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Estado de Minas

Fam�lias de 33 crian�as vacinadas contra covid-19 por engano em SP vivem tens�o: 'erro grave'

Situa��o causou ang�stia em pais, porque n�o ainda n�o h� indica��o para que crian�as sejam imunizados contra o novo coronav�rus.


23/04/2021 19:28 - atualizado 23/04/2021 19:42

Jéssica e o filho caçula, de um ano e dez meses: mãe relata preocupação desde que soube que garoto foi vacinado contra a covid-19(foto: Elora Zagotti)
J�ssica e o filho ca�ula, de um ano e dez meses: m�e relata preocupa��o desde que soube que garoto foi vacinado contra a covid-19 (foto: Elora Zagotti)

H� uma semana, J�ssica Conduta, de 29 anos, e o marido t�m tido noites insones. Eles vivem um per�odo de grande preocupa��o com a sa�de do filho ca�ula.

 

"A gente n�o tem dormido. Quando n�o sou eu, � o meu marido que fica cuidando dele, zelando e aferindo a temperatura para ver se ele est� com febre", diz a m�e � BBC News Brasil.

 

 

O temor constante em rela��o ao filho, de um ano e dez meses, � justificado por um epis�dio que aconteceu no in�cio da semana passada. O garoto, assim como outras 27 crian�as, foi vacinado indevidamente contra a covid-19 em Itirapina, no interior de S�o Paulo, em 13 de abril.

 

As crian�as deveriam ser vacinadas contra a gripe, mas receberam uma dose da CoronaVac, imunizante contra a covid-19 que at� o momento n�o deve ser aplicado em menores de 18 anos. Na cidade, tamb�m foram vacinados erroneamente 18 adultos, entre eles duas gestantes.

Um dia ap�s o erro em Itirapina, situa��o semelhante foi registrada em outra cidade de S�o Paulo. Em Diadema, cinco crian�as foram vacinadas indevidamente com a CoronaVac.

 

Ap�s as imuniza��es erradas, o Instituto Butantan, que produz a CoronaVac no Brasil, informou que n�o h�, at� o momento, conclus�es cient�ficas de seguran�a ou efic�cia da vacina em crian�as ou em gestantes.

 

Para especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, os imunizantes n�o devem trazer riscos para as crian�as. O principal argumento deles � que outras vacinas, semelhantes �s que s�o aplicadas contra o novo coronav�rus, s�o comprovadamente seguras e eficazes nos mais novos.

 

Os estudos sobre a seguran�a e efic�cia dos imunizantes contra a covid-19 em crian�as e adolescentes ainda est�o em andamento.

 

Para as m�es das crian�as que receberam uma dose da CoronaVac em Itirapina, a imuniza��o indevida dos pequenos tem causado muita preocupa��o. Elas acreditam que os filhos n�o apresentar�o problemas de sa�de, mas apontam que a atual recomenda��o de que os mais novos n�o sejam vacinados causa inseguran�a. "Cada dia que o meu filho passa sem rea��o � uma vit�ria", diz J�ssica.

 

Entre os familiares das crian�as vacinadas em Itirapina, qualquer situa��o diferente, que em outro cen�rio seria considerada comum, pode virar motivo de muita preocupa��o. Em um grupo de WhatsApp no qual participam oito m�es das crian�as imunizadas na cidade, h� relatos de filhos com resfriado, alergia na pele ou at� falta de apetite. Qualquer detalhe que consideram diferente � compartilhado entre elas.

 

O filho de quatro anos da faxineira Milena Ribeiro, de 29 anos, tamb�m foi imunizado contra a covid-19 em Itirapina. Quando ela notou uma afta na boca da crian�a, na �ltima segunda-feira (19/4), logo cogitou que pudesse ser uma rea��o � vacina.

 

"Mandei mensagem para a turma da Vigil�ncia Sanit�ria da cidade, mas acredito que essa afta surgiu porque ele pode estar com imunidade baixa, n�o pela vacina", diz Milena � BBC News Brasil.

 

Segundo a Secretaria de Sa�de de Itirapina, at� o momento n�o foi registrado nenhuma situa��o anormal entre os vacinados que possa ser relacionada � imuniza��o contra a covid-19.

 

Tamb�m n�o h�, at� o momento, registros de complica��es preocupantes que possam ser ligadas � CoronaVac entre as crian�as imunizadas em Diadema.

46 vacinas erradas

Era tarde de 13 de abril quando adultos e crian�as, entre um e cinco anos, foram a uma escola municipal de Itirapina para serem vacinados contra a gripe, mas receberam uma dose de CoronaVac.

 

No dia anterior, havia come�ado a imuniza��o contra a gripe no pa�s. Entre as prioridades no in�cio dessa vacina��o est�o crian�as entre seis meses e menores de seis anos, gestantes, pu�rperas (m�es que acabaram de dar � luz), ind�genas e trabalhadores da sa�de.

 

A campanha de imuniza��o contra o v�rus influenza, causador da gripe, teve in�cio em meio � vacina��o contra a covid-19 em todo o pa�s. Para evitar confus�es, a Prefeitura de Itirapina definiu que a Coronavac seria aplicada em um posto de sa�de, enquanto a vacina contra a gripe seria em uma escola p�blica.

Os dois imunizantes t�m, ao menos, duas diferen�as claras nos r�tulos de seus frascos: os destaques por escrito sobre a finalidade de cada vacina e as cores, verde contra a gripe e laranja contra a covid-19.

 

De acordo com a Secretaria Municipal de Sa�de de Itirapina, uma t�cnica de enfermagem errou ao separar a caixa contendo os frascos dos imunizantes e levou doses de CoronaVac para o local de vacina��o contra a gripe.


Milena e o único filho, de quatro anos. Garoto foi uma das 28 crianças vacinadas indevidamente no interior de São Paulo(foto: Arquivo pessoal)
Milena e o �nico filho, de quatro anos. Garoto foi uma das 28 crian�as vacinadas indevidamente no interior de S�o Paulo (foto: Arquivo pessoal)

Segundo a Prefeitura de Itirapina, a profissional de sa�de lamentou a situa��o e alegou que n�o percebeu que pegou a caixa errada. Ela foi afastada de suas fun��es. A Prefeitura afirma que est� apurando as responsabilidades sobre a falha.

 

O caso � alvo de investiga��o policial, ap�s den�ncias de familiares de crian�as imunizadas indevidamente.

 

A Secretaria de Sa�de do Munic�pio relatou, em nota, que o caso foi descoberto por servidores no dia seguinte � imuniza��o errada, quando notaram que faltavam 46 doses da CoronaVac no estoque.

 

Em 15 de abril, a Vigil�ncia Epidemiol�gica da regi�o informou aos adultos imunizados e aos respons�veis pelas crian�as sobre o erro.

 

A Prefeitura do Munic�pio afirma que consultou m�dicos especialistas que apontaram que a imuniza��o n�o traz riscos para a sa�de das crian�as ou das gestantes.

 

Segundo a Prefeitura, todas as provid�ncias foram tomadas para a seguran�a dos vacinados e uma equipe m�dica foi disponibilizada para avalia��o e orienta��o por 14 dias.

A imuniza��o em Diadema

Em Diadema, na Grande S�o Paulo, o erro nas imuniza��es ocorreu na Unidade B�sica de Sa�de (UBS) Jardim das Na��es. Em 14 de abril, cinco crian�as, entre sete meses e quatro anos, foram vacinadas no local com a CoronaVac.

 

A Secretaria de Sa�de de Diadema avaliou o caso como uma situa��o isolada e argumentou que as aplica��es de vacinas de covid-19 e da gripe s�o feitas em salas separadas para evitar confus�es no fluxo dos pacientes.

A pasta municipal alegou que a falha na unidade de sa�de ocorreu em raz�o de um descuido de duas t�cnicas de enfermagem que teriam pegado a caixa errada das vacinas durante a troca de turnos.

 

De acordo com a pasta, as duas servidoras foram afastadas e foi aberto um processo administrativo para apurar poss�veis irregularidades sobre a conduta delas e sobre o armazenamento das doses dos imunizantes.

 

Assim como em Itirapina, o caso em Diadema tamb�m est� sendo investigado pela pol�cia local, ap�s den�ncia de familiares das crian�as.

De acordo com a Secretaria de Sa�de de Diadema, uma pediatra faz o acompanhamento di�rio do estado de sa�de das crian�as vacinadas com a CoronaVac.


Jéssica e os dois filhos. Ela e outras mães participam de grupo de WhatsApp no qual relatam a rotina com filhos vacinados indevidamente contra a covid-19(foto: Arquivo pessoal)
J�ssica e os dois filhos. Ela e outras m�es participam de grupo de WhatsApp no qual relatam a rotina com filhos vacinados indevidamente contra a covid-19 (foto: Arquivo pessoal)

Em entrevista ao jornal Agora, na sexta-feira passada (16/04), o auxiliar de mec�nico Agnaldo Ribeiro da Silva, de 49 anos, disse que levou o filho para ser vacinado na UBS Jardim das Na��es durante o per�odo da manh�. Horas mais tarde, segundo ele, o garoto de quatro anos vomitou e ficou sonolento. No dia seguinte, conforme o pai, o menino estava melhor e sem nenhum sintoma.

"� um absurdo isso acontecer e, ainda mais, com cinco crian�as em hor�rios diferentes. Toda nossa fam�lia est� abalada, porque um erro assim � uma coisa muito grave. Desde este dia n�o consigo mais ir trabalhar, com medo de que alguma coisa possa acontecer com o meu menino", declarou Silva ao jornal Agora.

'Fiquei horrorizada'

 

Quando soube do erro das vacinas em Itirapina, J�ssica Conduta afirma que chorou. "Eu fiquei horrorizada e com muito medo. � como

se n�s, pais, n�o tiv�ssemos feito nosso papel de cuidar e proteger", diz.

Ela, que � assistente de departamento pessoal, estava no trabalho quando foi avisada pela sogra sobre o erro. "Foi a minha sogra que levou o meu filho para vacinar. Por isso, primeiro avisaram para ela, que ficou muito nervosa e me ligou para contar", relata.

 

"Depois, eu liguei para a pediatra do meu filho e expliquei a situa��o. Ela me disse que os riscos s�o pequenos e falou para a gente ficar acompanhando ele", diz.

Segundo J�ssica, o filho n�o apresentou nenhum tipo de problema de sa�de desde a vacina��o. Ela afirma que at� se surpreendeu com a rea��o dele ap�s ser imunizado. "Sempre que ele toma alguma vacina, fica com febre ou resfriado, mas dessa vez n�o teve nada", comenta.

 

"Pode ser que n�o aconte�a nada com nossos filhos, mas a gente n�o sabe. Estamos vivendo com medo. Quando vou trabalhar, tento dar uma apagada nesse assunto. Mas quando as pessoas perguntam se o meu filho est� bem, d� vontade de chorar", relata J�ssica.

 

Desde a vacina��o, a �nica rea��o diferente que o filho de Milena Ribeiro teve foi a afta, que a m�e est� tratando com medicamentos. Apesar de afirmar que agora est� um pouco mais tranquila, ela relembra o susto ao saber da vacina��o errada.

 

"Eu fiquei arrasada", diz Milena. "Isso foi um erro que n�o vem s� da enfermeira. Est�o culpando somente a coitada. Ela pode ter errado por n�o ter notado a diferen�a entre os r�tulos, mas pessoas com cargos acima dela tamb�m erraram. Agora s� cai nas costas dela, que tinha que aplicar muitas vacinas sozinha e isso talvez exigisse muito dela", declara a faxineira.

 

Milena afirma que esperava mais apoio por parte da Prefeitura. "Falta assist�ncia e preocupa��o maior, porque foi uma coisa grave. Deveriam deixar um pediatra � nossa disposi��o para acompanhar as crian�as, mas n�o est� sendo assim. O que est� sendo feito � um acompanhamento di�rio pelo WhatsApp, para questionar como as crian�as est�o".

 

A faxineira critica tamb�m o atendimento inicial que as fam�lias receberam logo que foram informadas sobre o erro. "A pediatra disse que a gente tinha ganhado na loteria porque nossos filhos estavam imunes. Ela falou que estava tudo certo, que n�o ia acontecer nada", comenta. Milena afirma que os respons�veis pelas crian�as perceberam, posteriormente, que n�o havia como a m�dica passar tanta seguran�a, em raz�o da falta de estudos conclusivos sobre o tema.

 

No s�bado (17/4), grande parte das crian�as imunizadas indevidamente em Itirapina passaram por testes sorol�gicos para avaliar se a vacina induziu a produ��o de anticorpos contra a covid-19. Os exames foram encaminhados ao Instituto Adolfo Lutz. Ainda n�o h� prazo para que os resultados sejam informados aos familiares.

 

"O que eu espero agora � que n�o d� nada com o meu filho. Me aconselharam a ficar atenta a ele por 15 dias. A gente fica com o cora��o na m�o, porque n�o sabe o que vai acontecer. Tem sido dias dif�ceis. Quero que isso passe logo", diz Milena.

Especialistas n�o acreditam em problemas graves

M�dicos ouvidos pela reportagem avaliam que s�o muito pequenas as chances de as crian�as imunizadas erroneamente terem problemas.

 

"O erro � grave. N�o podemos usar medicamentos ou vacinas onde os trabalhos cient�ficos n�o terminaram. N�o podemos saber se os efeitos adversos nessas popula��es s�o semelhantes ou diferentes dos encontrados em adultos e idosos. Tamb�m n�o sabemos ainda qual � a dose, intervalo e imunogenicidade das vacinas nessa faixa et�ria", diz o pediatra e infectologista pedi�trico M�rcio Nehab, do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).

 

Nehab destaca que os estudos em crian�as j� come�aram em vacinas contra a covid-19, como a CoronaVac e a de Oxford com a farmac�utica AstraZeneca — as duas que s�o aplicadas no Brasil atualmente. "At� o momento, n�o houve problemas em crian�as nesses eStudos", destaca.

 

Para o infectologista Alexandre Naime, chefe de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP), � pouco prov�vel que as vacinas contra a covid-19 n�o sejam indicadas para os mais novos.

 

"Provavelmente essas vacinas t�m pouco efeito adverso nas crian�as. Os estudos est�o em andamento, ent�o n�o temos resultados ainda. Por�m, provavelmente n�o (possui efeitos adversos) porque s�o plataformas seguras, que tamb�m s�o usadas para v�rias vacinas do calend�rio brasileiro", declara o infectologista.

"Na verdade, crian�as t�m at� uma resposta imunol�gica um pouco melhor que os adultos para vacinas de plataforma de v�rus inativado, como a CoronaVac", acrescenta.

 

Naime explica que a vacina��o entre as crian�as somente deve ser autorizada no mundo ap�s a conclus�o de testes cl�nicos com os mais novos. A medida � fundamental para avaliar o desempenho de cada imunizante entre esse grupo. "Isso s� n�o foi estudado antes porque crian�as, geralmente, t�m covid-19 leve e n�o evolui para a forma mais grave. �bvio que voc� vai estudar uma vacina primeiro para a popula��o inicial, que tem evolu��o mais grave da doen�a do que as crian�as", diz ele.

 

Apesar de n�o acreditar que haver� problemas para as crian�as imunizadas na semana passada contra a covid-19 em cidades de S�o Paulo, Nehab ressalta a necessidade de que �rg�os respons�veis, como o Minist�rio da Sa�de e autoridades locais, acompanhem de perto a situa��o. Ele afirma que � fundamental "apurar poss�veis preju�zos �s crian�as que foram vacinadas de forma errada".

 

Pelo mundo, pesquisas de vacinas contra a covid-19 em crian�as t�m avan�ado cada vez mais nos �ltimos meses. Especialistas avaliam que incluir os mais novos nos programas de imuniza��o � uma preocupa��o que merece destaque no atual cen�rio, porque esse p�blico tamb�m pode transmitir o novo coronav�rus e dificultar o combate � pandemia. Em pa�ses com as campanhas de imuniza��o avan�adas, como os Estados Unidos, o tema j� se tornou alvo de debates.

Em rela��o �s duas gestantes vacinadas em Itirapina, os m�dicos frisam que o pr�prio Minist�rio da Sa�de passou, recentemente, a recomendar a vacina��o de mulheres gr�vidas contra a covid-19.

 

As bulas das vacinas n�o recomendam que elas sejam aplicadas sem orienta��o m�dica em gestantes e lactantes, pois n�o h� testes definitivos desses imunizantes nesses grupos. Apesar da falta de estudos conclusivos no momento, uma nota t�cnica do Minist�rio da Sa�de aponta que pesquisas em animais n�o mostraram riscos de o imunizante causar danos ao embri�o ou feto.

 

Segundo nota t�cnica da pasta, a imuniza��o de gestantes no atual momento trata-se de um posicionamento de urg�ncia sobre essa popula��o "devido ao maior risco de complica��es que elas e seus beb�s enfrentam quando infectados pelo v�rus", diz o Minist�rio da Sa�de, que pontua que essa situa��o traz maior probabilidade de parto prematuro.

 

O Instituto Butantan afirmou, em nota, que as vigil�ncias municipais devem acompanhar e coletar informa��es individuais das crian�as e das gestantes imunizadas, "solicitando que busquem orienta��o imediata nos servi�os de sa�de caso apresentem algum evento adverso".

 

"O Butantan fica � disposi��o por meio do Servi�o de Atendimento ao Consumidor e seu setor de Farmacovigil�ncia, mas a investiga��o e acompanhamento dos casos compete �s vigil�ncias municipais", disse o instituto, em nota.

O Butantan recomendou que as pessoas vacinadas erroneamente com a CoronaVac esperem 14 dias para que sejam imunizadas contra a gripe. Nos casos das gestantes, aconselhou que haja uma avalia��o m�dica individual para decidir se a segunda dose dever� ser aplicada. J� em rela��o �s crian�as, o instituto afirmou que a aplica��o da segunda dose do imunizante n�o � indicada atualmente.

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