(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Os desafios da ButanVac, que vai usar 20 milh�es de ovos de galinha para produzir 40 milh�es de vacinas

Produ��o de imunizante nacional tem tecnologia barata j� usada com sucesso na fabrica��o da vacina da influenza; especialistas, por�m, s�o c�ticos quanto a prazos apresentados pelo Butantan - uma vez que ainda n�o sabemos se a vacina de fato funcionar� em humanos.


08/05/2021 17:35 - atualizado 08/05/2021 17:35

Ovos sendo inspecionados no Butantan; é neles que está sendo injetado vírus da 'doença de Newcastle' com proteína S do coronavírus, para produzir a ButanVac(foto: Instituto Butantan)
Ovos sendo inspecionados no Butantan; � neles que est� sendo injetado v�rus da 'doen�a de Newcastle' com prote�na S do coronav�rus, para produzir a ButanVac (foto: Instituto Butantan)
Ovos de galinha s�o uma presen�a constante no Instituto Butantan, em S�o Paulo: � neles que costumam ser injetados os v�rus usados todos os anos na produ��o da vacina contra a influenza, aplicadas na campanha de vacina��o nacional contra a gripe.

 

Agora, a mesma t�cnica est� sendo repetida na ButanVac, a vacina que o instituto paulista est� desenvolvendo contra a covid-19, em um processo que visa produzir e entregar 40 milh�es de doses a partir de julho - um prazo por enquanto considerado irreal por alguns especialistas independentes, uma vez que sequer foi testada a efic�cia desse novo imunizante em humanos at� o momento.

 

De qualquer modo, para fazer chegar a essa quantidade, ter�o de passar pelas instala��es do Butantan cerca de 20 milh�es de ovos de galinha especificamente para a ButanVac - e, em teoria, muitos milh�es mais depois disso, quando houver resultados dos testes cl�nicos da vacina e informa��es mais concretas a respeito de qu�o amplo ser� seu uso contra a covid-19 no Brasil.

 

Em cada um desses ovos - por enquanto, s�o 521 mil j� entregues ao laborat�rio paulista por granjas especializadas - est� sendo injetada uma pequena quantidade do v�rus da "doen�a de Newcastle", um mal avi�rio que � inofensivo em humanos.

 

Esse v�rus foi geneticamente modificado para receber a "prote�na S" do SARS-CoV-2, ou seja, a estrutura do coronav�rus que se encaixa nas c�lulas humanas e as infecta, causando a covid-19.

 

A inten��o � que, munido da prote�na S do coronav�rus, o v�rus da doen�a de Newcastle seja capaz de estimular a produ��o de anticorpos contra a covid-19 no organismo humano.

 

E � a� que os ovos de galinha entram na hist�ria: � dentro de cada um deles, nos laborat�rios do Butantan, que o v�rus de Newcastle vai se alimentar e se multiplicar em n�vel suficiente para produzir (segundo estimativas) duas doses de vacina por ovo.

 

"O v�rus usa as c�lulas do embri�o do ovo para essa replica��o", explica � BBC News Brasil Douglas Gon�alves de Macedo, gerente de produ��o da f�brica do Butantan onde ser� feita a ButanVac. "Deixamos o ovo na temperatura ideal, entre 35° e 40° Celsius, para o v�rus crescer exponencialmente l� dentro. Depois de 72 horas, ele passa por um processo de purifica��o (que inclui a inativa��o do v�rus e a dilui��o do produto final). E disso temos o IFA."

 

IFA � a sigla de Ingrediente Farmac�utico Ativo, que o Brasil tem por enquanto importado da �ndia e da China para envasar aqui - especificamente os IFAs das vacinas CoronaVac e AstraZeneca, respectivamente no Butantan e na Fiocruz.

Extra�do do ovo, esse IFA nacional ser� purificado, dilu�do e embalado na pr�pria f�brica do Instituto Butantan, no que se espera que seja a primeira vacina integralmente produzida no Brasil contra a covid-19, mais barata e mais facilmente dispon�vel por n�o depender desse IFA importado, atualmente escasso no mercado internacional.


Apresentação da ButanVac; prazos de entrega são considerados irreais por muitos especialistas, uma vez que ainda não foram feitos testes clínicos com o imunizante(foto: Reuters)
Apresenta��o da ButanVac; prazos de entrega s�o considerados irreais por muitos especialistas, uma vez que ainda n�o foram feitos testes cl�nicos com o imunizante (foto: Reuters)

 

Em teoria, essa tecnologia tamb�m ser� capaz de produzir vacinas eficazes contra as novas variantes do coronav�rus, uma vez que se pode escolher de qual cepa (por exemplo, a brasileira P.1) ser� retirada a prote�na S.

 

Mas para tudo isso se concretizar dentro do cronograma e volume esperados pelo governo paulista, muita coisa ainda falta acontecer: desde a aprova��o pela Anvisa at� testes cl�nicos que sejam bem-sucedidos. � a� que come�a uma corrida de obst�culos.

 

Por enquanto, "� muita expectativa em cima de algo que ainda n�o tem nenhum estudo feito em humanos, que � quando teremos ideia de como a vacina funciona", adverte � BBC News Brasil a imunologista Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ci�ncias de Porto Alegre e membro dos comit�s cient�fico e cl�nico da Sociedade Brasileira de Imunologia.

Testes de efic�cia

O desenvolvimento da ButanVac foi anunciado pela primeira vez em 26 de mar�o, pelo governador paulista Jo�o Doria e pelo presidente do Butantan, Dimas Covas (no mesmo dia, o Minist�rio da Ci�ncia anunciou que tamb�m pediu aprova��o na Anvisa para testes cl�nicos de outra vacina nacional, chamada Versamune, em desenvolvimento com a Faculdade de Medicina da USP de Ribeir�o Preto).

 

"Este � um an�ncio hist�rico para o Brasil e para o mundo. A Butanvac � a primeira vacina 100% nacional, integralmente desenvolvida e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, que � um orgulho do Brasil", disse Doria na ocasi�o.

 

Os an�ncios das vacinas nacionais foram recebidos com otimismo pelo p�blico e por cientistas. � bom lembrar, por�m, que naquele mesmo dia a Folha de S.Paulo publicou reportagem mostrando qu, na verdade, a patente da vacina viera de um hospital americano e fora cedida ao Butantan.

 

O fato de isso n�o ter sido detalhado por Doria e Covas na entrevista coletiva impactou negativamente a credibilidade dos an�ncios do Butantan perante os cientistas, diz Bonorino.

 

"Pegou supermal. A vacina n�o foi desenvolvida no Brasil - foi desenvolvida l� fora e da� foi cedida a patente."

 

� �poca, o Butantan confirmou � Folha que tinha obtido a "licen�a de explora��o de parte da tecnologia desenvolvida pela Icahn School of Medicine do Hospital Mount Sinai de Nova York para obter o v�rus (da 'doen�a de Newcastle') e a partir disso o desenvolvimento da vacina � feito completamente com tecnologia do Butantan".

 

Por conta desse epis�dio, de outros atrasos e de aus�ncias de divulga��o de dados relacionados aos testes e aos prazos de entrega da CoronaVac, Bonorino e outros especialistas veem com ceticismo tamb�m os prazos apresentados at� agora para a ButanVac, de ter as 40 milh�es de doses prontas e, sobretudo, devidamente aprovadas em t�o poucos meses.


"Este � um an�ncio hist�rico para o Brasil e para o mundo. A ButanVac � a primeira vacina 100% nacional, integralmente desenvolvida e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, que � um orgulho do Brasil", disse Doria; no entanto, no mesmo dia hospital americano explicou que desenvolvimento da vacina fora nos EUA, com patente cedida ao Butantan (foto: Getty Images)

 

No momento, o Instituto Butantan ainda est� em processo de entregar documenta��o para obter, perante a Anvisa, aprova��o para realizar testes cl�nicos de fase 1, 2 e 3 com a ButanVac. E s� nesses testes que ser�o analisadas a seguran�a, a melhor dosagem e qual � de fato a efic�cia do imunizante contra a covid-19, ou seja, o quanto a ButanVac induz o corpo a produzir anticorpos e as c�lulas de defesa do organismo chamadas de linf�citos T.

 

"Otimisticamente, estamos falando de estudos que devem levar 8 ou 9 meses, com intervalos entre (as fases) dos estudos e a publica��o dos dados", explica Bonorino.

 

Esses testes, diz a assessoria do Butantan, ainda est�o sendo desenhados, enquanto se aguarda o aval da Anvisa.

Isso em tese pode tornar invi�vel o an�ncio de Jo�o Doria, de ofertar "18 milh�es de doses prontas na primeira quinzena de junho, quando o processo de aprova��o da Anvisa for conclu�do".

Fornecimento e processo fabril

Uma curiosidade sobre os testes cl�nicos � que em ao menos um ponto importante eles devem ser diferentes dos feitos nas vacinas j� feitas at� agora: a aus�ncia do uso de placebos.

 

Como agora j� existem vacinas dispon�veis e comprovadas contra a covid-19 (o que n�o era o caso quando foram testadas inicialmente a CoronaVac e a AstraZeneca, por exemplo), a ButanVac precisar� ter sua efic�cia testada em rela��o a esses imunizantes, e n�o em rela��o a placebos, explica Bonorino.

� s� depois que esses testes - se bem-sucedidos - forem conclu�dos e validados que a ButanVac poder�, de fato, ser aplicada no bra�o dos brasileiros.

 

Mesmo enquanto isso n�o ocorre, o Butantan anunciou em 28 de abril que j� havia recebido o lote inicial de 520 mil ovos para iniciar a produ��o de estimadas 1 milh�o de doses de sua vacina, para chegar em junho aos 18 milh�es anunciados por Doria.


Estimando-se que de cada ovo seja possível tirar duas doses da ButanVac, passarão pelo instituto 20 milhões de ovos para produzir as 40 milhões de doses prometidas pelo governo no próximo semestre - caso esse prazo seja de fato cumprido(foto: Instituto Butantan)
Estimando-se que de cada ovo seja poss�vel tirar duas doses da ButanVac, passar�o pelo instituto 20 milh�es de ovos para produzir as 40 milh�es de doses prometidas pelo governo no pr�ximo semestre - caso esse prazo seja de fato cumprido (foto: Instituto Butantan)

 

Douglas Macedo, gerente de produ��o do Butantan, confirma que a principal inc�gnita s�o os testes cl�nicos. Do ponto de vista log�stico, diz ele, a estrutura fabril do Instituto est� preparada para atender a demanda e cumprir o cronograma mencionado pelo governador, uma vez que j� conta com um suprimento constante de mat�rias-primas e que a produ��o da ButanVac pode ser facilmente intercalada com o processo de envase da CoronaVac.

 

"Tirando a parte cl�nica, a log�stica de encaixar (a produ��o) n�o tem complexidade alta por conta da nossa capacidade produtiva. Como o recebimento da CoronaVac tem janelas (ou seja, n�o ocorre o tempo todo), � tranquilo de encaixar a formula��o e o envase da ButanVac, ou dedicar alguma linha de produ��o especificamente para ela, sem causar atrasos nem desabastecimento", diz Macedo.

 

Como os insumos b�sicos (desde ovos de galinha at� frascos e embalagens) s�o os mesmos usados para fazer a vacina da gripe, "j� temos um certo estoque, programa��o de recebimento de fornecedores que atendem o Butantan durante o ano todo. As aves j� est�o alojadas, eles (fornecedores) j� t�m processos de controle e caminh�es de entrega", prossegue.

 

Trata-se de granjas espec�ficas, explica Macedo, que passam por avalia��es de qualidade para produzir "ovos embrionados controlados" a serem usados exclusivamente para a produ��o de vacinas.

 

Com base em projetos piloto, estima-se por enquanto que cada ovo tenha material suficiente para produzir duas doses de vacina.

 

Por enquanto, "um dia normal nosso realmente n�o tem hora para come�ar e terminar. Por mais que a f�brica tenha muita experi�ncia com a plataforma de ovos com a vacina da influenza, (a ButanVac) � algo novo, que est� sendo validado, testado, acompanhado de ponta a ponta. Cada passo e cada inje��o de ovos e coleta depois t�m que ser acompanhados, para vermos se tem alguma coisa a ser melhorada. Mas o pensamento � que � um produto que pode ajudar muito (o Brasil)", diz Macedo.


J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)