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Vacina contra a Covid-19: Pr�-ivermectina, empres�rio que produz Sputnik V no Brasil critica Anvisa e diz que Bolsonaro n�o nega ci�ncia

Ex-candidato, Fernando Marques diz que quer quebrar monop�lio da Fiocruz e do Butantan, mas esbarra em 'interesses pol�ticos e econ�micos'; Anvisa diz que n�o recebeu informa��es b�sicas para an�lise


26/03/2021 12:13

Enquanto empresário acusa agência de ver 'pelo em ovo', Anvisa diz que ainda faltam dados para que possa analisar pedido de uso emergencial de vacina russa(foto: Reuters)
Enquanto empres�rio acusa ag�ncia de ver 'pelo em ovo', Anvisa diz que ainda faltam dados para que possa analisar pedido de uso emergencial de vacina russa (foto: Reuters)

O empres�rio Fernando Marques diz que est� indignado. Ele � dono e presidente da Uni�o Qu�mica, farmac�utica brasileira que fechou um acordo com o governo russo para fabricar e distribuir a vacina Sputnik V no Brasil e na Am�rica Latina.

Contrariado com as exig�ncias feitas pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), que ap�s mais de dois meses depois da Uni�o Qu�mica fazer o pedido de uso emergencial da vacina russa diz que a empresa ainda n�o forneceu todos os dados necess�rios e que, sem isso, n�o pode sequer come�ar a analisar o caso, o empres�rio decidiu cancelar a primeira solicita��o e dar entrada em um novo pedido de uso emergencial na sexta-feira (26/4).

Sua aposta � que a ag�ncia agora ter� que analisar seu pedido conforme determina uma nova lei aprovada no in�cio do m�s pelo Congresso, que prev� um parecer da Anvisa em at� sete dias para um pedido de uso emergencial de um imunizante que tenha sido aprovado por ag�ncias reguladoras renomadas, entre elas a da R�ssia.

"Pelo menos, agora tem a lei e a gente espera que ela seja cumprida", diz Fernando Marques em entrevista � BBC News Brasil.

A Uni�o Qu�mica fez em janeiro um pedido � Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) para a ag�ncia liberar o uso emergencial dessa vacina estudos feitos na R�ssia apontaram que ela tem uma efic�cia de 91,6%.

A ag�ncia diz que, depois de mais de dois meses, a empresa ainda n�o forneceu todas as informa��es b�sicas que ela precisa para come�ar a analisar o caso.

A Sputnik j� foi aprovada por 56 pa�ses, e mais de 80 milh�es de doses j� foram compradas pelo governo federal e por Estados e cidades brasileiros, mas elas s� poder�o ser aplicadas quando e se a Anvisa autorizar.

O impasse continuou depois de uma reuni�o na ter�a-feira (23/3), a mais recente de uma s�rie de encontros entre a Anvisa e a Uni�o Qu�mica.

"Voc� j� ouviu falar em p�lo no ovo? P�lo no ovo", diz Fernando Marques em entrevista � BBC News Brasil.

A empresa come�ou a produ��o da vacina no pa�s, em projeto piloto, e diz que poder� produzir 8 milh�es de doses por m�s ap�s o aval da ag�ncia.

O empres�rio trabalha h� quase 50 anos no mercado farmac�utico, � frente do neg�cio da fam�lia, e tentou se lan�ar na pol�tica nas �ltimas elei��es, quando foi o candidato mais rico no pa�s inteiro.

O empresário diz que quer quebrar o 'monopólio' da Fiocruz e do Butantan na produção de vacinas(foto: Reuters)
O empres�rio diz que quer quebrar o 'monop�lio' da Fiocruz e do Butantan na produ��o de vacinas (foto: Reuters)

'Brincadeira de vacina?'

Marques nega que sua empresa tenha alguma dificuldade para atender �s exig�ncias da Anvisa.

"Estamos informando e nunca paramos de informar. Nossa empresa est� h� 85 anos no mercado. N�o estamos brincando, porra. Brincadeira de vacina? Isso n�o existe! Isso n�o � brincadeira, � coisa muito s�ria."

Ele afirma que a Sputnik ainda n�o foi aprovada porque a Anvisa se at�m a pontos que ele considera menos importantes e d� um exemplo hipot�tico:

"S�o coisas absurdas. 'Segundo o FDA [Food and Drug Administration, ag�ncia equivalente � Anvisa nos Estados Unidos], na fase 2 (da pesquisa), tem que usar o ratinho branco e os russos s� usam um outro tipo de rato'. O que importa a cor do gato? O que importa � que gato mata o rato. � uma loucura isso"

N�o � o que alega a Anvisa.

At� a semana passada, a ag�ncia ainda cobrava da empresa informa��es como dados de seguran�a e efic�cia, relat�rios de an�lises, texto da bula da vacina, avalia��es e planos de gerenciamento de riscos, entre outros pontos.

A ag�ncia disse depois da �ltima reuni�o que ainda faltam informa��es sobre a "caracteriza��o, produ��o e controle de qualidade da vacina" e que ainda n�o recebeu os dados brutos da pesquisa, "como � usual na avalia��o de vacinas e medicamentos".

Marques acredita que a ag�ncia deveria ter outra postura frente � gravidade do surto de covid-19, que j� matou mais de 300 mil pessoas no Brasil e levou o pa�s a seu "maior colapso sanit�rio e hospitalar da hist�ria".

"O que � mais importante? Combater a pandemia? Ou se prender em algumas coisas burocr�ticas? Quando tiver coisas que podem ser mais importantes, deixa que passe. A Anvisa tem que ter rigor, mas desconhecer o que est� acontecendo no mundo e onde est� entrando a Sputnik?"

'N�o acho que Bolsonaro negue a Ci�ncia'

Fernando Marques, de 66 anos, assumiu o comando da Uni�o ainda muito novo, em 1979 a empresa tinha sido comprada pelo seu pai uma d�cada antes.

Ele tentou se lan�ar na pol�tica h� tr�s anos, quando se candidatou a senador no Distrito Federal pelo partido Solidariedade - cujo fundador e presidente � Paulinho da For�a, denunciado por corrup��o e lavagem de dinheiro em caso que corre no Supremo Tribunal Federal.

Marques foi o candidato mais rico das �ltimas elei��es, com um patrim�nio declarado de R$ 688 milh�es. Passou longe de se eleger.

Na �poca, ele apoiou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o "melhor candidato para governar o pa�s", como ele disse em entrevista.

Bolsonaro j� era conhecido por se colocar contra fatos cient�ficos comprovados naquela �poca, ele questionava as evid�ncias das mudan�as clim�ticas.

Desde ent�o, o presidente � criticado por negar a gravidade da pandemia, indicar o uso de medicamentos sem efic�cia comprovada e questionar a seguran�a das vacinas.

A ci�ncia � justamente a �rea em que Marques trabalha, mas o empres�rio diz que a postura do presidente n�o o incomodou. "N�o acho que ele negue a ci�ncia", opina Marques.

Vacina russa já foi aprovada em 56 países - dono de farmacêutica aponta entraves políticos e econômicos no Brasil(foto: Reuters)
Vacina russa j� foi aprovada em 56 pa�ses - dono de farmac�utica aponta entraves pol�ticos e econ�micos no Brasil (foto: Reuters)

"Se voc� pesquisar, na �frica, onde a popula��o toma ivermectina, tem pa�s que n�o tem caso de covid. N�o foi feito (estudo cl�nico), mas o que � que tem. Resolve? Passa? Ningu�m vai morrer porque tomou ivermectina."

De acordo com o Centro de Controle e Preven��o de Doen�as da �frica, todos os pa�ses da �frica j� registraram casos de covid-19.

E, embora n�o haja estudos conclusivos sobre se a ivermectina deve ou n�o ser usada para covid-19, os m�dicos alertam que o uso indevido de medicamentos causa problemas graves de sa�de e pode matar.

"A invermectina � uma droga que tamb�m penetra no c�rebro quando ele est� inflamado, e ela deprime mais ainda o c�rebro e piora a qualidade do despertar de um paciente intubado. Essa tem sido uma intercorr�ncia frequente nos pacientes que usaram esse rem�dio antes chegar � UTI", afirmou recentemente � BBC News Brasil o m�dico intensivista Ederlon Rezende.

"Ent�o, tem dessas coisas", continua Marques. "Eu n�o sei falar se isso � bom ou se isso � ruim, cada um age da sua forma. Eu n�o tenho nada a ver com o Bolsonaro."

O empres�rio conta que conheceu o presidente em um evento e que esteve em cerim�nias de posse no Pal�cio do Planalto porque foi convidado pelos ministros que estavam assumindo.

Marques tamb�m foi um dos empres�rios que fizeram parte da comitiva de Bolsonaro � China no ano passado. Ele explica que foi at� l� para tentar abrir novos mercados para o mesmo produto que estimula a lacta��o de vacas que ele tentava vender para os russos.

"N�o tenho relacionamento nenhum com o presidente da Rep�blica", refor�a.

"� engra�ado que primeiro a imprensa disse que a Sputnik era a vacina do Bolsonaro. A� agora com os governadores do Norte e do Nordeste correndo atr�s da Sputnik virou a vacina do Lula. � vacina do povo, gente, pelo amor de Deus. N�o � vacina de um nem de outro. Tem que acabar com esse neg�cio."

'Monop�lio da Fiocruz e do Butantan'

A farmacêutica assinou um acordo para produzir milhões de doses da Sputnik V no Brasil(foto: Reuters)
A farmac�utica assinou um acordo para produzir milh�es de doses da Sputnik V no Brasil (foto: Reuters)

A vacina russa foi a primeira a ser aprovada por uma ag�ncia reguladora, a da pr�pria R�ssia, em agosto do ano passado, mesmo antes dos estudos sobre sua efic�cia serem conclu�dos.

Isso, junto com a falta de transpar�ncia do governo de Vladimir Putin com os dados da pesquisa, fizeram muita gente desconfiar se a Sputnik V funcionava mesmo.

Mas testes publicados em uma das revistas cient�ficas mais respeitadas mostraram que ela � segura e protege contra a covid-19.

No Brasil, a libera��o est� travada na Anvisa. A ag�ncia devolveu o pedido de uso emergencial da Uni�o Qu�mica logo de cara, ainda em janeiro. A ag�ncia diz que existem pend�ncias at� hoje.

Fernando Marques afirma que interesses pol�ticos e econ�micos ligados �s vacinas no Brasil t�m dificultado a aprova��o da Sputnik V.

"L� na Argentina (a Sputnik) entrou. M�xico, agora, entrou. A Angela Merkel pediu a transfer�ncia de tecnologia. A It�lia tamb�m pediu. E aqui n�o deixam entrar."

O empres�rio questiona por que s� existem duas f�bricas de vacinas para pessoas em funcionamento no Brasil, o Instituto Butantan e a Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz). Como mostrou uma reportagem da BBC News Brasil, o pa�s tem 30 f�bricas de vacinas para gado e apenas duas para humanos.

"Isso � um monop�lio que existe h� 70 anos. E o que eu estou fazendo? Quebrando o monop�lio. Mas existe uma defesa de mercado. Est� dif�cil entrar, estou tomando pancada."

A consequ�ncia desse monop�lio, diz Marques, � a "falta de vacina gente morrendo".

Um bom neg�cio

A Uni�o Qu�mica n�o estava envolvida quando se come�ou a falar da Sputnik V no Brasil. Foi o governo do Paran� que anunciou primeiro que estava negociando uma parceria com o Instituto Galameya e o Fundo Soberano Russo, respons�veis pela vacina.

Mas a farmac�utica paulista foi quem fechou um acordo para fabricar a vacina no Brasil e distribu�-la aqui e no resto da Am�rica Latina.

Marques diz que a oportunidade surgiu porque ele j� negociava com o governo russo a venda de uma subst�ncia que estimula a produ��o de leite em vacas quando a pandemia come�ou. "Foi uma coincid�ncia."

O acordo prev� a transfer�ncia da tecnologia para a empresa brasileira, que ainda n�o tem experi�ncia na �rea de vacinas.

N�o est� previsto o pagamento de royalties, explica Marques: "A R�ssia n�o tem empresas farmac�uticas com filiais pelo mundo para ganhar dinheiro vendendo rem�dio. Ceder a tecnologia da Sputnik para o mundo � um ato humanit�rio".

Com a perspectiva de fornecer milh�es de doses, � a Sputnik V � uma grande oportunidade de neg�cio para a Uni�o Qu�mica, que faturou R$ 2,7 bilh�es no ano passado isso � cerca de metade da receita da maior empresa nacional do setor, a EMS.

"'Ah, voc� quer ganhar dinheiro'. 'Ah, voc� vai abrir capital', 'Ah, quanto vai valer a sua empresa?'. Isso n�o me interessa, n�o me falta nada, eu sou um cara bem sucedido", afirma Marques.

"Eu podia estar curtindo em um iate, passeando, mas estou trabalhando. Eu estava em Moscou, 17 graus abaixo de zero, tratando de buscar tecnologia para produzir vacina e parece que estou fazendo um ato criminoso. Eu quero. Ajudar. A salvar. Vidas."

�udio para o 'presidente'

Marques diz que não tem relacionamento pessoal com o presidente Jair Bolsonaro(foto: Reuters)
Marques diz que n�o tem relacionamento pessoal com o presidente Jair Bolsonaro (foto: Reuters)

Tamb�m n�o foi para Bolsonaro que ele mandou uma mensagem de �udio que circulou h� alguns dias pelo WhastApp.

Marques come�a a mensagem se apresentando para o "presidente" e depois denuncia que sua empresa est� sendo prejudicada porque "eles querem manter a coisa com a Fiocruz e com o Instituto Butant�".

"Butant� na m�o do Doria e Fiocruz na m�o do PT, PCdoB. E, porra, n�o tem vacina, o povo t� morrendo", disse ele na mensagem.

O empres�rio falou ainda que sentiu-se "humilhado" pela forma como o presidente da Anvisa, Ant�nio Barra, o tratou. Barra negou ter destratado o dono da Uni�o Qu�mica.

A farmac�utica depois divulgou uma nota para esclarecer que tudo n�o passou de um "desabafo emocionado" do seu dono, que fica desesperado por ver tantas mortes por covid-19 e ainda n�o poder ajudar com a imuniza��o.

Tamb�m esclareceu que o "presidente" ao qual Marques se referia era Luciano Hang, presidente da rede de varejo Havan aliado de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro disse recentemente a apoiadores que "outra empresa, grande, conhecida, tem 20 milh�es de doses para vender e n�o consegue. Da� um cara falou comigo. Falei: n�o posso interferir. N�o posso, n�o. N�o vou interferir na Anvisa".

O dono da Uni�o Qu�mica diz que o presidente estava falando de outra empresa. "Est�o misturando as bolas. Querem sujar a �gua para a Sputnik. Isso a� n�o tem nada a ver. Eu perdi 10 milh�es de doses no primeiro semestre, eu tenho que resolver isso, sen�o eu vou perder os 10 milh�es do segundo semestre."

Um documento do Departamento de Sa�de dos Estados Unidos revelou que o governo americano, sob a Presid�ncia de Donald Trump, pressionou o governo brasileiro para rejeitar a compra da Sputnik V. O governo federal anunciou a compra da Sputnik no final de janeiro, depois da posse de Joe Biden. Estados e cidades fecharam seus pr�prios acordos desde ent�o.

"Esta parte diplom�tica eu n�o consigo avaliar", diz Marques. "Mas por a� voc� qual � o n�vel dos interesses comerciais por tr�s disso."

Novo pedido emergencial

Marques tamb�m nega que sua empresa fa�a lobby no Congresso para tentar influenciar o Congresso para facilitar a aprova��o da Sputnik.

"Isso � mentira", diz o empres�rio. "O senhor Rog�rio Rosso (ex-deputado federal pelo PSD e atual diretor de neg�cios internacionais da Uni�o Qu�mica) � um puta executivo, um cara preparad�ssimo. Eu n�o fui no Senado, n�o visitei deputado. Quem est� fazendo lobby � que quer matar as pessoas, quem briga contra a vacina de covid, s�o os genocidas."

Foi aprovada no in�cio de mar�o uma lei que facilitou a libera��o da Sputnik no Brasil. "Sem um voto contra", ressalta o dono da Uni�o Qu�mica.

At� ent�o, o pedido de uso emergencial de um imunizante s� poderia ser feito se ele tivesse sido aprovado pelas ag�ncias dos Estados Unidos, Jap�o, Uni�o Europeia e China. A nova legisla��o incluiu a ag�ncia russa, al�m das ag�ncias de v�rios outros pa�ses, como Coreia e Canad�, nessa lista.

A nova lei, que chegou na primeira semana de janeiro ao Congresso como uma medida provis�ria elaborada pelo governo Bolsonaro, tamb�m estabelece que a Anvisa tem sete dias para analisar um pedido de uso emergencial.

Fernando Marques espera que, com o novo pedido emergencial, consiga ter um parecer da Anvisa sobre a Sputnik V.

"Agora eles t�m sete dias para analisar. E recusar, porque eu s� usei ratinho amarelo e n�o camundongo branco como determina o FDA. Devolve. Fala isso."

A Anvisa informou que est� analisando os documentos entregues para confirmar que tudo que � necess�rio foi enviado pela empresa. Caso faltem dados, a ag�ncia disse que as solicitar� ao laborat�rio, como ocorreu com o primeiro pedido.


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