(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Butanvac: vacina � �tima not�cia, mas prazo anunciado � dif�cil de cumprir, dizem cientistas

Imunizante anunciado pelo Instituto Butantan pode aumentar a autonomia brasileira no combate � covid-19, mas falta de informa��es e dados preocupa especialistas.


26/03/2021 19:47

De acordo com as informações disponíveis, a Butanvac é uma vacina feita a partir de um vírus que causa a doença de Newcastle em aves(foto: Getty Images)
De acordo com as informa��es dispon�veis, a Butanvac � uma vacina feita a partir de um v�rus que causa a doen�a de Newcastle em aves (foto: Getty Images)

A not�cia de que a primeira vacina contra a covid-19 100% brasileira vai come�ar os testes cl�nicos pegou todo mundo de surpresa e at� cientistas que trabalham diretamente com o assunto n�o estavam sabendo da novidade.

A Butanvac, anunciada pelo Governo do Estado de S�o Paulo e pelo Instituto Butantan numa coletiva de imprensa realizada na manh� desta sexta-feira (26/3), depende do aval da Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) para iniciar os estudos com seres humanos ainda no m�s de abril.

A conquista foi muito comemorada pelo governador paulista, Jo�o Doria, e pelo diretor do Butantan, Dimas Covas.

"Este � um an�ncio hist�rico para o Brasil e para o mundo. A Butanvac � a primeira vacina 100% nacional, integralmente desenvolvida e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, que � um orgulho do Brasil", disse Doria.

O governador tamb�m projetou que haveria condi��es para disponibilizar "40 milh�es de doses, se poss�vel, em julho".

Apesar do desenvolvimento de uma vacina significar um avan�o important�ssimo para a ci�ncia brasileira, pesquisadores independentes entrevistados pela BBC News Brasil levantaram quest�es sobre as promessas feitas e transpar�ncia das informa��es apresentadas at� o momento, como voc� confere a seguir.

Tradi��o de d�cadas

De acordo com os detalhes compartilhados durante o evento, a Butanvac � uma vacina feita a partir de um v�rus que causa a doen�a de Newcastle em aves.

Esse agente infeccioso n�o provoca nenhum mal no organismo humano.

No laborat�rio, o v�rus da doen�a de Newscastle passou por um processo de engenharia gen�tica para receber a prote�na S do coronav�rus a letra "S" vem de spike, ou esp�cula em portugu�s, que � a parte da estrutura viral que se encaixa nos receptores da superf�cie das c�lulas humanas para iniciar uma infec��o.

O v�rus ent�o � multiplicado em ovos e � purificado e inativado antes de ir para as vacinas. Esse processo � relativamente barato e f�cil de ser feito.

A ideia � que, a partir da imuniza��o, o sistema de defesa do nosso corpo reconhe�a essa prote�na S t�pica do coronav�rus e gere uma resposta capaz de nos proteger de uma infec��o de verdade.

"Este � um an�ncio hist�rico para o Brasil e para o mundo. A Butanvac � a primeira vacina 100% nacional, integralmente desenvolvida e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, que � um orgulho do Brasil", disse Doria (foto: Getty Images)

"Essa � uma plataforma tecnol�gica muito segura e com a qual o Brasil tem muita experi�ncia", avalia o imunologista Carlos Z�rate-Blad�s, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina.

O mesmo recurso � usado em outros imunizantes nos quais o Brasil tem um bom hist�rico de produ��o e � auto-suficiente (ou seja, n�o precisa de insumos estrangeiros).

O caso mais not�rio � a vacina contra a gripe: o Butantan usa essa mesma metodologia e entrega, todos os anos, mais de 100 milh�es de doses ao Plano Nacional de Imuniza��es do Minist�rio da Sa�de.

Prazo apertado

A larga experi�ncia nacional pode acelerar a produ��o da Butanvac, mas, antes que isso ocorra, � necess�rio que o candidato � imunizante passe pelos testes cl�nicos para garantir a seguran�a e a efic�cia.

Geralmente, esses estudos s�o divididos nas fases um, dois e tr�s, e cada uma delas tem objetivos diferentes.

"Nas fases um e dois, n�s avaliamos se a vacina � tolerada, qual a melhor dosagem para obter uma boa resposta no organismo, se ela � segura e se realmente tem efeito no corpo humano", explica o imunologista Gustavo Cabral, pesquisador da Universidade de S�o Paulo e da Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado de S�o Paulo (Fapesp).

J� a fase tr�s, o �ltimo passo antes da submiss�o dos dados para aprova��o pelas ag�ncias regulat�rias, envolve dezenas de milhares de volunt�rios e tem a meta de definir a efic�cia daquele produto em prevenir a doen�a (ou pelo menos as suas formas mais graves).

Para serem iniciadas, as pesquisas com a Butanvac ainda precisam receber o aval da Anvisa representantes do governo estadual e do Butantan dizem estar "dialogando intensamente" com a ag�ncia para que isso aconte�a o mais r�pido poss�vel.

Por�m, mesmo com o prov�vel in�cio dos testes cl�nicos em abril, como desejam os gestores paulistas, � praticamente imposs�vel finalizar todas as etapas at� julho de 2021.

"At� seria fact�vel realizar as fases um e dois em conjunto, como outras vacinas contra a covid-19 fizeram", observa Cabral.

Mas esse primeiro trabalho, mesmo que abreviado, demoraria cerca de dois ou tr�s meses para ser conclu�do.

Na sequ�ncia, viriam os testes de fase 3 que, como j� dito, envolvem centenas de pesquisadores e dezenas de milhares de participantes.

Mesmo com muito investimento financeiro e esfor�o, essa etapa demanda mais alguns meses at� que os resultados preliminares de efic�cia estejam dispon�veis.

E, cumprido todo esse rito cient�fico, � necess�rio obter uma taxa de efic�cia minimamente boa para pedir a aprova��o da Anvisa e poder come�ar a distribui��o das doses da Buntanvac para a campanha de imuniza��o contra a covid-19.

Na mais otimista das hip�teses, essa maratona s� seria finalizada mesmo perto do final de 2021, e n�o no meio do ano, como prometido por D�ria.

Onde est�o os dados?

Outro ponto que chamou a aten��o dos especialistas foi a falta de informa��es e detalhes t�cnicos sobre a Butanvac.

"Mais que o an�ncio em si, precisamos conhecer a parte cient�fica do imunizante, com os dados publicados para que a gente possa avaliar e comentar com propriedade", diz a imunologista Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ci�ncias da Sa�de de Porto Alegre.

E a falta de transpar�ncia na divulga��o n�o � s� um problema brasileiro: a corrida para obter rapidamente imunizantes contra a covid-19 fez com que muitas farmac�uticas e centros de pesquisa adotassem a chamada "ci�ncia de press release".

Em resumo, os dados de efic�cia e seguran�a de muitas vacinas foram apresentados primeiro para a imprensa, por meio de notas e coletivas, antes de serem revisados e publicados em peri�dicos cient�ficos, onde as informa��es podem ser analisadas, criticadas e reproduzidas por outros especialistas.

Butanvac daria mais autonomia e independência ao Brasil(foto: Getty Images)
Butanvac daria mais autonomia e independ�ncia ao Brasil (foto: Getty Images)

Com isso, a ci�ncia perde um de seus mais importantes lastros: a total transpar�ncia sobre a confiabilidade daqueles novos achados.

E isso � algo que est� acontecendo com a Butanvac neste momento: pelo que foi informado na entrevista coletiva feita nesta sexta-feira, os estudos pr�-cl�nicos (feitos com amostras de c�lulas e cobaias de laborat�rio) tiveram bons resultados.

Mas, como eles n�o foram registrados em nenhum espa�o p�blico e de acesso f�cil, os especialistas independentes, que n�o est�o envolvidos diretamente na pesquisa, n�o t�m como contribuir por meio de cr�ticas, coment�rios e questionamentos.

"Pela pr�pria credibilidade do Butantan, � importante que eles mostrem os dados e expliquem o que � essa vacina", completa Bonorino, que tamb�m � consultora da Sociedade Brasileira de Imunologia.

A BBC News Brasil tentou contato com o Instituto Butantan, mas at� o fechamento desta reportagem n�o obteve retorno.

Avan�o hist�rico

Apesar de todas as falhas e das informa��es desencontradas, a Butanvac � encarada como um feito hist�rico para o Brasil.

"Ela foi uma �tima not�cia, at� porque o pa�s tem uma vasta experi�ncia e profissionais muito capacitados na �rea de imunologia e vacinologia", destaca Z�rate-Blad�s.

Dos pa�ses que comp�em o Brics, at� o momento o Brasil e a �frica do Sul eram as �nicas na��es que n�o possu�am um imunizante em testes cl�nicos (ou j� aprovado) para chamar de seu: Sputnik V (R�ssia), CoronaVac (China) e Covaxin (�ndia) s�o usados em larga escala em mais de um continente.

Do ponto de vista do enfrentamento da pandemia, um imunizante 100% brasileiro tamb�m representa uma vantagem competitiva.

"Nosso problema atualmente � a falta de doses. Portanto, quanto mais op��es de vacinas tivermos, melhor. � claro que n�o podemos ficar parados e esperar at� a Butanvac estar dispon�vel, mas ela pode ser uma pe�a fundamental no futuro", raciocina Cabral.

Por fim, a possibilidade de uma fabrica��o nacional, sem necessidade de importar insumos da �ndia e da China, d� mais previsibilidade �s campanhas de imuniza��o.

"Esse � um fator muito importante para n�o dependermos sempre dos outros pa�ses", atesta Bonorino.

Mas, segundo a especialista, uma independ�ncia completa s� vir� quando o Brasil priorizar �reas como educa��o, ci�ncia e tecnologia

"A experi�ncia atual nos mostra a necessidade de o Brasil investir em pessoal, equipamentos e pesquisas para diversificar suas plataformas de produ��o de vacinas", completa.


J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)