
O m�s de mar�o teve registradas quatro vezes mais mortes por covid-19 entre pessoas de 30 a 39 anos em rela��o ao m�s de janeiro: foram 3.449 pessoas dessa faixa et�ria que perderam a vida para a doen�a, contra 858. Tamb�m em mar�o, o registro do n�mero de mortes entre 20 e 29 anos pulou de 245 para 887, um aumento de 260%, segundo dados do Portal da Transpar�ncia do Registro Civil, que re�ne dados dos cart�rios por todo o pa�s.
Desde o in�cio da pandemia do novo coronav�rus, foram registrados cerca de 20 mil �bitos por covid abaixo de 39 anos no Brasil, ou 5% do total de 400 mil, marca atingida na quinta-feira (29/4).
Essa taxa � mais de tr�s vezes maior do que nos Estados Unidos (1,5%). No Reino Unido, ela � de apenas 0,64%.
Mais de um ter�o das mortes por covid-19 no Brasil � de menores de 59 anos. � medida que os mais velhos est�o sendo vacinados, os �bitos nessa faixa et�ria t�m ca�do pela metade.
Por que, ent�o, os jovens est�o morrendo mais no Brasil?
A BBC News Brasil conversou com especialistas para entender os motivos. Estas s�o algumas das causas elencadas por eles:
Comportamento mais arriscado
Desde o in�cio da pandemia de covid, sabe-se que os mais jovens s�o menos suscept�veis a desenvolver os sintomas mais graves da doen�a e morrer por complica��es dela.
De maneira geral, por causa da idade, eles t�m a seu favor um sistema imunol�gico mais forte, o que facilita o combate ao v�rus. A exce��o s�o aqueles que t�m algum tipo de comorbidade (doen�a associada), como obesidade ou asma, por exemplo.
Mas isso n�o quer dizer que os jovens estejam imunes � doen�a - e essa falsa percep��o acaba encorajando uma maior exposi��o ao risco.
Em outras palavras: aglomeram-se com mais frequ�ncia e ignoram medidas importantes de preven��o, como uso de m�scaras e distanciamento social.
Por todo o Brasil, imagens de festas clandestinas interrompidas pela pol�cia foram compartilhadas nas redes sociais e ganharam o notici�rio.

Volta ao trabalho
Os mais jovens comp�em a maior parte da popula��o economicamente ativa.
Isso quer dizer que s�o o grosso dos que trabalham - ou que est�o procurando emprego.
Se de um lado o aux�lio emergencial pago pelo governo ajudou a complementar a renda das fam�lias brasileiras, a redu��o do valor do benef�cio obrigou muitos desses jovens a voltarem �s ruas.
Na �ltima quinta-feira (29/4), o governo concluiu o pagamento do aux�lio emergencial 2021 aos trabalhadores inscritos por meio do aplicativo e site do programa, al�m daqueles que fazem parte do Cadastro �nico.
O impacto maior acaba sendo nas classes socialmente menos privilegiadas e, mais particularmente, nos negros, aponta um estudo realizado pela consultoria global de sa�de Vital Strategies em parceria com o Afro-CEBRAP (Centro Brasileiro de An�lise e Planejamento), instituto de pesquisa em quest�es raciais sediado em S�o Paulo.
A pesquisa mostrou que o excesso de mortalidade no Brasil em 2020 foi de 28% entre pretos e pardos em compara��o com 18% entre pessoas de cor branca. O excesso de mortalidade significa o n�mero de pessoas que morreram acima do esperado.
Na faixa et�ria at� 29 anos, essa taxa foi de 32,9% entre os negros e 22,6% entre os brancos. J� entre 30 e 59 anos, foi de 37% entre os negros e 32% entre os brancos.
No ano passado, foram 270 mil 'mortes em excesso' (22%), em grande parte relacionadas � pandemia de covid-19.
"Enquanto os mais privilegiados - de maioria branca - disp�em de recursos que lhes possibilitam cumprir o isolamento social trabalhando em casa, os profissionais informais e prec�rios - majoritariamente negros - continuam cada vez mais expostos", diz � BBC News Brasil M�rcia Lima, coordenadora e pesquisadora do Afro-CEBRAP.
A epidemiologista F�tima Marinho, da Vital Strategies, que tamb�m participou da pesquisa, refor�a: "O resultado do nosso estudo mostrou que as desigualdades raciais e sociais pr�-existentes foram intensificadas pela pandemia de covid-19, levando a um n�mero maior de mortes entre a popula��o negra do Brasil".
As duas especialistas advogam, portanto, que esse grupo seja considerado "priorit�rio" para a vacina��o.

Variante P1
Desde que foi descoberta em Manaus, em janeiro deste ano, a variante P1 logo se alastrou pelo Brasil.
Hoje, responde por 90% das amostras analisadas pelo Instituto Adolfo Lutz no Estado de S�o Paulo, segundo informado na �ltima quarta-feira (28).
Ela � at� 2,4 vezes mais transmiss�vel do que outras linhagens do coronav�rus e, segundo estudos recentes, pode 'driblar' o sistema imunol�gico, infectando novamente quem j� teve a doen�a e levando a quadros mais graves.
Evid�ncias associam essa nova variante ao maior n�mero de hospitaliza��es e mortes, especialmente jovens.
Pandemia 'mais rejuvesnecida'
Um boletim recente da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado no fim de mar�o, alerta para o 'rejuvenescimento' da pandemia no Brasil.
"O n�mero de casos, hospitaliza��es e mortes entre pessoas com menos de 60 anos cresce mais r�pido do que em idosos. O risco, portanto, para incid�ncia e mortalidade vem aumentando gradativamente para quem n�o � idoso e �, via de regra, saud�vel", dizem os pesquisadores.
"Este deslocamento de casos e �bitos sugere que a pandemia ganha um novo contorno no Brasil, ficando mais rejuvenescida", acrescentam.
Segundo a Fiocruz, "por se tratar de popula��o com menos comorbidades - e, portanto, com evolu��o mais lenta dos casos graves e fatais, frequentemente h� um maior tempo de perman�ncia na interna��o em terapia intensiva".
Como os jovens t�m um sistema imunol�gico mais forte, combatem melhor a doen�a e demoram muitos mais para se salvar ou, eventualmente, morrer. Por isso, acabam ficando mais tempo na UTI.
Fato � que a m�dia da idade de pacientes internados vem caindo. Enquanto a m�dia da idade dos casos novos no in�cio de janeiro era de 62 anos e de �bitos, de 71 anos, em meados de mar�o, passou para 58 e 66 anos, respectivamente.
Segundo os pesquisadores, essa maior incid�ncia da covid-19 entre os mais jovens bem como a manuten��o da mortalidade entre os idosos "contribui para o cen�rio cr�tico da ocupa��o dos leitos hospitalares".
Eles tamb�m destacaram que essas diferen�as de incid�ncia entre as faixas et�rias "implicam num compromisso intergeracional".
"Sendo a infec��o mais comum entre os jovens e os �bitos mais frequentes em mais idosos e pessoas com doen�as cr�nicas, uma gera��o deve procurar proteger a outra, evitando o cont�gio de membros da fam�lia, vizinhos, companheiros de trabalho e amigos", afirmam.
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