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Estado de Minas

L�der de vacinas da Pfizer Brasil: 'Quando chegar sua vez, tome a que estiver dispon�vel'

Pediatra infectologista que lidera �rea de vacinas da farmac�utica no Brasil faz balan�o da imuniza��o contra covid-19 no pa�s e no mundo e refor�a necessidade de usar todos os imunizantes dispon�veis para controlar pandemia.


25/06/2021 14:50

Fenômeno dos 'sommeliers de vacinas', que escolhem qual produto querem tomar, tem preocupado profissionais de saúde e gestores públicos(foto: Mario Tama/Getty Images)
Fen�meno dos 'sommeliers de vacinas', que escolhem qual produto querem tomar, tem preocupado profissionais de sa�de e gestores p�blicos (foto: Mario Tama/Getty Images)

Quando uma empresa desenvolve um produto que ganha a prefer�ncia do p�blico, isso geralmente � encarado como sinal de sucesso. Por�m, ao falarmos de vacinas, essa "escolha" seletiva do consumidor pode trazer mais preju�zos do que benef�cios.

E isso � ainda mais perigoso quando estamos no meio de uma pandemia: muitos brasileiros est�o deixando de ir ao posto de sa�de quando as doses dispon�veis naquele local s�o de determinado fabricante ou de outro.

Segundo relatos publicados nas redes sociais, a vacina Comirnaty, desenvolvida por Pfizer/BioNTech, virou a "queridinha" de muita gente, que se recusa a tomar a CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan) ou a AZD1222 (AstraZeneca/Universidade de Oxford), as outras op��es dispon�veis na campanha de imuniza��o brasileira at� o meio de junho.

O fen�meno dos "sommeliers de vacinas" est� gerando rea��es nos pr�prios postos de imuniza��o. Na Unidade B�sica de Sa�de do Cambuci, em S�o Paulo, por exemplo, um cartaz fixado na entrada apela:

"Enquanto voc� escolhe a marca da vacina, o v�rus pode escolher voc�. Vacine-se j�!"

A mensagem foi flagrada pela rep�rter Beatriz Manfredini, da Jovem Pan News:

Vale refor�ar que esse tipo de escolha num momento t�o complicado como o que vivemos n�o faz sentido algum e pode at� ser perigoso.

Quem diz isso � a pr�pria l�der m�dica de vacinas da Pfizer Brasil: a pediatra infectologista J�lia Spinardi entende que n�o � hora de pensar somente em si e nas pr�prias prefer�ncias, mas, sim, na prote��o de toda a comunidade.

"Precisamos entender que as vacinas dispon�veis se mostraram seguras e eficazes e o uso de todas elas, em conjunto, � o que vai nos permitir controlar a covid-19", diz.

"Quando chegar a sua vez, vacine-se com o imunizante que estiver dispon�vel", resume a especialista.

Spinardi, que trabalha h� cinco anos na farmac�utica e tem mestrado em Ci�ncias da Sa�de pela Santa Casa de S�o Paulo, concedeu uma entrevista exclusiva para a BBC News Brasil, na qual avaliou o desenvolvimento das vacinas, o andamento das campanhas de imuniza��o e as perspectivas futuras de enfrentamento da pandemia.

Uma fa�anha global

Em meio a tantas perdas e sofrimentos, a humanidade conseguiu um feito not�vel: desenvolver, testar e aprovar v�rias vacinas contra uma doen�a nova num intervalo de menos de 12 meses.

Repare nas datas: a observa��o de que um novo v�rus estava provocando uma "doen�a misteriosa" na China come�ou a ser feita entre o final de dezembro de 2019 e as primeiras semanas de janeiro de 2020.

E os primeiros imunizantes para a covid-19, como a pr�pria Comirnaty e a AZD1222, j� estavam aprovados para uso em larga escala em dezembro de 2020.

Para Spinardi, a fa�anha s� foi poss�vel gra�as ao investimento em biotecnologia e ao foco total dos laborat�rios p�blicos e privados em completar essa corrida contra o rel�gio.

"Aqui na Pfizer, tivemos um redirecionamento total de nossas equipes e investimentos para que isso acontecesse e n�s cri�ssemos vacinas no menor tempo poss�vel", diz.

Pediatra infectologista Julia Spinardi, líder médica de vacinas da Pfizer Brasil, entende que não é hora de escolher o imunizante de um fabricante ou de outro(foto: Arquivo pessoal)
Pediatra infectologista Julia Spinardi, l�der m�dica de vacinas da Pfizer Brasil, entende que n�o � hora de escolher o imunizante de um fabricante ou de outro (foto: Arquivo pessoal)

A pediatra destaca que a inova��o se deu tamb�m na forma como os estudos cl�nicos foram conduzidos: "Etapas que antes eram feitas em sequ�ncia e demoravam meses para serem conclu�das foram realizadas em paralelo, para ganhar rapidez. E isso aconteceu, claro, sem que os crit�rios de seguran�a fossem deixados de lado."

Ainda na seara das novidades, a atual pandemia marcou a chegada de uma nova gera��o de vacinas (ao menos quando pensamos no uso em larga escala): os imunizantes de mRNA, como os produtos desenvolvidos por Pfizer/BioNTech e Moderna.

Eles s�o baseados num peda�o de c�digo gen�tico sintetizado em laborat�rio que, ao ser injetado no corpo, instrui nossas c�lulas a produzirem prote�nas caracter�sticas do coronav�rus.

Essas mol�culas, por sua vez, s�o reconhecidas pelo sistema imune, que cria anticorpos capazes de combater uma infec��o de verdade, caso o coronav�rus tente invadir nosso organismo.

Essa nova plataforma tem v�rios pontos positivos, como a fabrica��o r�pida e uma flexibilidade maior na adapta��o da f�rmula para fazer frente �s novas variantes, por exemplo.

"N�s n�o precisamos fazer o cultivo de v�rus ou bact�rias em laborat�rio, que � algo mais complicado e que exige uma s�rie de medidas. O fato de ser uma vacina 100% sintetizada facilita muito a produ��o como um todo", avalia Spinardi.

Entre as desvantagens, vale citar a pouca experi�ncia na plataforma de mRNA em larga escala e as dificuldades tecnol�gicas em montar f�bricas capazes de fabricar esse produto: hoje em dia, o mundo depende da expertise de poucas farmac�uticas (como Pfizer e Moderna) para obter milh�es e milh�es de doses dessas vacinas.

Outro ponto que gerou muita preocupa��o nos primeiros meses ap�s a aprova��o da Comirnaty foi a necessidade de armazenamento em temperaturas muito frias (abaixo de -75 �C), o que demandava equipamentos rebuscados e pouco acess�veis.

Essa seria uma dificuldade enorme num pa�s t�o grande e diverso como o Brasil: lugares com menos acesso a congeladores superpotentes poderiam ficar sem esse imunizante.

Mas essa barreira caiu por terra mais recentemente: j� existem caixas especiais que facilitam o transporte dos lotes e novos estudos mostraram que essa vacina permanece vi�vel se mantida a -20 �C por algumas semanas.

Necessidade de manter a Comirnaty em temperaturas baixíssimas seria um enorme entrave no uso do imunizante em países como Brasil. Mas algumas soluções aliviaram o tamanho do problema(foto: JEAN-FRANCOIS MONIER /Getty Images)
Necessidade de manter a Comirnaty em temperaturas baix�ssimas seria um enorme entrave no uso do imunizante em pa�ses como Brasil. Mas algumas solu��es aliviaram o tamanho do problema (foto: JEAN-FRANCOIS MONIER /Getty Images)

Outra boa not�cia foi a descoberta de que as doses que ser�o utilizadas logo, nos pr�ximos dias, podem ficar na temperatura de 2 a 8 �C, que j� se enquadra dentro da realidade dos mais de 30 mil postos de vacina��o espalhados pelo Brasil.

"Isso foi fundamental para que a gente conseguisse fazer a vacina chegar �s diferentes regi�es do nosso pa�s", comemora Spinardi.

Desafios em tempo real

A pediatra tamb�m chama a aten��o para a diferen�a entre efic�cia e efetividade de um novo imunizante.

Enquanto a efic�cia � medida a partir dos estudos cl�nicos de fase 3, que conta com algumas dezenas de milhares de volunt�rios, a efetividade mede os impactos de vida real da campanha de vacina��o, que envolve milh�es de pessoas.

A Comirnaty, que j� havia demonstrado uma efic�cia de 91% nas pesquisas, at� superou os resultados quando aplicada em larga escala em pa�ses como Israel e Estados Unidos.

"Os dados de efetividade que vemos hoje das na��es com a imuniza��o mais adiantada confirmam essa taxa superior a 90% e corroboram a necessidade do esquema de duas doses para garantir o maior potencial de prote��o", informa.

A despeito das negocia��es com o Governo Federal do Brasil e todos os e-mails e propostas n�o respondidos, que est�o sendo apurados pela CPI da Covid, Spinardi classifica como "gratificante" poder acompanhar todas as etapas de estudos e ver a vacina finalmente chegar ao Brasil.

"O desembarque das primeiras doses no pa�s foi um momento de muita esperan�a. A gente passou efetivamente a entender que pod�amos fazer parte da solu��o para o problema que estamos vivendo", admite.

Mas � claro que essa esperan�a fica muito pr�xima de outros sentimentos, como o estado de alerta constante com os boatos e as not�cias falsas.

E essas teorias da conspira��o v�m de todos os lados: o exemplo mais not�rio foi o pr�prio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que, em dezembro de 2020, se envolveu numa pol�mica ao comentar sobre as negocia��es com a Pfizer:

"L� no contrato da Pfizer, est� bem claro: n�s (a Pfizer) n�o nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se voc� virar um jacar�, � problema seu", discursou.

Embora essa rela��o entre a vacina e "virar jacar�" possa parecer piada e at� tenha gerado muitos memes, a verdade � que n�o se sabe o quanto uma fala dessas pode abalar a confian�a da popula��o, que precisa estar engajada e convencida da import�ncia de ir at� o posto de sa�de para se proteger.

Sem citar nenhum exemplo espec�fico, Spinardi atesta que a melhor maneira de lidar com as not�cias falsas � apostar na informa��o.

"As pessoas t�m o direito de fazer perguntas e precisam encontrar respostas. H� muito medo, por exemplo, com os efeitos colaterais. Ent�o � necess�rio que todos saibam o que podem sentir ap�s tomar a vacina", aposta.

De forma geral, os imunizantes j� testados e aprovados contra a covid-19 podem provocar dor no local da aplica��o, que se resolve ap�s alguns dias. O aparecimento de febre baixa, calafrios, dor de cabe�a e outras manifesta��es leves e moderadas tamb�m � frequente, mas isso n�o � nada fora do esperado.

Caso apare�am outros sintomas, ou esses inc�modos mais comuns persistam ap�s tr�s ou quatro dias, vale conversar com o m�dico ou voltar ao posto de sa�de para relatar o caso e receber orienta��es mais personalizadas.

Como j� mencionado no in�cio da reportagem, a representante da Pfizer atesta que a imuniza��o � uma estrat�gia coletiva e n�o estamos na posi��o de escolher a vacina A, B ou C seja por medo de eventos adversos ou pela busca de uma efic�cia maior.

"Precisamos entender que as vacinas dispon�veis se mostraram seguras e eficazes e o uso de todas elas, em conjunto, � o que vai nos permitir controlar a covid-19", diz.

"Quando chegar a sua vez, vacine-se com o imunizante que estiver dispon�vel. E incentive as demais pessoas da sua fam�lia, da sua rua e da sua comunidade a fazerem o mesmo", completa.

Imunização deve ser encarada como estratégia coletiva e a pandemia só estará controlada quando uma quantidade considerável da população for vacinada(foto: Mario Tama/Getty Images)
Imuniza��o deve ser encarada como estrat�gia coletiva e a pandemia s� estar� controlada quando uma quantidade consider�vel da popula��o for vacinada (foto: Mario Tama/Getty Images)

Ainda no universo dos fen�menos recentes, n�o d� pra ignorar como as vacinas contra o coronav�rus viraram assunto popular e hoje aparecem em abund�ncia nos memes.

O mais famoso deles foi produzido pelo humorista e roteirista Esse Menino: num v�deo que j� conta com mais de 18 milh�es de visualiza��es e 93 mil coment�rios no Instagram, ele aborda a falta de respostas do Governo Federal aos e-mails da Pfizer.

Termos como "beijinhos cient�ficos" e "Pif�izer" ca�ram no gosto popular e geraram milh�es de figurinhas de WhatsApp, fotos e outros v�deos.

No geral, a representante da Pfizer v� essa repercuss�o toda com bons olhos.

"Eu acredito muito no poder da comunica��o, de passar uma informa��o correta e cativar as pessoas, de modo que elas fa�am a coisa certa para seu pr�prio bem", diz.

"Mas � importante entender que os memes podem at� chamar a aten��o para o assunto, mas eles n�o devem ser a �nica fonte de informa��o: as pessoas precisam buscar materiais mais completos e contextualizados", pondera.

O que o futuro nos reserva

Passados os seis primeiros meses de vacina��o contra a covid-19 em v�rias partes do mundo, a discuss�o sobre o fim da pandemia come�a a tomar forma ainda que esteja bastante longe de nossa realidade.

Mas, para que isso venha a acontecer de fato no futuro, alguns pontos-chave precisam ser resolvidos com urg�ncia.

O primeiro deles � a desigualdade na distribui��o das doses: os imunizantes de Pfizer, AstraZeneca, Janssen e outras farmac�uticas chegaram muito mais r�pido e em maior quantidade aos pa�ses mais ricos, enquanto alguns dos lugares menos desenvolvidos do planeta sequer iniciaram suas campanhas.

At� abril, os pa�ses ricos j� haviam vacinado uma a cada quatro pessoas. Nas na��es mais pobres, apenas um a cada 500 indiv�duos havia recebido as doses contra a covid-19.

O diretor-geral da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, chegou a classificar essa situa��o de "chocante" e "grotesca".

Spinardi considera que a empresa onde trabalha est� tentando ajudar a resolver essa quest�o. "A Pfizer tem feito um esfor�o muito grande para negociar com os governos de todos os pa�ses, sejam eles ricos ou pobres", defende.

"E tamb�m temos parcerias com a Covax Facility, para ampliar o acesso �s doses", acrescenta.

Covax Facility é uma iniciativa que distribui vacinas contra a covid-19 para os países mais pobres e com menor poder de barganha para adquirir as doses por conta própria(foto: Mamyrael/Getty Images)
Covax Facility � uma iniciativa que distribui vacinas contra a covid-19 para os pa�ses mais pobres e com menor poder de barganha para adquirir as doses por conta pr�pria (foto: Mamyrael/Getty Images)

Uma alternativa para facilitar a chegada das vacinas e descomplicar as campanhas � a intercambialidade dos produtos de diferentes laborat�rios.

Em outras palavras, alguns especialistas prop�em misturar as vacinas: a pessoa poderia tomar eventualmente a primeira dose da vacina da Pfizer e a segunda da AstraZeneca, por exemplo.

Isso, inclusive, est� sendo avaliado por estudos cient�ficos em alguns pa�ses, como o Reino Unido.

Por ora, as farmac�uticas parecem n�o levar em conta essa possibilidade.

"Neste momento, n�o temos nenhum programa oficial para analisar a intercambialidade e nossa recomenda��o � seguir com o esquema que temos hoje, de usar a mesma vacina nas duas doses", esclarece a pediatra.

"� claro que isso pode acontecer no futuro, mas os dados que temos por enquanto ainda s�o muito limitados", avalia.

Um terceiro e �ltimo front que come�ou a ser atacado nas �ltimas semanas � a amplia��o dos p�blicos que poder�o receber as vacinas a Comirnaty, por exemplo, recebeu aprova��o para ser usada em indiv�duos de 12 a 18 anos no Brasil recentemente.

"A gente entende que a prioridade agora s�o os adultos, especialmente aqueles com risco de desenvolver as formas severas da doen�a. Mas, com o passar do tempo, s� iremos conseguir controlar a circula��o do v�rus quando incluirmos todos os grupos et�rios", explica.

"Os mais jovens representam 25% da popula��o mundial e em algum momento precisaremos pensar neles tamb�m", finaliza.


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