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Estado de Minas PANDEMIA

Covid-19 na �ndia: rio Ganges vira 'cemit�rio' com corpos flutuantes ou enterrados �s margens

Centenas de corpos t�m sido encontrados pr�ximos ao rio sagrado; eles est�o fora da contabilidade oficial de v�timas da pandemia


19/05/2021 17:37 - atualizado 19/05/2021 18:16

Centenas de valas tm sido feitas informalmente para vtimas da covid nas areias que ficam s margens do Ganges, rio sagrado para os indianos(foto: Getty Images)
Centenas de valas t�m sido feitas informalmente para v�timas da covid nas areias que ficam �s margens do Ganges, rio sagrado para os indianos (foto: Getty Images)

As �guas do Rio Ganges, o mais sagrado da �ndia, est�o sendo tomadas por corpos, no momento em que o pa�s asi�tico colapsa diante da pandemia de COVID-19.

Centenas de corpos t�m sido encontrados flutuando no rio ou enterrados nas areias de suas margens. Moradores pr�ximos das �reas onde esses corpos desaguam, no Estado de Uttar Pradesh (norte), creem que eles s�o de pacientes que n�o resistiram � COVID-19.


Nas �ltimas semanas, a �ndia alcan�ou as marcas de mais de 25 milh�es de casos e 275 mil mortes, mas especialistas estimam que, diante de uma enorme subnotifica��o, o n�mero total de mortos seja muitas vezes maior do que o oficial.

Os corpos encontrados � beira do rio, junto a piras funer�rias e rituais de crema��o, contam a hist�ria de mortes que ficam � margem das contagens realizadas por autoridades.


A BBC conversou com rep�rteres, autoridades e testemunhas em um dos distritos mais afetados de Uttar Pradesh e descobriu que os corpos flutuantes contam a hist�ria de uma pandemia que avan�a na velocidade da luz.

Beira do rio tomada por corpos

O horror em Uttar Pradesh se tornou p�blico em 10 de maio, quando 71 corpos emergiram �s margens do rio na aldeia de Chausa, perto da fronteira com o Estado de Bihar.

Neeraj Kumar Singh, superintendente da pol�cia local, disse � BBC que foram feitas aut�psias nos corpos (j� em sua maioria em decomposi��o) e tiradas amostras de DNA. Os corpos foram ent�o enterrados em valas perto das margens do Ganges.


Autoridades dizem que partes dos corpos podem ter ido parar no rio depois de terem passado por rituais de crema��o nas margens. Mas a suspeita principal � de que os corpos foram atirados ao rio. A pol�cia chegou a instalar uma rede entre as margens, para coletar eventuais novos corpos.


No dia seguinte, a 10 km de Chausa, dezenas de corpos em est�gio avan�ado de decomposi��o foram encontrados �s margens do rio na aldeia de Gahmar, tamb�m em Uttar Pradesh. Eles estavam sendo devorados por c�es selvagens e corvos.


Moradores locais dizem que os corpos permaneceram no rio por v�rios dias e que alertaram as autoridades a respeito do cheiro de decomposi��o, mas foram ignorados - at� que a not�cia chegou � imprensa.


Foto de 5 de maio mostra pontos de cremao s margens do rio Ganges;  comum hindus cremarem seus mortos(foto: Getty Images)
Foto de 5 de maio mostra pontos de crema��o �s margens do rio Ganges; � comum hindus cremarem seus mortos (foto: Getty Images)

Dezenas de corpos inchados e decompostos tamb�m foram encontrados por moradores - em seu rotineiro mergulho matinal no rio sagrado indiano - no distrito vizinho de Ballia. O jornal The Hindustan reportou que ali foram resgatados pela pol�cia 62 corpos.

Em diversas aldeias, o leito do rio est� tomado por valas rasas. V�deos enviados � BBC mostram dezenas de pequenas colinas do tamanho de corpos humanos. Muitos parecem ser incidentes geogr�ficos no leito do rio, mas cada um deles esconde um corpo.

Uma 'enorme' discrep�ncia na taxa de mortos

Tradicionalmente, hindus cremam seus mortos. Mas muitas comunidades fazem o que � conhecido como "Jal Pravah": pr�tica de flutuar no rio corpos de crian�as, meninas n�o casadas ou pessoas que morrem de doen�as infecciosas ou mordida de cobra.


Muitas pessoas pobres tampouco conseguem arcar com os custos de uma crema��o, ent�o envolvem os corpos em musselina branca e lan�am-no � �gua.

�s vezes, os corpos s�o presos a pedras para que permane�am submersos, mas nem sempre isso acontece. Assim, era poss�vel avistar corpos no Ganges mesmo em tempos pr�-pandemia.


O que � raro, por�m, � que tantos sejam avistados em t�o pouco tempo, e em tantas partes do rio. Um jornalista da cidade de Kanpour disse � BBC que os corpos s�o evid�ncia de "uma enorme discrep�ncia entre os n�meros oficiais de mortes por covid-19 e os n�meros reais".


Um exemplo: ele diz que, em Kanpour, morreram oficialmente pela doen�a causada pelo novo coronav�rus 196 pessoas entre 16 de abril e 5 de maio, mas dados coletados em sete cremat�rios locais registraram quase 8 mil crema��es nesse per�odo.


"Em abril, cremat�rios el�tricos funcionaram 24 horas por dia. E mesmo isso n�o foi suficiente, ent�o a administra��o permitiu que sua �rea externa fosse usada para crema��es com lenha", declarou.


"Mas eles aceitavam apenas corpos que viessem de hospitais com atestados de �bito por COVID-19, e um grande n�mero de pessoas estavam morrendo em casa, sem serem testadas. Suas fam�lias levavam os corpos para as periferias das cidades ou distritos vizinhos. Quando n�o conseguiam encontrar lenha ou pontos de crema��o, simplesmente o enterravam no leito do rio."


Muitas vtimas so pacientes de covid-19 que morreram em casa, sem atendimento hospitalar ou testagem(foto: Getty Images)
Muitas v�timas s�o pacientes de covid-19 que morreram em casa, sem atendimento hospitalar ou testagem (foto: Getty Images)


Um jornalista em Prayagraj disse acreditar que muitos desses corpos eram desses pacientes de COVID que morriam sem atendimento hospitalar ou testagem, ou de pessoas pobres que n�o tinham dinheiro para uma crema��o formal.

"� de partir o cora��o", ele diz. "Todas essas v�timas eram filhos, filhas, irm�os, pais e m�es de algu�m. Mereciam respeito em sua morte. Mas eles sequer se tornaram parte das estat�sticas - morreram como desconhecidos e foram enterrados como desconhecidos."

Funerais das 7h da manh� �s 11h da noite

A descoberta das valas e dos corpos decompostos, e o temor que eles possam estar contaminado pelo coronav�rus assustou moradores das aldeias nas margens do rio.


Com nascente no Himalaia, o Ganges � um dos maiores rios do mundo. Hindus o consideram sagrado e acreditam que banhar-se em suas �guas promove a limpeza dos pecados. Essas �guas tamb�m s�o usadas para rituais religiosos.


Na aldeia de Kannauj, o morador Jagmohan Tiwari, 63, disse a uma emissora local ter visto "150 a 200 valas" no leito do rio. "Os funerais t�m acontecido das 7h da manh� �s 11h da noite", ele afirmou. "� devastador."


A descoberta das valas causou p�nico na regi�o. Moradores temem que os corpos enterrados superficialmente comecem a flutuar no rio quando vierem as chuvas e o n�vel das �guas subir.


Na semana passada, o governo estadual baniu a pr�tica do "Jal Pravah" e ofereceu subs�dios a fam�lias pobres para que pudessem cremar seus parentes. Em diferentes �reas, a pol�cia tem tirado corpos do rio com varas e recrutando barqueiros para traz�-los � costa. Ali, os corpos decompostos s�o enterrados em valas ou cremados com piras.


Mangala Prasad Singh, autoridade do distrito de Ghazipur, disse � BBC suas equipes est�o patrulhando as margens e pontos de crema��o para impedir que as pessoas deixem corpos na �gua ou enterrem-nos em seus arredores. A despeito disso, corpos t�m sido encontrados no rio todos os dias, disse ele.


"Temos lhes dado os ritos finais", declarou.


*Colaboraram Soutik Biswas e Vikas Pandey

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