Ao menos 85 cidades brasileiras de 24 Estados e do Distrito Federal t�m protestos de rua contra o presidente Jair Bolsonaro marcados para o s�bado (29/05).
Os atos defendem impeachment, aux�lio emergencial de R$ 600, vacinas e mais verbas para a educa��o, entre outros pontos.
E quase todas as postagens em redes sociais que convocam manifestantes s�o criticadas por pelo menos dois grupos: opositores de Bolsonaro que veem os protestos como um risco � sa�de p�blica, e bolsonaristas que falam em hipocrisia dos manifestantes por terem criticado aglomera��es promovidas pelo presidente.
Organizadores e apoiadores dos protestos afirmam, em resumo, que n�o d� para esperar o fim da pandemia para ir �s ruas contra o presidente, que enfrenta hoje recorde de impopularidade, e que n�o se deve ignorar os riscos � sa�de, mas � poss�vel mitigar os usando m�scara PFF2 (ou N95) e outras medidas de seguran�a.
"Se tiv�ssemos ido �s ruas em agosto, talvez Bolsonaro tivesse aceitado as vacinas da Pfizer. Centenas de milhares de vidas teriam sido salvas. Ir �s ruas � arriscado. N�o ir pode ser mais. Se for, use m�scara", escreveu o advogado Pedro Abramovay, diretor da Open Society Foundations para Am�rica Latina e Caribe.
C�lculo feito pelo professor e pesquisador Pedro Hallal, da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) aponta que teriam sido salvas 95 mil vidas no Brasil caso o governo Bolsonaro n�o tivesse recusado diversas ofertas de vacinas do Butantan e da Pfizer em 2020. At� agora, a covid-19 matou oficialmente 456 mil pessoas no Brasil.
- Ao menos 85 cidades t�m protestos marcados contra Bolsonaro no dia 29 de maio
- Como 'imunidade de rebanho' pode virar arma contra Bolsonaro na CPI da Covid
"O governo Bolsonaro � mais perigoso que o v�rus, est� insustent�vel e n�o conseguimos mais suportar nem um dia a mais desse governo que � genocida de fato", afirmou Samara Martins, vice-presidente da Unidade Popular pelo Socialismo, em debate sobre os protestos.
Para o deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ), presente no mesmo evento virtual, os atos de rua s�o importantes para confrontar o presidente "na mesma arena que Bolsonaro tem priorizado nos �ltimos dias" e a "presen�a no espa�o f�sico de luta pode fazer com que os fascistas deem um passo atr�s (em sua investida contra a democracia)".
Braga apontou ainda o que v� como contradi��o dos liberais, que segundo ele s� criticam a aglomera��o de trabalhadores em manifesta��es contra o governo, mas o fato de eles serem obrigados a ir trabalhar em �nibus lotados durante a pandemia. "O lugar para derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo tem que ser necessariamente na rua."
Em linhas gerais, especialistas afirmam que algumas medidas, como uso de m�scara PFF2 e distanciamento f�sico entre os manifestantes ao ar livre, s�o capazes de reduzir bastante o risco de cont�gio. Mas � imposs�vel garantir seguran�a completa num momento em que a pandemia voltou a piorar em quase todos os Estados do pa�s.
A infectologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Vaccine Institute (Washington) e ex-integrante do Centro de Controle de Doen�as (CDC) do Departamento de Sa�de dos EUA por mais de 20 anos, publicou em seu perfil no Twitter uma lista com 12 medidas de seguran�a para quem for a um protesto.
"Diferentemente do que foi feito hoje (no ato promovido por Bolsonaro majoritariamente sem m�scara), manifesta��es ao ar livre durante a pandemia podem ser feitas de maneira segura, com risco m�nimo de transmiss�o e sem resultar em aumento do n�mero de casos."
Entre as medidas, ela recomenda usar m�scara PFF2 , ir em grupos pequenos, evitar interagir com quem n�o for do seu grupo, evitar os pontos mais cheios, evitar gritar (usando m�scaras e megafones), n�o ficar parado, evitar os hor�rios de pico do transporte p�blico e passar as duas semanas seguintes atento a sinais de covid-19 e e se isolar imediatamente caso surjam sintomas.

Em entrevista recente � BBC News Brasil, o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede de An�lise da Covid-19, que re�ne pesquisadores voltados � pandemia, afirmou que a acelera��o de casos de covid-19 no Brasil � como um "foguete subindo a 10 mil quil�metros por hora at� a estratosfera".
Segundo ele, o recuo da pandemia em abril levou o pa�s a flexibilizar r�pido demais as medidas de restri��o � circula��o de pessoas. "O Brasil s� deu uma respirada, encheu pulm�o de ar e j� vai voltar a mergulhar de novo. N�o deixou cair o n�mero de casos para valer."
E no Twitter, tem dado sinais de preocupa��o sobre o papel dos protestos no aumento atual, no ponto de vista epidemiol�gico ou pol�tico. "O problema da manifesta��o, ao meu ver, n�o � nem s� o cont�gio dos manifestantes (que ir� ocorrer, pois situa��es inesperadas acontecem). � que esse estouro est� programado para acontecer com ou sem manifesta��o, e a� adivinha quem ser� o 'culpado' pelo estouro?"
O que a ci�ncia diz sobre o impacto de protestos com m�scara no espalhamento da covid?
O papel de manifesta��es de rua no espalhamento da covid � tema de debate h� quase um ano, quando o ex-seguran�a negro George Floyd foi morto por um policial branco e levou ao maior n�mero de protestos de rua da hist�ria recente dos Estados Unidos.
Primeiro � importante deixar claro que nem todo protesto � igual do ponto de vista epidemiol�gico porque h� diversas vari�veis significativas, como a proximidade entre as pessoas e o uso de m�scara profissional (PFF2 ou N95, por exemplo).

Outro ponto relevante nas an�lises � que � muito dif�cil isolar o impacto das manifesta��es no espalhamento de uma doen�a infecciosa. Afinal, como calcular quantos ficaram doentes e quantos deles passaram a covid para terceiros?
Cinco pesquisadores do Escrit�rio Nacional de Pesquisas Econ�micas dos EUA tentaram responder a essa pergunta sobre o impacto dos protestos antirracistas no espalhamento da covid-19 em 281 cidades americanas que sediaram protestos do tipo. Em um artigo de 85 p�ginas, eles chegaram � conclus�o de que as manifesta��es n�o tiveram papel relevante na dissemina��o da doen�a.
"N�o encontramos nenhuma evid�ncia de que protestos contribu�ram para aumentos significativos ou substanciais da covid-19", afirmam eles.
O grupo analisou dados geogr�ficos coletados de celular anonimizados (sem dados pessoais) e a circula��o de pessoas em ruas, bares, restaurantes, locais e na pr�pria resid�ncia. Os pesquisadores identificaram algo curioso. Em cidades onde ocorreram protestos, a popula��o tendeu a aumentar o distanciamento social, uma mudan�a de comportamento talvez ligada ao temor da doen�a ou de confrontos.
Al�m disso, o grupo tamb�m concluiu que, com medidas de seguran�a adequadas como m�scaras profissionais e movimenta��o constante, havia mais risco � sa�de frequentar bares, restaurantes e lojas do que protestos ao ar livre.
J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!