
Conhecida como "a pior assassina em s�rie da Austr�lia" em seu julgamento em 2003, Kathleen Folbigg j� passou quase 18 anos na pris�o depois de ser condenada pelo homic�dio culposo de seu primog�nito Caleb e o assassinato de seus tr�s filhos subsequentes, Patrick, Sarah e Laura.
As crian�as morreram uma ap�s a outra, ainda beb�s, ao longo de um per�odo de dez anos.
Folbigg foi acusada de ter sufocado todos eles.
No entanto, evid�ncias cient�ficas t�m dado for�a a outra narrativa: a de que as crian�as morreram todas de causas naturais. E isso pode virar o caso de cabe�a para baixo.
Na semana passada, 90 eminentes cientistas, defensores da ci�ncia e especialistas m�dicos entregaram um abaixo-assinado ao governador do Estado de Nova Gales do Sul, pedindo o perd�o de Folbigg e sua liberta��o imediata.
Entre os signat�rios est�o dois ganhadores do pr�mio Nobel, duas pessoas nomeadas 'Australianos do Ano', o ex-Cientista-Chefe e presidente da Academia Australiana de Ci�ncias, professor John Shine, que comentou: "Dadas as evid�ncias cient�ficas e m�dicas que agora existem em neste caso, assinar esta peti��o era a coisa certa a fazer".
Se Folbigg for libertada e suas condena��es forem de fato anuladas, seu calv�rio ser� visto como o pior erro judicial da hist�ria australiana.
Ser� ainda pior do que o famoso caso da neozelandesa Lindy Chamberlain, que cumpriu tr�s anos de pris�o na Austr�lia depois de ser injustamente condenada pelo assassinato de seu beb�, Azaria (hist�ria que foi transformada em 1988 no filme Um Grito no Escuro, com a atriz Meryl Streep no papel de Chamberlain).

O abaixo-assinado denuncia um preocupante abismo, neste caso, entre a ci�ncia e o direito.
Ao longo de v�rios recursos e uma investiga��o detalhada, que reexaminou as condena��es de Folbigg em 2019, os ju�zes australianos rejeitaram categoricamente a no��o de d�vida razo�vel em seu caso, dando mais peso �s evid�ncias circunstanciais apresentadas em seu julgamento e �s amb�guas anota��es escritas em seu di�rio, nas quais ela falava sobre as crian�as e como se sentia diante da aus�ncia delas.
"A �nica conclus�o razo�vel continua sendo que algu�m prejudicou intencionalmente as crian�as, e o m�todo �bvio era sufoc�-las", disse Reginald Blanch, um ex-juiz que liderou a investiga��o.
"As evid�ncias n�o apontavam para ningu�m al�m de Folbigg", observou ele.
O governo de Nova Gales do Sul disse ao p�blico, h� dois anos, que "nenhuma pedra foi deixada sobre pedra".
Mas a ci�ncia aponta cada vez mais para d�vidas razo�veis sobre as mortes.
"A ci�ncia, neste caso, � convincente e n�o pode ser ignorada", disse o professor Jozef Gecz, pesquisador e geneticista humano.
Por sua vez, a professora Fiona Stanley, pesquisadora infantil e de sa�de p�blica, disse: "� profundamente perturbador que as evid�ncias m�dicas e cient�ficas tenham sido ignoradas em favor das evid�ncias circunstanciais".
"Agora temos uma explica��o alternativa para as mortes das crian�as Folbigg."
Descoberta cient�fica
Essa explica��o alternativa est� na recente descoberta de uma muta��o gen�tica em Kathleen Folbigg e suas duas filhas mortas que os cientistas dizem ser "provavelmente patog�nica" e que, acreditam eles, teria causado a morte das duas meninas, Sarah e Laura.
Uma muta��o gen�tica diferente foi descoberta nos dois meninos, Caleb e Patrick, embora os cientistas reconhe�am que mais pesquisas s�o necess�rias aqui.
A descoberta inicial do gene mutante das duas meninas, CALM2 G114R, foi feita em 2019 por uma equipe liderada por Carola Vinuesa, professora de imunologia e medicina gen�mica da Universidade Nacional Australiana, e forte defensora da peti��o para libertar Folbigg.
"Encontramos uma nova muta��o, nunca antes relatada em Sarah e Laura, que foi herdada de Kathleen", disse Vinuesa � BBC.
"A variante estava em um gene chamado CALM2 (que codifica a calmodulina). As variantes da calmodulina podem causar morte card�aca s�bita."
Em novembro do ano passado, cientistas da Austr�lia, Dinamarca, Fran�a, It�lia, Canad� e Estados Unidos relataram as novas descobertas na prestigiosa revista cient�fica Europace, publicada pela Sociedade Europeia de Cardiologia.

A equipe na Dinamarca, liderada pelo professor Michael Toft Overgaard, da Universidade Aalborg, conduziu experimentos projetados para testar a patogenicidade da variante CALM2.
Eles constataram que os efeitos da muta��o de Folbigg eram t�o graves quanto os de outras variantes CALM conhecidas, que costumam causar parada card�aca e morte s�bita, mesmo em crian�as pequenas enquanto dormem.
Os cientistas afirmaram: "Consideramos que a variante provavelmente precipitou a morte natural das duas meninas."
Ambas as meninas sofreram infec��es antes de morrer, e os cientistas sugeriram que "suas infec��es intercorrentes podem ter desencadeado um evento arr�tmico fatal."
Eles tamb�m relataram que Caleb e Patrick carregavam duas variantes raras do gene BSN, que pode causar epilepsia fatal em camundongos.
As recentes descobertas gen�ticas baseiam-se nas opini�es de especialistas m�dicos anteriores, apoiando a teoria de que todas as quatro crian�as morreram de causas naturais.
Stephen Cordner, um patologista forense baseado em Melbourne, reexaminou as aut�psias das crian�as em 2015 e concluiu que: "N�o h� suporte patol�gico forense positivo para a alega��o de que qualquer uma ou todas essas crian�as foram assassinadas."
"N�o h� sinais de asfixia", acrescentou.
Tr�s anos depois, em 2018, o patologista forense Matthew Orde, professor cl�nico adjunto da Universidade da Col�mbia Brit�nica, no Canad�, disse � emissora p�blica australiana ABC: "Em ess�ncia, concordo com o professor Cordner que essas quatro mortes infantis podem ser explicadas por causas naturais" .
Folbigg sempre alegou ser inocente.
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