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Estado de Minas

Covid-19: o que estudo de Serrana com CoronaVac diz sobre ritmo de vacina��o no Brasil

Pesquisa que envolveu toda a popula��o adulta de cidade no interior paulista refor�a a ideia de que a vacina��o � uma estrat�gia coletiva que permitir� controlar a pandemia no futuro.


31/05/2021 20:58

A CoronaVac foi testada no Brasil numa parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac. Ela está aprovada no país desde janeiro(foto: Getty Images)
A CoronaVac foi testada no Brasil numa parceria entre o Instituto Butantan e a farmac�utica chinesa Sinovac. Ela est� aprovada no pa�s desde janeiro (foto: Getty Images)

O que acontece se todos os adultos de uma mesma cidade forem vacinados contra a covid-19?

Essa foi a pergunta que guiou o Projeto S, uma pesquisa conduzida pelo Instituto Butantan que aplicou duas doses da CoronaVac, em mais de 95% da popula��o de Serrana, munic�pio localizado no interior de S�o Paulo, a 322 quil�metros da capital.

Ap�s meses de trabalho, os resultados preliminares do experimento foram anunciados hoje (31/05), numa coletiva de imprensa organizada pelo Governo do Estado de S�o Paulo.

De acordo com os dados divulgados, a estrat�gia foi capaz de reduzir em 95% as mortes, em 86% as interna��es e em 80% os casos sintom�ticos da infec��o pelo coronav�rus (vamos explicar como esses dados foram obtidos mais adiante).

"Com 75% da popula��o-alvo imunizada, a pandemia foi controlada em Serrana e esse mesmo cen�rio pode se reproduzir em todo o Brasil. Os resultados mostram de maneira categ�rica o que poderia estar ocorrendo no pa�s inteiro", discursou o governador de S�o Paulo, Jo�o Doria (PSDB).

"Esse tipo de estudo que fizemos � fundamental do ponto de vista de sa�de p�blica, para entendermos a din�mica da pandemia e suas formas de controle", complementou o m�dico Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan.

Do ponto de vista pr�tico, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil indicam que os achados do estudo de Serrana eram esperados, mas refor�am conhecimentos e perspectivas importantes.

"Apesar de �bvia, a conclus�o da pesquisa deixa claro a todos que imunidade de rebanho � algo que se atinge com a vacina��o, e n�o deixando as pessoas expostas para que elas fiquem doentes", avalia a microbiologista Nat�lia Pasternak, presidente do Instituto Quest�o de Ci�ncia.

"O Projeto S indica que a CoronaVac tem alcan�ado uma efetividade no mundo real que � superior aos dados de efic�cia obtidos nos testes cl�nicos", aponta a m�dica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imuniza��es (SBIm).

Como o estudo foi feito?

Covas revelou que o planejamento para a realiza��o do Projeto S teve in�cio em agosto de 2020.

"Naquele momento, j� existiam discuss�es sobre o formato cl�ssico das pesquisas de efic�cia das vacinas e se elas seriam capazes de dar as respostas que necessit�vamos", lembra.

Ap�s a aprova��o da Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), o estudo come�ou efetivamente no dia 12 de fevereiro.

Serrana foi escolhida por reunir uma s�rie de caracter�sticas desej�veis para uma investiga��o desse porte: trata-se de uma cidade pequena, com pouco mais de 45 mil habitantes, e que vivia um momento complicado da pandemia, com altas nos n�meros de casos e mortes por covid-19.

Ela tamb�m faz fronteira com outros locais importantes do interior paulista, como Ribeir�o Preto, e h� um constante fluxo de pessoas entre um munic�pio e outro.

O m�dico Marcos Borges, diretor do Hospital Estadual de Serrana, explica que foi necess�rio realizar um censo na cidade, para entender quantos adultos viviam ali e poderiam tomar a vacina.

"Dos 45 mil moradores, 28 mil s�o adultos e integram nossa popula��o-alvo. A cidade foi dividida em 25 pequenas �reas, agrupadas em quatro cores: amarelo, verde, cinza e azul", explicou, durante a coletiva de imprensa.

Essa divis�o permitiu escalonar e organizar a vacina��o: um sorteio definiu que os moradores das �reas verdes receberiam a primeira dose da vacina entre os dias 14 a 20 de fevereiro.

Para o estudo, Serrana foi dividida em regi�es com quatro cores diferentes. A partir dessa organiza��o, foi poss�vel montar o calend�rio de vacina��o

Na sequ�ncia, vieram as �reas amarelas (entre 21 e 27/2), as cinzas (de 28/2 a 6/3), e as azuis (de 7 a 13/3).

A partir de 14/4, os cidad�os das regi�es verdes tomaram a segunda dose e foram seguidos pelas outras cores com o passar das semanas.

A vacina��o terminou no dia 10 de abril, quando os habitantes das �reas azuis completaram a sua prote��o.

Ao final do ciclo, 95,7% da popula��o-alvo, ou 27,1 mil serranenses com mais de 18 anos, haviam participado do estudo.

"Isso s� mostra que as pessoas querem e precisam ser vacinadas", destacou Borges.

Seguran�a da CoronaVac

Ap�s a aplica��o de 54,8 mil doses da CoronaVac no munic�pio paulista, n�o foi observado um �ndice preocupante de rea��es adversas.

No total, 4,4% dos participantes apresentaram algum inc�modo ap�s a primeira dose.

Apenas 0,02% deles tiveram efeitos colaterais grau 3, como dor na cabe�a ou nos m�sculos, que chegaram a prejudicar as atividades di�rias.

O Projeto S tamb�m acompanhou os casos de hospitaliza��o ou morte por covid-19 durante e logo ap�s a vacina��o.

No intervalo entre a primeira e a segunda dose da vacina, foram registradas 43 interna��es e 7 �bitos entre os volunt�rios.

No per�odo de 14 dias ap�s a segunda dose, os cientistas identificaram cinco volunt�rios que necessitaram de aten��o hospitalar e uma morte.

Passadas as duas semanas ap�s o esquema vacinal completo, quando se sabe que o organismo j� formulou uma boa resposta imune contra o v�rus, foram detectados apenas dois casos de hospitaliza��o e nenhum �bito.

Vale lembrar tamb�m que todos os dados apresentados na coletiva de imprensa pelos representantes do projeto ainda n�o foram publicados numa revista cient�fica ou disponibilizados com maior detalhamento para que outros especialistas independentes possam analis�-los.

Efetividade da vacina

Aqui est� um dos aspectos mais importantes do estudo de Serrana: quando a maioria dos adultos estava protegida, os cientistas observaram uma queda de 80% nos casos sintom�ticos, de 86% nas hospitaliza��es e de 95% nos �bitos por covid-19.

Para chegar a esses n�meros, eles compararam dois per�odos: o primeiro vai de 7 de fevereiro a 10 de abril (quando os volunt�rios estavam sendo vacinados) e o segundo come�a em 11 de abril e segue at� o dia 15 de maio.

A diferen�a das estat�sticas entre esses momentos permitiu fazer os c�lculos e estabelecer essas melhoras na situa��o da pandemia.

Outro ponto relevante: a diminui��o de casos, interna��es e mortes pela infec��o n�o aconteceu apenas entre aqueles que foram vacinados.

Os indiv�duos que n�o receberam as doses tamb�m colheram os benef�cios da campanha: os n�meros de casos sintom�ticos e hospitaliza��es melhoraram na mesma propor��o entre eles.

O mesmo pode ser observado com crian�as e adolescentes menores de 18 anos que moram em Serrana e n�o foram inclu�dos no projeto (a CoronaVac n�o est� liberada para uso nessa faixa et�ria).

"O fato de as pessoas estarem vacinadas impacta positivamente aquelas que n�o foram vacinadas. � uma imunidade indireta e todo mundo acaba ficando mais protegido", disse o m�dico Ricardo Palacios, diretor de Pesquisa Cl�nica do Instituto Butantan.

"Ao imunizar os adultos, voc� diminui a circula��o do v�rus, o que impacta positivamente em toda a sociedade, at� aqueles que n�o receberam a vacina, como os mais jovens", complementa Pasternak.

Aprendizados em tempo real

Essa "imunidade indireta", como explicado por Pal�cios, refor�a a mensagem de que a vacina��o deve sempre ser encarada como uma estrat�gia coletiva.

Em outras palavras, quando voc� toma as suas doses, o benef�cio dessa atitude n�o se limita � sua pr�pria sa�de: quanto mais pessoas vacinadas, menos o v�rus circula pela comunidade.

E isso, por sua vez, deixa todo mundo mais protegido mesmo aqueles indiv�duos que n�o foram imunizados ainda.

"N�o basta ter vacinas. O importante � a vacina��o. E � justamente o avan�o das campanhas que vai trazer essa prote��o coletiva", aponta Ballalai.

Portanto, quando chegar a sua vez de tomar a vacina contra a covid-19, v� ao posto de sa�de mais pr�ximo de sua casa assim que poss�vel.

Voc� estar� fazendo um bem a si mesmo e a toda a comunidade ao seu redor.

Hora de acelerar

Uma segunda li��o trazida pelo Projeto S � a necessidade de vacinar o maior n�mero de pessoas no menor intervalo de tempo poss�vel.

Serrana convocou toda a sua popula��o adulta e conseguiu imunizar 95% dela em apenas oito semanas.

Guardadas as devidas propor��es de tamanho e n�mero de habitantes, o mesmo ritmo n�o pode ser observado no restante do pa�s: por uma s�rie de motivos, a campanha de imuniza��o contra a covid-19 anda a passos lentos e apenas 10% dos brasileiros tomaram as duas doses da vacina at� agora, passados quase cinco meses do in�cio da campanha.

N�o se sabe, portanto, se os mesmos benef�cios observados em Serrana ser�o obtidos no Brasil inteiro, que demorar� muito mais tempo para superar a marca de 75% da popula��o vacinada.

Pasternak entende que a experi�ncia em Serrana serve como uma prova de conceito.

"Ela nos mostra que vacinar rapidamente funciona e pode levar � chamada imunidade de rebanho", diz.

No entanto, � preciso acompanhar o que vai acontecer na cidade por um per�odo de tempo maior.

Ser� que novas variantes podem complicar a pandemia por l� novamente? E quanto tempo durar� a prote��o da vacina?

� justamente para responder essas e outras quest�es que o Instituto Butantan planeja seguir observando os �ndices de sa�de do munic�pio por mais um ano, para uma an�lise de longo prazo.

Perspectivas futuras

Na vis�o dos especialistas, os resultados preliminares do Projeto S tamb�m renovam as esperan�as sobre o fim da pandemia, que ainda segue bem longe da nossa realidade.

"A luz no fim do t�nel n�o se apagou, muito pelo contr�rio", afirma Ballalai.

Segundo a m�dica, todas as vacinas dispon�veis atualmente j� se mostraram capazes de prevenir casos graves e mortes, o que significa um al�vio para o sistema de sa�de.

Isso vale n�o apenas para a CoronaVac, mas tamb�m para a AZD1222 (AstraZeneca/Universidade de Oxford) e para a Cominarty (Pfizer/BioNTech), que s�o usadas atualmente pelo sistema p�blico brasileiro.

"N�s n�o vamos conseguir eliminar completamente o coronav�rus, a exemplo do que foi feito na var�ola e na poliomielite, mas conseguiremos controlar a covid-19, de modo que ela deixe de causar essa situa��o insustent�vel que vivemos hoje", antev�.

Esse, ali�s, � um panorama bem parecido ao que ocorre com o influenza, o v�rus causador da gripe: apesar de n�o protegerem contra a infec��o em si, os imunizantes s�o capazes de evitar as complica��es e os �bitos por essa infec��o.

Mas para que isso tamb�m aconte�a com a covid-19 e a situa��o sanit�ria do pa�s volte a se estabilizar, � preciso avan�ar na vacina��o e proteger uma porcentagem consider�vel dos brasileiros.

Enquanto a vacina n�o chega para mais gente e essa luz no fim do t�nel continua distante, � essencial que todos fa�am a sua parte: manter distanciamento social, usar m�scaras ao sair de casa, cuidar da circula��o de ar pelos ambientes e lavar as m�os s�o atitudes imprescind�veis (at� mesmo para quem mora em Serrana).


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