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Estado de Minas

Marielle Franco: as perguntas sem respostas, tr�s anos ap�s execu��o

Embora os acusados de executar a vereadora do PSOL estejam presos, os mentores do crime n�o foram identificados. A sensa��o de impunidade mina a mobiliza��o em torno do caso, mas amigos e familiares da parlamentar seguem pressionando pela elucida��o completa do caso.


12/03/2021 22:52 - atualizado 12/03/2021 22:52

Marielle Franco foi assassinada há três anos(foto: Câmara do Rio de Janeiro)
Marielle Franco foi assassinada h� tr�s anos (foto: C�mara do Rio de Janeiro)
Mar�o de 2018. Dia ap�s dia, milhares de pessoas ocupam as imedia��es da C�mara dos Vereadores do Rio de Janeiro, em protestos emocionados.

 

A 1 km dali, por volta das 21h30 do dia 14, a carism�tica Marielle Franco, de 38 anos, lideran�a de esquerda e quinta vereadora carioca mais votada em 2016, � executada dentro de seu carro. A emboscada tamb�m tira a vida do motorista Anderson Gomes, de 39 anos.

 

Tr�s anos depois, a pergunta que come�ou a ser feita ainda naquela noite continua a ecoar: quem mandou assassinar Marielle? E por qu�?

 

No Estado do Rio de Janeiro, comemorou-se recentemente o menor �ndice hist�rico de homic�dios dolosos em 30 anos. Foram 3.536 assassinatos em 2020. Um ano antes, 4.004 pessoas foram assassinadas no Estado, negros e pobres, sobretudo.

 

As trag�dias se sobrep�em umas �s outras.

 

Mas Ronnie Lessa, policial militar reformado apontado pelo Minist�rio P�blico como algoz de Marielle e Anderson, e seu c�mplice naquela noite, o tamb�m policial �lcio Queiroz — ambos presos em mar�o de 2019 — n�o cometeram um crime comum.

 

Marielle levantava a voz pelos direitos dos negros, mulheres, moradores de favelas, pessoas LGBTQIA+, a popula��o invisibilizada por uma sociedade que resiste em reconhecer seus preconceitos estruturais.

 

O atentado teve raz�es pol�ticas, afirmaram desde o in�cio as conturbadas investiga��es. Apesar disso, e ainda que muitos tenham denunciado os tiros contra Marielle e Anderson como um ataque � democracia, a cobran�a por respostas parece arrefecer ano a ano, a despeito dos esfor�os da fam�lia, amigos e colegas de partido da vereadora.

 

"Nenhum assassinato sustenta manifesta��es por tr�s anos, e ainda teve a pandemia da covid-19", diz a deputada estadual Renata Souza (PSOL).

 

Souza despontou para a pol�tica com Marielle, no Complexo da Mar�, um dos violentos conjuntos de favelas do Rio, e era assessora da vereadora quando ela foi assassinada.

 

"Existe um apelo popular por respostas concretas, para que os mandantes sejam responsabilizados. Se n�o fosse um crime pol�tico, n�o estar�amos h� tr�s anos assim", afirma a deputada, que se elegeu como uma das herdeiras do legado pol�tico de Marielle.

 

"Marielle encarnava v�rias das vulnerabilidades do corpo 'mat�vel' da nossa sociedade, que � o da mulher preta, pobre, favelada, LGBT. Foi um feminic�dio pol�tico. Um aviso geral: ainda que voc� ultrapasse todas as barreiras, estude, se forme, trabalhe, se torne parlamentar, isso n�o te livra de ser assassinada."


Marielle era vereadora no Rio de Janeiro(foto: Divulgação/Psol)
Marielle era vereadora no Rio de Janeiro (foto: Divulga��o/Psol)

O que apontam as investiga��es

At� hoje, as investiga��es n�o apontaram os mandantes do crime. Jurema Werneck, diretora-executiva da ONG Anistia Internacional no Brasil, acredita que isso contribui para esfriar a mobiliza��o.

 

"A indigna��o n�o diminuiu, mas a impunidade faz muita gente pensar 'n�o tem jeito, aconteceu de novo, o Estado n�o vai cumprir sua obriga��o e h� outras mortes para prantearmos'. Cada um � deixado com a sua dor", lamenta Werneck.

 

O que os investigadores revelaram at� aqui � que Ronnie Lessa, um ex�mio atirador que circulava no submundo dos pistoleiros, e seu compadre �lcio Queiroz, conhecido pela destreza ao dirigir viaturas policiais, deixaram a Barra da Tijuca naquele 14 de mar�o e ficaram de tocaia na Rua dos Inv�lidos, no bairro do Est�cio, na regi�o central do Rio, com o objetivo de tirar a vida de Marielle.

 

O plano come�ou a ser tra�ado meses antes, e os passos dela vinham sendo monitorados. A ideia era abrir fogo com os carros em movimento, e assim foi feito.

 

Anderson, pai de um beb�, fazia bico de motorista para a vereadora havia pouco tempo. Foi atingido por conta do �ngulo de Ronnie ao disparar. Como Marielle, ele morreu na hora.

 

A assessora Fernanda Chaves, ao lado da parlamentar no banco de tr�s do carro,

sobreviveu, e preferiu sair logo do pa�s com a fam�lia, para n�o virar alvo.

 

Ela ajudou a pol�cia a tra�ar a din�mica do crime, o tipo de arma usada pelo bandido (uma submetralhadora, conforme divulgado at� aqui) e o uso de um silenciador acoplado a ela.

 

As suspeitas de quem contratou Ronnie e �lcio j� reca�ram sobre nomes da C�mara dos Vereadores e da Assembleia Legislativa do Estado, mas as investiga��es n�o apontaram a participa��o efetiva de ningu�m al�m dos dois ex-PMs.

 

Jurema Werneck diz que a impunidade no Brasil � seletiva. "N�o � que n�o haja capacidade de se investigar casos dessa natureza, mas determinados crimes as autoridades dizem ser muito complexos. Marielle foi morta no centro de uma das maiores capitais do mundo. A gente vai continuar insistindo, ainda que justi�a que tarda n�o seja justa."


Assassinato de Marielle gerou revolta no país todo(foto: Getty Images)
Assassinato de Marielle gerou revolta no pa�s todo (foto: Getty Images)

Uma nova esperan�a contra a impunidade

O jornalista Chico Ot�vio, autor de Mataram Marielle - Como o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes escancarou o submundo do crime carioca (Intr�nseca, 2020), com a colega do jornal O Globo Vera Ara�jo, lembra os sucessivos trope�os das investiga��es destes homic�dios.

 

"A pol�cia tinha que ter feito um gigantesco acervo de imagens nas primeiras 24 horas do crime e procurado testemunhas no local. E o erro principal foi apostar numa �nica linha de investiga��o durante meses. Teve tamb�m descontinuidade com as trocas (de delegados e promotores)", diz o jornalista.

 

Uma nova esperan�a � a for�a-tarefa rec�m-anunciada pelo Minist�rio P�blico para tratar do caso, com a volta da promotora Simone Sibilio como chefe da equipe. Foi ela a respons�vel por denunciar Ronnie Lessa e �lcio Queiroz � Justi�a como os executores de Marielle e Anderson.

 

O an�ncio de que o delegado Moys�s Santana, da Delegacia de Homic�dios, tamb�m ir� se dedicar exclusivamente a essa investiga��o � outro poss�vel pren�ncio de que os trabalhos v�o voltar a engrenar. Ser� o terceiro delegado respons�vel pelo caso.

 

"Simone dorme e acorda pensando em Marielle", conta Chico Ot�vio. Mas ele acha poss�vel, entretanto, que o mandante n�o seja descoberto jamais.

 

O jornalista diz que a escassez das provas t�cnicas e a fragilidade das que existem � um entrave desde o in�cio — o carro e a arma usados pelos criminosos nunca foram encontrados, por exemplo, e n�o h� imagens do momento da execu��o. A essa altura, seria dif�cil conseguir evid�ncias mais robustas.

 

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), padrinho pol�tico e amigo de Marielle, presidiu em 2008 a CPI das mil�cias, na Assembleia Legislativa do Rio, que terminou com o indiciamento de mais de 200 pessoas. Ele diz crer numa resolu��o do caso.

 

O parlamentar, que at� hoje circula com seguran�as por conta das amea�as sofridas, n�o tem d�vida do envolvimento de milicianos — embora Marielle, que trabalhou em seu gabinete, n�o tenha desempenhado um papel de destaque na CPI nem sofrido intimida��es ap�s ser eleita vereadora.

 

"A fam�lia dela � a minha fam�lia. Eu perdi meu irm�o assassinado, e a dor � equipar�vel. Penso nisso todo dia, me movo por isso. Vou � delegacia toda semana, e vejo chance de chegar aos mandantes. O novo procurador-geral de Justi�a, Luciano Mattos, � uma pessoa comprometida. Mas n�o � simples, foi um crime com um n�vel de sofistica��o que nunca se tinha visto no Rio", afirma Freixo.


A irmã de Marielle Anielle Franco (à esq.) e os pais Marinete e Antonio exigem Justiça(foto: Daniel Ramalho/Getty Images)
A irm� de Marielle Anielle Franco (� esq.) e os pais Marinete e Antonio exigem Justi�a (foto: Daniel Ramalho/Getty Images)

'� inadmiss�vel uma investiga��o t�o lenta', diz m�e de Marielle

N�o desvendar esse crime seria declarar a vit�ria de quem a matou, e o triunfo de um projeto violento de sociedade, avalia Freixo. "� dizer ao crime do Rio que eles podem fazer pol�tica dessa forma, matando as pessoas."

 

� m�e de Marielle, Marinete Silva, resta manter a confian�a de que o dia da elucida��o do crime chegar�.

 

"Os mandantes est�o por a�, achando que est� tudo bem. Os dois presos n�o s�o suficientes para n�s, e nem para a sociedade. Ainda tem muita gente mobilizada, no mundo inteiro", diz ela.

 

Ela v� com bons olhos a confirma��o do j�ri popular de Ronnie e �lcio, ainda n�o marcado (cabe recurso), e a possibilidade de que eles revelem o nome do mandante diante de uma condena��o pesada.

 

A dupla nega participa��o no crime, e seus advogados sustentam que as provas j� apresentadas s�o insuficientes para demonstrar que eles estavam no carro do qual partiram os tiros contra Marielle e Anderson.

 

"S�o tr�s anos bem tristes. � inadmiss�vel ver esses passos t�o lentos depois de tanto tempo daquela barbaridade", desabafa Marinete.


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