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Estado de Minas

Covid-19: por que o objetivo do Reino Unido � agora viver com o v�rus em vez de combat�-lo constantemente

Ministros brit�nicos querem transformar a covid-19 em uma doen�a administr�vel como a gripe. Mas ser� que isso � poss�vel?


16/02/2021 18:28 - atualizado 16/02/2021 22:39

(foto: Getty Images)
(foto: Getty Images)

O governo do Reino Unido diz que espera transformar a covid-19 em uma doen�a administr�vel, como a gripe.

 

A vacina��o e os novos tratamentos, argumentam os ministros e seus consultores cient�ficos, v�o reduzir a taxa de mortalidade e nos permitir conviver com o v�rus — em vez de tentar combat�-lo constantemente.

 

Em entrevista recente ao jornal Daily Telegraph, o secret�rio de Sa�de brit�nico, Matt Hancock, afirmou esperar que, at� o final deste ano, seria poss�vel fazer com que a covid-19 se tornasse "uma doen�a trat�vel". Novos tratamentos sendo desenvolvidos e as vacinas sendo administradas representariam, nas palavras do ministro, "nosso caminho rumo � liberdade".

 

Os coment�rios indicaram que Hancock est� descartando a estrat�gia (veja mais abaixo) conhecida como "covid zero", cujo objetivo m�ximo � eliminar o v�rus completamente do territ�rio brit�nico.

 

A ideia foi refor�ada pelo parlamentar David Davis, do Partido Conservador (o mesmo do premi� Boris Johnson), que disse � BBC Radio 4 nesta semana: "Chegar� um ponto em que haver� uma taxa de mortes por covid-19, mas em um n�vel normal, e teremos de lidar com isso".

 

Mas ser� que o plano do governo brit�nico � mesmo poss�vel?

 

Tanto esse plano quanto a estrat�gia "covid zero" dividem especialistas no pa�s.

Erradicar o v�rus � quase imposs�vel

Varrer a covid-19 do mapa seria �timo, � claro, dada a morte e destrui��o que vem causando. Mas o �nico problema disso � que a erradica��o s� foi alcan�ada antes com um �nico v�rus — o da var�ola, em 1980.

 

Demorou d�cadas para se chegar a esse ponto, e cientistas e governos s� foram capazes de fazer isso por causa de um conjunto bastante singular de circunst�ncias. Em primeiro lugar, a vacina era t�o est�vel que n�o precisava ser refrigerada e, quando foi administrada, ficava imediatamente claro se funcionava ou n�o — devido ao surgimento de p�stulas.

 

Tamb�m era claro quando algu�m era infectado — n�o era necess�rio fazer teste de laborat�rio, o que era uma grande vantagem na tentativa de conter os surtos.

 

A covid-19, como bem sabemos, � completamente diferente.

A estrat�gia 'covid zero'

Em contrapartida, o chamado movimento "covid zero" tende a falar sobre elimina��o. Isso basicamente significa reduzir os casos para zero (ou perto de zero) em um territ�rio e mant�-los nesse patamar.

 

Um dos mais not�rios defensores dessa estrat�gia � a professora Devi Sridhar, especialista em sa�de p�blica da Universidade de Edimburgo, na Esc�cia. Ela acredita que devemos tratar a covid-19 como o sarampo, que foi amplamente eliminado nos pa�ses ricos.

 

Ela argumenta que as restri��es cont�nuas para diminuir o n�mero de casos, combinadas com um sistema de teste e vacina��o mais eficaz, podem nos permitir manter o v�rus contido, permitindo que o Reino Unido volte a ter uma "vida dom�stica um tanto normal" com restaurantes, bares, eventos esportivos e musicais acontecendo.

 

Mas o pre�o a pagar, diz ela, seriam as restri��es de fronteira limitando as viagens internacionais e "lockdowns curtos e severos" quando os casos inevitavelmente explodissem.


(foto: EPA)
(foto: EPA)

Deepti Gurdasani, epidemiologista cl�nica da Universidade de Londres, no Reino Unido, � outra defensora dessa estrat�gia. Ela � um dos mais de 4 mil signat�rios da peti��o covid zero, que pede um debate parlamentar sobre a proposta.

 

"A vida pode voltar ao normal — podemos at� abrir corredores de viagens com outros pa�ses que sigam esse caminho", diz ela.

O problema com a abordagem do sarampo

Pode ser uma perspectiva tentadora, mas muitos acreditam que ela est� fora de alcance ou que exigiria restri��es t�o constantes que os custos econ�micos e sociais seriam enormes.

 

"Covid zero n�o � compat�vel com os direitos e liberdades individuais que caracterizam as democracias do p�s-guerra", afirma o professor Francois Balloux, diretor do Instituto de Gen�tica da Universidade College London (UCL), no Reino Unido.

 

Pa�ses como Nova Zel�ndia, Taiwan e Austr�lia conseguiram isso porque foram capazes de evitar que o v�rus se estabelecesse — e todos os sinais s�o de que, uma vez que sua popula��o seja vacinada, eles come�ar�o a suspender as restri��es de fronteira.

 

Mas nenhum pa�s que viu o v�rus se espalhar da maneira como aconteceu no Reino Unido conseguiu reprimi-lo a ponto de elimin�-lo.


(foto: PA Media)
(foto: PA Media)

As vacinas, em teoria, fornecem uma nova ferramenta para nos ajudar a conseguir isso, como fizeram com o sarampo.

 

Mas h� uma falha significativa nesse argumento, observa a professora Jackie Cassell, especialista em sa�de p�blica da Universidade de Brighton, no Reino Unido.

 

O sarampo, segundo ela, � um v�rus "excepcionalmente est�vel". Isso significa que ele n�o muda de maneira que permita escapar do efeito da vacina. Na verdade, a mesma vacina tem sido usada basicamente desde 1960 — e tamb�m fornece imunidade permanente.

 

Mas est� claro que "infelizmente" n�o � o caso desse coronav�rus, acrescenta Cassell.

O desafio � se manter � frente do v�rus

As variantes que surgiram na �frica do Sul e no Brasil permitem, segundo indicam os estudos at� agora, que o v�rus mude para escapar de parte da imunidade gerada pelas vacinas (o que n�o significa que elas percam import�ncia).

 

O v�rus que circula no Reino Unido tamb�m sofreu uma nova muta��o — conhecida como E484 — que permite que isso aconte�a.

 

� medida que mais pessoas s�o vacinadas, isso s� tende a aumentar. Isso porque as muta��es que s�o capazes de contornar a resposta imunol�gica de alguma forma ter�o uma vantagem, diz Adam Kucharski, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, que realizou pesquisas sobre surtos globais, da zika ao ebola.

 

"N�o podemos fugir disso. Podemos muito bem precisar de atualiza��es de vacinas."


(foto: Getty Images)
(foto: Getty Images)

O desafio, portanto, � "ficar � frente do v�rus", diz ele.

 

Mas Kucharski n�o acredita que seja t�o dif�cil quanto talvez pare�a, dada a aten��o da imprensa em rela��o �s novas variantes.

 

Os coronav�rus mudam menos que o v�rus da gripe, segundo ele, o que significa que as vacinas ainda devem permanecer eficazes em grande medida.

 

Al�m disso, o fato de as muta��es estarem compartilhando algumas caracter�sticas-chave nos d� uma boa ideia do caminho que est�o percorrendo.

 

"Se poderia esperar que fosse mais f�cil de atualizar do que no caso da gripe, em que existem muitas cepas diferentes."

 

Ele alerta, no entanto, que deve ser tomado o m�ximo de cuidado no momento, uma vez que uma popula��o que est� desenvolvendo imunidade quando h� muita infec��o por perto oferece o terreno f�rtil ideal para as variantes tentarem escapar dessas vacinas.

 

Ele diz que � muito cedo para dizer se chegaremos ao ponto em que o coronav�rus poder� ser tratado como a gripe, j� que ainda n�o vimos totalmente o impacto que as vacinas v�o ter.

'Reduzir o risco' de covid

Essa cautela � compreens�vel, j� que os cientistas querem primeiro ver as evid�ncias do lan�amento do programa de vacina��o no mundo real. Um grande estudo da Public Health England, ag�ncia governamental de Sa�de P�blica da Inglaterra, est� em andamento para analisar isso — e espera-se que seja publicado antes que as restri��es sejam suspensas.

 

Mas todas as indica��es dos testes cl�nicos e da experi�ncia de Israel, que est� liderando a vacina��o no mundo, � que elas ter�o um impacto significativo na redu��o das infec��es — e onde n�o tiverem, pelo menos ajudar�o a prevenir formas graves da doen�a e as complica��es da chamada "covid longa", assim como mortes.

 

Para aqueles que permanecerem suscet�veis seja porque se recusam a tomar a vacina ou porque a vacina n�o funcionou, os avan�os nos tratamentos ser�o vitais.

 

Isso sugere que podemos chegar ao ponto — nas palavras do principal consultor m�dico-chefe da Inglaterra, Chris Whitty — em que "reduziremos o risco" da covid.

 

Isso n�o significa, por�m, que ningu�m vai morrer.

 

Mesmo a gripe continua sendo uma doen�a capaz de matar em larga escala: em dezembro de 2017, a Organiza��o Mundial da Sa�de estimou que at� 650 mil pessoas morriam por ano no mundo em decorr�ncia de doen�as respirat�rias ligadas � influenza sazonal.

 

"Vivemos ao lado de v�rus h� mil�nios", diz o professor Robert Dingwall, membro do Grupo de Aconselhamento para Amea�as de V�rus Respirat�rios Novos e Emergentes do governo.

 

"Faremos o mesmo com a covid."


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