semanas, pa�ses como os Estados Unidos, Reino Unido e Portugal adotaram uma s�rie de restri��es a voos vindos do Brasil..

Um relat�rio do Observat�rio Covid-19BR sugere que os governos adotem precau��es com as viagens intermunicipais e interestaduais neste momento:

"De forma preocupante, s�o aeroportos que tamb�m apresentam potencial para espalhar rapidamente novas variantes para outras regi�es. Nesse sentido, recomendamos m�xima aten��o aos Estados receptores de grande n�mero de viajantes da regi�o de Manaus e �s autoridades de vigil�ncia sanit�ria no governo federal".

Em outro trecho, o documento escrito por um coletivo de pesquisadores brasileiros chama a aten��o para as comunidades do interior da Amaz�nia:

"Lembramos tamb�m que h� uma extensa rede de comunica��o fluvial entre as popula��es ribeirinhas ao longo dos rios Negro, Solim�es e Amazonas, que inclui capitais na Col�mbia e no Peru. A aten��o dada aos Estados receptores de viajantes de Manaus se estende, com maior preocupa��o, a essas comunidades, principalmente �quelas de dif�cil acesso".

Com a confirma��o dos primeiros casos da nova linhagem em S�o Paulo, pode parecer um pouco tarde para conter o seu espalhamento pelo pa�s. Mas Spilki afirma que pol�ticas do tipo podem ajudar a controlar o n�mero de novos casos.

"Medidas de restri��o ajudam a quebrar as cadeias de transmiss�o, independentemente da cepa do coronav�rus que estiver em maior circula��o", refor�a o virologista.


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