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Estado de Minas PANDEMIA

Covid: Enquanto mundo mira �ndia, 'efeito sanfona' p�e Brasil na rota de 1 milh�o de mortes, apontam especialistas

BBC ouviu cientistas que previram picos de 5 mil mortes di�rias no Brasil sobre queda recente em interna��es; para Miguel Nicolelis, elas n�o indicam desacelera��o e, no ritmo atual, pa�s pode chegar a 1 milh�o de �bitos at� 2022


29/04/2021 20:30 - atualizado 29/04/2021 21:45

Percepo de recuo da pandemia no Brasil seria precipitada, falha tecnicamente e perigosa, alertam cientistas, porque dados sem contexto estimulam relaxamento de medidas necessrias de isolamento, prolongam o pico da doena no pas, e podem resultar em novos recordes de casos e mortes.(foto: EPA)
Percep��o de recuo da pandemia no Brasil seria precipitada, falha tecnicamente e perigosa, alertam cientistas, porque dados sem contexto estimulam relaxamento de medidas necess�rias de isolamento, prolongam o pico da doen�a no pa�s, e podem resultar em novos recordes de casos e mortes. (foto: EPA)

Nos �ltimos dias, boa parte do mundo desviou sua aten��o para a �ndia, que desponta como novo epicentro global da pandemia da covid-19, com cenas tr�gicas de crema��es em estacionamentos e doentes morrendo na porta de hospitais por falta de oxig�nio.

 

 

Enquanto os holofotes estrangeiros saem do Brasil, hospitais em alguns Estados celebram quedas nas interna��es em UTIs. � o caso de S�o Paulo, que na quarta-feira (28/04) apontou baixa de 26,9% nas interna��es de pessoas com o novo coronav�rus em um m�s.

 

Para muitos, os dois movimentos trazem impress�o de suposto controle da doen�a no Brasil, mesmo com o pa�s registrando 3.019 mortes s� nas �ltimas 24 horas, com um total de 398.343 �bitos desde o in�cio da pandemia.

 

Com uma popula��o seis vezes maior que a brasileira, a mesma �ndia que agora ocupa o lugar do Brasil na imprensa internacional teve 3.645 mortes no mesmo per�odo, com um total de 204.832 �bitos.

 

Nos dois pa�ses, segundo especialistas, a subnotifica��o da doen�a mascara o real alcance da pandemia.

A percep��o de recuo da pandemia no Brasil seria n�o apenas precipitada e falha tecnicamente, mas tamb�m perigosa, alertam cientistas.

 

Para membros de alguns dos principais grupos de estudos investigando a pandemia no pa�s, a falta de uma resposta centralizada pelo governo federal e o uso de dados de interna��es fora de contexto estimulam o relaxamento precipitado de medidas ainda necess�rias de isolamento social, o que prolonga o pico da doen�a no pa�s e pode resultar em novos recordes de casos e mortes.

E o problema brasileiro pode ir al�m, como explica o neurocientista Miguel Nicolelis, que coordenou o Comit� Cient�fico do Nordeste, criado em mar�o de 2020 para organizar a resposta dos nove Estados da regi�o � pandemia.

 

"Quando eu estava no comit�, no ano passado, apareciam n�meros est�veis durante a semana e governadores j� me ligavam dizendo que a pandemia tinha acabado", conta o cientista por telefone � BBC News Brasil.

 

"Houve uma queda porque medidas m�nimas foram adotadas em alguns lugares, (...) mas essas quedas s�o tempor�rias. Essas mudan�as est�o dentro da margem de varia��o estat�stica e s� servem para pol�ticos brasileiros as usarem como desculpa pra relaxarem medidas", diz.

 

No fim de mar�o, o mesmo cientista chamou aten��o ao prever que o Brasil chegaria a 500 mil mortes at� junho. Semanas mais tarde, a universidade de Washington fez estimativa semelhante, levando em conta uso de m�scaras pela popula��o, mobilidade social e ritmo da vacina��o, e disse que, at� 30 de junho, o pa�s chegaria a um total de 562,8 mil mortes.

Ao se debru�ar sobre os n�meros atuais no Brasil, Nicolelis n�o s� mant�m a aposta, como vai al�m.

 

"No ritmo atual, n�s n�o vamos nem conseguir vacinar as pessoas antes que alguma variante brasileira, ou da �frica do Sul, ou da �ndia, ou da Inglaterra, escape �s vacinas. Essa variante indiana � assustadora. Se as variantes entrarem aqui e passarem a competir com a P-1 (variante brasileira), e as vacinas que temos n�o derem conta, podemos ter um milh�o de �bitos at� 2022", diz.

 

Al�m de Nicolelis, a BBC News Brasil ouviu outros cientistas que haviam previsto nos �ltimos meses um cen�rio poss�vel de 5 mil mortes di�rias no Brasil.

Todos concordam que os �ndices no pa�s continuam acima de limites aceit�veis, reiteram a gravidade da pandemia no Brasil e apontam que as quedas em interna��es podem ser reflexo imediato de medidas de distanciamento adotadas irregularmente em alguns Estados, al�m dos primeiros efeitos pr�ticos da vacina��o no pa�s.


Apesar de ter populao 6 vezes maior, ndia tem at o momento quase metade do total absoluto de mortes registrado no Brasil(foto: AFP)
Apesar de ter popula��o 6 vezes maior, �ndia tem at� o momento quase metade do total absoluto de mortes registrado no Brasil (foto: AFP)

"M�todo sanfona"

Dados do boletim epidemiol�gico mais recente do Observat�rio da Covid da Fiocruz, com base em n�meros oficiais de 19 de abril, mostram que 17 capitais brasileiras tinham taxas de ocupa��o de leitos de UTIs em hospitais p�blicos superiores a 90%. Outras cinco tinham taxas superiores a 80%.

 

S� cinco capitais - Manaus (73%), Macap� (74%), Salvador (77%), Boa Vista (38%) e Jo�o Pessoa (59%) tinham ocupa��o menor do que 8 a cada 10 leitos.

Em semanas anteriores, o pa�s chegou a ter recorde de 21 capitais com mais de 90% de ocupa��o.

 

Essa queda de 21 para 17 capitais, no entanto, significa pouco quando o tema � a gravidade da pandemia, j� que a refer�ncia para estado considerado cr�tico na lota��o de UTIs adotada por organismos internacionais e nacionais, como a Fiocruz, � de 80%.

 

Assim, apesar da oscila��o, o Brasil continua com 21 dos 26 Estados, mais o Distrito Federal, nesta situa��o considerada alarmante.


Miguel Nicolelis:
Miguel Nicolelis: "Se variantes entrarem no Brasil e passarem a competir com variante brasileira, e as vacinas que temos n�o derem conta, podemos ter um milh�o de �bitos at� 2022" (foto: Arquivo pessoal)

"Muita gente est� usando esses n�meros pra argumentar contra o lockdown, mas isso � completamente rid�culo", avalia Miguel Nicolelis. "Voc� tem 21 de 26 capitais em n�vel cr�tico de leitos de UTI, sem medicamentos, sem m�dico, com gente jovem morrendo com um dia de interna��o."

 

Ele continua: "O Brasil est� se especializando no m�todo sanfona de controle da pandemia. Fecham quando est� alt�ssimo por uma, talvez duas semanas, e a�, quando cai 4 pontos, abrem tudo de novo e volta (a subir)".

Para a pesquisadora Margareth Portela, especialista em pol�ticas e administra��o em sa�de e uma das respons�veis pelo monitoramento do Observat�rio Covid-19, da Fiocruz, o pa�s "est� longe de uma situa��o de controle real".

 

"As �ltimas duas semanas mostram que estamos vivendo um cen�rio de desacelera��o. Mas os dados em rela��o �s taxas de ocupa��o de UTIs continuam muito elevados", ressalta.

 

Em entrevista ao jornal Estado de S�o Paulo, em 25 de mar�o, um dos colegas de Portela no Observat�rio da Fiocruz, o professor Carlos Machado, afirmou que "se nada for feito, nada nos impedir� de chegar a quatro ou cinco mil �bitos por dia".


Para cientista, mortes podem voltar a crescer aps interrupo 'prematura' de medidas restritivas em Estados(foto: Reuters)
Para cientista, mortes podem voltar a crescer ap�s interrup��o 'prematura' de medidas restritivas em Estados (foto: Reuters)

Ele se referia ao pior cen�rio e � necessidade de um lockdown m�nimo de duas semanas, coordenado entre os governos federal, estadual e de munic�pios.

"De l� pra c�, v�rios Estados e v�rios munic�pios adotaram medidas restritivas mais rigorosas", pondera hoje a pesquisadora, "o que com certeza deve ter tido um impacto e deve explicar um pouco dessa redu��o que de fato se observa".

Entre os Estados que se destacaram com medidas de restri��o, Portela destaca Bahia e S�o Paulo.

 

O primeiro vem implementando medidas restritivas desde 26 de fevereiro e, depois de algumas tentativas de reabertura, prorrogou toque de recolher e proibi��o de eventos p�blicos at� 3 de maio.

 

J� o governo de S�o Paulo manteve o Estado em "fase emergencial" entre 15 de mar�o e 9 de abril, o n�vel mais restritivo de controle da pandemia, quando locais e servi�os n�o-essenciais como academias, sal�es de beleza, templos religiosos, cinemas, shoppings e lojas de rua foram fechados.

O fantasma dos repiques

A BBC News Brasil tamb�m conversou com o professor do departamento de Estat�stica da UFF (Universidade Federal Fluminense) Marcio Watanabe.

 

Ele assina um estudo, publicado em 24 de abril, que estimava mortes di�rias no Brasil a partir de um modelo matem�tico que analisava n�meros de mais de 50 pa�ses afetados pela pandemia, coletados entre setembro de 2020 e mar�o deste ano.

 

O levantamento apontava que o pico de �bitos no Brasil aconteceria "provavelmente em abril ou in�cio de maio, com um n�mero calculado entre 3 mil e 5 mil mortes por dia".

 

� epoca, Watanabe destacou que os n�meros reais eram sujeitos ao ritmo de vacina��o e � aplica��o de medidas restritivas nos Estados.

 

A BBC News Brasil perguntou se os novos n�meros que sugerem desacelera��o em interna��es surpreeendem o pesquisador.

 

"Houve uma s�rie de medidas ali no final de mar�o pra tentar conter aquele aumento explosivo. As medidas, muitas, tiveram visivelmente impacto na curva de casos e de �bitos, e agora a gente vai ter que ver qual vai ser o impacto dessa reabertura que j� est� ocorrendo em muitos lugares", diz.


"Brasil nunca teve lockdown real", diz coordenadora de Observatorio da Covid-19 da Fiocruz � BBC News Brasil (foto: EPA)

Mas, ele ressalta que n�o � momento para relaxamento.

 

"Pode ser que tenhamos repiques, ou seja, depois de ter essa pequena queda, que a gente volte a ter aumento de casos em alguns lugares, principalmente os mais povoados", prev�.

 

Ele explica que o impacto das medidas de distanciamento social nas taxas de cont�gio depende diretamente da dura��o das medidas.

 

"No caso do Brasil, as medidas foram retiradas de maneira prematura, no sentido de que a gente via uma pequena diminui��o nas interna��es, e assim que se viu essa pequena diminui��o as medidas foram retiradas. Ent�o, existe uma tend�ncia de o cont�gio voltar a aumentar."

 

A maior parte dos pa�ses que conseguiram reduzir drasticamente o n�mero de interna��es e mortes investiu em longos per�odos de lockdown nacional. No Reino Unido, por exemplo, a popula��o enfrentou no come�o de janeiro o terceiro lockdown r�gido desde o in�cio da pandemia. Na �poca, o pa�s tinha, proporcionalmente, quase 30% de mortes a mais que o Brasil tem hoje.

Com mais de 3 meses de novo isolamento total, associado a aux�lios financeiros para pessoas e empresas e um plano robusto de vacina��o, o pa�s viu as mortes despencarem para um total de 6, no �ltimo dia 26.

 

"� muito importante que todos entendam que a redu��o em hospitaliza��es, mortes e infec��es n�o foi por causa do programa de vacina��o", justificou o primeiro-ministro brit�nico, Boris Johnson, na primeira quinzena de abril, quando uma reabertura gradual foi autorizada.

 

"As pessoas n�o se d�o conta que o lockdown foi extremamente importante pra que tiv�ssemos essa melhora."

Ponto para a vacina��o

Para a pesquisadora da Fiocruz, Margareth Portela, o avan�o da vacina��o no Brasil, ainda que lento, tamb�m pode ter influenciado positivamente nas quedas em interna��es notadas nas �ltimas semanas.

 

"No hist�rico brasileiro de enfrentamento � covid, n�o h� muitas experi�ncias de lockdown no sentido pr�prio da palavra, mais restritivo. Ent�o voc� continua tendo circula��o de pessoas, transporte p�blico lotado. A gente nunca teve um lockdown real e n�o estamos em uma situa��o tranquila", diz.

 

"Mas a quest�o da vacina��o, ainda que lentamente, est� avan�ando."

Segundo a pesquisadora, o pa�s "j� come�a a ver redu��o nas interna��es de pessoas mais idosas, que j� est�o vacinadas no Brasil".

 

"Isso est� fazendo diferen�a", ela comemora. "Entre pessoas mais idosas, por exemplo, a partir de 70 anos, j� se observa, sim, uma queda importante."

At� a publica��o desta reportagem, 30,7 milh�es de brasileiros (ou 14,5% da popula��o) haviam tomado a primeira dose de vacinas, enquanto 14,6 milh�es (6,6%) receberam a segunda.

 

O ritmo da vacina��o no pa�s e a atua��o do governo no combate � pandemia de modo geral, colocaram a administra��o do presidente Jair Bolsonaro no centro de uma CPI, que neste momento apura "a��es e omiss�es" do governo federal na pandemia.

 

A compra de vacinas � um dos pontos mais sens�veis da investiga��o.


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