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Estado de Minas DESEQUIL�BRIO

Covid-19: Por que Norte tem menor percentual de vacinados do Brasil

Ao longo de junho, Amap�, Acre, Roraima e Rond�nia apareceram nas �ltimas coloca��es de popula��o vacinada contra a covid-19 no pa�s, tanto para primeira quanto segunda dose. Caracter�sticas demogr�ficas, not�cias falsas e dist�ncias s�o algumas das explica��es para desempenho na regi�o.


25/06/2021 08:49 - atualizado 25/06/2021 09:30

Desde o in�cio de junho, a BBC News Brasil vem acompanhando os percentuais di�rios de popula��o vacinada contra a covid-19 nos Estados brasileiros. Com o passar das semanas, um grupo de Estados nunca deixou as �ltimas coloca��es, aparecendo com os menores percentuais de popula��o vacinada no pa�s.

Em comum, eles s�o todos da regi�o Norte (formada por Acre, Amap�, Amazonas, Par�, Rond�nia, Roraima e Tocantins).

At� esta quarta-feira (23/6), os menores percentuais de popula��o imunizada com a 1ª dose de vacina contra a covid-19 pertenciam ao Amap� (19,63%); Roraima (20,53%); Acre (21,79%); Rond�nia (22,54%) e Tocantins (22,88%). No outro extremo, lideravam em popula��o vacinada o Mato Grosso do Sul (38,35%); Rio Grande do Sul (37%) e Esp�rito Santo (34,97%). Os dados s�o do Cons�rcio de Ve�culos da Imprensa formado por G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL.

 

Dados de maio do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) tamb�m mostram que Acre, Roraima, Amap�, Rond�nia e Tocantins t�m os menores n�meros de auxiliares, t�cnicos, enfermeiros e obstetrizes no pa�s. A reportagem n�o encontrou n�meros relativos � popula��o.


Alguns Estados do Norte estão entre os que têm menos médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde no país(foto: EPA/Antonio Lacerda)
Alguns Estados do Norte est�o entre os que t�m menos m�dicos, enfermeiros e outros profissionais de sa�de no pa�s (foto: EPA/Antonio Lacerda)

Secret�rio no Amap�, Juan Mendes Silva diz que algumas milhares de doses a mais ou a menos podem parecer n�o fazer tanta diferen�a no c�mputo por Estado — mas proporcionalmente � popula��o, e considerando que este grupo profissional foi priorizado na primeira fase de vacina��o, a import�ncia � maior.

Charles Tocantins, do Conasems, diz que as fragilidades da rede de sa�de no Norte trazem outro problema.

"No crit�rio de pessoas com comorbidades, o minist�rio considerou dados da popula��o cadastrados em sistemas, e tamb�m o hist�rico de campanhas de imuniza��o anteriores. Como temos baixa cobertura assistencial, temos baixo n�mero de pessoas com comorbidades (registradas)", acrescenta.

"A regi�o Norte tem grande d�ficits assistenciais. Temos mais unidades b�sicas de sa�de e hospitais de pequeno porte."

Ou seja, tendo menos acesso a m�dicos e hospitais gerais, h� tamb�m menos diagn�sticos e registros de pessoas com comorbidades.

Outro grupo priorizado na primeira fase (a partir dos 75 anos) e segunda fase da imuniza��o (60 anos), o dos idosos, � sabidamente menos numeroso, em termos absolutos e relativos, no Norte.

Dados para o primeiro trimestre de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) mostram, mais uma vez de forma muito evidente, que os Estados com menor percentual de popula��o com 60 anos ou mais est�o no Norte: Roraima (8,2%), Amap� (8,8%), Amazonas (9,8%), Acre (10,4%), Rond�nia (11,7%) e Par� (11,7%).

Charles Tocantins afirma que ele e colegas desconfiam que, em algumas partes do Brasil, a duplicidade de dados — por exemplo, uma mesma pessoa sendo contabilizada tanto como idosa quanto como portadora de comorbidade — pode ter rendido uma sobra de doses.

"Dessa sobra, alguns Estados podem estar usando as doses que eram para a popula��o-alvo para a popula��o geral. Como a regi�o Norte perdeu percentual de vacinas nestes quesitos, ficamos para tr�s."

"O Norte est� muito atr�s, ent�o � o momento da gente passar o maior n�mero de doses para essa regi�o para fazer o equil�brio com as demais regi�es do pa�s."

Segundo o secret�rio, os membros do Conasems t�m conversado sobre a proposta do minist�rio rastrear os munic�pios que est�o muito defasados em percentual de popula��o vacinada, garantir que a etapa de vacina��o dos grupos priorit�rios seja conclu�da em todo o pa�s — para que ent�o todas as localidades cheguem de forma mais igualit�ria � imuniza��o da popula��o geral.

Ainda sobre dados, Charles Tocantins diz que "n�o ficou transparente" quais n�meros de idosos, profissionais de sa�de e pessoas com comorbidade por Estado o Minist�rio da Sa�de considerou para orientar a distribui��o de doses: "Se voc� perguntar pra qualquer secret�rio, municipal e estadual, at� no Senado federal, isso n�o ficou t�o claro."

Juan Mendes Silva, vice-presidente do Conass, disse que a entidade pediu recentemente ao minist�rio um documento chamado de mem�ria de c�lculo referente � �ltima remessa de doses, com dados detalhados sobre a distribui��o, mas ainda n�o teve resposta.

No in�cio do ano, o governador do Par�, Helder Barbalho, chegou a enviar um of�cio ao ent�o ministro da Sa�de, Eduardo Pazuello, questionando os crit�rios na distribui��o de vacinas e reclamando que o Estado foi o que recebeu menos doses em rela��o � popula��o.

Em nota enviada � BBC News Brasil, o Minist�rio da Sa�de afirmou que "a distribui��o das doses de vacinas Covid-19 segue crit�rios t�cnicos de proporcionalidade do p�blico-alvo a ser imunizado, em cada Unidade Federada (UF)" e que "todas as orienta��es e recomenda��es adotadas s�o pactuadas em reuni�es com representantes da Uni�o, Estados e munic�pios".

A pasta n�o respondeu ao questionamento da reportagem sobre a transpar�ncia nos dados considerados por Estado e nem ao pedido de acesso a eles.

Por outro lado, h� um gargalo que alguns munic�pios do Norte compartilham com outras cidades de outras regi�es: a suspens�o das vacina��es por conta de doses. Segundo apura��o do jornal Folha de S�o Paulo, Rio Branco (AC) est� entre as nove capitais no pa�s que precisaram suspender parcialmente ou totalmente a vacina��o com a primeira dose devido ao estoque reduzido.

A capital do Amap�, Macap�, tamb�m est� realizando campanha para vacinar aqueles que est�o com dose atrasada — alguns desde abril. Em nota, a prefeitura atribuiu o atraso � falta do insumo farmac�utico ativo (IFA), vindo da China e necess�rio para a fabrica��o da vacina Coronavac no Brasil.

�reas remotas


Militares em base aérea em Boa Vista (RR) preparam envio de doses para aldeias yanomamis(foto: Andressa Anholete/Getty Images)
Militares em base a�rea em Boa Vista (RR) preparam envio de doses para aldeias yanomamis (foto: Andressa Anholete/Getty Images)

Se por um lado alguns dos grupos priorit�rios para vacina��o s�o relativamente menos numerosos na regi�o Norte, outros inclu�dos na primeira fase da vacina��o s�o fortemente representados ali: os ind�genas vivendo em terras ind�genas (em contraposi��o �queles vivendo em �reas urbanas), quilombolas e ribeirinhos.

De acordo com o Censo 2010, do IBGE, a maior popula��o vivendo em terras ind�genas estava no Norte, em n�meros absolutos: naquele ano, eram 251.891 pessoas na regi�o, de um total de 517.383 no pa�s. N�meros mais atualizados do IBGE, de 2019, mostram tamb�m que o Norte lidera com 63,4% das localidades ind�genas no pa�s, e est� em terceiro lugar no n�mero de localidades quilombolas (873) — atr�s do Nordeste (3.171) e Sudeste (1.359).

N�o foram encontrados dados populacionais sobre os ribeirinhos, mas a regi�o amaz�nica � considerada, at� mesmo na distribui��o de equipes de sa�de da fam�lia ribeirinhas (ESFR), um dos principais locais onde vive este povo.

Os secret�rios entrevistados pela BBC News Brasil dizem que a forte presen�a no Norte dos povos tradicionais, priorit�rios para vacina��o, n�o foi suficiente para tornar o percentual de popula��o vacinada mais pr�ximo de outras regi�es do pa�s.

Para Alyson Bestene, secret�rio de Sa�de do Acre, os desafios para acesso a estes locais, sobretudo as Terras Ind�genas, acabou fazendo com que os governos estaduais e municipais tenham se dedicado principalmente a esta etapa inicial de vacina��o — n�o chegando t�o rapidamente quanto outros Estados a etapas seguintes.

"Na primeira fase, quando sa�ram os primeiros lotes da vacina, tivemos um quantitativo para os povos ind�genas, mas tivemos uma grande dificuldade de ter acesso a essas comunidades. Fomos trabalhando com o Distrito Sanit�rio Especial Ind�gena (DSEI) para fazer a aplica��o", diz Bestene.

"Naquele momento, aparec�amos sempre atr�s, tamb�m por problemas de n�o conseguir registrar (as doses aplicadas)."

"Temos uma log�stica de entrega r�pida, com muitos munic�pios realizando suas campanhas de vacina��o de forma c�lere. Mas muitos t�m dificuldade de acesso � internet e acabam acumulando fichas. Isso acaba gerando um lapso de registro e dificultando a compara��o com outros Estados", diz o secret�rio do Acre, que tamb�m destaca a desvantagem de Estados do Norte nas primeiras etapas e pede "um envio maior de doses" para a regi�o.

Bestene menciona ainda o desafio para vacinar em locais que exigem acesso via barco ou aeronaves, algo abordado tamb�m por Jesem Orellana, epidemiologista da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amaz�nia.

A partir da base de dados Open Data SUS, o pesquisador levantou n�meros para a BBC News Brasil mostrando que no Acre, assim como no Amazonas, a vacina��o na capital est� mais avan�ada do que nos munic�pios do interior e na m�dia do Estado (por ter uma fonte diferente do Cons�rcio da Imprensa, citado no in�cio da reportagem, os percentuais para os Estados podem ser tamb�m diferentes).

População vacinada contra a covid-19, segundo local de residência e dose, Amazonas (junho de 2021). .  No interior, foram excluídos os municípios de Parintins e Itacoatiara %u2014 ambos com mais de 100 mil habitantes, fugindo do perfil buscado no levantamento (rural e interiorano).
População vacinada contra a covid-19, segundo local de residência e dose, Acre (junho de 2021). .  No interior, foi excluído o município de Cruzeiro do Sul %u2014 que tem mais de 100 mil habitantes, fugindo do perfil buscado no levantamento (rural).
População vacinada contra a covid-19, segundo local de residência e dose, Amapá (junho de 2021). .  No interior, foi excluído o município de Santana %u2014 que tem mais de 100 mil habitantes, fugindo do perfil buscado no levantamento (rural).
População vacinada contra a covid-19, segundo local de residência e dose, Rondônia (junho de 2021). .  No interior, foram excluídos os municípios de Ji-Paraná, Ariquemes e Vilhena %u2014 que têm mais de 100 mil habitantes, fugindo do perfil buscado no levantamento (rural).
População vacinada contra a covid-19, segundo local de residência e dose, Roraima (junho de 2021). .  No interior, foi excluído o município de Rorainópolis %u2014 que tem grande densidade populacional, fugindo do perfil buscado no levantamento (rural).

"A diferen�a do urbano versus rural � um fator muito importante, porque voc� tem deslocamentos dentro do pr�prio Estado que podem demorar mais de dois dias de barco", diz Orellana, doutor em epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas.

"No Acre � muito dif�cil, o governador deve ficar com os cabelos em p�, e tamb�m no Amazonas, Amap� e Roraima, para fazer a vacina chegar nesses munic�pios", exemplifica. "Para voc� ter uma ideia, a segunda maior cidade do Acre � Cruzeiro do Sul. N�o em estrada que conecte o ano todo, por exemplo, a capital Rio Branco a Cruzeiro do Sul e aos demais munic�pios do interior."

Entretanto, seu levantamento mostrou tamb�m que no Amap�, Rond�nia e Roraima, a vacina��o no interior est� mais avan�ada que a capital; j� o Par� e Tocantins n�o tiveram dados coletados.

O pesquisador explica que Rond�nia tem um perfil diferente de outros Estados da regi�o, por ser bastante conectada por rodovias. O Amap� e Roraima tamb�m s�o parcialmente cobertos por rodovias — uma realidade muito diferente do interior do Acre e Amazonas, completa Orellana, o que pode explicar as diferen�as de imuniza��o entre capital e interior.

'Se tinha 100 pessoas previstas para vacinar, menos de 30 optaram pela vacina��o'

Mas o pesquisador menciona ainda outro fator que est� afetando a vacina��o na regi�o, segundo relatos que tem escutado: a recusa da popula��o em se vacinar, muitas vezes motivada por not�cias falsas e desinforma��o acerca dos imunizantes.

"O prefeito precisa levar a vacina (para �reas remotas), convencer as pessoas e quando ele volta, muitas vezes ele volta frustrado, dizendo que a comunidade simplesmente recusou as doses, ou que se tinha 100 pessoas previstas para vacinar, menos de 30 optaram pela vacina��o", diz Orellana.

"Al�m de ser dif�cil chegar em algumas comunidades, �s vezes quando (equipes de sa�de) chegam, tem um pastor evang�lico, algu�m que ouviu o programa do r�dio, o presidente falando que a pessoa pode virar um jacar�, que vai alterar o DNA delas... N�o tomam. E a decis�o geralmente � coletiva: eles (equipes) falam normalmente com a lideran�a da comunidade, e a lideran�a fala n�o."

Conforme mostrou a BBC News Brasil em mar�o, testemunhas relataram situa��es cada vez mais frequentes de recusa � vacina��o por ind�genas, influenciados por not�cias falsas que circulam no WhatsApp.

Renata Quiles, coordenadora do Programa Nacional de Imuniza��es (PNI) no Acre, n�o p�de falar muito com a reportagem porque estava em meio a campanhas de vacina��o em �reas remotas. Trocando mensagens com a BBC News Brasil por WhatsApp, por�m, ela citou como fatores para o Estado estar entre os com menor percentual de imunizados no pa�s "a rejei��o � vacina, motivada pela escolha por laborat�rio"; "a dissemina��o de fake news"; e a "recusa � vacina por ideologia religiosa e cultural".

A reportagem pediu tamb�m entrevistas com os secret�rios de sa�de de Rond�nia e Roraima, que apareceram entre os tr�s Estados com menor percentual de popula��o vacinada ao longo de junho. As assessorias de imprensa dos governos estaduais, por�m, s� responderam com notas.

A Superintend�ncia Estadual de Comunica��o (Secom) de Rond�nia afirmou que "o envio de vacinas para o Estado de Rond�nia est� ocorrendo de maneira pontual, semanalmente e no territ�rio est� sendo seguido criteriosamente o atendimento aos p�blicos elencados como priorit�rios".

"No estado de Rond�nia h� munic�pios que atuam com equipes reduzidas, outras em regi�es rurais, como � o caso de comunidades tradicionais, ribeirinhas e aldeias ind�genas, nestes casos as fichas s�o preenchidas manualmente e posteriormente s�o informadas no sistema informatizado, portanto h� atraso entre o n�mero informado e a vacina��o de fato aplicada na popula��o de Rond�nia", completou a Secom sobre a posi��o do Estado na compara��o nacional.

J� o governo de Roraima afirmou atrav�s da assessoria que "tem um bom di�logo com o Minist�rio da Sa�de e isso tem proporcionado o envio de novos lotes de vacina, que, imediatamente ao serem recebidos pelo governo estadual, s�o repassados �s prefeituras para a efetiva imuniza��o da popula��o."

"A aplica��o dessas doses � de total responsabilidade das 15 prefeituras municipais do Estado de Roraima. O Governo recebe as doses, distribui e armazena. A defini��o de calend�rio de aplica��o e p�blico priorit�rio s�o atribui��es das prefeituras, como tamb�m a busca ativa e an�lise de quantidade de doses aplicadas. O Governo colabora apenas quando as prefeituras n�o tem condi��es de cumprir suas atribui��es", termina a nota.

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