Desde que a CPI da Covid come�ou, no dia 27 de abril, a comiss�o j� ouviu mais de dez testemunhas e teve centenas de requerimentos de informa��es.
Tamb�m teve diversas revela��es sobre a��es e omiss�es do governo federal durante a pandemia, testemunhas caindo em contradi��o, bate-boca entre parlamentares, senadores governistas fazendo perguntas com base em not�cias falsas, oposi��o acusando depoentes de mentir e at� um requerimento de convoca��o do Presidente da Rep�blica.
Para quem n�o conseguiu acompanhar a intensa movimenta��o, a BBC News Brasil fez uma sele��o dos principais momentos da CPI e das reportagens e an�lises sobre ela publicadas no nosso site.
Mandetta criticou Bolsonaro e disse que '410 mil vidas' o 'separam do presidente'
Os ex-ministros da Sa�de Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich foram os primeiros a prestar depoimento. Ambos deixaram o governo em meio � pandemia por discord�ncias com Bolsonaro em rela��o � condu��o do combate � covid-19.
Mandetta afirmou � CPI, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teve uma postura negacionista e tomou decis�es ignorando a ci�ncia e as informa��es prestadas pelo minist�rio, mesmo com o alerta de que isso poderia levar a milhares de mortes. Disse tamb�m que o presidente tinha um grupo de conselheiros paralelos que o assessoravam em quest�es relacionadas � pandemia.
O ex-ministro criticou o fato do presidente ter se posicionado contra lockdown e medidas de restri��o de circula��o. E acrescentou que Bolsonaro preferiu estimular o uso de rem�dios sem efic�cia contra a doen�a a fazer uma campanha de conscientiza��o da popula��o.
"Hoje, 410 mil vidas me separam do presidente", disse Mandetta, em refer�ncia �s mais de 400 mil mortes por covid no pa�s.
Mandetta afirmou que n�o foi diretamente pressionado pelo presidente a tomar medidas contr�rias ao que era recomendado pela ci�ncia, mas que foi publicamente confrontado, o "que dava uma informa��o d�bia � sociedade".

"Sim, a postura (do presidente) trouxe um impacto (negativo). Voc� tem que ter, na pandemia, uma fala �nica", afirmou.
Segundo o ex-ministro, o governo queria mudar a bula da cloroquina para incluir seu uso no tratamento da covid-19, mesmo sem que o rem�dio tenha efic�cia no combate � doen�a. Essa informa��o foi depois confirmada pelo presidente da Anvisa, o militar Antonio Barra Torres.
As revela��es de Mandetta acabaram sendo base para as principais linhas de investiga��o dos senadores nos dias seguintes.
O ex-ministro Nelson Teich foi mais contido nas cr�ticas a Bolsonaro, mas confirmou que saiu do cargo ap�s apenas 29 dias porque n�o tinha autonomia e porque o presidente insistia no uso da cloroquina e nas cr�ticas �s medidas de restri��o de circula��o.
Atual ministro fugiu de perguntas e foi reconvocado
O atual ministro da sa�de, Marcelo Queiroga, tamb�m foi um dos primeiros a prestar depoimento, mas n�o deu todos os esclarecimentos que os senadores estavam esperando, deixando a maior parte dos questionamentos sem resposta.
Entre outras coisas, ele se recusou diversas vezes a responder se concorda com o presidente Jair Bolsonaro sobre o uso de cloroquina no combate � covid.
As constantes evasivas fizeram com que os senadores aprovassem, em 19 de maio, a sua reconvoca��o para a CPI. Seu novo depoimento deve ser nesta ter�a (8/6).
Presidente da Anvisa confirmou tentativa do governo de mudar bula da cloroquina
Em seu depoimento, o presidente da Anvisa (Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria), Antonio Barra Torres, disse que n�o houve press�o direta de Bolsonaro sobre a ag�ncia para a aprova��o da cloroquina para o combate ao coronav�rus, mas confirmou que o governo queria mudar a bula da cloroquina e que isso foi levantado em uma reuni�o de ministros com o presidente, como havia dito Mandetta.
"Esse documento (uma minuta sobre uma poss�vel mudan�a) foi comentado pela dra. Nise Yamaguchi, o que provocou uma rea��o at� um pouco deseducada minha", afirmou Barra Torres. "S� quem pode modificar a bula de um medicamento registrado � a ag�ncia reguladora do pa�s (a Anvisa), mas desde que solicitado pelo detentor do registro."

Ou seja, a mudan�a poderia acontecer se pedida pelos laborat�rios que produzem a cloroquina, a partir da descoberta de que o medicamento tem tamb�m aquela o que n�o aconteceu.
"Se a ind�stria descobre que o rem�dio tem essa fun��o, isso representa um ganho para a sociedade e obviamente ganho de dinheiro para aquele laborat�rio. Ent�o, uma pessoa f�sica propor isso n�o tem cabimento", afirmou Barra Torres.
Barra Torres tamb�m disse que o governo n�o interferiu na an�lise ou nas decis�es da Anvisa sobre vacinas. Mas afirmou que a ag�ncia "recebeu muito mal" falas de Bolsonaro que criticavam vacinas e colocavam d�vidas sobre sua seguran�a.
"Misturar pol�tica e vacina n�o � adequado", disse. "A popula��o n�o deve se orientar por orienta��es dessa maneira (do presidente da Rep�blica), mas pela orienta��o de �rg�os t�cnicos que est�o na linha de frente."
Militar e indicado por Bolsonaro, Barra Torres chegou a ter a independ�ncia questionada ap�s ser fotografado sem m�scaras ao lado do presidente durante um ato em favor do governo na frente do Pal�cio do Planalto, em 15 de mar�o de 2020.
� CPI, disse que se arrependeu do ocorrido e que na �poca a OMS (Organiza��o Mundial de Sa�de) indicava m�scaras apenas para profissionais de sa�de.
"� �bvio, em termos da imagem que passa, hoje vejo que se pensasse mais cinco minutos n�o teria feito", afirmou. "Depois disso, nunca mais houve esse comportamento meu."
Pfizer confirmou que governo rejeitou 70 milh�es de doses
O ex-presidente da Pfizer no Brasil e atual CEO para Am�rica Latina, Carlos Murillo, deu detalhes da negocia��o da empresa com o governo Bolsonaro.
Segundo ele, o governo n�o respondeu a tr�s ofertas de 70 milh�es de doses de vacinas da Pfizer em 2020. Murillo disse que as ofertas, feitas em 14, 18 e 26 de agosto de 2020 foram simplesmente ignoradas.
O executivo afirmou que, caso essas ofertas tivessem sido aceitas, os primeiros lotes poderiam ter sido entregues ainda em dezembro daquele ano. Segundo Murillo, n�o houve atrasos at� agora no cronograma de entrega da empresa. Ou seja, se o governo tivesse aceitado alguma das propostas, as primeiras vacinas da Pfizer teriam chegado ao Brasil ainda em dezembro de 2020 e a vacina��o poderia ter sido iniciada com um pedido de aprova��o da Anvisa para uso emergencial do imunizante.

Foi isso que aconteceu com a Coronavac, do Instituto Butantan, contratada pelo governo de S�o Paulo antes da aprova��o da ag�ncia. A vacina��o come�ou em 17 de janeiro, dia em que a Anvisa concedeu autoriza��o de uso emergencial.
Em fevereiro, a Anvisa deu aprova��o definitiva para a vacina da Pfizer. Mas o contrato com a empresa s� foi fechado em mar�o e a primeira remessa de cerca de um milh�o de doses da vacina da Pfizer/BioNTech chegou ao Brasil no final do �ltimo m�s de abril.
Outros pa�ses, como os EUA, fecharam o contrato de compra com a Pfizer antes da aprova��o das ag�ncias regulat�rias e come�aram a vacina��o ap�s aprova��o provis�ria.
Questionado sobre as dificuldades na negocia��o com o minist�rio da Sa�de, Murillo afirmou que inicialmente "os temas complexos" eram relacionados � quest�o log�stica, mas quando a empresa ofereceu um novo m�todo de armazenamento, o minist�rio apresentou novos entraves, dizendo que era preciso aprova��o pr�via da Anvisa.
O ex-ministro Eduardo Pazuello afirmou publicamente que o contrato tinha "cl�usulas leoninas".
"As condi��es que oferecemos para o Brasil s�o exatamente as mesmas que a Pfizer negociou com 110 pa�ses no mundo", afirmou Murillo.
Depoimentos de Ernesto Ara�jo e F�bio Wajngarten geraram tumulto na CPI
O ex-ministro das Rela��es Exteriores Ernesto Ara�jo e o ex-secret�rio de Comunica��es F�bio Wajngarten tiveram os depoimentos mais conturbados at� agora, com acusa��es de mentiras e bate-bocas entre senadores.
Ambos eram parte do chamado "n�cleo olavista" (de seguidores do escritor Olavo de Carvalho) do governo, que inclui tamb�m o vereador e filho do presidente Carlos Bolsonaro.

Wajngarten entrou em contradi��o em seu depoimento e foi acusado de mentir por senadores independentes e da oposi��o. Parte da sess�o foi ocupada por debates sobre a possibilidade de uma pris�o do ex-secret�rio caso ele se recusasse a colaborar.
Inicialmente, por exemplo, afirmou que a Secretaria de Comunica��es (Secom) n�o tinha contratado influenciadores bolsonaristas para fazer campanha sobre "tratamento precoce" com uso de cloroquina. Mas ao ser apresentado com dados de que uma ag�ncia contratada pelo governo pagou R$ 23 mil a esses influenciadores, Wajngarten confirmou o valor e disse que eles foram contratados por "terem muitos seguidores".
Tamb�m negou diversas declara��es que havia feito � revista Veja, incluindo acusa��es de que Pazuello seria "incompetente". Confrontando com �udio da entrevista, disse que se referia ao minist�rio como um todo, e n�o ao ministro.
Ele tamb�m foi questionado sobre seu envolvimento nas negocia��es do governo com a Pfizer, apesar de n�o ser da �rea de sa�de. Disse que se envolveu ao saber, em novembro de 2020, que havia uma carta da empresa a seis destinat�rios do governo incluindo o presidente que n�o tinha sido respondida quase dois meses depois.
Wajngarten disse que procurou o presidente, pessoas p�blicas e empres�rios para tentar viabilizar a compra da vacina. "Tenho muito orgulho disso", afirmou.
Seu depoimento foi interrompido por um tumulto ap�s o senador Fl�vio Bolsonaro (Republicano-RJ) entrar na se��o e acusar o senador Renan Calheiros (MDB-AL) de usar a CPI para se promover.
"Imagina, um cidad�o honesto ser preso por um vagabundo como Renan Calheiros", disse o filho do presidente.
"Vagabundo � voc� que roubou dinheiro do pessoal do seu gabinete", retrucou Calheiros, em meio a protestos de outros senadores contra a fala de Fl�vio.
"Quer aparecer... Vai se f...", respondeu o filho do presidente.
Ernesto Ara�jo tamb�m gerou rea��o dos senadores ao negar que o Brasil tenha tido uma rela��o conflituosa com a China durante sua gest�o no Itamaraty.
O presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM), pediu que Ara�jo n�o faltasse com a verdade e lembrou do texto em que o ex-ministro sugeriu que a pandemia tinha "como objetivo" trazer de volta o comunismo e usou o termo "comunav�rus".
"Eu me referia a um 'v�rus ideol�gico', n�o ao coronav�rus", afirmou.
O ex-chanceler deixou o governo em mar�o deste ano ap�s press�o do Congresso parlamentares acreditavam que a atua��o de Ara�jo prejudicava a rela��o com a China.
Aziz lembrou tamb�m do epis�dio em que Ara�jo entrou em conflito com o embaixador chin�s no Twitter.

No ano passado, cr�ticas do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ao pa�s asi�tico e seu h�bito de chamar o coronav�rus de "v�rus chin�s" levaram o embaixador chin�s, Yang Wanming, a se posicionar exigindo um pedido de desculpas.
Na �poca, Ara�jo disse que as cr�ticas de Eduardo "n�o refletem a posi��o do governo brasileiro", mas que era "inaceit�vel que o Embaixador da China endossasse ou compartilhe postagem ofensiva ao Chefe de Estado do Brasil e aos seus eleitores".
Ara�jo confirmou na CPI a autenticidade das mensagens reveladas por uma investiga��o da Folha de S. Paulo, que mostraram que o Itamaraty foi mobilizado para garantir o fornecimento de cloroquina ao Brasil, mesmo quando as evid�ncias cient�ficas j� apontavam que o rem�dio n�o era capaz de combater a covid.
O ex-chanceler afirmou que os esfor�os foram feitos a partir de um pedido do minist�rio da Sa�de.
Ara�jo foi tamb�m cobrado sobre a falta de atua��o do Itamaraty para trazer mais oxig�nio oferecido pela Venezuela ao Amazonas em janeiro, quando a falta do g�s provocou a morte de centenas de pessoas que estavam internadas com covid-19 no Estado.
Ara�jo reconheceu que n�o fez contato com o governo da Venezuela, nem agradeceu a doa��o de oxig�nio, mas afirmou que "o Itamaraty n�o age de maneira aut�noma em temas de sa�de".
Pazuello decidiu proteger Bolsonaro e fez depoimento cheio de contradi��es
Um dos convocados mais aguardados da CPI, o ex-ministro da Sa�de Eduardo Pazuello, frustrou a oposi��o ao fazer de tudo para proteger o presidente e evitar relacionar Bolsonaro a qualquer decis�o sobre a pandemia tomada no minist�rio da Sa�de.
Em dois dias de depoimento, Pazuello afirmou que Bolsonaro nunca lhe deu ordens diretas sobre o que fazer, disse que a responsabilidade pelo colapso da sa�de em Manaus foi da secretaria de Sa�de local, afirmou que o aplicativo do minist�rio que recomendava cloroquina foi "hackeado" e que a pasta nunca recomendou o rem�dio, contradisse a Pfizer e negou que o minist�rio tenha deixado de responder �s ofertas da empresa, reafirmando que havia "problemas jur�dicos" que atrapalharam o fechamento do contrato.
Na avalia��o do relator, Renan Calheiros (MDB-AL), Pazuello "mentiu muito" ao longo do depoimento. O general, por sua vez, negou que tenha faltado com a verdade.
"Em momento algum o presidente me desautorizou ou me orientou a fazer nada diferente do que eu estava fazendo", afirmou Pazuello na CPI.

Em outubro do ano passado, no entanto, o general havia gravado um v�deo ao lado de Bolsonaro dizendo que sua rela��o com o presidente "era simples". "Um manda e o outro obedece", disse.
O encontro ocorreu um dia depois de Bolsonaro ter publicamente desautorizado o general sobre a compra da CoronaVac, vacina do Instituto Butantan em parceria com o laborat�rio chin�s Sinovac. O minist�rio havia assinado um protocolo de compra ap�s press�o de governadores pedindo por vacinas.
Ap�s o an�ncio, por�m, Bolsonaro disse: "J� mandei cancelar, o presidente sou eu, n�o abro m�o da minha autoridade".
Sobre isso, Pazuello afirmou � CPI que a fala de Bolsonaro foi "uma posi��o como agente pol�tico na internet" e que isso n�o interferiu em nada na discuss�o que havia com o Instituto Butantan.
"Uma fala na internet n�o � uma ordem", disse Pazuello. "Bolsonaro nunca falou para que eu n�o comprasse. Ele falou publicamente, mas para o minist�rio ou para mim, nunca falou", insistiu.
Sobre Manaus, Pazuello disse que s� ficou sabendo da imin�ncia da falta de oxig�nio no dia 10 de janeiro.
Pazuello disse que no dia 7 de janeiro o secret�rio de Sa�de do Amazonas lhe pediu apoio no transporte de oxig�nio de Bel�m (Par�) para o interior amazonense, mas que nada foi dito nesse sobre risco de falta de oxig�nio em Manaus.
No entanto, uma comitiva do Minist�rio da Sa�de j� havia ido a Manaus em 3 de janeiro para avaliar o estado cr�tico do sistema de atendimento na cidade.
Al�m disso, um documento de 4 de janeiro produzido pelo Minist�rio da Sa�de e com o nome de Pazuello afirma que "h� possibilidade iminente de colapso do sistema de sa�de, em 10 dias", segundo uma reportagem da Ag�ncia P�blica.
Pazuello tamb�m negou que tenha recomendado o uso de cloroquina.
Por�m, no mesmo v�deo gravado ao lado do presidente em outubro de 2020, Pazuello relata que estava se sentindo melhor da infec��o por coronav�rus ap�s ter usado o "kit completo" de medicamentos, citando hidroxicloroquina, annita e azitromicina. Bolsonaro questiona Pazuello: "Se algum m�dico n�o quiser receitar cloroquina, o que ele (o paciente) faz?". O general ent�o responde: "Chama outro m�dico, e se o paciente quiser tomar assina l� o compromisso (reconhecendo os riscos do medicamento) e o m�dico receita".
Al�m das declara��es p�blicas, um dos primeiros atos da gest�o Pazuello foi editar, em maio de 2020, uma nota informativa que orientava sobre doses da cloroquina a serem ministradas para pacientes com quadros leves e graves de covid.
O ex-ministro tamb�m argumentou que o aplicativo do minist�rio da sa�de que recomendava a cloroquina, o TrateCov, "foi hackeado". No entanto o TrateCov foi efetivamente colocado pelo minist�rio no ar para auxiliar m�dicos em Manaus, com direito a um programa sobre seu uso na TV Brasil.
Os senadores consideraram que o depoimento de Pazuello, apesar de longo, n�o esclareceu todas as d�vidas sobre a atua��o do governo na pandemia e o ministro foi convocado para depor novamente. A data do segundo depoimento ainda n�o est� marcada.
"Capit� cloroquina" admitiu ser autora de �udio com not�cias falsas
A secret�ria de Gest�o do Trabalho e da Educa��o em Sa�de do minist�rio da Sa�de e conhecida como "Capit� Cloroquina", Mayra Pinheiro, negou que a pasta tenha indicado cloroquina para tratar covid-19.
Ela disse que o minist�rio apenas "orientou" o uso de cloroquina, mas nunca "recomendou" o medicamento. Questionada pelos senadores sobre a diferen�a entre as duas coisas, n�o explicou.
A m�dica foi quem sugeriu o desenvolvimento do TrateCov, um aplicativo com o prop�sito de auxiliar m�dicos no diagn�stico e tratamento da covid-19, segundo o ex-ministro Pazuello. Na pr�tica, o aplicativo recomendava o coquetel de medicamentos sem efic�cia indiscriminadamente, at� mesmo para beb�s.

� CPI, no entanto, Mayra Pinheiro afirmou que "quem criou o aplicativo foram os t�cnicos de sua secretaria" - como secret�ria, no entanto, a ordem precisaria ter partido dela para ser realizada pela secretaria.
Seu depoimento foi especialmente marcado pelo momento em que Pinheiro admitiu que foi realmente ela quem fez um �udio que circulou pelas redes sociais espalhando not�cias falsas sobre a Fiocruz.
No �udio, Pinheiro dizia que "tudo deles envolve LGBT" e que "eles t�m um p�nis na porta da Fiocruz", que "todos os tapetes das portas s�o a figura do Che Guevara" e as "salas s�o figurinhas do Lula Livre, Marielle Vive".
A Fiocruz n�o tem uma figura de um p�nis na entrada nem tapetes nas portas com a imagem de Che Guevara. Tamb�m n�o h� envolvimento da funda��o em campanhas de apoio a Lula ou sobre o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco.
Pinheiro afirmou que o �udio era antigo e que "nessa �poca isso era constata��o de fatos"."Existia um objeto infl�vel em comemora��o a uma campanha na porta da entidade", disse ela.
Uma checagem da Ag�ncia Lupa mostrou que pelo menos outras cinco das declara��es feitas pela secret�ria continham informa��es falsas. Leia mais nesta reportagem da BBC News Brasil publicada em 26 de maio.
Seu depoimento n�o foi o �nico momento em que not�cias falsas apareceram na comiss�o. Alguns senadores tamb�m basearam falas e perguntas em not�cias falsas.
Ao questionar o executivo da Pfizer Carlos Murillo, o senador governista Marcos Rog�rio (DEM-RO) afirmou que a informa��o que tinha "� que a vacina��o nos EUA n�o come�ou em dezembro".
Rog�rio questionava Murillo sobre o cronograma de entregas da Pfizer apresentado com as propostas de compra, em 2020 que o governo rejeitou.
No entanto, a informa��o de que a vacina��o nos EUA come�ou no dia 14 de dezembro de 2020 foi amplamente divulgada na �poca. Ela come�ou com vacinas da Pfizer/BioNTech, alguns dias depois de a FDA (ag�ncia regulat�ria americana) aprovar, em 11 de dezembro, uma autoriza��o emergencial para o seu uso.
Instituto Butantan disse que governo tamb�m rejeitou suas vacinas
A CPI revelou que, al�m da rejei��o � oferta de vacinas da Pfizer, o governo- Bolsonaro tamb�m negou ofertas de vacinas do Instituto Butantan, em S�o Paulo.
O diretor do Butantan, o m�dico e pesquisador Dimas Covas, disse que a institui��o fez tr�s ofertas de vacina ao governo em 2020, todas rejeitadas.
A primeira foi em julho de 2020, quando foram ofertadas 60 milh�es de doses, que poderiam ser entregues ainda no �ltimo trimestre de 2020. O minist�rio da Sa�de, no entanto, n�o aceitou as ofertas e o contrato foi fechado apenas em janeiro de 2021, com um n�mero de doses menor do que a institui��o tinha oferecido.
Em janeiro a oferta do instituto foi de 100 milh�es de doses, mas j� n�o era poss�vel manter o cronograma de entrega. "Os parceiros internacionais (de fornecimento de insumos) j� tinham outros compromissos, e o ambiente internacional era de falta de vacinas", disse Covas � CPI.
Segundo o diretor do Butantan, as dificuldades impostas pelo governo federal nas negocia��es atrasaram a vacina��o de milh�es de brasileiros.
"O Brasil poderia ter sido o primeiro pa�s a come�ar a vacina��o", disse o m�dico.
O diretor afirmou tamb�m que a institui��o pediu ajuda financeira do governo para montagem de uma f�brica de vacinas que poderia ampliar a capacidade de produ��o, mas o apoio n�o veio.
Nise Yamaguchi negou fazer parte de gabinete paralelo, mas reconheceu "conselho independente"
A CPI ouviu a m�dica Nise Yamaguchi para investigar a afirma��o do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta de que o presidente recebia conselhos sobre sa�de p�blica e pandemia de um grupo paralelo de conselheiros que n�o faziam parte do minist�rio da Sa�de.
Cotada para ministra da Sa�de, Yamaguchi sempre se posicionou publicamente em acordo com o presidente Jair Bolsonaro e disse que aceitaria o cargo se fosse convidada, mas a possibilidade nunca se concretou.
Defensora da cloroquina para "tratamento precoce" contra covid, Yamaguchi faz parte de um grupo minorit�rio de m�dicos que defende que existem evid�ncias da sua efic�cia contra o coronav�rus.
No entanto, as entidades mais respeitadas da �rea m�dica no mundo inteiro concordam que n�o h� estudos confi�veis, feitos com a metodologia correta, que comprovem essa vers�o. Nem os pr�prios fabricantes dos rem�dios afirmam ter encontrado essas evid�ncias.
Yamaguchi estava presente na reuni�o em que o governo levantou a possibilidade de mudan�a de bula da cloroquina, segundo Mandetta.

A m�dica, no entanto, negou � CPI que houvesse essa inten��o do governo e afirmou que tanto o ex-ministro quanto do presidente da Anvisa "podem ter se equivocado". No entanto, voltou a defender, na comiss�o, o uso da cloroquina para tratamento precoce.
Yamaguchi negou fazer parte de um conselho paralelo de aconselhamento a Bolsonaro, mas admitiu que participava do que chamou de um "conselho independente" de discuss�o sobre a pandemia organizado pelo empres�rio do ramo de escolas de ingl�s Carlos Wizard.
"N�o participo de nenhum gabinete paralelo", disse Yamaguchi, apesar de admitir que participou de uma reuni�o com o comit� de crise interministerial e que fazia parte de um grupo organizado por Wizard.
A m�dica afirmou que esse "conselho cient�fico independente" trabalhou "fazendo levantamento de dados cient�ficos de forma volunt�ria" e apresentou essas informa��es ao governo.
"A princ�pio, ele seria do minist�rio, mas n�o foi. Foi independente", disse.
A m�dica afirmou que esteve com o presidente "umas quatro vezes" e que nunca teve encontros privados com Bolsonaro, embora a agenda oficial do presidente informe uma reuni�o entre ele e Yamaguchi em 15 de maio de 2020.
Consta na mesma agenda pelo menos duas outras reuni�es de Bolsonaro com Nise, com a participa��o de outros integrantes do governo federal, nos dias 6 e 7 de abril de 2020.
Al�m da Yamaguchi, na semana passada a CPI ouviu tamb�m a infectologista Luana Ara�jo, que foi indicada para uma secretaria no minist�rio da Sa�de, mas ficou apenas alguns dias antes de ter a nomea��o cancelada.
Ara�jo, que se posiciona publicamente contra o uso da hidroxicloroquina e ao chamado "tratamento precoce", foi questionada pelos senadores da CPI a respeito dos motivos do cancelamento de sua nomea��o.
Ela respondeu que essa pergunta deveria ser encaminhada ao ministro Marcelo Queiroga, que a contratou. "O ministro disse que lamentava, mas que meu nome n�o ia passar pela Casa Civil", disse.
Queiroga deve voltar a prestar depoimento nesta ter�a (7).
Pr�ximos depoimentos
A CPI aprovou a convoca��o de diversas outras testemunhas, mas nem todas t�m data marcada.
Na ter�a (8), a comiss�o vai ouvir novamente o ministro da Sa�de, Marcelo Queiroga. Para esta semana est�o marcados tamb�m os depoimentos do ex-secret�rio executivo do minist�rio da Sa�de Antonio Elcio Franco e do marqueteiro Marcos Arnoud, o Markinhos Show, ex-assessor especial do minist�rio. Na sexta, em car�ter excepcional, haver� um debate com m�dicos e cientistas.
Na semana seguinte est�o marcados os depoimentos do secret�rio de sa�de do Amazonas, Marcellus Camp�lo; do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel; do empres�rio Carlos Wizard e de Paulo Bara�na, representante da empresa White Martins (respons�vel por fornecer oxig�nio para hospitais em Manaus).
Convoca��o de governadores e do presidente da Rep�blica
A CPI tamb�m fez a convoca��o de nove governadores (veja quais) para falar sobre o uso de recursos enviados para o governo federal para o combate a pandemia nos Estados.
No entanto, � poss�vel que essa convoca��o ainda seja questionada, j� que h� previs�o legal para que a CPI possa convocar governadores.
A professora de Direito Constitucional Estef�nia Barbosa, da Universidade Federal do Paran� (UFPR), explicou � BBC News na semana passada que o artigo 50 da Constitui��o Federal prev� apenas a convoca��o de titulares de �rg�os subordinados ao presidente da Rep�blica. Governadores e prefeitos n�o estariam inclu�dos.
Eles ainda poderiam ser convidados a comparecer � comiss�o, mas nesse caso seu comparecimento n�o seria obrigat�rio.
Diante da falta de previs�o para convoca��o de governadores, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou um requerimento pedindo a convoca��o do Presidente da Rep�blica.
Rodrigues disse considerar inconstitucional a convoca��o de governadores pela CPI. No entanto, como a comiss�o aprovou os nove depoimentos, o senador argumentou que, "por coer�ncia", Bolsonaro tamb�m deve ser convocado.
Rodrigues diz que "a cada depoimento e a cada documento recebido, torna-se mais cristalino que o presidente da Rep�blica teve participa��o direta ou indireta nos graves fatos questionados por esta CPI".
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