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Estado de Minas

CPI da Covid: erros de governadores foram muito mais graves que os de Bolsonaro, diz Ciro Nogueira

Presidente do PP, senador que integra comiss�o acredita que popula��o vacinada e recupera��o econ�mica em 2022 v�o selar reelei��o do presidente.


30/04/2021 23:16 - atualizado 30/04/2021 23:16

Para Ciro Nogueira, 'não tem uma acusação séria' contra Bolsonaro na pandemia(foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)
Para Ciro Nogueira, 'n�o tem uma acusa��o s�ria' contra Bolsonaro na pandemia (foto: Marcos Oliveira/Ag�ncia Senado)
Apesar da escalada de mortes causada pela pandemia em abril no Brasil e do risco que a Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da Covid representa para o futuro do governo de Jair Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) se mant�m como fiel aliado do presidente.

 

L�der de um dos maiores partidos do pa�s, o Progressistas, Nogueira explicou � BBC News Brasil seus c�lculos pol�ticos. Para o senador, a CPI n�o ganhar� credibilidade junto � popula��o porque ser� vista como instrumento de guerra pol�tica, focada em explorar o que seriam erros menores de Bolsonaro, em vez de priorizar a investiga��o de supostos desvios de recursos federais repassados a Estados e munic�pios.

 

"Fa�a uma pesquisa de opini�o p�blica. O que a opini�o p�blica prefere: investigar quem desviou recursos contra o covid, quem n�o aplicou os recursos do covid, ou saber quem recomendou cloroquina (medicamento sem efic�cia contra covid-19), quem n�o utilizou m�scara? Ent�o, s�o essas situa��es que acabam n�o dando credibilidade � CPI e, fatalmente, isso n�o vai ter efeito", argumenta.

 

"O governo federal n�o tem uma acusa��o de desvio de recurso p�blico. N�o tem uma acusa��o s�ria que possa levar a um resultado contra o presidente. (…) Eu vi muito mais erros dos governadores", refor�a.

 

H� investiga��es abertas contra supostos desvios em Estados como Amap�, Amazonas, Distrito Federal, Par�, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rond�nia, Roraima e Santa Catarina. Os governadores, por sua vez, negam qualquer ilegalidade e alguns chegam a levantar acusa��es de uso pol�tico dessas investiga��es para favorecer Bolsonaro.

 

J� cientistas e m�dicos cr�ticos do presidente dizem que a atitude de Bolsonaro de promover rem�dios sem efic�cia comprovada contra a covid-19 contribuiu para o Brasil chegar as mais de 400 mil mortes provocadas pela doen�a na medida em que esses medicamentos deram a falsa percep��o aos brasileiros de que estavam protegidos contra a doen�a, desestimulando medidas eficazes para conter a transmiss�o, como isolamento social e uso de m�scaras.

 

Na entrevista, Nogueira diz tamb�m que 2022 ser� um ano de recupera��o econ�mica, que favorecer� a reelei��o do presidente. Na sua avalia��o, embora o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) seja um concorrente competitivo, a rejei��o na sociedade � volta dos petistas ao poder deve evitar sua vit�ria.

 

O senador acredita ainda que toda a popula��o estar� vacinada at� o final do ano e que a percep��o predominante na sociedade ser� a de que o presidente � o respons�vel pela imuniza��o nacional.

 

Senadores cr�ticos de Bolsonaro, por�m, devem se empenhar na CPI da Covid para provar justamente o contr�rio - que o presidente � o culpado pelo atraso na vacina��o. Esses parlamentares v�o investigar a recusa do governo federal em adquirir no ano passado 70 milh�es de doses oferecidas pela Pfizer.

 

At� o momento, cerca de 15% da popula��o recebeu ao menos uma dose de vacina. A grande maioria das aplica��es � da CoronaVac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, do Estado de S�o Paulo, em parceria com um laborat�rio da China.

 

Em disputa pol�tica com o governador paulista, Jo�o Doria (PSDB), o presidente chegou a dizer no ano passado que o Minist�rio da Sa�de n�o iria adquirir o imunizante.

 

Confira a seguir os principais trechos da entrevista com o senador.


Renan Calheiros discute com senador Ciro Nogueira durante sessão da CPI da Covid(foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
Renan Calheiros discute com senador Ciro Nogueira durante sess�o da CPI da Covid (foto: Edilson Rodrigues/Ag�ncia Senado)

 

BBC News Brasil - Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o senhor disse na quarta-feira a empres�rios e executivos que a CPI da Covid n�o vai dar em nada. Qual foi o teor da conversa? O senhor realmente expressou essa avalia��o?

 

Ciro Nogueira - � uma meia verdade. Realmente teve o jantar com os empres�rios. O que eu falei � que uma CPI que tem como �nico foco hoje o ataque ao governo federal, na parte do relator (da CPI, Renan Calheiros), ela � uma CPI que carece de ganhar credibilidade na opini�o p�blica, porque passa uma imagem de que o senador Renan Calheiros j� est� com o relat�rio final no bolso. Ele j� tem todas as informa��es e as convic��es j� na sua cabe�a.

 

Se a CPI for nesse intuito, n�o tem como ter resultado pr�tico, seja para melhorar a vida das pessoas no que diz respeito � pandemia, imunizar e tratar as pessoas, ou seja de punir algum malfeito.

 

N�s n�o temos como hoje imaginar uma CPI, (diante) da quantidade t�o grande de den�ncias de corrup��o, desvio de recursos ou n�o utiliza��o desses recursos (repassados pela Uni�o para Estados e munic�pios), que n�o sejam investigados (esses supostos desvios).

 

E, me perdoe o meu amigo senador Renan Calheiros, parece que ele tem um bloqueio enorme de investigar malfeitos (no uso dos recursos federais). 

  

Fa�a uma pesquisa de opini�o p�blica. O que a opini�o p�blica prefere: investigar quem desviou recursos contra o covid, quem n�o aplicou os recursos do covid, ou saber quem recomendou cloroquina, quem n�o utilizou m�scara?

 

 

Ent�o, s�o essas situa��es que acabam n�o dando credibilidade � CPI e, fatalmente, isso n�o vai ter efeito.

 

BBC News Brasil - Mas o senhor disse que a CPI n�o vai ter consequ�ncia para o presidente? Se o senhor realmente falou que n�o vai dar em nada, n�o passa uma imagem para a sociedade de que a CPI n�o vai investigar com seriedade as responsabilidades eventuais do governo federal?

 

Ciro Nogueira - De forma nenhuma, n�o � isso que eu quero dizer. O governo federal n�o tem uma acusa��o de desvio de recurso p�blico, malfeito na utiliza��o dos recursos, n�o tem uma, uma, uma.

 

N�o tem como condenar o presidente da Rep�blica, n�o tem uma acusa��o s�ria que possa levar a um resultado contra o presidente. Ent�o, � imposs�vel o presidente ser condenado porque ele n�o usa m�scara, porque ele defendeu o uso da cloroquina. A grande maioria da popula��o tomou cloroquina, inclusive eu, e m�dicos de renome nacional (defendem seu uso).

 

Quero lembrar que era uma pandemia que ningu�m conhecia. Ali�s, at� hoje n�o se conhece, n�s n�o temos uma cura para ela definitiva. N�s temos a vacina, mas n�o tem a cura. Ent�o, existe uma discuss�o (sobre o uso da cloroquina). Grande parte dos m�dicos defende utiliza��o de determinado medicamento, outros condenam. N�o existe essa unanimidade no nosso pa�s, por isso, imposs�vel se condenar uma pessoa por isso.


Aliado de Bolsonaro, senador diz que presidente não pode ser condenado por não usar máscara(foto: REUTERS/Adriano Machado)
Aliado de Bolsonaro, senador diz que presidente n�o pode ser condenado por n�o usar m�scara (foto: REUTERS/Adriano Machado)

 

BBC News Brasil - Obviamente, esperamos que nossos governantes n�o roubem e sejam depois investigados e condenados caso isso ocorra. Mas, para al�m de acusa��es de corrup��o, os governantes t�m responsabilidade na condu��o de pol�ticas p�blicas. O presidente, ao n�o usar m�scara, ao realizar aglomera��es e ao promover um rem�dio que n�o tem efic�cia comprovada contra a covid-19 e causa efeitos colaterais graves em algumas pessoas, n�o pode ter contribu�do para o pa�s chegar a marca de mais de 400 mil mortes?

 

Ciro Nogueira - S�o erros, s�o erros. Esse � o tipo de discuss�o que n�o tem inocente. O governo federal, em algumas atitudes do presidente, errou. Agora, muito maior erro eu vejo de governadores que receberam bilh�es de reais para combate � pandemia e n�o usaram esses recursos para esse enfrentamento como deviam, ou alguns, o que � muito pior, desviaram recursos. Isso � muito mais grave.

 

Se n�s formos medir os erros, todo o quadro pol�tico do pa�s errou.

Acho que o momento de CPI � mais do que errado porque n�s estamos no meio (da pandemia). Mas s� vamos saber quem errou e que acertou no final dessa pandemia. A Lombardia (na It�lia) est� fazendo uma CPI agora, um ano e meio depois do pico da pandemia l�.

 

Jamais se imaginava fazer uma CPI no auge da pandemia. Uma CPI que tem como �nico foco guerra pol�tica. Passa uma imagem para a popula��o de que os pol�ticos de Bras�lia, os grandes respons�veis por dar uma sustenta��o ao nosso pa�s, optaram por guerra pol�tica, em vez de estar tratando de imunizar ou de salvar vidas no nosso pa�s.

 

BBC News Brasil - Enquanto o pico da pandemia passou em outros pa�ses, no Brasil continuamos com patamares altos de morte. Isso n�o indica que houve problemas s�rios na condu��o da pandemia e que justamente a CPI talvez possa ajudar a corrigir esse rumo?

 

Ciro Nogueira - Olha, n�o � verdade. Grande parte dos pa�ses teve segunda onda. N�s vemos agora que o maior pico do mundo n�o est� mais no Brasil, est� na �ndia. Ent�o, isso � muito sazonal.

 

Nosso pa�s teve erros, eu n�o quero eximir de culpa, n�o. Estou falando que todos s�o culpados. O quadro pol�tico do Brasil foi o culpado at� por inexperi�ncia. Muita gente n�o sabia como enfrentar essa pandemia. Ent�o, n�o est�vamos preparados.

 

O Brasil tem problema grave de log�stica. � um pa�s continental e �s vezes as pessoas querem comparar nosso pa�s com um pa�s pequeno. N�o d� para comparar.

 

BBC News Brasil - O senhor colocou que a popula��o n�o quer uma guerra pol�tica. N�o � justamente o presidente, seu aliado, que mais promove guerra pol�tica no pa�s? Desde o inicio ele adotou uma postura de embate com os governadores, em vez de buscar uma atua��o colaborativa.

 

Ciro Nogueira - Eu acho que erros aconteceram. N�o concordo com todos os posicionamentos do presidente Bolsonaro. Agora eu vi muito mais erros dos governadores, ou governadores que eram candidatos a presidente, os governadores que queriam fugir dos seus problemas.

 

BBC News Brasil - O senhor est� apoiando a tentativa de reelei��o do presidente em 2022. Outra lideran�a importante do Centr�o, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse Bolsonaro pode ficar de fora do segundo turno por causa da pandemia. Por que o senhor acredita que isso n�o deve acontecer mesmo com mais de 400 mil mortes no pa�s?

 

Ciro Nogueira - Olha, isso s�o estrat�gias pol�ticas n�? Eu tenho uma estrat�gia, n�s estamos ao lado do presidente. Nosso partido n�o preparou um candidato alternativo e n�s temos essa hist�ria de estarmos ao lado do governo que n�s apoiamos at� o final.

 

Eu conhe�o Kassab, um dos pol�ticos mais inteligentes e pragm�ticos desse pa�s. Ent�o, ele sabe que essa elei��o est� polarizada (entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula). Eu acho praticamente imposs�vel surgir uma terceira via.

 

Ele (Kassab) est� em busca de um terceiro candidato. Ele mesmo coloca em sua entrevista que tem inten��o de lan�ar um candidato, de tentar viabilizar. Mas se isso n�o se tornar vi�vel, eu conhe�o uma quantidade enorme de deputados do PSD que apoia o presidente. V�o se aglutinar (em apoio � reelei��o) e n�s vamos marchar ao lado do presidente Bolsonaro na pr�xima elei��o.

 

BBC News Brasil - Mas por que o senhor acha que a pandemia n�o vai pesar sobre o Bolsonaro da forma como Kassab avaliou nessa entrevista?

 

Ciro Nogueira - Voc� conhece algum governador que levou uma vacina para o seu Estado? Quem vai vacinar a popula��o vai ser o presidente Bolsonaro. Eu tenho certeza que at� o final (de 2021) a gente vai estar com a popula��o brasileira toda vacinada. Voc� viu, a�: o Supremo liberou os governadores para comprar vacinas. Cad�? Chegou alguma vacina para as pessoas comprarem? Nada.

 

A popula��o brasileira vai ser imunizada pelo presidente Bolsonaro e eu acho que n�s vamos virar essa p�gina. O pr�ximo ano vai ser de recupera��o econ�mica. Acho que cabe agora ao Congresso Nacional votar as reformas importantes para que a gente possa diminuir o custo do nosso pa�s, atrair investimentos, e a gente possa virar essa p�gina no pr�ximo ano.

 

(Nota da reda��o: A vacina mais usada no pa�s, a CoronaVac, foi desenvolvida pelo Instituto Butantan, institui��o do Estado de S�o Paulo, em iniciativa que teve o empenho do governador Joao Doria. Sua distribui��o ao restante do pa�s � feita pela Uni�o dentro do Plano Nacional de Imuniza��o, que conta tamb�m com outras vacinas)

 

BBC News Brasil - O senhor indicou que aposta em uma polariza��o, que eu entendo que seja entre o atual presidente Bolsonaro e o prov�vel candidato do PT, o ex-presidente Lula. Em 2018, o senhor disse que votaria nele se ele pudesse ser candidato, muito embora o seu partido j� estivesse aliado com o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Como v� a candidatura do Lula hoje? � um risco para a reelei��o do presidente Jair Bolsonaro?

 

Ciro Nogueira - O Lula � um dos maiores l�deres pol�ticos da hist�ria do pa�s. � um homem que eu admiro sua trajet�ria de vida, o seu governo foi importante para o pa�s, e principalmente para o Nordeste, para o combate � mis�ria.

 

O Lula de hoje � um Lula diferente. Aquele Lula que veio 20 anos atr�s foi um Lula que veio para enfrentar a fome e a mis�ria. O Lula de hoje � apenas (candidato) como bandeira pol�tica. � um l�der que quer vir para retomar o poder para o Partido dos Trabalhadores, que � um partido hoje que tem uma rejei��o enorme na sociedade, (que v�) um retrocesso muito grande no Partido dos Trabalhadores voltar ao poder.

 

Bolsonaro tem um projeto de poder, que pode ser contestado, um projeto de pa�s, e o Lula tem um projeto de partido pol�tico apenas hoje. Essa � a grande diferen�a, e a popula��o vai saber separar isso com certeza.

 

BBC News Brasil - O senhor v� o presidente Bolsonaro como um poss�vel candidato do seu partido? Existe algum di�logo nesse sentido?

 

Ciro Nogueira - Eu acho que � natural ele ir para um partido menor, ou retornar ao PSL. Gostaria muito de ter ele no nosso partido, mas tem dificuldade nos palanques estaduais, (de conciliar) o comando do partido (nos Estados).

 

O Progressistas por muito pouco n�o se tornou o maior partido do pa�s. Foi o partido que teve o maior crescimento na �ltima elei��o. J� � o maior partido do Nordeste, por exemplo. Em v�rios outros estados (teve bom desempenho) tamb�m. Ent�o, � um partido j� consolidado que eu n�o posso pura e simplesmente com a chegada do presidente mudar o comando desses Estados, de uma coisa que est� dando certo.

 

Ent�o, � muito dif�cil isso acontecer. Como o presidente tem uma s�rie de deputados (aliados) que precisam do comando desse partido (futuro do presidente) nos Estados, � dif�cil que isso ocorra. Ent�o, � natural ele ir para um partido menor, ou voltar ao PSL.

 

BBC News Brasil - Voltando a uma pergunta que o senhor acabou n�o respondendo: acha que o ex-presidente Lula � um risco para a reelei��o do presidente Bolsonaro?

 

Ciro Nogueira - Todo candidato que tem um percentual de inten��o de voto como o Lula � um candidato fort�ssimo. E se ele vai para o segundo turno, o segundo turno � uma elei��o � parte.

 

Mas � uma elei��o que fatalmente vai girar muito mais em torno de rejei��o do que de inten��o de voto. E a rejei��o ao presidente Lula, e principalmente ao seu partido, � incr�vel, � inacredit�vel. As pessoas n�o querem a volta desses quadros do PT ao comando do pa�s.


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